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CAPÍTULO III – OS ASSESSORES DE IMPRENSA E OS CAPITAIS

3.1. OBJETO E METODOLOGIA

O objeto de estudo da tese são as estratégias de legitimação utilizadas pelos profissionais atuantes nas assessorias de imprensa do campo político – mais especificamente, os jornalistas que trabalham na função na ALESC (Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina) – para afirmar o seu status de agentes do campo jornalístico. Elas são materializadas45 no compartilhamento de valores ou códigos, presentes nas dimensões técnica, ética e mitológica do campo jornalístico.

A importância da assessoria de imprensa no país se mostra pelo fato de que cerca de 40% dos jornalistas trabalham com atividades fora da mídia (outras funções que dependem do conhecimento da profissão,

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Dados e questões usadas estão listados no site: http://www.worldsofjournalism.org/.

45Usamos “materializar” como metáfora, quando elas se tornam aparentes à pesquisa através dos valores compartilhados pelo grupo profissional jornalístico.

mas não estão ligadas aos veículos de comunicação). Dos profissionais que atuam com atividades fora da mídia, 68,3% trabalham principalmente em assessorias de comunicação ou imprensa (MICK; LIMA, 2013).

Para alcançar o objetivo da tese, a pesquisa se dividiu em duas etapas – a primeira com caráter exploratório; e a segunda, para aprofundar os dados da primeira. Na primeira etapa optou-se pelo questionário46, pela facilidade de ser respondido e categorizar um número maior de indivíduos. As vantagens do seu uso são a possibilidade de ser respondido por um número grande de participantes e a facilidade dos dados serem tabulados (RICHARDSON, 2009). Já na segunda, o método mais adequado ao objetivo do trabalho foi a entrevista semiestruturada.

Na primeira parte do estudo foram enviados questionários a todos os assessores de imprensa da ALESC. A intenção era fazer uma pesquisa exploratória sobre o perfil e as diferenças básicas no trabalho entre assessores que ocupam cargos de confiança e aqueles que trabalham para a Assembleia. Essa parte da pesquisa é quantitativa e algumas variáveis eram conhecidas previamente – como, por exemplo, se os profissionais possuem ou não diploma de ensino superior em jornalismo e se já atuaram (ou não) nos meios de comunicação.

Ademais, o questionário foi construído com o objetivo secundário de problematizar assuntos mais complexos sobre o trabalho diário dos profissionais atuantes nas assessorias de imprensa da ALESC – como o posicionamento ético fora da mídia e a apreensão sobre a mitologia do jornalismo como defensor do direito à informação. Algumas questões foram trabalhadas com respostas abertas ou de escalonamento. Dentre as questões mais complexas, algumas foram baseadas na célebre coletânea de estudos organizada por Weaver e Willnat (2012), a qual reúne trabalhos de diversos países (Japão, Brasil, Austrália, Inglaterra, França, Rússia, Espanha, Canadá, Colômbia, Israel e outros47) sobre o perfil dos

46 O modelo do questionário utilizado nessa tese está no APÊNDICE A. 47

Na pesquisa atual não há uma comparação com dados de outros países – sendo que, em vários, a função de assessor de imprensa não é destinada aos jornalistas. Conforme foi abordado no Capítulo I, o Brasil possui um contexto da profissão jornalística um pouco diferente sobre o exercício de atividades dentro do subcampo não midiático. Contudo, os dados permitem que pesquisadores

jornalistas, seu trabalho e alguns valores compartilhados por eles – como as ideias de ‘cão de guarda’, imparcialidade e proteção às fontes.

A pesquisa exploratória se faz pertinente na tese por ser aplicada “aos objetos de estudos poucos descritos ou analisados pela literatura já existente. Trata-se, no caso dos métodos quantitativos, de aplicar instrumentos para a medição e descrição inicial de determinados comportamentos sociais que até então receberam pouca atenção dos cientistas” (CERVI, 2009, p. 141). Ela traz uma visão geral do objeto de estudo, as estratégias de legitimação dos assessores de imprensa no campo jornalístico, o que é importante para a segunda etapa da pesquisa, a qual envolve detalhamento, compreensão e identificação do objeto.

A construção do questionário foi feita com o objetivo de explorar as características do objeto de estudo. Por esse motivo, cada variável nele contida foi pensada na tentativa de explicá-lo e explorá-lo. A crítica de Bernard Lahire sobre a aplicação indiscriminada de variáveis e a sua ligação com o objeto de estudo do mundo social é importante para uma reflexão sobre a pesquisa na área sociológica:

Ainda quando as variáveis clássicas continuam ‘funcionando’ bem, o sociólogo sempre deve perguntar-se pelo que, em tal variável, explica as diferenças constatadas neste ou naquele domínio particular. Por serem sistematicamente (mais ou menos) discriminantes, as variáveis sintéticas acabam não nos dizendo nada sobre o funcionamento do mundo social (LAHIRE, 2002, p.52).

Na busca de contemplar a complexidade do objeto de estudo através dos métodos de análise, com a pretensão de se compreender o funcionamento do mundo social, acolhendo a crítica de Lahire, foi elaborado um questionário contendo perguntas abertas e fechadas. O questionário misto traz um maior número de vantagens para o objeto de estudo em questão. O instrumento foi escolhido nessa primeira etapa por ser mais eficiente em atingir um maior número de indivíduos e por ser

interessados possam realizar esse tipo de comparação em algumas perguntas específicas – desafio que escapa aos objetivos desta tese.

capaz de “descrever as características e medir determinadas variáveis de um grupo social” (RICHARDSON, 2009, p. 189).

O mais comum é que o questionário seja enviado para os respondentes e que seja devolvido preenchido (MARCONI e LAKATOS, 2010). No caso desta pesquisa, alguns questionários foram respondidos via e-mail e outros pessoalmente – no local de trabalho dos assessores, dentro da ALESC. A forma de recolhimento dos questionários foi diferente devido ao engajamento dos respondentes. Apesar de, em um primeiro contato, todos terem se proposto a responder a pesquisa, muitos não o fizeram por e-mail. Alguns deles recusaram-se a responder o questionário, enquanto os demais aceitaram destinar um tempo para preenchê-lo pessoalmente.

A coleta dos questionários se iniciou no segundo semestre de 2014 e se estendeu até o final do primeiro semestre de 2015. O intervalo de tempo foi ampliado pela falta de engajamento dos assessores em responder o questionário prontamente. O segundo semestre de 2014 foi tumultuado pelos processos eleitorais, em especial para o cargo de deputado estadual. Em seguida, os primeiros meses de 2015 foram de flutuações dos cargos comissionados e adequações aos novos cargos.

Na ALESC existem jornalistas que trabalham exclusivamente para a Assembleia48 e profissionais que atuam em cargos de confiança49. O primeiro grupo possui 21 jornalistas, enquanto o segundo é composto por 40 profissionais – cada deputado possui um jornalista como assessor de imprensa. O segundo grupo tem um número instável de jornalistas, mas, no momento em que foram colhidos os dados, todos os deputados apresentaram o nome de profissionais responsáveis pela assessoria de imprensa – mesmo que alguns também executassem funções para a bancada do partido ou coligação (PT, PCdoB, PSDB, PMDB, PSD, PR, PP).

Na primeira etapa, 36 de 61 jornalistas (tanto dos que trabalham para a assessoria institucional da ALESC, quanto para os deputados e

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Dos 21 profissionais da casa, somente seis são terceirizados pela ALESC, enquanto os demais são concursados. Deles, quatro trabalham na Rádio e oito na Televisão da Assembleia.

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Os assessores possuem vínculo empregatício somente com determinado político ou bancada/coligação, e não com a ALESC – trabalham para o político/partido e não para a casa.

partidos) responderam o questionário50. Do total de respondentes, 15 pertencem ao primeiro grupo (41,7%) e 21 (58,3%), ao segundo, sendo que 17 (47,2%) são exclusivos dos deputados, três (8,3%) de bancada e um (2,8%) acumula funções de assessoria do deputado e da bancada. Durante todo o período, a pesquisadora tentou ampliar o número de respondentes da pesquisa. Os contatos com os assessores de imprensa se deram por e-mail, telefone, presencialmente, com a diretoria de comunicação, ronda nos gabinetes e nas seções. Alguns se comprometeram em responder o questionário e marcar um horário para as entrevistas, contudo eles não retornaram e as tentativas de achá-los presencialmente foram em vão – já que alguns cumprem as suas funções nas cidades “de origem” dos parlamentares.

3.2. QUEM SÃO OS ASSESSORES DE IMPRENSA DA ALESC?