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GÊNEROS, SUBGÊNEROS E FORMATOS TELEVISUAIS

4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA

4.4 GÊNEROS, SUBGÊNEROS E FORMATOS TELEVISUAIS

Os textos televisuais são produzidos considerando os gêneros que lhes servem de referência, ou seja, o paradigma de textos com os quais contrai relações de semelhança. Assim, os gêneros televisuais servem de enquadramento e referência para a produção dos textos televisuais, funcionando, de um lado, como modelos para a realização desses produtos; e, de outro, como oferta de uma grade de leitura ao telespectador, de forma com que ele possa mais facilmente dotar de sentido o produto que lhe está sendo ofertado.

Por gênero televisual, compreende-se uma macroarticulação de categorias semânticas capazes de abrigar um conjunto amplo de produtos televisuais que partilham umas poucas categorias comuns. Os gêneros seriam modalizações virtuais, modelos de expectativa, constituindo-se em uma primeira mediação entre produção e recepção; referem-se ao tipo de realidade que um produto televisual constrói, considerando o tipo real que toma como referência e o regime de crença que propõe ao telespectador (DUARTE, 2010, p.10).

Os gêneros são, assim, da ordem da virtualidade, correspondendo a macroarticulações de sentido. As relações de pertencimento de um texto a um dado gênero submetem-se a, ao menos, três critérios: o tipo de mundo que ele toma como referência; a realidade discursiva que constrói em relação a essa referência; e o tipo de promessa que faz ao telespectador. Tendo em vista esses critérios, Duarte (2012b) prevê a existência de quatro arquigêneros: o factual, que toma como referência o real, mundo natural, construindo, a partir dessa referência uma metarrealidade, isto é, um discurso que se compromete com a veridicção; o ficcional que, embora tome como referência o real, mundo natural, constrói a partir dele uma suprarrealidade, isto é, um discurso que não se compromete com a veracidade do relatado, mas com sua coerência interna, prometendo a verossimilhança; o simulacional, que toma como referência um mundo paralelo, constituído no interior do próprio meio, construindo uma pararrealidade, isto é, uma realidade discursiva que se compromete com a hipervisibilização como equivalente à veridicção; o promocional, que toma como referência tanto o mundo real como o simulacional, construindo a partir dele uma plurirrealidade, isto é, uma realidade

discursiva que recorre à hibridação das anteriores, para dar conta da divulgação e publicização de seus interesses, independentemente de seu caráter comercial, político, social e/ou cultural.

Por outro lado, se os gêneros são da ordem da virtualidade, eles se manifestam sob a forma de subgêneros, que são da ordem da atualização. Os subgêneros distinguem-se entre si, pois imprimem a esse conjunto virtual de textos televisuais determinadas regularidades, possibilitando com isso, a diferenciação entre eles.

Mas, os textos televisuais pertencentes a um mesmo subgênero, diferenciam-se entre si pelo formato adotado. O formato é, assim, da ordem da realização; revela as escolhas feitas pela instância da enunciação quanto a um modo específico de contar a narrativa, acionando de forma distinta os dispositivos discursivos e expressivos: tematização, figurativização, temporalização, actorialização, espacialização e tonalização, e suas formas de expressão.

4.4.1 Gênero factual

Como já se referiu anteriormente, o gênero factual toma como referência o mundo natural e exterior à mídia, sobre o qual a televisão não detém o controle (DUARTE, 2012b) e, a partir dele, constrói uma realidade discursiva que se convencionou denominar metarrealidade, comprometida com a veridicção. São exemplos de subgêneros televisuais comprometidos com a veridicção os telejornais, as reportagens, os documentários, as entrevistas, entre outros.

Não se pode considerar, entretanto, que a metarrealidade seja equivalente ao real, pois um discurso, embora tome como referência o real, nem por isso nele se constitui. Os produtos televisuais, para além do seu caráter discursivo, obedecem ainda, em sua realização, às lógicas mercadológicas, aos interesses da empresa midiática e às aspirações do público telespectador, o que, de certa forma, interfere na metarrealidade construída.

4.4.2 Subgênero seriado factual

O gênero factual em televisão manifesta-se sob diferentes subgêneros (DUARTE, 2010), ou seja, sob distintas formas estruturadoras dos conteúdos temáticos a serem abordados. Nessa perspectiva, os seriados factuais apresentam-se sob a forma de episódios autônomos, mas articulados entre si. Cada episódio constitui-se na apresentação de uma

espécie de documentário, com início, meio e fim. A narrativa, nesse tipo de seriado, tem, assim, o limite do episódio, visto que cada emissão apresenta um relato completo do ponto de vista narrativo, podendo ser assistido isoladamente e em ordem totalmente aleatória, pois mesmo assim faz sentido.

Diferentemente das séries, os seriados não têm data definida para acabar, sendo exibidos normalmente por temporadas, que permanecem no ar enquanto houver audiência; caso contrário, são cancelados.

A preocupação maior dos seriados factuais do tipo documentário é a manutenção, em todos os episódios, dos focos temáticos e da tonalidade, que garantem a unidade e identidade do programa.

A regularidade de apresentação das emissões, estratégia essencial para o êxito desse tipo de programa, possibilita a familiarização do telespectador com aspectos do ritual proposto, permitindo-lhe a aquisição e o domínio das normas que presidem o formato adotado pelo seriado. Uma vez firmadas essas estruturas narrativas de base, as alterações introduzidas na sequência são bem incorporadas.

Existem diferentes tipos e formatos de seriados. Os factuais, do tipo documental, por serem, muitas vezes, produções desenvolvidas por diferentes realizadores, correm o risco de fugir tanto do foco temático central, como do tom, responsável pela unidade e identidade representadas pela soma dos episódios.

Os seriados factuais, cujos episódios adotam, muitas vezes, formatos de estruturação distintos entre si, exigem do telespectador uma interpretação de segundo nível baseada não apenas na compreensão dos episódios, mas no fio condutor que os reúne em um dado seriado.