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O sistema eleitoral brasileiro da Era Vargas ao Estado Novo

6 INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS NO BRASIL

6.1 EVOLUÇÃO DO SISTEMA ELEITORAL BRASILEIRO

6.1.3 O sistema eleitoral brasileiro da Era Vargas ao Estado Novo

A Revolução de 1930 tinha como um dos princípios a moralização do sistema eleitoral. Nesse sentido, um dos primeiros atos do governo provisório foi a criação de uma comissão de reforma da legislação eleitoral, cujo trabalho resultou no primeiro Código Eleitoral do Brasil, em 1932.

O Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932 (BRASIL, 1932), primeiro Código Eleitoral do Brasil, criou a Justiça Eleitoral, que passou a ser responsável por todos os trabalhos eleitorais - alistamento, organização das mesas de votação, apuração dos votos, reconhecimento e proclamação dos eleitos. Foi considerado um dos mais importantes frutos da renovação política operada no Brasil, na medida em que passou regulamentar as eleições federais, estaduais e municipais, adotando o voto direto, obrigatório e secreto, o voto da mulher, o sufrágio universal, e o sistema de representação proporcional. Pela primeira vez, a legislação eleitoral fez referência aos partidos políticos, mas ainda era admitida a candidatura avulsa. Esse código também previa o uso de máquina de votar, o que só veio a se efetivar na década de 1990.

A Revolução Constitucionalista de 1932 exigiu a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. O Decreto nº 22.621/1933 (BRASIL, 1933), que convocou a Constituinte, estabeleceu que, além dos deputados eleitos na forma prevista pelo Código Eleitoral, outros 40 seriam eleitos pelos sindicatos, pelas

associações de profissionais liberais e de funcionários públicos. Era a chamada representação classista.

As críticas ao Código Eleitoral de 1932 levaram, em 1935, à promulgação do segundo Código Eleitoral: a Lei nº 48, de 4 de maio de 1935 (BRASIL, 1935). Este Código trouxe, pela primeira vez, ampla regulamentação das atribuições do Ministério Público no processo eleitoral.

Em 16 de julho de 1934 foi promulgada a segunda Constituição republicana do Brasil. Quanto à organização do Estado e dos Poderes, manteve os fundamentos da Constituição de 1930 e incluiu a Justiça Eleitoral como órgão do Poder Judiciário, sendo-lhe atribuída a competência privativa para o processo das eleições federais, estaduais e municipais.

A Constituição de 1934 foi considerada inovadora, mas durou pouco, porquanto, em 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas anunciaria a "nova ordem" do País. Outorgada nesse mesmo dia, a "polaca", como ficou conhecida a Constituição de 1937, extinguiu a Justiça Eleitoral, aboliu os partidos políticos existentes, suspendeu as eleições livres e estabeleceu eleição indireta para presidente da República, com mandato de seis anos. Essa "nova ordem", conhecida por Estado Novo, sofreu a oposição dos intelectuais, estudantes, religiosos e empresários.

O terceiro Código Eleitoral, Decreto-Lei nº 7.586, de 28 de maio de 1945 (BRASIL, 1945), conhecido como Lei Agamenon, em homenagem ao ministro da Justiça Agamenon Magalhães, responsável por sua elaboração, antecedeu a Constituição de 1946 e restabeleceu a Justiça Eleitoral, regulando em todo o País o alistamento eleitoral e as eleições. Joel José Cândido (1995, p. 94) não o considera um verdadeiro Código Eleitoral, pois "esse decreto-lei de código não se tratava, e nem de código foi chamado pelo legislador."

A Constituição de 1946, a exemplo da de 1934, consagrou a Justiça Eleitoral entre os órgãos do Poder Judiciário e proibiu a inscrição de um mesmo candidato por mais de um estado da Federação. O Código Eleitoral de 1945, que trouxe como novidade a exclusividade dos partidos políticos na apresentação dos candidatos, permaneceu vigente até o Código Eleitoral de 1950.

O quarto Código Eleitoral, Lei nº 1.164, de 24 de julho de 1950 (BRASIL, 1950), foi editado já sob vigência da Constituição de 1946 e trouxe como inovação em relação às codificações anteriores o capítulo sobre a propaganda partidária,

garantindo seu livre exercício. Extinguiu o capítulo destinado ao Ministério Público Eleitoral, tratando o asasunto de forma ocasional e assistemática.

Entre os anos de 1964 e 1985, marcados, respectivamente, pela deposição de João Goulart e pela eleição de Tancredo Neves, a legislação eleitoral foi marcada por sucessivos atos institucionais, emendas constitucionais, leis e decretos-leis, por meio dos quais o regime militar procurou adequar o processo eleitoral aos seus interesses políticos: alterou a duração de mandatos, cassou direitos políticos, decretou eleições indiretas para presidente da República, governadores dos Estados e dos Territórios e para prefeitos dos municípios considerados de interesse da segurança nacional, instituiu as candidaturas natas, o voto vinculado e alterou o cálculo para o número de deputados na Câmara, com base ora na população, ora no eleitorado, privilegiando estados menores, para garantir mais poder político.

O quinto Código Eleitoral, Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 (BRASIL, 1965), concebido durante o regime militar, vigora até hoje, mas já sofreu várias modificações e, atualmente, difere bastante de seu texto original.

Em 1965 foi aprovada a Lei Orgânica dos Partidos Políticos, Lei nº 4.740, de 15 de julho de 1965 (BRASIL, 1965). No mesmo ano, o Ato Institucional nº 2 (AI-2) extinguiu os partidos políticos e o Ato Complementar nº 4 determinou ao Congresso Nacional a criação de organizações com atribuições de partidos políticos, o que deu origem à ARENA - Aliança Renovadora Nacional e ao MDB - Movimento Democrático Brasileiro.

A Constituição de 1967 (BRASIL, 1967), fruto de um governo arbitrário, preocupou-se muito com a segurança nacional. Ampliou as competências da União, exigindo uma maior simetria constitucional dos estados e deu mais poderes ao Presidente da República, que passou a ser eleito indiretamente por um colégio eleitoral.

A Constituição de 1967 também teve duração efêmera, pois, no ano seguinte, em 13 de dezembro de 1968, foi editado o Ato Institucional nº 5 (AI-5), que suspendeu as garantias da Constituição de 1967 e ampliou os poderes ditatoriais do presidente da República, permitindo-lhe decretar o recesso do Congresso Nacional. Em 1969 a Constituição de 1967 recebeu nova redação dada pela Emenda Constitucional nº 01 (BRASIL, 1968), editada pela Junta Militar que assumiu o governo com a doença de Costa e Silva. Em que pese ser formalmente uma emenda, é considerada pela ampla maioria dos constitucionalistas uma nova

Constituição (SILVA, 1999, p. 89). A Emenda intensificou a concentração de poder no Executivo dominado pelo Exército e, junto com o AI-12 (BRASIL, 1969), permitiu a substituição do presidente por uma Junta Militar, impedindo a posse do vice-presidente Pedro Aleixo, um civil. O governo também decretou uma Lei de Segurança Nacional, que restringia severamente as liberdades civis, e uma Lei de Imprensa, que estabeleceu a Censura Federal.

O AI-5 deu poderes ao Presidente para fechar, por tempo indeterminado, o Congresso Nacional, as Assembleias Estaduais e as Câmaras Municipais; para suspender os direitos políticos por 10 anos e caçar mandatos efetivos e ainda decretar ou prorrogar estado de sítio.

A Emenda Constitucional nº 11, de 13 de outubro de 1978 (BRASIL, 1978) revogou os atos institucionais e complementares impostos pelos militares e modificou as exigências para a organização dos partidos políticos. Em 19 de novembro de 1980, a Emenda Constitucional nº 15 (BRASIL, 1980) restabeleceu as eleições diretas para governador e senador e eliminou a figura do senador biônico. A Lei nº 6.767, de 20 de dezembro de 1979 (BRASIL, 1979), extinguiu a ARENA e o MDB e restabeleceu o pluripartidarismo, sinalizando o início da abertura política.

6.1.4 O sistema eleitoral brasileiro na Nova República (1985 aos dias de hoje) A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 5/1983, que ficou conhecida por Emenda Dante de Oliveira, em homenagem ao Deputado Federal (PMDB-MT) que a propôs, tinha por objetivo restabelecer as eleições diretas para Presidente da República no Brasil, uma vez que a tradição democrática havia sido interrompida no pelo golpe militar de 1964.

A pressão popular para que a emenda fosse aprovada recebeu o nome de “Diretas Já” e transformou-se num dos maiores movimentos políticos da história do Brasil. Todavia, apesar da pressão popular, a PEC nº 5/1983 foi rejeitada pela Câmara dos Deputados no dia 25 de abril de 1984. Com a rejeição da emenda, a eleição para presidente da República de 1985 foi novamente indireta.

Negociações entre a oposição, notadamente o PMDB, e o regime militar, bem assim a pressão popular endossada pela mídia dividiram a base governista, maioria no Congresso Nacional, assegurando a escolha do oposicionista Tancredo Neves - (PMDB) como Presidente da República. Encerrou-se, assim, um ciclo iniciado pelo

golpe de 1964 de cinco presidentes militares. Tancredo, porém, nunca viria a tomar posse, falecendo por sérios problemas de saúde no dia 21 de abril de 1985. Seu vice, José Sarney, tomou posse em 15 de março daquele mesmo ano, sendo um dos responsáveis pelo processo de redemocratização do país, mesmo tendo apoiado os militares por vinte anos.

Em 15 de maio de 1985 a Emenda Constitucional nº 25 (BRASIL, 1985) alterou dispositivos da Constituição Federal e restabeleceu eleições diretas para Presidente e Vice-Presidente da República, em dois turnos; eleições para Deputado Federal e para Senador, para o Distrito Federal; eleições diretas para Prefeito e Vice-Prefeito das capitais dos estados, dos municípios considerados de interesse da segurança nacional; aboliu a fidelidade partidária e revogou o artigo que previa a adoção do sistema distrital misto.

Por sua vez, a Emenda Constitucional nº 26, de 27 de novembro de 1985 (BRASIL 1985), convocou a Assembleia Nacional Constituinte para elaboração da atual Constituição Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988 (BRASIL, 1988). A nova Carta Magna repercutiu consideravelmente no Direito Eleitoral, na medida em regulamentou os direitos políticos (arts. 14 e 16), dispôs sobre os partidos políticos (art. 17), manteve a Justiça Eleitoral dentro do Poder Judiciário como um de seus órgãos (arts. 92, V e 118 a 121), regulando a eleição para Presidente e Vice-Presidente da República, estabelecendo regras de substituição, impedimento, vacância e duração do mandato (arts. 76 a 82).O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias também fixou várias regras eleitorais, inclusive a que permitiu à população definir, através de plebiscito, a forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que deviam vigorar no País (arts. 2º, 4º, 5º, 6º, etc.).