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CAPÍTULO III – OS ASSESSORES DE IMPRENSA E OS CAPITAIS

3.4. FUNÇÕES CLÁSSICAS X FUNÇÕES DOS

dos meios de comunicação também se baseia nas atividades desenvolvidas dentro da mídia. Através dele é possível a identificação, ou não, de semelhanças entre as duas atividades. As funções foram baseadas na listagem apresentada na pesquisa “Perfil do jornalista brasileiro” (MICK; LIMA, 2013).

A reportagem57 é uma das funções clássicas desenvolvidas pelos jornalistas na mídia. Juntamente com ela (e mesmo como sua definição) está atrelado o princípio do jornalismo como um serviço a ser prestado à sociedade. Ou seja, o que é de interesse do público é um dos pressupostos58 para a necessidade de se elaborar determinado material jornalístico que envolva o processo de apuração.

Dos jornalistas que atuam na ALESC, a maioria (75%) afirmou praticar reportagem entre as suas atividades diárias. A maioria dos profissionais brasileiros que atua na mídia (84,3%) declara que a reportagem estava entre as funções cumpridas, enquanto pouco mais da metade que trabalha fora dos meios de comunicação (53,9%) o faz (MICK; LIMA, 2013). Portanto, os assessores da Assembleia desenvolvem mais reportagem que os colegas que também atuam nas assessorias; no entanto, ainda elaboram menos em comparação aos jornalistas dos meios de comunicação (Tabela 6).

A elaboração de reportagem em maior medida pelos jornalistas da ALESC do que na pesquisa nacional (a qual envolve organizações públicas e privadas de diversos segmentos) talvez se deva ao fato de o

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Aqui tratada como processo de busca e checagem das informações (apuração), não como gênero.

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“Toda reportagem deve ser iniciada com a informação que mais interessa ao leitor e ao debate público (o lide); deve ainda contextualizar os fatos e expô-los objetiva e criticamente” (Folha de S. Paulo, 2007, p. 28).

próprio local (e assuntos resultantes) ser de interesse público59. Os temas muitas vezes abordados, por mais que apresentem uma ótica mais favorável à casa ou aos representantes, são complexos e necessitam do processo de apuração das informações. Do processo de apuração é possível alcançar outra característica principal da narrativa jornalística: a veracidade.

A relação entre o campo político e o jornalístico não ocorre simplesmente através da vigilância que o segundo exerce sobre o primeiro (quando o faz). O campo político também se apropria das lógicas jornalísticas através da contratação de especialistas (assessores de imprensa). Dessa forma, a especialização da política em alcançar visibilidade nos meios de comunicação torna-se um processo profissional (WEBER; COELHO, 2011).

A “democracia do público” é apontada como uma nova forma política, sendo uma das suas características a mudança, em algumas dimensões, dos partidos políticos nas democracias representativas - principalmente em relação à participação dos eleitores (MANIN, 2013; e MANIN; PRZEWORSKI e STOKES, 2006). Segundo vários autores, no cenário atual os meios de comunicação teriam o papel de fazer o contato entre os eleitores e os políticos e, por esse motivo, a política estaria se readequando às lógicas midiáticas - como a profissionalização das campanhas eleitorais com o intuito de mobilizar eleitores (MANIN, 2013; e MANIN; PRZEWORSKI e STOKES, 2006), crescentes no Brasil após o processo de redemocratização. Afinal, conquistar um espaço de destaque no cerne do debate público é imprescindível para a política, assim como ela continua sendo um tema de interesse da sociedade, o qual deve ser divulgado para os cidadãos, segundo o princípio do jornalismo como defensor de interesse público (Tabela 6).

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Alguns segmentos podem possuir assuntos menos complexos ou enquadrados com valores mais baixos de interesse público. Além disso, as organizações públicas fomentam por si só interesse jornalístico na investigação – o que poderia ser uma resposta à produção de materiais mais completos pelas assessorias de imprensa.

Tabela 6 – Funções desenvolvidas pelos jornalistas da ALESC

Função Não (%) Sim (%) Total

Reportagem 25% 75% 100% Redação 19,4% 80,6% 100% Edição 50% 50% 100% Pauta 41,7% 58,3% 100% Fotografia 38,9% 61,1% 100% Cinegrafia 80,6% 19,4% 100% Gestão 66,7% 33,3% 100% Assessoria de impressa 36,1% 63,9% 100% Design Gráfico 58,3% 41,7% 100% Ensino 97,2% 2,8% 100% Outros 52,8% 47,2% 100%

Fonte: Pesquisa: “O capital simbólico do campo jornalístico: disputas e códigos compartilhados entre jornalistas de mídia e assessores da ALESC”

Outra função cumprida pela maior parte dos jornalistas brasileiros hoje é a redação. A clássica atividade de escrever está atrelada a 78,4% dos profissionais alocados fora dos meios de comunicação e 83,1% daqueles que atuam na mídia (MICK; LIMA, 2013). Dos assessores da ALESC, 80,6% afirmaram que redigem textos – porcentagem próxima tanto em relação aos colegas da mídia quanto aos de fora dela. No que diz respeito ao processo de edição de texto, 50% dos jornalistas da Assembleia afirmaram exercer essa atividade diariamente. Em comparação com os colegas dos veículos e assessores, esse número é mais baixo (o primeiro com 67,9% editando e o segundo com 56,9%), no entanto a porcentagem é próxima da que se refere aos assessores (MICK; LIMA, 2013).

Os jornalistas de bancada, a maioria dos que cobrem a casa e apenas um que trabalha exclusivamente para deputado negaram, em entrevistas, que costumem desempenhar atividades envolvendo assessoria de imprensa. Mesmo assim, a maioria (63,9%) afirma, no questionário, que desempenha a função de assessor de imprensa. O numero é baixo em comparação aos assessores que responderam a pesquisa nacional, 87,7% (MICK; LIMA, 2013). A taxa menor de afirmação é em grande medida afetada pelo tipo de função que os jornalistas concursados que atuam na cobertura exclusiva da ALESC exercem (atividades características dos meios de comunicação) – 80% deles negam exercer a assessoria de imprensa.

A maioria dos jornalistas da ALESC declarou elaborar pautas e fotografar. Em relação aos colegas que atuam fora das redações, o

processo de confecção de pautas tem uma porcentagem parecida – 58,3%, nesta pesquisa, e 60,1% na nacional (MICK; LIMA, 2013). Já o ato de fotografar é maior entre os jornalistas atuantes na Assembleia, 61,1%, que os 47,8% dos assessores brasileiros (MICK; LIMA, 2013). A função de gerir é cumprida por um terço dos assessores, tanto da ALESC quanto dos que atuam em outras organizações do país (33,1%).

Além das funções listadas, 47,2% dos respondentes indicaram outras atividades desenvolvidas diariamente. O monitoramento de redes sociais é umas das mais listadas pelos assessores, 25,1%. Eles ainda citaram as seguintes funções: produção de conteúdo para uso no plenário (5,4%); análise do noticiário e projetos (2,8%); assessoramento de assuntos legislativos (2,8%); chefe de gabinete (2,8%); contato e divulgação (2,8%); editora de jornalismo (2,8%); apresentadora e pesquisa e investigação jornalística (2,8%).

O desempenho de várias funções por parte do assessor de imprensa é um fenômeno já identificado, há algum tempo, no trabalho jornalístico contemporâneo (SILVEIRA; GÓIS, 2015). Tanto nas redações, quanto fora delas, a disseminação do modelo profissional do jornalista multimídia parece estar se consolidando no Brasil. O modelo de jornalismo multimídia traz avanços e retrocessos para a categoria. Alguns pesquisadores apontam como principal dificuldade o acúmulo de funções – pouco tempo para muitas atividades (MAIA; AGNEZ, 2015). O novo modelo reforça a precarização do trabalho jornalístico.

Ademais, a identificação do jornalista multimídia nas assessorias de imprensa, neste caso dentro da ALESC, reforça as possíveis semelhanças com a atividade dos colegas dos meios de comunicação – na forma de trabalhar com os veículos ou nas consequências (negativas e positivas) que esse fazer jornalístico traz para toda a categoria.