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A presente pesquisa caracteriza-se por ter uma abordagem qualitativa que, segundo Lüdke e André (1986), se desenvolve numa situação natural, possui riqueza em dados descritivos, tem um plano aberto e possibilita maior flexibilidade nas respostas, além de focalizar a realidade. Tais características apontam que nenhum estudo é considerado como um conhecimento pronto e acabado, e, sim, como algo em constante movimentação, havendo reformulação de seus pressupostos norteadores, auxiliando a apreensão e a interpretação da realidade estudada.

A pesquisa de abordagem qualitativa ganhou, no decorrer dos últimos anos, grande aceitação pelos estudos desenvolvidos na área da educação, considerando que possui elevado potencial para analisar as questões que surgem dentro do ambiente escolar (LÜDKE; ANDRÉ, 1986).

De acordo com Triviños (1987), a pesquisa qualitativa considera o ambiente natural como um meio direto para a obtenção de dados, e o pesquisador se torna um instrumento essencial desse trabalho; o autor aponta que o pesquisador qualitativo tende a optar pela análise de dados de forma indutiva, uma vez que o significado é a preocupação essencial da pesquisa.

Para Oliveira (2008), o pesquisador opta pela pesquisa qualitativa na realização de estudos que buscam a compreensão e interpretação de fatos reais, havendo a preocupação em analisar experiências vividas por seres humanos, compartilhando as interpretações à medida que ocorre interações entre os mesmos, refletindo sobre as experiências ocorridas no decorrer de suas atividades cotidianas (Quadro 3).

Além da abordagem qualitativa, a presente pesquisa possui enfoque em um estudo de caso, o que, segundo Chizzotti (2008), objetiva reunir dados relevantes do objeto estudado para que, dessa forma, se obtenham conhecimentos mais amplos acerca do mesmo, esclarecendo as dúvidas e questões pertinentes que instruam ações futuras. Em educação, uma das contribuições do estudo de caso se dá à medida que passa a influenciar questões de políticas públicas, fomentando novas

discussões e possibilitando intervenções ou esclarecendo decisões que foram tomadas ou implementadas mediante os resultados.

Quadro 3 - Características básicas da pesquisa qualitativa.

1) A interpretação como foco. Nesse sentido, há um interesse em interpretar a situação em estudo sob o olhar dos próprios participantes;

2) A subjetividade é enfatizada. Assim, o foco de interesse é a perspectiva dos informantes; 3) A flexibilidade na conduta do estudo. Não há uma definição a priori das situações;

4) O interesse é no processo, e não no resultado. Segue-se uma orientação que objetiva entender a situação em análise;

5) O contexto é considerado como algo intimamente ligado ao comportamento das pessoas na formação da experiência;

6) O reconhecimento de que há uma influência da pesquisa sobre a situação, admitindo-se que o pesquisador também sofre influência da situação de pesquisa.

Fonte: Oliveira (2008); adaptado pela autora (2020).

Lüdke e André (1986) apontam a utilização do estudo de caso quando o pesquisador possui o interesse em analisar uma situação particular, que carece de atenção especial aos detalhes que se encontram presentes em determinado grupo, objeto ou local específico. As autoras ainda complementam que, no estudo de caso, a questão a ser pesquisada deve possuir delimitações claras para que a pesquisa seja desenvolvida de maneira coerente e satisfatória.

Percebe-se que o estudo de caso fundamenta-se à constante reformulação dos seus pressupostos, considerando que o conhecimento é algo inacabado, a ser construído no decorrer de um processo, e, mesmo que chegue ao fim, não pode ser considerado como pronto. Nota-se ainda que o entendimento de dado objeto de estudo será direcionado ressaltando o contexto em que o mesmo se manifesta, pois os fatores externos também podem influenciar diretamente na compreensão e na apreensão da problemática analisada.

Oliveira (2008) complementa que o estudo de caso preocupa-se em abordar a complexidade de uma situação específica, dando enfoque a seu aspecto geral, em variados momentos e em diferentes situações, assim como envolve uma variedade de sujeitos participantes.

O autor acima citado ainda ressalta que, em pesquisas realizadas em escolas, o pesquisador deve fazer observações em diferentes momentos de vivência dos participantes do estudo, assim como deve coletar materiais em variados momentos do período letivo a fim de que tenha acesso a uma variedade de informações (OLIVEIRA, 2008).

De acordo com Lüdke e André (1986), o estudo de caso deve ser desenvolvido seguindo três etapas:

 Fase exploratória: constitui-se como a primeira etapa do processo de investigação, momento no qual o pesquisador prepara o campo de análise, definindo de forma precisa o objetivo a ser estudado, assim como especifica os pontos mais críticos e as questões que precisam ser levantadas, partindo do contato com o campo até os indivíduos que serão envolvidos na mesma, selecionando, assim, as fontes que serão utilizadas para a coleta de dados. Essa etapa inicial, mesmo que tenha toda preocupação com a pesquisa, não possui como objetivo um posicionamento, mas possui como fundamento o interesse em tornar explícito, reformular ou até mesmo modificar a questão inicial da pesquisa.

 Delimitação do estudo e coleta de dados: nessa segunda etapa, o pesquisador iniciará o processo de identificação dos contornos presentes no problema de pesquisa a ser analisado, podendo, nesse momento, realizar a coleta de dados de forma sistemática, utilizando dentre os instrumentos de sua escolha aqueles que julga como sendo mais adequados para a realização da caracterização da problemática.

 Análise sistemática dos dados colhidos: na terceira etapa, deve-se considerar que desde o início da pesquisa há a preocupação na seleção de informações para que essas possam ser visualizadas aos que se interessem pelas mesmas. A partir dessas observações iniciais, as informações colhidas devem ser registradas por meio da escrita ou outros meios de registro, tais como apresentações visuais ou auditivas.

Lüdke e André (1986) ainda destacam que as três etapas citadas acima não formam uma sequência linear que não possa ser modificada, podendo haver uma

superposição entre as mesmas. Não é possível tornar preciso o momento de separação, considerando que essas etapas se encontram em diferentes momentos da pesquisa, sendo necessário apenas um movimento constante na relação entre elas.

Dentre os instrumentos utilizados para a pesquisa em estudo de caso na educação e outras áreas, utiliza-se o grupo focal. Para Gatti (2005), o grupo focal é um instrumento de pesquisa que possibilita ao pesquisador a compreensão dos processos ocorridos no cotidiano do grupo pesquisado, compreendendo suas práticas, atitudes e comportamentos presentes com alguns seres humanos que compartilham traços em comum, consideráveis para a pesquisa e a análise do problema proposto.

Powell e Single (1996, apud GATTI, 2005) definem a técnica de grupo focal como um conjunto de seres humanos selecionados e reunidos por pesquisadores para debater sobre determinada temática, que é objeto de pesquisa, mediante sua experiência pessoal.

O grupo focal é o tipo de técnica que objetiva compreender, mediante as trocas nas convivências em grupos, conceitos, sentimentos, assim como atitudes, reações, entre outros, de forma específica, cuja captação não seria possível por outros meios, tais como: a entrevista, o questionário ou a observação. O estudo com o grupo focal possibilita ao pesquisador o entendimento de contraposições, contradições, diferenças e divergências (MORGAN; KRUEGER, 1993, apud GATTI, 2005).

A partir da aplicação da técnica de grupo focal, é possível captar informações concretas de diversas naturezas, repletas de conceitos e preconceitos, opiniões e ideias, valores, sentimentos e ações direcionadas para o objetivo do estudo. É necessário que, no momento da análise, tenha-se atenção para não aprofundar-se em opiniões superficiais e preconcebidas, ou seja, para que a pesquisa com grupo focal seja de qualidade, é necessário atenção no decorrer da coleta de dados, o modo de lidar e de tratar esses dados no momento das análises, e a utilização de um referencial que dê embasamento às bases de argumentação e conclusões buscadas no estudo (GATTI, 2005).

Além disso, Gatti (2005) aponta características que contribuem para maior fluidez no desenvolvimento da pesquisa, pois apresenta baixo custo em sua execução, obtenção de respostas diretamente da fonte, de maneira mais dinâmica e rápida, possui forte interação com os elementos participantes da pesquisa e profundidade nas informações obtidas.

Outra metodologia utilizada nas pesquisas é a técnica do diário de campo que é um meio de registro das temporalidades cotidianas reconhecidas no decorrer do processo de pesquisa, ao potencializar o entendimento dos acontecimentos e movimentos que ocorrem no estudo e das variadas culturas inscritas no cotidiano do grupo participante.

Araújo et al. (2013, p. 54) complementam que

[...] o diário tem sido empregado como modo de apresentação, descrição e ordenação das vivências e narrativas dos sujeitos do estudo e como um esforço para compreendê-las. [...]. O diário também é utilizado para retratar os procedimentos de análise do material empírico, as reflexões dos pesquisadores e as decisões na condução da pesquisa; portanto ele evidencia os acontecimentos em pesquisa do delineamento inicial de cada estudo ao seu término.

O diário de campo também pode ser considerado como um meio de colhimento de informação, uma ferramenta de pesquisa que possibilita a consulta através dos escritos produzidos no decorrer da fase de aplicação da pesquisa. Para que seus resultados sejam coerentes e concisos, é necessário que as anotações sejam feitas no ato ou logo após a proximidade com o fato, evento, a ocorrência da entrevista, da visita, ou da metodologia utilizada no campo da pesquisa. A realização de registros no local, por vezes, configura-se como uma tarefa incompatível devido à necessidade de observação, conversa, entrevista, questões que podem causar desconforto ao participante da pesquisa, sendo necessária a realização de notas mentais e termos à mão em um pequeno material de anotação para, após o momento serem redigidos da forma correta (OLIVEIRA, 2014).

Para a análise dos dados, foi utilizada a obra de Laurence Bardin (2011). Para essa autora, a análise de conteúdos não se apresenta unicamente como técnica de análises, e, sim, trata-se de uma abordagem metodológica com características próprias e possibilidades de compreensão e significados diversos de diferentes tipos

de mensagens, pois sua matéria-prima pode ser qualquer material verbal ou não- verbal e trata-se, portanto, de:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens(BARDIN, 2011, p. 47).

Moraes (1999) descreve a análise de conteúdo como metodologia de pesquisa usada para descrever e interpretar variadas formas de conteúdos em diversos tipos de documentos e textos. Por meio dela, é possível decifrar o que está em uma mensagem e até mesmo induzir o seu significado, ou seja, o que não foi dito diretamente ou o que está além da mensagem.

Essa técnica deixou de ser apenas descritiva e passou a usar a inferência, identificando objetivamente as características das mensagens, procurando, portanto, esclarecer suas causas ou as consequências que ela pode provocar (SANTOS, 2012). Para que essa interpretação ocorra, é necessário que o pesquisador siga as etapas que servem de suporte à análise e capte os significados que são amplos e diversos e que dependem, também, do ponto de vista do pesquisador.

Bardin (2011) considera 3 fases fundamentais nessa análise: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados.

Na pré-análise, os materiais coletados são organizados para realização da chamada leitura flutuante, obtendo-se, assim, uma visão geral das ideias que nortearão a interpretação, escolha de quais materiais usar e uma preparação desses materiais. De tudo o que for avaliado, observa-se quais temas se repetem e podem categoricamente ser agrupadas, realizando-se assim a segunda fase, de exploração do material.

Dependendo do instrumento de coleta de dados utilizado pelo pesquisador, é nesse momento, da exploração do material, que se faz a edição do que foi transcrito, por meio de entrevistas, por exemplo, e escolhendo quais recortes serão utilizados, obedecendo-se as regras de:

Exaustividade, devendo-se considerar todos os fatos obtidos, não excluir nem ignorar nenhum; Representatividade, indicando que a amostra deve representar o todo pesquisado; Homogeneidade, os dados devem ter sido colhidos pelas mesmas técnicas e indivíduos semelhantes; Pertinência, os documentos devem atender aos conteúdos e objetivos do trabalho; Exclusividade, um elemento não deve ser considerado em mais de uma categoria (CÂMARA, 2013, p.183).

Na terceira fase do processo, tratamento dos resultados, busca-se a interpretação daquilo que está escrito nas mensagens tornando-as significativas e também a interpretação daquilo que não estava explícito nas mensagens escritas, mas pode ser interpretado por meio das gesticulações, movimentos e olhares. Esse é o momento de desvendar o sentido do que foi falado e exposto e para que foi falado.

Embora possa-se aferir diferentes sentidos a uma mensagem, Moraes (1999) explica que toda leitura constitui-se de uma interpretação, que não é possível haver uma leitura neutra, pois o pesquisador interpreta o que tem nos seus dados de maneira pessoal. Contudo, para Bardin (2011), essa técnica visa ultrapassar o subjetivismo e alcançar o rigor científico necessário ao trabalho, não de forma rígida, mas oscilando entre a investigação científica e também a subjetividade.

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