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CAPÍTULO IV – O OBJETO DE ESTUDO

4. FOTOLAB: Revista Pesquisa FAPESP

4.1. FOTOLAB, o início e o processo de seleção das imagens

Maria Guimarães conta que a seção teve fases diferentes. Segundo ela, a seção começou em 2004 com o nome “Imagem do Mês122. A editora relatou durante a entrevista que não fazia parte da revista nessa época, e que, portanto, consultou Neldson Marcolin, editor-chefe do periódico: “[Marcolin] me contou que [a ideia da seção] foi do [ilustrador e responsável pelo projeto gráfico da Revista Pesquisa FAPESP] Hélio de Almeida, editor de arte até 2007”. Conforme Guimarães, a ideia era começar a revista com algo “bonito” que remetesse à ciência, antes de apresentar ao leitor o já esperado índice ou mesmo o expediente. A ideia era “atrair pela beleza”. A então seção “Imagem do Mês” era muitas vezes definida antes de a edição fechar e “os editores partiam em busca de alguma imagem “bonita e forte”, que podia ser de qualquer lugar. Guimarães lembra que “acabavam por ser [publicadas] muitas coisas internacionais”.

Foi somente a partir de novembro de 2011 (ed. 189) que a seção passou a se chamar FOTOLAB e adquiriu outros princípios123 – destacamos que foi acrescida

à seção a chamada para que os leitores pudessem também contribuir, indícios de um jornalismo mais plural. Conforme informações obtidas em entrevista, o crédito para a mudança é principalmente da então editora de arte Laura Daviña, responsável por dirigir a reforma gráfica que aconteceu naquele mês. Daviña ventilou a possibilidade de fazer algo colaborativo e de privilegiar a pesquisa brasileira, princípio este que foi muito reforçado por Mariluce Moura, então diretora de redação da Pesquisa FAPESP.

120 A entrevista na íntegra pode ser conferida nos anexos deste projeto. Os trechos que compõem o capítulo 5 são excertos e interpretações acerca da entrevista.

121 Maria Guimarães é bióloga pela Universidade de São Paulo (1995), doutora em Biologia Integrativa pela Universidade da Califórnia em Berkeley (2004) e especializada em jornalismo científico pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas. Disponível em http://lattes.cnpq.br/2803371789513900. Acesso em 4 de abril de 2019.

122 Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2004/04/01/folheie-a-ed-98/. Acesso em 4 de abril de 2019.

123 Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/wp-

A editora explica que a seção foi instituída e mantida por uma vontade dos colaboradores da revista com o sucinto objetivo de aliar beleza e ciência (podemos dizer que tratamos aqui de forma e conteúdo?), quebrando o que houvesse de barreiras para que isso fosse possível.

Observamos que os textos que acompanham as imagens são mais extensos que legendas, mas menos compridos do que uma nota jornalística. Conforme informações obtidas junto à entrevistada, “houve fases diferentes, mas de maneira geral a ideia é escrever o menos possível, de preferência algo poético (com aproximações ao jornalismo literário), nunca técnico, mas que ao mesmo tempo traga alguma informação. Um texto que destaque a imagem, mas que de certa forma não compita com ela.

No papel de responsável pela seção, Maria Guimarães tem um árduo trabalho na busca e seleção das imagens. O que surpreende, no entanto, é que Guimarães recebe muito menos imagens do que o esperado. “Não sei se porque a seção é pouco conhecida, por inércia dos pesquisadores ou falta de interesse. Certamente não é por falta de beleza, [pois] tem muita gente produzindo imagens lindas” (grifo nosso).

A editora explica que muitas vezes cabe a ela sair “em caça ativa por imagens”, o que envolve telefonar e escrever para pesquisadores que fotografam para solicitar imagens e indicações. Considerando o ano-base 2016, encontramos alguns números: das 12 imagens publicadas, oito foram obtidas por Guimarães e as outras quatro espontâneas (aquelas enviadas por leitores). “Nem sempre é tão ruim”, explica a editora. “Das seis deste ano [2017], por exemplo, só uma não foi espontânea. Quando eu digo que cacei, nem sempre é por falta de alternativa. Às vezes vejo algo – no Facebook, em artigo científico ou algum prêmio de imagem, por exemplo, e vou atrás”, relata.

Isso posto, Guimarães diz que os critérios de seleção não são completamente fechados, inflexíveis. “Já discutimos muito sobre a possibilidade de incluir ilustrações, mas acabou sendo decidido, em reunião editorial com toda a redação, que restringiríamos a fotos”. De maneira geral a seção FOTOLAB prioriza a pesquisa brasileira; a beleza e/ou que tenha algo intrigante por trás da fotografia.

Guimarães conta que há situações em que uma foto muito bonita pode ser descartada por ser extremamente comum e não trazer nada interessante do ponto de vista do conhecimento. Outras vezes uma foto que não é fantástica do ponto de vista

da imagem, do ponto de vista estético, é publicada por mostrar algo surpreendente, intrigante ou importante. “Essas decisões acabam sendo subjetivas e nem sempre atingem consenso”.

A questão da subjetividade é bastante importante uma vez que o que é belo para um pode ser feio para outro. É um problema fundamental e que costuma ser resolvido por vias democráticas: todos votam e a maioria vence.

Quando não há consenso cabe ao editor tomar a decisão final do que entra ou do que sai. “Eu recebo, pré-seleciono e repasso ao editor-chefe. A decisão é dele, muitas vezes com alguma discussão. Quando temos a imagem escolhida, submeto à Alexandra Ozorio de Almeida, diretora de redação, para que ela aprove”, conta Maria Guimarães, a quem também cabe a função de escrever os textos que acompanham as fotos baseado em conversas com os autores. Ademais, segundo Maria Guimarães, tecnicamente uma fotografia apta a ser publicada deve ter resolução suficiente. A editora relata que muitas imagens de microscopia são deixadas de fora por conta do problema da baixa resolução, ou seja, imagens com qualidade insuficiente para serem impressas sem que se note o conhecido aspecto quadriculado ou borrado.

Questionamos a editora de FOTOLAB que, partindo do pressuposto de que uma fotografia antropológica também pode ser classificada como científica124, por que essas imagens não aparecem na seção? Guimarães nos conta que uma fotografia antropológica ou de outra área de humanas pode entrar desde que cumpra os critérios subjetivos de “ser bonita e trazer algo diferente”. A editora relata que, anos atrás (data não precisada), apresentou uma foto de dança indígena que não foi aprovada por supostamente não ter um embasamento de pesquisa – afirmação que foi por ela rebatida. Mais recentemente, Guimarães afirmou ter recebido fotos de arquitetura das quais “gostou muito”, mas que não foram aprovadas por terem aparência comum. “É subjetivo, como você vê” argumenta. “Mas não desisti”.

124 Essa é uma questão debatida ao longo da dissertação porque compõe um problema fundamental no que se refere à categorização das fotografias científicas. Um dos objetivos em nossa pesquisa é identificar a quantidade de fotografias da área de humanas, bem como identificar quais são as áreas predominantes na divulgação científica com imagens.

4.2. FOTOLAB: análise dos resultados e uma proposta de ferramenta