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146 Fundado por Francisco Pinto Balsemão (s.v.) a 6 de Janeiro de 1973 como semanário, depois da venda do

Diário Popular (s.v.), de que Balsemão era accionista minoritário e onde esteve como administrador. O modelo era o dos “jornais ingleses de domingo de qualidade”, como The Sunday Times e The Observer. A empresa proprietária é a Sojornal-Sociedade Jornalística e Editorial, SARL. Este jornal, semanário em formato broadsheet, é concebido como integrando um caderno de caráter mais noticioso, "com uma primeira página forte e secções bem definidas nas páginas interiores", e um segundo, chamado "Revista" (substituída no início de 2003 pela “Única”) "menos ligado ao dia a dia, convidando à reflexão e proporcionando entretenimento", contendo "prosas maiores", com as secções de economia e cultura (incluindo um conto original) e a rubrica 'Gente', marcada por "uma permanente irreverência" (Pinto Balsemão a Castanheira: 2013) É director actual Pedro Santos Guerreiro (desde 6 de Março de 2016).

ELOY, MÁRIO (Lisboa, 1900 – Lisboa, 5 de Setembro, 1951)

Mário Eloy de Jesus Pereira foi um pintor português, figura marcante da segunda geração modernista. Fez estudos em Lisboa, Madrid, Paris e Berlim, onde se casou e permaneceu vários anos (1927-1932). Em 1945 foi internado numa casa psiquiátrica no Telhal. Terá convivido com Raúl Leal, havendo, segundo Pacheco, uma gravura deste da autoria de Eloy. Raoul Leal-Henoch escreveu no nº16 da Presença: “os quadros (de Mário Eloy) parecem ter sido forjados nos infernos, (são) alucinações sinistras de um Além feérico, orquestrado por Satã” (O Século, 10-12-1928). Segundo a carta 36 a Luís Amaro, haveria intenções de que a reedição de Sodoma Divinizada contasse com uma gravura de Mário Eloy.

FAFE, JOSÉ FERNANDES (Porto, 31 de Janeiro de 1927 - Lisboa, 20 de Fevereiro de 2017)

José Custódio de Freitas Fernandes Fafe foi um poeta, ensaísta e professor do ensino secundário, tendo posteriormente abandonado a docência para seguir a carreira diplomática. A obra poética, de filiação neo- realista, inicia-se em 1951 com A Vigília e o Sonho. Com o pseudónimo David Allport, assinou a primeira biografia de Ernesto Che Guevara (Che Guevara: De Cuba al Terzo Mondo) editada em Itália, pela Mondadori, em 1968.

É mencionado a propósito de uma polémica entre Fafe e Gastão Cruz (s.v.), que parte de um artigo assinado por Fafe com título “Na morte do neo-realismo” a que Cruz deu resposta endereçada àquele no mesmo periódico (Diário de Lisboa, 27 de Junho de 1963, pp. 19-24). A 11 de Julho de 1963, José Fernandes Fafe respondia, dizendo que não tivera o propósito de “estudar as possibilidades do neo-realismo nesta, naquela ou naqueloutra arte, tendo em conta a especificidade de cada uma delas. Mas, ao contrário, uma definição do neo-realismo válida para todas as artes, uma definição mínima, uma definição geral.” Acabará por considerar possível a não aplicação da sua definição à pintura e à música, acreditando, porém, poder ser aplicada à poesia, dando como testemunho disso o mesmo livro que usara Gastão Cruz para contestar a sua tese (Cantata de Carlos de Oliveira). Por fim, conclui:

“não sem acentuar que tais objecções ás minhas teses neo-realistas partem de uma perpectiva neo-realista. Eis mais um sinal da situação do neo-realismo português que, consoante já o notou José Gomes Ferreira, numa recente entrevista dada á «Seara Nova», se apresenta, hoje, como um vasto movimento, já dividido em escolas que se «combatem e digladiam». O meu ensaio «A morte do neo-realismo» pretende justamente dar uma resposta a esta situação: apresentando uma plataforma de entendimento aos diversos grupos neo- realistas, estabelecendo uma definição mínima, de modo a que todos os neo-realistas possam aceitá-la, sem prejuízo das idiossincrasias, das técnicas e das experiências de cada um. Urge trazer á diversidade do neo- realismo português a base da unidade, sem a qual o movimento corre o perigo de atomizar-se.”

FARIA, ALMEIDA (Montemor-o-Novo, 6 de Maio de 1943 – )

Benigno José Mira de Almeida Faria, conhecido como Almeida Faria, é um escritor e professor universitário. Em Lisboa, frequentou as Faculdades de Direito e de Letras, sendo licenciado em Filosofia e tendo lecionado Estética na Universidade Nova de Lisboa. Almeida Faria estreou-se com o romance Rumor Branco (1962), premiado com o Prémio de Revelação da SPE, tendo dado origem a uma célebre polémica sobre a vida ou morte do neo-realismo, entre Vergílio Ferreira (s.v.) e Alexandre Pinheiro Torres (s.v.). O núcleo central da obra de Almeida Faria é, até ao momento, a “Tetralogia Lusitana”, constituída por A Paixão (1965), Cortes (1978), Lusitânia (1981) e Cavaleiro Andante (1983).

É mencionado na correspondência juntamente com o nome de Jorge de Sena, provavelmente porque Pacheco lhe quereria enviar um exemplar de Textos Locais (1967).

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FARIA, GUILHERME

Referindo-se a censura interna nos meios de comunicação portugueses, Luiz Pacheco fará menção do nome de Guilherme Faria, administrador de O Setubalense (s.v.) nestes termos: “e, até, o digno Guilherrme Farria, d’O Setubalense, que era um anti-clerical da primeira apanha, ficou todo incomodado porque eu, já lá vão anos, numa prosa pascal de dez linhas, afável, comedida, respeitosa, quase apologética, me confessava incréu…” (cf. “Nota do Autor aos quarenta anos”, Crítica de Circunstância, p. 257) É esta censura comparada à feita a Francisco Xavier de Oliveira (s.v.), mais conhecido como Cavaleiro de Oliveira (carta 34).

FAULKNER, WILLIAM (New Albany, 25 de Setembro, 1897 – Oxford, Mississipi 6 de Julho, 1962)

William Faulkner foi um ficcionista norte-americano. Alistou-se na força aérea durante a I Guerra Mundial, tendo-se depois inscrito na Faculdade do Mississipi e experimentado vários ofícios, antes de se estrear como romancista com Soldier’s Pay (1926). Celebrizou-se com o romance The Sound and the Fury (1929). Trabalhou em Hollywood como argumentista na década de 40 e ganhou o prémio Nobel da literatura em 1949.

É mencionado nas cartas 21, 23, 26 e 27 tendo Luiz Pacheco revisto provas de O Homem e O Rio, publicado pela Portugália Editora, n.º 1 da colecção "O livro de bolso” (Lisboa, 1964, Luís de Sousa Rebelo, trad.).

FERNANDES, AGOSTINHO (Portimão, 2 de Outubro de 1886 – Lisboa, Outubro de 1972)

Agostinho Fernandes foi um empresário e editor. Algarvio, quando se muda para Lisboa, pratica diferentes actividades, tendo-se empregado em várias casas comerciais. Durante esse período, frequenta o Ateneu Comercial como aluno nocturno, tendo acabado por ocupar o lugar de contabilista na “Harker Summer”, com apenas 16 anos. Em 1920 funda a firma “Algarve Exportador”. Em 1922-23 aventura-se na revista Contemporânea de que edita a segunda série e dá início a uma das maiores e mais valiosas colecções de arte portuguesa, com cerca de 6000 quadros, sobretudo de pintura contemporânea de pintores como Columbano Bordalo Pinheiro, José Malhoa, Almada Negreiros e Maria Helena Vieira. Em 1942 funda a Portugália Editora, tendo como director literário João Gaspar Simões. Data também da década de 40 a incursão no mundo do Cinema com a criação da produtora Cinelândia.

É referido nesta correspondência enquanto administrador da Portugália Editora, sendo também referida a sua fortuna ganha com a empresa “Algarve Exportador”, conhecida por exportar conservas. Apesar de dever a Fernandes vários abonos, como se percebe pelos vários agradecimentos, Luiz Pacheco acreditava que eles se deviam mais a Luís Amaro do que a Fernandes. De facto, segundo Luís Amaro, Agostinho Fernandes “não levava a bem, dizia, a que os autores me escrevessem, ou comigo directamente se entendessem” (Luís Amaro, Santos [coord.], 2008: 27), o que permite dizer com relativa segurança que os pedidos pessoais de Luiz Pacheco não agradavam a Fernandes.

FERNANDES, FERNANDO (Águeda, 1934 – ?)

Fernando Fernandes foi um livreiro sediado no Porto. Enceta a actividade livreira em 1952 quando começa a cuidar da secção de livros da papelaria Aviz. Em 1953 adere ao MUD Juvenil, o que lhe valeu encarceramento, em 1955. Em 1958 nasce a Livraria Divulgação (depois alargada a outros pontos do país), que inclui, para além de livros, uma secção efémera de discos, funcionando também como galeria de arte. Na primeira exposição contavam-se nomes como Amadeu de Sousa Cardoso, Almada Negreiros, Dórdio Gomes, Júlio Resende, Mário Eloy ou Vieira da Silva. Aí, José Augusto Seabra organizará, em 1963, uma exposição bibliográfica sobre Fernando Pessoa, com base numa pequena parte do espólio então inédita. Dificuldades financeiras levaram ao trespasse das livrarias e só em 1968, Fernando Fernandes regressa à actividade livreira, agora com casa com nome de Livraria Leitura.

Fernando Fernandes é referido nesta correspondência a propósito duma entrevista dada com título “Guia do Leitor”, editada no n.º 2 da Portugália Editora. Como diz a Luís Amaro na carta de 11 de Maio de 1967, Pacheco aproveitou a entrevista de Fernando Fernandes (“De Fernando Fernandes o livreiro a quem a cultura portuense (e não só ela) tanto deve pelas suas actividades profissionais, li há pouco um depoimento”) e um inquérito levado a cabo por Irene Lisboa (Inquérito ao Livro em Portugal, Seara Nova, 1944) para escrever um artigo com o título “Um inquérito ao livro em Portugal” saído no “Suplemento Literário”, do Jornal de Notícias a 15 de Junho de 1967, p. I e II.

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FERNANDES, ROGÉRIO (Lisboa, 1933 - ib. 4 de Março de 2010)

Rogério António Fernandes foi um especialista em história da educação, tendo-se licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde foi segundo assistente de Filosofia (1957-1960). Proibido de leccionar na época salazarista, Rogério Fernandes ingressa no jornalismo, na revista Seara Nova, em 1962, tendo sido seu sub-director e depois director. Em 1969, edita o livro de contos Três tiros e uma Muralha. Após o 25 de Abril, foi director-geral do Ensino Básico (1974- 1976), tendo sido também inspector-geral da Junta Nacional de Educação (hoje, Inspecção Geral do Ensino) de onde sai para leccionar a disciplina de História e Ciências da Educação na Universidade de Lisboa e colaborar com a Fundação Calouste Gulbenkian. Concorre para professor associado na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, onde termina a carreira como Professor Catedrático.

Luiz Pacheco refere-se a ele na carta 30, como lhe tendo oferecido trabalho, que ele rejeitou, assim como na comunicação O que é o neo-abjeccionismo (s.v.), pelas mesmas razões.

FERNANDO, SANTOS (Lisboa, 22 de Janeiro de 1927 - Lisboa, 13 de Dezembro de 1975)

Santos Fernando foi um romancista, contista, dramaturgo e tradutor português, com colaboração em diversos jornais e revistas, na rádio, na televisão e no cinema, o mais das vezes com conteúdo satírico e humorístico. Estreou-se com A, Ante, Após, Até em 1957.

Um ano depois da morte de Santos Fernando, Luiz Pacheco escrevia

“Nem quero falar de mortos. De gente viva, pois. E é bem vivo que o Santos Fernando me aparece em Caldas da Rainha, no Verão de 65. Grande corpo, grande copo, bom garfo, grande Amigo. Uma presença aberta em riso no gozo vivido de estar. Uma gentileza e uma delicadeza de sentimentos que espantavam. Também, a solerte imediata percepção do grotesco e absurdo das coisas e das pessoas, mas sem acrimónia. Nós (eu, o Vítor Silva Tavares) chamávamos-lhe o Homem Gordo, ligando o físico bojudo à larga compreensão, à grandeza de alma (para empregar um termo cristão) de que ele exuberava, numa bonacheirice que se julga ser apanágio quanto mais bochechudos dos gordos (não é, às vezes pior) e em Santos Fernando era dádiva, era superioridade inata, era decerto a resultante do seu fundo conhecimento da sociedade errada que o rodeava, de que foi vítima como tantos mas não lhe roubou nunca a alegria de viver. Tenho coisas tocantes a relembrar desses tempos das Caldas, tão afectuosas como isto: ele trazia-me frequentemente de manhã fruta excelente de que se privava ao pequeno-almoço no Hotel Rosa, surpreendia-me na cama em plena ressaca para me reanimar com uma piada jovial, uma passeata repousante pelo Parque, uma arrancada às rajadas de iodo e sal do mar da Foz. E, caso invulgar entre colegas escribas, estimulou por palavras e actos o meu labor então bastante incómodo e isolado quase” (Guerrilha 2, pp. 82-83).

Segundo o artigo escrito no aniversário da morte do escritor, Luiz Pacheco terá convivido com Santos Fernando quando este se encontrava nas Caldas da Rainha. De acordo com entrevista de Vítor Silva Tavares a João Pedro George, Fernando também foi determinante no projecto Crítica de Circunstância (George, 2011: 591).

FERREIRA, CARLOS

Como menciona Pacheco a Luís Amaro, Carlos Ferreira, “chefe da Ribalta”, uma camisaria de luxo, seria o detentor de um Dicionário de Literatura Portuguesa e Galega da Portugália Editora (1965). A carta que seguiu com a 31 deste conjunto, datada de 18 de Novembro, sendo o ano provável de envio o de 1967, já que Pacheco menciona a “fase de propaganda” de Textos Locais (1967), começa com

“ainda um dia hei-de vir a saber, se ser coisa que fàcilmente se saiba, qual o mal que eu teria feito aos meus Amigos de Setúbal para que, após uma partida de todo em todo inesperada e súbita (que também um dia virá a saber-se ao certo como foi...), que mal teria feito, repito, a uma dúzia de Amigos sadinos, no pelotão da frente com um Carlos Ferreira muito bem colocado, e por provas mútuas demonstrado, para que não respondam às minhas cartas, panfletos, avios de saudade do emigrante, aviso à navegação de quem ficou no porto?”

Para seguir dizendo: “Fiquei a dever por aí uns escudos? não tantos como se possa supor nem tantos como à hora da partida. E, em minha opinião, uma cidade que festeja o bicentenário de um poeta crava, pode dar- se ao luxo de ter preconceitos desses?” Referindo-se finalmente ao Dicionário, acabará por dizer:

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