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4 AS EMPRESAS CONCEDENTES DE ESTÁGIO ENQUANTO ESPAÇO

4.2 Um histórico da Funasa: o compromisso com a saúde pública

4.2.1 A Funasa e a política de saúde indígena

Em agosto de 1999, o Governo Federal transferiu da Fundação Nacional do Índio (Funai) para a Funasa a responsabilidade pela execução das ações de promoção, proteção e recuperação da saúde de toda a população indígena, estimada, na época, em 360 mil índios.

A política de saúde indígena, tem como propósito garantir aos povos indígenas o acesso a atenção integral à saúde, de acordo com os princípios e diretrizes do SUS, contemplando a diversidade social, cultural, geográfica, histórica e política de modo a favorecer a superação de fatores que tornam essa população mais vulnerável aos agravos à saúde de maior magnitude e transcendência entre os brasileiros, reconhecendo a eficácia de suas práticas curativas e o direito desses povos à sua cultura (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2006a).

Para o alcance dos propósitos da política de Saúde Indígena, são estabelecidas diretrizes que devem orientar a definição de instrumentos de planejamento, implementação, avaliação e controle das ações de atenção à saúde dos povos indígenas.

A organização dos serviços de atenção à saúde dos povos indígenas é feita na forma de Distritos Sanitários Especiais (DSEI‟s) e pólos-base, na esfera local, onde a atenção primária e os serviços de referência se situam.

Assim, foram estabelecidas as seguintes diretrizes:

a) preparação de recursos humanos para atuação em contexto intercultural;

b) monitoramento das ações de saúde dirigidas aos povos indígenas; c) articulação dos sistemas tradicionais indígenas de saúde;

d) promoção de uso adequado e racional de medicamento; e) promoção de ações especificas em situações especiais;

f) promoção da ética na pesquisa e nas ações de atenção à saúde, envolvendo comunidades indígenas;

g) promoção de ambientes saudáveis e proteção da saúde indígena; e ; h) controle social (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2006a).

O atual modelo de organização de serviços de saúde dos povos indígenas corresponde ao Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, no âmbito do

SUS, caracterizando assistência diferenciada, regionalizada e hierarquizada. O serviço de saúde encontra-se organizado na forma de Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), situado em 2438 estados brasileiros em articulação com o Sistema Único de Saúde e atende às seguintes condições:

a) considera os próprios conceitos de saúde e doença da população indígena e os aspectos intersetoriais de seus determinantes;

b) deve ser construído coletivamente, a partir de um processo de planejamento participativo; e

c) possui instâncias de controle social em todas as esferas de gestão (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2006a).

O Dsei corresponde a uma unidade organizacional da FUNASA e deve ser entendido como “uma base territorial e populacional sob responsabilidade sanitária claramente identificada (Figura 3). (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2006a, p. 125).

Figura 3 - Organização do Distrito Sanitário Especial Indígena Fonte: Fundação Nacional de Saúde (2006a).

Como modelo de organização de serviço de saúde indígena, é orientado para um espaço étnico-social dinâmico, geográfico, populacional e administrativo bem delimitado. Contempla um conjunto de atividades técnicas, administrativas e gerenciais necessárias à prestação de assistência, visando a medidas

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racionalizadoras e qualificadas de atenção à saúde e das práticas sanitárias.

Cada Distrito, conta com uma rede de serviço de saúde dentro do seu território, integrada e hierarquizada, com complexidade crescente e devidamente articulada com a rede do SUS. A assistência e promoção à saúde é realizada nas próprias comunidades indígenas pelos Agentes Indígenas de Saúde (AIS)39 (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2006a).

Seguindo o fluxo de organização dos serviços de saúde, as comunidades indígenas contam com outra instância de atendimento, que são os pólos-bases, os quais se constituem na primeira referencia para os AIS que atuam nas aldeias. Podem estar localizados numa comunidade indígena ou num município de referência. Nesse último caso, corresponde a uma unidade básica de saúde já existentes na rede se serviço daquele município.

Cada pólo-base cobre um conjunto de aldeias e sua equipe além de prestar assistência à saúde, realiza a capacitação e supervisão dos AIS. Está estruturada como unidade básica de saúde conta com a atuação de uma Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI) composta por Médico, Enfermeiro, Dentista e Auxiliar de Enfermagem (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2006a).

Por fim, as Casas de Saúde Indígena (CASAI‟s), que embora assim denominadas, não executam ações médicos-assistenciais, funcionando basicamente como locais de recepção e apoio entre a aldeia e a rede de serviços do SUS, encontrando-se localizadas em municípios de referência e algumas nas capitais dos estados. A estrutura dessas Casas40 vem sendo readequada, de modo a atender às especificidades de saúde indígena, facilitando o acesso da população a um ou mais distritos sanitários, bem como ao atendimento secundário e/ou terciário de saúde.

A propósito, no Maranhão, as Casai‟s de São Luis e Imperatriz contam com duas estagiárias, sendo uma do curso de Enfermagem e outra do curso de

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O Agente Indígena de Saúde (AIS) é um índio (a) morador (a) da comunidade, preparado e treinado pela FUNASA e tem as seguintes atribuições: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil; acompanhamento de gestantes; atendimento padronizado aos casos de doenças mais frequentes (infecções respiratórias, diarréia e malária); acompanhamento de pacientes crônicos, primeiros socorros, promoção à saúde e prevenção de doenças de maior prevalência, acompanhamento da vacinação e acompanhamento e supervisão a tratamento de longa duração.

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As principais atividades desenvolvidas nas CASAI são: agendamento para os serviços especializados requeridos, alojamento a índios que necessitem continuarem o tratamento após alta hospitalar, até o momento que passem a ter condições de retornar à aldeia; suporte a exame e tratamentos especializados, prestação de serviço de tradução para os que não falam português e viabilização de retorno à respectiva aldeia, mantendo a articulação contínua com o correspondente Dsei de origem. ( FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAUDE, 2006 a).

Nutrição, respectivamente. Eis o relato de uma delas:

[...] No caso do estágio de nutrição na Casai de Imperatriz a aprendizagem ocorre diariamente, tanto no que diz respeito às culturas indígenas atendidas no local, como acerca da própria prática do nutricionista, as afetivas atribuições do nutricionista exercidas no período de estágio trazem benefícios mútuos, tanto para as populações indígenas atendidas , quanto para mim, enquanto estagiária. (Relato 4, 2010).

A estagiária agrega ainda outros elementos à sua explicação:

No decorrer de um ano de estágio, várias foram as atividades desenvolvidas para a promoção da saúde dos povos indígenas atendidos, dentre elas destacam-se a avaliação nutricional de criança menores de 5 anos e gestantes, acompanhamento nutricional das populações acima mencionadas, suplementação alimentar de crianças com diagnóstico nutricional de baixo peso, muito baixo peso e risco nutricional, maior variedade no cardápio oferecido e a inserção de produtos típicos das tradições alimentares indígenas, como por exemplo, bolo de milho, mandioca, dentre outros. (Relato 5, 2010).

Com base nesses depoimentos, pode-se verificar uma boa articulação entre os conhecimentos teóricos e a prática desenvolvida no programa de estágio, Há que se ressaltar também, que essas avaliações favoráveis feitas pelos estagiários, comprovam a eficácia do estágio, para a formação profissional dos estudantes.