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2 O ESTÁGIO NÃO-OBRIGATÓRIO NO ÂMBITO DO MUNDO DO

2.1 Os jovens frente ao mundo do trabalho no modelo de

Nesse estudo, destaca-se a importância do trabalho na vida dos jovens e a colaboração dos programas de estágio para inseri-los nesse contexto. Porém, reconhece-se que as transformações ocorridas no mundo do trabalho geraram uma crise de desemprego de forma geral, que atinge com maior frequência os jovens.

Tomando como referência o conceito de trabalho em Marx e Grasmci, Arruda (2002, p. 68-69) enfatiza que para Marx o trabalho é considerado uma atividade produtiva, prática no manejo dos instrumentos essenciais a todos os ofícios. Ainda segundo Arruda (2002), Marx exclui toda oposição entre cultura e profissão, formação intelectual e espiritual associada à formação técnica e cientifica. O homem é considerado em sua totalidade ou omnilateralidade.

Gramsci (1967, p. 141) nos diz que “[...] o trabalho é a própria forma de o ser humano participar ativamente na vida da natureza a fim de transformar e socializar.” E defende uma “[...] escola única de cultura geral e humanística, formativa, que considere justamente o desenvolvimento da capacidade de trabalhar

de forma manual (técnica, industrialmente) e o da potencialidade do trabalho intelectual.” (GRAMSCI, 1967, p. 141).

De acordo com Arruda (2002), pode-se evidenciar quatro dimensões para a categoria trabalho em Gramsci. Primeiro, a natureza relacional do trabalho que leva consequentemente a reconhecer nele (no trabalho) o próprio modo de ser do homem. Segundo, para além de sua dimensão de atividade produtiva social, verificam-se também outras dimensões: políticas, culturais, estéticas e artísticas.

A terceira dimensão é a da subjetividade do trabalho, ou seja, por meio do trabalho o homem produz sua subjetividade. Por fim, essas dimensões: natureza relacional, modo de ser do homem, e subjetividade apontam para uma concepção de trabalho não compartimentalizadora e nem reducionista do ser humano.

Ao contrário, na relação trabalho e homem, “esse deve ser concebido como um ser em processo pluridimensional que vai se construindo por meio de seu viver e fazer e que vive ao mesmo tempo as várias dimensões de sua realidade; corpórea, mental, intelectual, intuitiva afetiva e espiritual.” (ARRUDA, 2002, p. 69).

O trabalho é a forma que o homem encontra para modificar a natureza e seus elementos e se relacionar com os outros. Essa relação homem-trabalho é modificada quando entra nesse contexto outro sujeito, ou seja, o capitalista dono dos meios de produção e comprador da sua força de trabalho.

Nas formas rudimentares de produção, era visível o poder que o trabalhador possuía, pois era ele que dominava os instrumentos de produção. Com o nascimento da indústria, o trabalhador perde esse poder que é assumido pela máquina. Assim, é a tecnologia que dita o tipo de trabalhador necessário ao mercado e este se vê refém de seus ditames. Como aponta Marx (2008, p. 491):

O instrumento de trabalho, ao tomar a forma de máquina, logo se torna concorrente do próprio trabalhador. A auto-expansão do capital através da máquina está na razão direta do número de trabalhadores cujas condições de existência ela destrói.

Historicamente, as modificações na sociedade e no modo de produção capitalista produzem determinantes para o mundo do trabalho e aos trabalhadores. O modelo de produção denominado taylorista/fordista que prevaleceu na grande indústria durante todo século XX, tinha como forma predominante o trabalho repetitivo, a produção em série de mercadoria para atender a demanda do mercado. Como exemplifica Antunes (2007, p. 36) esse binômio “[...] baseava-se na produção em massa de mercadoria, que se estruturava a partir de uma produção

mais homogeneizada e enormemente verticalizada.”

Nesse cenário, o trabalhador ainda possui certo poder de negociação com os donos dos meios de produção. Evidencia-se a presença do Estado de bem-estar social (welfare state), caracterizado principalmente pelas políticas de proteção do estado aos trabalhadores nas áreas de saúde, educação e segurança.

Verifica-se assim, a presença do Estado entre o capital e trabalho mediando suas relações. Da análise desenvolvida por Carmo (2004, p. 59), o Estado de bem-estar social serviu como “[...] uma rede de proteção contra os rigores e excessos concorrenciais. O consenso reinante na época falava da incapacidade de a política liberal dar conta das graves questões sociais.”

É importante registrar, que o Brasil não viveu o Estado de bem-estar social, porém foram implantadas algumas políticas sociais que ajudaram o capital a avançar em seu desenvolvimento. Franzoi (2006, p. 33) explica que no caso do Brasil, o mercado de trabalho nunca se tornou “um pilar de direitos”, como nos países avançados e que pouco foram os setores que conheceram um conjunto de direitos ligados ao trabalho, como por exemplo, os setores bancários e metalúrgicos. Por outro lado, o Welfare State, se consolidou nos países de capitalismo avançado, sendo o resultado das lutas sociais dos trabalhadores.

O esgotamento do taylorismo/fordismo contribuiu com o surgimento de um novo modelo de produção, o Toyotismo. A crise do capital e este modelo de produção, no contato desta crise, trouxeram graves consequências em termos sociais para os trabalhadores, posto que, ambos, provocaram grandes transformações no mundo do trabalho. Destacam-se como sendo as mais importantes: o aumento do desemprego, a precarização do trabalho, o crescimento do trabalho informal, o rebaixamento salarial, o trabalho temporário e com tempo parcial

Destaca-se também neste contexto de mudanças, o desmonte do Estado de bem-estar social, o que abalou a estabilidade e os direitos dos trabalhadores e contribuiu para a desestruturação do mercado de trabalho, bem como as políticas macroeconômicas e o enfraquecimento dos sindicatos, em consequência do aumento do desemprego e o ataque empresarial à negociação centralizada (LEITE, 2003).

Dessa forma, instala-se um Estado mínimo, neoliberal que promove a perda dos direitos sociais dos trabalhadores. Flexibilidade passa a ser a palavra-

chave nesse contexto. Esse novo modelo de acumulação capitalista, denominado acumulação flexível é, de acordo com Harvey (2003, p. 140):

[...] marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões de desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego, no chamado setor de „serviços‟, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas (tais como a Terceira Itália, Flandes, os vários vales e gargantas do silício, para não falar da vasta profusão de atividades dos países recém industrializados)

Como analisa Silva (2009) somos obrigados a conviver numa conjuntura constantemente contraditória: de um lado o enorme crescimento da produtividade e da incorporação de novas tecnologias, principalmente da microeletrônica e da informática na organização da produção; de outro, a eliminação de postos de trabalho, levando à crescente exclusão de um número cada vez maior de trabalhadores (as) no mercado de trabalho, especialmente os jovens, muito deles, em busca ainda do primeiro emprego.

Tratando das metamorfoses da questão social, e neste contexto sobre a função integradora da empresa, Castel (2008, p. 517) afirma que existe um antagonismo entre o capital e trabalho, através de dois mecanismos de flexibilização; a subcontratação, caracterizada pela flexibilização externa, com destaque para a contratação de mão-de-obra mais barata em países periféricos.

O segundo mecanismo, a flexibilização interna, se dá quando a empresa prepara seu quadro de pessoal para enfrentar situações diversas. Ocorre que, ao usar deste tipo de flexibilização, a empresa exclui os “menos aptos”.

Nesse cenário, Castel (2008, p. 519) aponta que a empresa é “[...] uma máquina de excluir” e o faz de duas maneiras, “[...] no seio da própria empresa, pois a corrida à eficácia e a competitividade acarreta a desqualificação dos menos aptos.” Segundo, “[...] elevando o nível das qualificações exigidas para admissão, ela desmonetariza uma força de trabalho antes mesmo que tenha começado a servir.” (CASTEL, 2008, p. 519).

Com relação à problemática do emprego, o autor ressalta o fato da perda de hegemonia do trabalho por tempo determinado, para os contratos atípicos onde os jovens são os mais atingidos. Para o autor, ocorre hoje com relação ao trabalho:

uma desestabilização dos estáveis, instalação na precariedade e um déficit de espaços no mercado de trabalho. Segundo o autor, os jovens são os mais prejudicados, dessa forma, “[...] a empresa falha igualmente em sua função integradora em relação aos jovens.” (CASTEL, 2008, p. 527).

É neste cenário de profundas transformações do mundo do trabalho, onde impera a incerteza de um futuro profissional, que milhares de jovens procuram diariamente um espaço laboral, e na maioria das vezes, não o encontram. Em função deste fato é que o Estado, como regulador das políticas sociais, sob a égide das políticas neoliberais, elabora e executa algumas ações que visam inserir os jovens no mundo do trabalho.

Nesse contexto, a exemplo de órgão público, destaca-se a Caixa Econômica Federal (CEF) que em convênio com o Ministério da Educação e Cultura (MEC), dá um importante passo para inserir os jovens de renda mais baixa em seu programa de estágio. De acordo com o portal do Ministério da Educação e Cultura (2010), a CEF dá prioridade a alunos bolsistas do Programa Universidade Para Todos (ProUni) para fazerem estágio em suas unidades, possuindo em maio de 2010, 1,655 mil estudantes bolsistas, distribuídos nos 26 estados e no Distrito Federal.

De acordo com o Ministério de Educação e Cultura (2010), um protocolo assinado entre o Ministério da Educação e a Presidência da Caixa, em fevereiro de 2008, assegura aos estagiários direitos que estão definidos no cumprimento de 25 horas semanais (cinco horas por dia) receber bolsa mensal de R$ 581,00 (quinhentos e oitenta e um reais), auxilio transporte de R$ 66,00 (sessenta e seis reais), recesso remunerado a cada doze meses de atividades e redução da jornada de trabalho em dias de provas na Faculdade.

O exposto acima sinaliza que a CEF, já promove em seu programa de estágio os direitos emanados da lei 11.788/08.