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5. Análise Comparativa – Benchmarking Internacional

5.3 Questões Técnicas

5.3.1 Os Planos de Racionalização de Energia e respectivos Métodos de

Monitorização

Os planos de racionalização de consumos ou de eficiência energética têm praticamente a mesma base legislativa. Estes contêm sempre uma breve descrição de cada medida que será aplicada e poupança estimada associada à mesma, das alterações referentes aos processos de produção, do cálculo de cenários de referência, das estimativas e prognósticos de consumos futuros, etc. Destaca-se no EEP dos LTAs a obrigatoriedade da previsão da implementação de um Sistema de Gestão de Energia.

A Tabela 45 compara a duração do plano e respectivos períodos de reporte de resultados, do SGCIE, CCA e LTA. O SGCIE apresenta os planos com a maior duração, seguido do LTA e CCA, respectivamente, já a frequência de reporte do LTA é anual face à frequência bianual dos REPs do SGCIE. Os CCA quando são estabelecidos prevêem a sua duração até 2023 e prevêem, ainda, um plano com objectivos, metas e respectivo reporte de resultados, bianualmente.

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Tabela 45 - Comparação da duração dos Planos e respectiva monitorização.

SGCIE CCA LTA

Duração do Plano (anos) 6 em 6 ou 8 em 8 2 em 2 e até 2023 4 em 4

Frequência de reporte (anos) 2 em 2 2 em 2 1 em 1

A grande divergência dos planos entre estes três países foca-se, essencialmente, na relação e interacção das entidades envolvidas na elaboração e na estrutura global do acordo. A Figura 32 esquematiza esta interacção no CAA, que é de certa forma análoga ao LTA.

Figura 32 - Interacção das diversas entidades e respectivos suportes legais, dos CCAs. Adaptado de (Climate Change Agreements , 2014).

Em ambos os casos, CCA e LTA, os acordos e planos são elaborados em conjunto com a associação industrial do sector, e os acordos individuais agrupados resultam num acordo global sectorial (Long- Term Plans (LTPs) no caso dos LTAs e os Umbrella Agreements no caso dos CCAs), estabelecido entre o Governo (Agências do Ambiente ou Departamentos de Alterações Climáticas) e a respectiva Associação. Como já realçado anteriormente, no SGCIE é utilizada a ADENE como órgão intermediário do representante do Governo (DGEG/Ministério das Finanças) e operador da instalação industrial.

5.3.2 Metas e Metodologias de Cálculo

Na perspectiva Europeia, todos os tipos de Acordos Voluntários têm algum tipo de metas para as partes participantes e, normalmente, existe sempre uma exigência vinculativa no sentido de planificação e implementação de actividades, com o intuito de serem atingidas estas metas. A informação e acompanhamento, parte que envolve a disponibilização de informação por parte da indústria, para elaboração do pré-acordo e monitorização, é considerado o ponto fraco dos AVs (Silvia Rezessy, 2010). O caso do SGCIE, embora não se enquadre nos directamente nos AVs, não parece divergir neste ponto, dado não existir legislação relativa às metodologias de monitorização e de estimativas de poupanças, podendo estas últimas ter graves erros associados.

A Tabela 46 sintetiza as exigências legisladas relativamente aos métodos de cálculo e indicadores que devem servir de suporte às poupanças estimadas nos planos e respectivos relatórios de reporte. Destaca- se o facto de o SGCIE ser o único regulamento a exigir a conversão das suas metas e consumos de energia, a toneladas equivalentes de petróleo (tep), dado que os CCAs e LTAs, exigem sempre que os consumos sejam apresentados e calculados em J ou Wh, com os respectivos prefixos do Sistema Internacional (SI). No caso dos CCAs, existem regras específicas para o cálculo da energia consumida por uma instalação, por fonte de energia.

Tabela 46 - Indicadores utilizados para a definição de metas no SGCIE, CCA e LTA.

SGCIE CCA LTA

Indicadores utilizados CEE (tep/produção), IE (VAB/Energia) e IC (CO2e/tep) [%], SEC (tep/produção) ou valor absoluto em PJ ou CO2e calculado pela Metodologia de Novem

TEEI (Indicador resultante

das poupanças obtidas nos 3 ramos considerados: eficiência nos processos, cadeia e energia renovável)

Os CCAs exigem que as metas sejam calculadas de acordo com uma metodologia específica, a metodologia Novem. E esta metodologia deve ser utilizada em instalações que produzam dois ou mais produtos medidos em unidades diferentes, ou com intensidades energéticas significativamente diferentes.

As metas mais comuns, em percentagem [%], são definidas como a razão entre o consumo de energia alvo e o consumo de energia de referência. Em sectores cuja produção se baseia num único produto, a meta pode ser dada em produção relativa, que poderá ser representada pelo SEC que, na realidade, é o indicador equivalente ao CEE do SGCIE.

Embora o objectivo da metodologia Novem seja de prever e corrigir as distorções induzidas pelas alterações do mix de produtos finais produzidos, esta, pelo menos nos exemplos apresentados no Technical Annex dos CCAs onde são definidas as regras de cálculo e metodologias, assume sempre que os SECs são independentes das respectivas taxas de produção, o que, na realidade, raramente se deverá verificar, pois o comportamento de um SEC ou CEE é normalmente o que consta na Figura 33.

Figura 33 - Comportamento normal do indicador CEE em função da produção.

Os cálculos relativos a esta metodologia de Novem são explicados e exemplificados supra no Capítulo 3.2.3.1.2. Nesta metodologia, a comparação dos consumos finais de energia (entre o ano inicial e ano alvo) é realizada com base em SECs obtidos através de volumes de produção diferentes, pelo que haverá sempre um erro associado tendo em conta o comportamento do SEC apresentado na Figura 33. Assim sendo, asta metodologia não parece apresentar vantagens face, por exemplo, à atribuição de uma meta de redução em percentagem ao CEE para cada tipo de produto produzido individualmente. Além disso, esse método só faria sentido num cenário onde fosse possível desagregar rigorosamente os consumos de energia por produto o que, na prática, não acontece frequentemente. Na realidade, quando se consultam os diversos acordos CCAs repara-se, também, que as metas são sempre definas com um único CEE ou percentagem de redução de consumo de energia, calculado por este método, pelo que se pressupõe que a escolha dos indicadores e respectiva desagregação deverá ficar ao cargo do explorador da instalação e/ou associação industrial respectiva.

O sistema holandês já exige no EEP que, para cada projecto/medida de eficiência energética, deve ser apresentada uma estimativa de poupança, com cálculos definidos, embora seja permitida a suposição de

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- process efficiency (PE), existe um indicador de poupança, SI (saving indicator), calculado pela equação (6), baseado no somatório de todas a percentagens de poupança, calculadas pela equação (5), de todas as medidas, mantendo-se o problema de não existirem exigências referentes aos cálculos das estimativas e suposição de variáveis. No entanto, o facto de existir uma obrigatoriedade de implementação de um SGE deverá minimizar o este problema e proporcionar uma melhoria contínua. A grande diferença e suposta mais-valia para SGCIE consistirá conceito de Eficiência em Cadeia - chain efficiency (CE), cujo indicador é calculado pelas equações (8) e (7), bem como na introdução obrigatória de um sistema de gestão de energia baseado em guidelines concretas, dado são conceitos que o SGCIE não integra.

No caso do tópico de Eficiência em Cadeia - chain efficiency (CE), recorde-se que os principais conceitos base são, os produtos sustentáveis, a optimização de transporte e parque industriais sustentáveis. Este último seria um factor a ter em conta nos parques de indústrias ou no caso de instalações industriais vizinhas, mediante cuidada análise financeira. Porém, este tópico não deverá contemplar grande parte das instalações que estejam relativamente distantes umas das outras, considerando a realidade portuguesa.

Também o facto do tópico Energia Sustentável - sustainable energy (SE), relativo à introdução de energia proveniente de fontes renováveis na instalação, ser calculado de forma independentemente, traduz uma forma mais clara de avaliação da evolução da empresa nesta matéria face, por exemplo, ao indicador IC que embora dependa do mix energético, não é claro quanto à introdução de energia renováveis. De facto, a única intervenção do SGCIE nesta matéria, refere-se apenas à contabilização de apenas 50% de energia gerada por essa via, não ficando claro o seu impacto.

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