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O Impacto e Interacção das Diferentes Tipologias de Políticas de EE

5. Análise Comparativa – Benchmarking Internacional

5.1 Visão Geral – Padrões, Tendência, Melhores Práticas e Pontos-Chave

5.1.2 O Impacto e Interacção das Diferentes Tipologias de Políticas de EE

O sector industrial dispõe de uma diversidade de opções de melhoria da eficiência energética. A escolha de cada opção por parte da indústria depende, não só das respectivas características técnicas, mas também dos mercados de energia locais, mercados e ambientes económicos, situações de negócio, prioridades da gestão e barreiras/entraves de implementação. E quando uma política ou medida faz parte de um pacote de políticas, como quase sempre acontece, uma avaliação qualitativa requer um conhecimento detalhado de cada componente abrangida e a sua contribuição para a política ou medida.

Existe, então, dificuldade em comparar políticas diferentes de cada parte do mundo devido, essencialmente, aos diferentes métodos de cálculo dos cenários BAU e às circunstâncias específicas de cada política, economia e país. Como tal, os estudos existentes não conseguem, nem devem, determinar qual a melhor política ou a mais adequada.

Contudo, é possível determinar alguns pontos positivos e negativos, factores que influenciam a sua eficácia e algumas observações gerais acerca das propriedades de cada política. Na Tabela 41, algumas tipologias políticas são avaliadas segundo determinados critérios, como custo- eficiência, facilidade de execução e outros efeitos.

Tabela 41 - Efeitos dos diferentes tipos de medidas em diversos critérios. Adaptado de (Tanaka, 2010). Critério Medidas

Prescritivas Medidas Económicas

Medidas de Suporte Regulamentação nos equipamentos de processo; e na configuração de processos Regulamentação na

gestão de energia Acordos Negociados Taxas sobre a energia

Esquemas ‘cap-and-

trade’

Reduções Directas de taxas; outros incentivos

financeiros (subsídios, empréstimos e fundos para I&D) Identificação de oportunidades: capacity bulding, divulgação pública e medidas de cooperação

Custo-eficácia do potencial de redução do uso de energia e emissões de CO2

Cobertura da Industria – Potencial técnico de redução de energia e CO2 pelas tecnologias, práticas e sectores alvo

Baixo a médio Baixo a médio Médio a alto Alto Alto Baixo a médio Médio a alto

Poder de Motivação – Ambição, rigor e precisão das medidas na área abrangida

Alto Médio a alto Baixo a alto Alto Alto Médio Baixo

Flexibilidade na adesão – grau de liberdade de escolha das acções técnicas

Baixo Alto Alto Alto Alto Baixo a médio Alto

Facilidade no desenvolvimento, execução e avaliação da política

Conveniência do

design técnico -

Capacidade de conceber a política sem conhecimento técnico detalhado das oportunidades de eficiência energética

Baixo Alto Baixo Alto Baixo Baixo a médio Alto

Resultados quantificáveis – Facilidade de medir os resultados sobre a energia e CO2 das políticas e medidas

Médio a alto Médio Médio Baixo Médio Médio a alto Baixo

Efeitos complementares

Efeitos na aceleração

Gestão de Consumos de Energia na Indústria – análise crítica e contributos para a reformulação do SGCIE

Mário Silva 97

Os critérios de desempenho avaliados na Tabela 41 dos países da Tabela 40, estão categorizados nos seguintes três grupos, por (Tanaka, 2010):

Potencial de redução do uso de energia e emissões de CO2 (custo-eficácia) – Este critério

diz respeito ao quanto as respectivas medidas melhoram a EE em comparação à sua não implementação (cenário BAU). Subdivide-se em:

o Área de abrangência – potencial técnico de poupanças de energia e CO2 emitido pelas tecnologias, práticas ou sectores alvo;

o Poder de Motivação – Grau de ambição, exigência (incentivos/penalidades) e precisão das medidas;

o Flexibilidade de Adesão – Critério de discricionariedade que a indústria tem em escolher/tomar as acções técnicas.

Facilidade do desenvolvimento, execução e avaliação política – É a facilidade e custo com que cada governo consegue desenvolver, executar e monitorizar as suas políticas e estimar e verificar os resultados.

o Conveniência do design técnico - Capacidade de conceber a política sem um detalhado conhecimento técnico das oportunidades de EE. Medidas muito específicas requerem grandes quantidades de dados referentes a opções técnicas e respectivos custos. Estes dados para serem obtidos têm custos e tempos de espera elevados, pelo que, quanto mais puderem ser evitados melhor. Medidas menos prescritivas, que são dependentes da identificação de oportunidades de redução de consumos e emissões de CO2, por parte da própria Indústria, requerem menos dados técnicos por parte do governo.

o Resultados Quantificáveis – Facilidade, precisão e rigor em avaliar os efeitos das políticas na energia e emissões de CO2. É importante para o planeamento (ex-ante) e verificação (ex-post).

Efeitos complementares – As políticas de EE podem, não só influenciar a própria EE, mas também a economia nacional/regional através da estrutura de demanda de energia, aumento de receitas, criação e/ou alteração de postos de trabalho, etc. O principal, considerado por Tanaka, consiste na forma como as políticas podem afectar a velocidade de pesquisa, desenvolvimento, implementação e difusão de medidas de EE. Dependendo de como os incentivos são traçados, as medidas podem incentivar ou desincentivar a I&D. Em geral, politicas menos liberais, que prescrevem o uso de uma tecnologia em particular, desincentivam a I&D, mas baixam os custos através da economia de escala. No entanto, as politicas que oferecem a possibilidade de usar uma diversidade de tecnologias competitivas, são mais favoráveis à I&D. Estes efeitos não são decisivos na introdução de políticas de eficiência energética no sector industrial, no entanto, a I&D irá contribuir para a eficiência energética numa perspectiva a longo prazo.

Estes resultados da Tabela 41 fornecem informação que não é quantitativa, mas permite uma compreensão abrangente destas políticas, pois a melhor prática dificilmente consegue ser identificada, dada a diversidade das circunstâncias nacionais (preços da energia e condições de mercado) que geralmente diferem, assim como a cultura regulatória e as opções de governo (estrutura do governo). Os critérios mais importantes ou com maior impacto nos resultados de instrumento político são subjectivos. É considerado que as medidas prescritivas, onde se encaixa de certa forma o SGCIE, têm um forte poder de motivação, os resultados obtidos são quantificáveis e até têm efeitos de aceleração da I&D a longo prazo, porém, não cumprem os outros critérios com tanto sucesso. Dentro das medidas económicas destacam-se as taxas sobre a energia e os esquemas cap-and-trade que satisfazem todos os critérios, com excepção da quantificação dos resultados obtidos, como seria de esperar. O esquema cap- and-trade português (CELE) não é obrigatório para empresas do SGCIE, em assimetria ao sistema inglês, que prevê o CRC, como verificado no Capítulo 3.2.3.1.1.

O facto de o SGCIE ter a actual estrutura, tem as vantagens acima referenciadas, contudo, obter resultados quantificáveis não significa necessariamente melhores resultados, quando comparando com as medidas que apresentam resultados não tão quantificáveis. Embora nas medidas prescritivas a liberdade de escolha das acções técnicas seja baixa, tal não se aplica ao SGCIE, pois o estudo referir- se-á a medidas prescritivas no sentido da obrigatoriedade a uma determinada configuração de processos ou na utilização de determinados equipamentos, que não é o caso.