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6. Avaliação do SGCIE – Identificação e Análise de Questões Críticas

6.7 Incentivos

6.7.2 Fundo de Eficiência Energética

O Fundo de Eficiência Energética (FEE) é o instrumento financeiro, criado através do Decreto-Lei n.º 50/2010, de 20 de Maio, que tem o objectivo de financiar os programas e medidas previstas no PNAEE, incentivar a eficiência energética, por parte dos cidadãos e das empresas, apoiar projectos de eficiência energética e promover a alteração de comportamentos, neste domínio. Este Fundo pode também apoiar projectos não previstos no PNAEE mas que comprovadamente contribuam para a eficiência energética (ADENE - Fundo de Eficiência Energética, 2013).

Este Fundo, através de Avisos específicos, apoia os projectos de eficiência energética previstos nos incentivos do SGCIE, nomeadamente, os apoios às auditorias e ESGMCE (software para SGE e contadores). Foram realizados dois avisos:

 Aviso 02 – SGCIE 2012 – lançado pela Comissão Executiva do PNAEE no dia 29 de Junho de 2012, destinado à área “Indústria”, tendo o prazo de submissão de candidaturas terminado no dia 28 de Setembro de 2012 às 18h;

o Foram submetidas 85 candidaturas no âmbito deste Aviso, das quais 60 foram objecto de análise e hierarquizadas por ordem de mérito do projecto e 25 consideradas como excluídas pela Comissão Executiva do PNAEE;

 Obtiveram parecer favorável de financiamento 54 candidaturas, e 6 candidaturas resultaram como condicionadas à aprovação. Para um montante total previsto a apoiar pelo FEE de 1.500.000 € no âmbito deste Aviso, a verba a atribuir para as 60 candidaturas (aprovadas e condicionadas) é de 226.027,30€.

Gestão de Consumos de Energia na Indústria – análise crítica e contributos para a reformulação do SGCIE

Mário Silva 133

 Aviso 04 – SGCIE 2012 – Lançado pela Comissão Executiva do PNAEE no dia 21 de Novembro, destinado à área “Indústria”, tendo o prazo de submissão de candidaturas terminado no dia 4 de Fevereiro de 2013 às 18h e tendo o valor excedente do Aviso 2, transitado para o presente aviso.

o Foram submetidas 55 candidaturas no âmbito deste Aviso, das quais 44 foram objecto de análise e hierarquizadas por ordem de mérito do projecto e 11 consideradas como excluídas pela Comissão Executiva do PNAEE;

 Para um montante total previsto a apoiar pelo FEE de 1.000.000 € no âmbito deste Aviso, a verba a atribuir para as 44 candidaturas aprovadas é de 160.430,13 €.

Em Janeiro de 2014, o Aviso 08 – SGCIE – Incentivo à promoção da Eficiência Energética 2014, foi lançado, tendo o prazo de submissão de candidaturas terminado no final de Outubro de 2014 e estando em Novembro a decorrer a análise das candidaturas submetidas para posterior comunicação dos resultados prévios aos candidatos. Este aviso foi elaborado nos mesmos moldes dos anteriores, prevendo ainda a comparticipação de 50% das despesas totais, e até ao limite de 2.000 € para instalações do SGCIE, em fornecimento e instalação de isolamentos térmicos, excluindo-se o isolamento térmico em envolventes de edifícios.

Tendo em conta os valores dos 2 primeiros avisos (Avisos 4 e 8) e analisando a Tabela 51, conclui-se que apenas cerca de 15% do total do fundo disponível para cada Aviso foi utilizado, para um total de cerca de 70% e 80% das candidaturas aprovadas, respectivamente, para o Aviso 2 e 4.

Tabela 51 - Disponibilização do FEE, no âmbito dos 2 avisos consumados referentes ao SGCIE.

FEE1 – Aviso 2 FEE2 – Aviso 4 Total Prazos 29 de Junho de 2012 a 28 de Setembro de 2012 21 de Novembro de 2012 a 4 de Fevereiro de 2013 - Candidaturas 85 55 140 Aprovações 54 + 6 44 104 Valor total 226.027,30 € 160.430,13 € 386.457,43€ Valor disponível 1.500.000€ 1.000.000€ -

Parcela de fundo utilizado 15,1% 16,04% -

Média por empresa 3767,12€ 3646,14€ -

Note-se ainda que o número de candidaturas ao fundo, face às 802 instalações registadas no SGCIE em Dezembro de 2012, representa 17,5% das empresas registadas no SGCIE até essa data (ADENE - Fundo de Eficiência Energética, 2013).

Segundo a ADENE, o principal factor de rejeição de candidaturas, foi entrega das mesmas fora dos prazos, sendo que o factor secundário foi o facto de as empresas não cumprirem com os 50% de medidas previstas no ARCE. No entanto, foram sempre entregues, às empresas cujas candidaturas foram aprovadas, os valores máximos permitidos por lei dos incentivos, não havendo muitos casos a terem atingido o limite.

Foi ainda permitido que fossem incluídas despesas anteriores ao registo no SGCIE, ou seja investimentos em sistemas de gestão e monitorização dos consumos de energia, como por exemplo contadores, não previstos no ARCE, dado que os investimentos teriam sido antes de a empresa estar incluída no universo SGCIE, poderiam ser reembolsados via FEE, ainda assim este facto não foi suficiente para aumentar a afluência de candidaturas.

Este baixo valor de interessados em concorrer ao fundo poderá estar associado a factores como:

 As empresas não disporem de fundos suficientes para investir em ESGMCE, dado que a comparticipação do fundo é de apenas de 25%;

 No caso de empresas com consumos <500tep/ano, a comparticipação de 50% do valor da auditoria, até 750€, poderá não ser interessante, dado que algumas empresas de serviços energéticos oferecem a auditoria em troca da garantia de que as medidas técnicas previstas no ARCE serão exploradas pela mesma, segundo alguns auditores.

A ADENE apresenta como justificação para a baixa adesão ao FEE, o facto das empresas neste momento não terem capacidade de investir, e não terem inserido despesas anteriores porque não investiram nesse domínio, eventualmente, pela mesma razão.

As medidas que poderiam ser executadas de modo a combater esta lacuna seriam reestruturações nas áreas em que se incidem estes incentivos, bem como abolir ou diminuir as restrições percentuais de comparticipação, que numa altura de crise económica, poderá fazer com que as empresas percam o interesse em concorrer ao FEE e investir em EE. A alternativa poderá ser a disponibilidade do fundo, dentro de limites mais tolerantes que os actuais no que diz respeito às restrições percentuais, para outras áreas que não apenas ESGMCE e auditoria. Tais como, equipamentos standard comuns à maior parte dos sectores indústrias, ou equipamentos específicos de sector, desde que, comprovadamente sejam economicamente viáveis e mais eficientes. Repare-se no sistema de incentivos dos LTA que se baseia numa lista de equipamentos, actualizada anualmente, onde o investimento em equipamentos desta lista poderá ter uma redução até cerca de 40% dos respectivos impostos.

Na realidade a ADENE pondera, à semelhança do paradigma holandês, criar no futuro um aviso no FEE que não esteja virado para o domínio das auditorias e ESGMCE, como actualmente, mas direccionado para os equipamentos, disponibilizando-se um valor que será utilizado em medidas de EE, e como a disponibilização de verba sem tectos percentuais para investimento em medidas que sejam comprovadamente de EE. Este último ponto seria mais simples no caso de existir uma lista de medidas já predefinidas, elaborada, por exemplo, pelas eventuais associações industriais de cada sector.

Uma outra possibilidade seria, à semelhança de outros países europeus, a utilização deste fundo para empréstimos destinados a medidas de EE, a um juro mais baixo que o convencional, em que as empresas através das poupanças obtidas provenientes da implementação de determinada(s) medida(s), poderiam liquidar esse empréstimo, seguindo o modelo das ESCO (Energy Service Company) ou em português, ESE (Empresas de Serviços Energéticos). Em particular a ADENE assume que em teoria este seria o cenário ideal, existindo no entanto, a limitação da insuficiência deste fundo para, na prática, este modelo se concretizar. Do ponto de vista dos explorados das instalações CIE, pode ser uma boa ideia, dependendo do tipo de medida e do prazo a que o empréstimo seria feito.