• Nenhum resultado encontrado

O FUNDO DE DIREITOS DIFUSOS (FDD)

No documento Download/Open (páginas 138-141)

CAPÍTULO III – EXECUÇÃO NAS AÇÕES COLETIVAS

3.6 O FUNDO DE DIREITOS DIFUSOS (FDD)

O Fundo de Direitos Difusos, também denominado de Fundo de Defesa dos Direitos Difusos ou de Fundo de Interesses Difusos, encontra-se previsto no artigo 13, da Lei n. 7.347/1985. Quando ocorrem condenações em dinheiro no âmbito de ações civis públicas, as

indenizações são revertidas para o FDD com o objetivo de reconstituir os bens lesados. O fundo é gerido por um conselho federal ou por conselhos estaduais, dos quais devem participar o Ministério Público e representantes da comunidade.

Atente-se ao texto legal:

Art. 13. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados.

§ 1º Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará depositado em estabelecimento oficial de crédito, em conta com correção monetária.

§ 2º Havendo acordo ou condenação com fundamento em dano causado por ato de discriminação étnica nos termos do disposto no art. 1º desta Lei, a prestação em dinheiro reverterá diretamente ao fundo de que trata o caput e será utilizada para ações de promoção da igualdade étnica, conforme definição do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, na hipótese de extensão nacional, ou dos Conselhos de Promoção de Igualdade Racial estaduais ou locais, nas hipóteses de danos com extensão regional ou local, respectivamente.

De acordo com Érica Barbosa e Silva (2009, p. 132), a criação desse fundo é claramente inspirada na fluid recovery do sistema norte-americano. O Fundo recebe as quantias “(...) decorrentes das condenações de obrigações de pagar, tanto na defesa de direitos difusos e coletivos quanto na defesa de individuais homogêneos, permitindo que essas importâncias sejam, de alguma forma, devolvidas à sociedade (...).” (SILVA, 2009, p. 132).

Fredie Didier Júnior e Hermes Zaneti Júnior (2012, p. 404) apontam que também são revertidos ao fundo as condenações ao pagamento de quantia em ações sobre direitos difusos e coletivos stricto sensu, multas pelo descumprimento de decisões judiciais, doações de pessoas físicas ou jurídicas para a proteção de direitos coletivos e a fluid recovery prevista no artigo 100 do Código de Defesa do Consumidor.

O fundo é dividido entre um federal e outros estaduais, os quais dependem de lei estadual para sua criação. O FDD federal é gerido pelo Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa de Direitos Difusos, órgão que integra a estrutura do Ministério da Justiça. Desse modo, “os recursos arrecadados no FDD serão distribuídos para a efetivação das medidas dispostas no art. 3º da Lei Federal 9.008/1995, e suas aplicações deverão estar relacionadas com a natureza da infração ou do dano causado.” (DIDIER JÚNIOR; ZANETI JÚNIOR, 2012, p. 405).

Pelo artigo 13, § 2º, da Lei n. 7.347/1985, as quantias destinadas ao FDD originárias de indenizações por atos de discriminação étnica têm destinação vinculada.

Em caso de inadimplemento do devedor ao pagamento da indenização, “(...) terá lugar a execução (cumprimento de sentença) por quantia certa contra o devedor solvente ou insolvente, nos termos do Código de Processo Civil.” (LEONEL, 2013, p. 414).

Ressalte-se que, caso a condenação determine o ressarcimento de prejuízos causados ao erário público, esse respectivo valor não é destinado ao fundo, mas à própria fazenda pública interessada. Porém:

Outros valores secundários da condenação, estranhos à reparação do prejuízo ocasionado ao erário (como, por exemplo, a multa pelo descumprimento de liminar), estes sim deverão ser carreados ao Fundo previsto na lei. Mesmo na hipótese acima, em que há diversidade de destinação do montante da condenação, o procedimento da execução será idêntico, diferenciando-se apenas ao final no encaminhamento do numerário auferido. A prioridade, supondo parcial insolvência do devedor, será a reparação dos interesses lesados e secundariamente, a destinação do remanescente ao Fundo. (LEONEL, 2013, p. 414).

Quando a reconstituição do direito lesionado não é possível, Luiz Rodrigues Wambier afirma que “(...) o Fundo deverá ter por finalidade a realização de atividades totalmente desprovidas de índole reparatória, pois os recursos poderão ser empregados em atividades educativas relacionadas ao meio-ambiente, por exemplo.” (WAMBIER, 2014, p. 203).

No entanto, se não há possibilidade de reconstituição e nem mesmo uma reparação aproximada da lesão, o sobredito autor defende que devem ser realizadas atividades que favoreçam o bem jurídico atingido, de forma direta ou indireta. Ele exemplifica com a comercialização de um medicamento sem os efeitos prometidos em campanhas de publicidade, hipótese em que os recursos originários da obrigação reconhecida pela sentença condenatória coletiva destinados ao fundo poderiam ser utilizados para divulgar outras campanhas publicitárias para alertar a sociedade dos efeitos nocivos da automedicação (WAMBIER, 2005, p. 203).

Em todo caso, Teresa Arruda Alvim (2014, p. 108) chama atenção para o fato de que liquidações e execuções individuais podem ser dirigidas contra a verba contida no fundo.

Esgotado este, as liquidações e execuções posteriores, se houver, dirigir-se-ão contra o patrimônio do condenado. Entende-se que não se trata de um bis in idem, pois enquanto houver prejudicados pelo ilícito praticado pelo réu, este será tratado sob a condição de devedor, pois que devedor ainda será (arts. 97 a 100 do CDC). (ALVIM, 2014, p. 108).

É importante destacar que a tutela de direitos difusos e coletivos dá preferência para a tutela específica das obrigações, motivo pelo qual “(...) serão raras as Ações Coletivas em defesa de direitos difusos e coletivos que tenham por objeto a condenação a uma obrigação de pagar, com reversão desses valores ao Fundo.” (SILVA, 2009, p. 133).

É por isso que se existir a possibilidade de reparação da lesão causada, ela será promovida de forma preferencial, sendo os valores revertidos ao fundo somente quando o prejuízo ao bem coletivo for totalmente irreparável.

No documento Download/Open (páginas 138-141)