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4 PARTIDO POLÍTICO E FIDELIDADE PARTIDÁRIA

4.3 FUNÇÕES DOS PARTIDOS POLÍTICOS

Segundo Reinaldo Dias (2011, p. 194 a 199) as funções dos partidos políticos podem ser sociais ou institucionais. Entre as funções sociais indica: a) a racionalização política; b) a socialização política; c) a mobilização da opinião pública; d) a participação política; e) a representação de interesse e; f) a legitimação do sistema político.

a) Racionalização política: ao agruparem as opiniões individuais em torno de um número limitado de opções, os partidos permitem a racionalização do conflito social, abrindo-se espaço para as soluções políticas.

b) Socialização política: assegura a participação política de um núcleo de militantes, favorecendo uma maior atividade partidária. Como instituto da democracia, o partido político deve cuidar da educação política do cidadão. A Lei dos Partidos Políticos, Lei nº 9.906, de 19 de setembro de 1995 (BRASIL, 1995), assegura que os recursos do Fundo Partidário devem ser aplicados na criação e manutenção de instituto ou fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política. Atualmente, os partidos têm negligenciado a função de socialização e educação de seus militantes e da população em geral, principalmente em função da

crescente participação dos meios de comunicação de massa, inclusive da internet. Ademais, a crise de credibilidade que atinge os partidos políticos tem sido um entrave para essa função.

c) Mobilização da opinião pública: o partido pode articular a ação política de militantes e da população em geral em torno de ideias transformadoras, criando núcleos com participação ativa na vida política. Segundo Dias (2011, p. 195), no final do século XX os partidos perderam essa capacidade de mobilização de setores da opinião pública para os movimentos sociais. Acrescenta: “Muitos não conseguem expressar a crescente complexidade das modernas sociedades”.

d) Participação política: os partidos constituem o principal instrumento de participação política do cidadão, que pode atuar politicamente de diversas formas, seja mediante o simples ato de votar durante o período eleitoral, ou fazendo parte das assembleias e convenções, vivenciando de perto o programa do partido.

e) Representação de interesses: trata-se da principal e mais tradicional função dos partidos políticos. As opiniões e demandas individuais são agrupadas e viabilizadas em torno do partido, que atuam como mediadores entre o Estado e a sociedade civil. Embora os partidos tenham a função de canalizar os diversos interesses sociais, visando à ampliação de seu eleitorado, tendem a privilegiar determinadas ideias ou demandas de grupos específicos, em atendimento à sua origem histórica ou ideológica ou ainda em razão da conjuntura política.

f) Legitimação do sistema político: os partidos políticos desempenham papel importante na legitimação do sistema político, na medida em que articulam e reforçam a confiança nas regras do jogo por meio de realização de eleições e da alternância de poder. Segundo Reinaldo Dias (2011, p. 197), a existência dos partidos e a possibilidade de alternância de poder formam a base de legitimação do regime democrático, pois os partidos legitimam a prática democrática, tornando a democracia possível, permitindo o debate, o consenso e a divergência, impedindo que as minorias sejam excluídas de seus direitos.

Entre as funções institucionais dos partidos políticos, Dias (2011, p. 197) destaca as seguintes: a) operacionalizar o regime político; b) recrutamento e seleção das elites governantes; c) organização das eleições; e d) formação e composição dos principais órgãos do Estado.

a) Operacionalizar o regime político: os partidos políticos contribuem para a operacionalização do regime político, fornecendo, além de propostas, militantes para ocupar os cargos na máquina estatal e no Parlamento. Sua organização interna e disciplina contribuem para o compartilhamento de uma visão de poder e o estabelecimento de um programa comum.

b) Recrutamento e seleção das elites governantes: os partidos se encarregam de recrutar e selecionar o grupo de dirigente da res publica. No passado, esta função era realizada pelas corporações, sindicatos e associações profissionais, mas, atualmente, os regimes políticos outorgaram aos partidos a tarefa de indicar os quadros que disputarão, por meio do voto, o poder político.

c) Organização das eleições: os partidos exercem grande influência no processo eleitoral, seja colaborando na elaboração da legislação, seja oferecendo os candidatos e representantes para fiscalizar as eleições, ou provocando a Justiça Eleitoral através de ações e recursos judiciais.

d) Formação e composição dos principais órgãos do Estado: além de reproduzirem a elite dominante, os partidos também viabilizam a composição dos poderes públicos, principalmente o Poder Legislativo, preenchendo as cadeiras das Câmaras Municipais, das Assembleias Legislativas e da Câmara e Senado Federal. No Poder Executivo, os partidos vitoriosos também indicam os cargos da máquina estatal não preenchidos por concurso público. Pode-se dizer que até alguns membros do Poder Judiciário são indicados pelos representantes dos partidos nos demais Poderes. Contudo, dada essa capacidade dos partidos de interferir nas decisões do governo, através da atuação de seus quadros espalhados no aparelho estatal, o regime fica vulnerável à corrupção e ao clientelismo.

As funções institucionais dos partidos políticos são indispensáveis ao regime político e para a composição dos órgãos do Estado. Nesse sentido, o artigo 1º da Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995 (BRASIL, 1995), define que o partido político destina-se a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal.

Vale ainda destacar que nos regimes não democráticos os partidos também desempenham de forma vigorosa suas funções sociais e institucionais. Nestes regimes, quase sempre, existe um único partido, que possui como função primordial oferecer respaldo teórico-ideológico para as ações do Estado. Nesses regimes o partido não articula interesses, como acontece nos regimes democráticos, mas vela pela ortodoxia imposta pelo Estado, promovendo a ideologia do Estado e identificando os dissidentes do regime. Nos regimes não democráticos, os partidos não possuem função institucional: assumem a própria função do Estado, monopolizando sua organização. Segundo Dias (2011, p. 199):

Aqui, o partido não está situado no plano da sociedade civil, nem num plano intermediário entre o público e o privado, mas totalmente incrustado na esfera estatal, ou seja, não tem nenhuma autonomia diante dos órgãos do Estado, pois essas instituições estatais e o partido são a mesma coisa.