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128 José Aurélio Fernandes Dias de Azevedo foi um poeta Colaborou em jornais e revistas como O Globo,

Aqui e Além, Mundo Literário e postumamente na Távola Redonda (fasc. 3). Participou no volume antológico Rumos (1946, pp. 59-63) com cinco poemas que pertenceriam ao livro anunciado Versos para o povo e para os meninos infelizes. Encontra-se antologiado na Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa (1959, pp.179-180) org. de Maria Alberta Menéres e E. M. de Melo e Castro.

É mencionado nesta correspondência numa altura em que Luiz Pacheco procurava reunir elementos do espólio dele, tendo contactado diversos seus conhecidos, entre os quais Luís Amaro e Fernando Paços (s.v.) com este fito. O interesse de Pacheco pela figura, como fica claro na carta 52, tem que ver não unicamente com o desejo de recordar, trazendo a lume, um autor esquecido, “sonegado”, mas com críticas que José Aurélio terá feito a Mário Cesariny e aos surrealistas, tendo acusado o que faziam de “gavrocherie”. Depois de recolhidos alguns materiais, a carta 53 atesta alguma desilusão da parte de Luiz Pacheco, que considerava os elementos recebidos “fraquinhos”.

É mencionado em “Os poetas sonegados” (Literatura Comestível, pp. 155-161).

BALSEMÃO, FRANCISCO PINTO (Lisboa, 1 de Setembro de 1937 – )

Francisco José Pereira Pinto Balsemão é jornalista, dirigente político e empresário. Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa iniciou a carreia jornalística em 1961. Em 1973, fundou o semanário Expresso (s.v.) que dirigiu até 3 de Janeiro de 1980. Após o 25 de Abril de 1974, ao lado de Francisco Sá Carneiro e Joaquim Magalhães Mota, fundou o Partido Popular Democrático (PPD), actual Partido Social Democrata (PSD). Ocupou o cargo de Primeiro-Ministro do VII Governo Constitucional (1981) e do VIII Governo Constitucional (1981-1983). É o actual presidente do grupo Impresa e presidente do Conselho de Administração da SIC.

É durante o governo de Francisco Pinto Balsemão que se institui a atribuição de subsídios de mérito a figuras que se tivessem destacado na cultura portuguesa, através do Fundo de Fomento Cultural (s.v.), de que Luiz Pacheco foi beneficiário.

BAPTISTA, ALÇADA (Covilhã, 29 de Janeiro de 1927 — Lisboa, 7 de Dezembro de 2008)

António Alçada Baptista foi um advogado e romancista português. Entre 1957 e 1972 foi director da Moraes Editora (s.v.), e um dos fundadores e director da revista O Tempo e o Modo (1963-1969). Dedicou-se ao jornalismo, tendo dirigido o jornal O Dia (1975), e foi presidente do Instituto Português do Livro (1979- 1986). Publicou em 1973 o livro Conversas com Marcello, a que se refere em parte Luiz Pacheco, quando lhe atribui “fama fascistóide”.

Da sua relação com Luiz Pacheco fica o relato da oferta de uma bolsa não só deixado na carta de 2-7-1982 a Luís Amaro, como em várias entrevistas. Alçada Baptista era então presidente do Instituto Português do Livro. Segundo Luiz Pacheco, graças a este encontro terá recebido do Fundo de Fomento Cultural primeiro “dez contos, depois vinte, foi subindo” (Crocodilo, p. 286).

A obra Textos Sadinos é dedicada “ao Dr. António Alçada Baptista”.

BARROS, LUÍS DE (Angeja, 14 de Outubro de 1941 – )

Luís de Barros é um jornalista português. Frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, iniciou a actividade jornalística em 1968 no jornal A Capital, foi subchefe de redacção do Expresso e director do Diário de Notícias. Também foi chefe de redacção de O Diário e da agência Novosti. Actualmente é editor do Diário Económico. Presidente do Sindicato dos Jornalistas em 1973 e 1974, após o 25 de Abril, foi Subsecretário de Estado da Comunicação Social nos II e III Governos provisórios. É mencionado na carta 63 como tendo sido alvo de ataques no período de tensão que se seguiu ao 25 de Abril e que teve como consequência a perseguição de pessoas identificadas com posições consideradas “de esquerda”.

Referindo-se em entrevista ao trabalho de Saramago no Diário de Notícias, Pacheco abre um parênteses para se referir ao seu director “o Luís Barros que, coitado, não sabe escrever uma linha” (Uivo de Coiote – I, p. 71).

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BASTOS, BAPTISTA (Lisboa, 27 de Fevereiro de 1934 – Lisboa, 9 de Maio de 2017)

Armando Baptista Bastos foi um jornalista, ensaísta e ficcionista português. Iniciou a sua carreia no jornal O Século, tendo trabalhado no Diário Popular durante duas décadas. Colaborou como cronista em diversos periódicos, como Jornal de Notícias, A Bola, e, como crítico, no Jornal de Letras, Artes e Ideias, no Expresso ou no Jornal do Fundão. Foi ainda colunista do Público e do Diário Económico. Estreou-se com o livro de ensaio O Cinema na Polémica do Tempo, em 1959, e em ficção com O Secreto Adeus (1963). Como se pode perceber por este conjunto de correspondência, a relação entre Luiz Pacheco e Baptista Bastos começa por intermédio da Portugália Editora, na pessoa de Luís Amaro, certamente quem lhe pedira para rever o livro O Secreto Adeus, da autoria de Baptista Bastos.

Na carta 15, Pacheco refere que tinha conhecido Baptista Bastos recentemente, numa altura em que Luiz Pacheco já revia a referida obra. Sobre O Secreto Adeus, Luiz Pacheco oscila entre achá-lo de mérito e sofrível, conforme se percebe pela carta 16, que começa por dizer “Afinal, retiro o que disse na última carta que lhe escrevi: o livro é muito pior do que eu supunha” para acabar dizendo ter sofrido muito a rever as provas: “ri-me, contra vontade, porque o B.B. é, apesar de tudo, um tipo simpático, desempoeirado, novato: há ali uma fibra de dignidade, que está mal orientada e sedimentada em cultura, e, principalmente, em calma. Calma para esperar a sua hora e não saltar barreiras para ele, por enquanto, e ao que se vê, intransponíveis.”

Já na terceira e última versão de provas de O Secreto Adeus, datada de 7-7-1963, diz que o livro “está quase decente. B.B. é inteligente e tem talento: o que é, é precipitado um tudo-nada alifante num jardim...” Na carta 27, de 12-8-1963, um artigo escrito por Baptista-Bastos e publicado no República a 2 de Agosto de 1963, com o título “Pacheco ou a destruição dos pequenos mitos propostos ao trânsito da literatura pirata”, terá levado Luiz Pacheco a vender o romance que tinha revisto. Quase dez anos depois, a 11-3- 1973, Baptista-Bastos voltava a ser referido na correspondência entre Luís Amaro e Luiz Pacheco, como exemplo de um autor organizado e portanto mais bem-sucedido, na óptica de Pacheco.

A 17 de Maio de 1969, redige um artigo elogioso a propósito duma antologia de textos jornalísticos de Baptista-Bastos, As Palavras dos Outros, em que considera a sua obra jornalística “Jornalismo feito literatura. Isto é, ascendendo ao plano da literatura: na contensão irónica, na sua capacidade de denúncia e intervenção, obrigando-nos à exploração psicológica dos tipos, no humor dos circunlóquios, principalmente no poder de síntese.” Remata com: “Ali há talento, há verve, há ousadia, há um homem, há um escritor. Para acabar, um pingo de verrina: creio que B.-B. é muito mais apto a realizar-se assim que em obra de pura ficção onde, lá vai verrina!, não tem ponta por onde se lhe pegue. É ler O Secreto Adeus (uma garotada); é ler O Passo da Serpente (pouco mais que nada)” (Figuras, p. 69).

Mais tarde, segundo João Pedro George, terá ido pedir trabalho a Baptista-Bastos, quando este se encontrava já no Diário Popular, tendo Baptista-Bastos sido o responsável portanto pela colaboração de Luiz Pacheco naquele vespertino, datado o primeiro artigo de Fevereiro de 1976. Em 1977, no Diário Popular de 22 de Dezembro, p. VI, Baptista-Bastos dizia que “um dia destes se lhe der na mona, ele dirá pessimamente de mim soltando casquinadas intermitentes, a sua forma de escárnio e mal-dizer”, texto incluído depois na contracapa de Guerrilha 2, Lisboa, Ler Editora, 1981. Ainda depois dessa data, Luiz Pacheco concedeu a Baptista-Bastos entrevista para o Jornal de Letras, Artes e Ideias de 5 de Novembro de 1985.

Em 1995, Pacheco escrevia no Diário Económico (13 de Setembro, 7), informando ter recebido uma “missiva intempestiva” de Baptista-Bastos, em que este condenava entrevistas concedidas por Luiz Pacheco, como “jornalismo de tablóide, gratuito, sem alma e sem grandeza”. A juntar a estas acusações, acrescentava: “Não podes dizer que o pobre do Miguel Esteves Cardoso é o Mozart da prosa portuguesa. Que prenda é esta?, porra!” (cf. Figuras, 70-72)

No diário, nesse mesmo dia de 13 de Setembro, Pacheco escrevia: “O B-B está noutra trincheira. Saindo o m/ art.º hoje, como espero, vai perceber isso melhor. Ele é contra o Miguelito – entende-se a razão. Mas era a favor do Namora e do González e, aí, ele perde-a TODA.”

A Luiz Pacheco, Baptista-Bastos fez duas entrevistas com o título: “Não criei moral nenhum: sou o que fiz”, Jornal de Letras, Artes e Ideias, nº 174, 5 de Novembro de 1985, 10-11. Incluída em O Uivo do Coiote

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I, Setúbal, Contraponto, Novembro de 1992 e em O Uivo do Coiote 2, Palmela, Contraponto, 1994, pp. 113-123; e “Olhó Pacheco! Sacana libertino escritor”, O Inimigo, 8 de Abril de 1994, incluída em Crocodilo pp. 75-84. Ainda sobre Baptista Bastos, Luiz Pacheco escreveu “Este meu companheiro de jornada este jornalista honrado”, Diário Popular, supl. “Letras e Artes”, 31 de Janeiro de 1980, p. III.

BERTRAND

Fundada por Pedro Faure em 1732, foi passada a Pierre Bertrand, com quem casou a filha de Faure, mais tarde se tendo juntado àquele como sócio o irmão Joseph Bertrand (1746), dando-se assim início à dinastia dos Bertrand. Em 1773 a livraria já está instalada na Rua Garrett, e por ela mais tarde passariam Alexandre Herculano, Oliveira Martins, e depois a geração de 70, com Eça de Queirós, Antero de Quental e Ramalho Ortigão. A livraria passou depois por diversas fases, proprietários e múltiplas reestruturações. Em 1912, sob propriedade da firma Aillaud, Alves & C.ª, uma nova sociedade adquire o fundo da livraria, A Editora Limitada, comprando os direitos de livros de Gorki, Balzac, Júlio Dantas, a colecção completa das obras de Júlio Verne, entre outros. Em princípios de 1940, entra para a sociedade Artur Brandão, um homem “de direita”, refletindo-se as suas ideias na orientação editorial da casa. Desapareceram do catálogo a colecção “Biblioteca do Povo” e a “Biblioteca Socialista” e publicou-se Afonso Lopes Vieira, António Ferro e Júlio Dantas (accionista da sociedade), entre outros. Em 1942, o livreiro francês Marcel Didier (considerado um “homem de esquerda”) adquiriu a maioria do capital da Bertrand. Com Didier fora do país, fica a gerir a firma Gilbert Champion, que é intimado a sair de Portugal a 17 de Julho de 1943. Como resultado é feita uma reforma no Conselho de Administração, pressionada por círculos próximos do Governo com objectivo de defender dentro da empresa os princípios do Estado Novo. Será depois com George Lucas (francês ainda emissário de Marcel Didier) na gerência (1948) que a casa editora entrará definitivamente na modernidade, tanto técnica como estética, publicando Augusto Abelaira, José-Augusto França, Vitorino Nemésio, entre outros. Em 1969, com a morte de Didier, é comprada pelo financeiro Manuel Bulhosa, através de uma sociedade representada por José Sotto Mayor Matoso. Em 2006, foi comprada pelo Direct Group Bertelsmann, que, em 2010 vendeu ao grupo editorial Porto Editora todo o seu património, incluindo o universo Bertrand – editora, distribuidora e uma cadeia de 53 livrarias.

Mencionada na carta 70, pelo relato de Pacheco se percebe que havia um volume intitulado Textos Nus, prometido à Bertrand, onde se incluíam títulos como “festejando a morte do Ditador” e “O primeiro «Avante!» livre”, mas já em finais de 1982 sem continuação, como se percebe. Segundo entrada de 19 de Fevereiro de 1981 de diário inédito, também terá programado incluir títulos como “Na morte de António Sérgio [s.v.]”, tendo mais tarde evoluído noutro sentido o projecto, já sem vínculo à Bertrand. Em diários posteriores, consultados por João Pedro George, reduzir-se-á o universo deste projecto à revelação de toda a verdade da sua auto-intitulada “condição panasca”, servindo para relatar as relações homossexuais de Pacheco. Em entrevista deixará o mesmo registado:

“Esses tipos – eu não vou agora aqui dizer nomes… – não põem à mostra, as pessoas, o sórdido que há nas relações homossexuais… Bom, eu estou a falar num encontro de jardim, de escada, a macacada, enfim… E, para além disso, os perigos: os arrebentas e não sei que mais… Os meus textos sobre isso são relatos, textos nus” (Uivo do Coiote 1, p. 69).

Há, ainda segundo George, um texto com este título no Arquivo de Família (2016: 594).

BESSA-LUÍS, AGUSTINA (Amarante, Vila Meã, 15 de Outubro de 1922 – )

Agustina Bessa-Luís, nome literário de Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa, é uma romancista, contista, dramaturga, biógrafa e cronista portuguesa. Em Coimbra se estreou literariamente com a novela Mundo Fechado (1948), tendo ganhado notabilidade anos depois e como romancista em 1953, com A Sibila – prémio Delfim Guimarães e Prémio Eça Queirós, sendo considerada por muitos como dos melhores romancistas portugueses do séc. XX.

Sobre Bessa Luís, Pacheco afirmou: “Agustina é a figura essencial na ficção, não tem parceiro. Ao pé dela, falar do Saramago é como falar do cão... A Agustina é ímpar a retratar os meios ligados ao poder e ao dinheiro.” Mais tarde, a opinião de Luiz Pacheco irá no mesmo sentido que o já exposto na carta 30 a Luís Amaro, tendo dito que “A Agustina a partir de certa altura já não se pode ler. É tanto disparate, tanta macacada!” (Entrevista a Rodrigues da Silva e Ricardo de Araújo Pereira, Jornal de Letras, Artes e Ideias, Setembro de 1997, 181). Referindo-se à obra O Mosteiro (1980), escreve numa entrada de 6/1/81 de diário

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