• Nenhum resultado encontrado

2. ALEITAMENTO MATERNO: UMA ESTRATÉGIA DE SAÚDE PÚBLICA

2.2 GANHOS EM SAÚDE EM ALEITAMENTO MATERNO

O AM tem sido objeto de estudos em várias áreas científicas conduzindo ao aumento dos conhecimentos quanto às características, composição e vantagens do leite materno e da amamentação.

Atualmente, a evidência científica permite aferir que o leite materno é o alimento ideal para todas crianças, pois comporta benefícios tanto para a criança como para a mãe e a família ao longo do ciclo vital (Associação Espanhola de Pediatria, 2008).

De acordo com a WHO (2002, 2010a) e a Academia Americana de Pediatria (2012), o leite materno constitui-se a melhor opção para a criança com menos de seis meses de idade [idealmente oferecido de forma exclusiva], sendo que é garantido que assegura um crescimento, desenvolvimento e saúde ótimos. Depois dos seis meses, o leite materno, em complemento com uma alimentação diversificada, contribui para a continuação de um crescimento e desenvolvimento saudável da criança, para além de contribuir para a prevenção de diversas doenças na idade adulta.

O leite materno é constituído por proteínas, gordura, hidratos de carbono, minerais, vitaminas e água, conjugados de uma forma biológica e complexa. O leite materno colmata as necessidades nutricionais específicas da criança, ao longo do tempo, modificando-se de forma adaptativa em composição e volume.

O leite materno é ainda constituído por componentes solúveis, tais como imunoglobulinas, lisozimas, entre outras enzimas [com função anti-inflamatória]; lactoferrina, factor bifidus e outras substâncias imunoreguladoras; e componentes celulares, nomeadamente, macrófagos, linfócitos, neutrófilos e células epiteliais, com função anti- infeciosa (Associação Espanhola de Pediatria, 2008; Carvalho & Tamez, 2002; Ferreira, 2006).

Vários estudos comprovam os ganhos em saúde decorrentes do AM, nomeadamente, na prevenção de infeções gastrointestinais, respiratórias e urinárias, e ainda na proteção contra

56

alergias, nomeadamente as causadas pelas proteínas do leite de vaca (WHO 2002, 2010a; Ferreira, 2006). A longo prazo, o AM sustenta um importante impacto na prevenção da diabetes e de linfomas (Levy & Bértolo, 2012).

De acordo com a Academia Americana de Pediatria (2012) as crianças alimentadas com leite materno, apresentam curvas de crescimento e desenvolvimento sugestivos de inequívoco bem-estar, melhor desenvolvimento cognitivo e risco reduzido de doenças agudas e crónicas. A redução do risco de doenças agudas é sustentada por alguns estudos que concluíram a associação entre o AM e proteção contra infeções agudas - infeção respiratória, diarreia, otite média aguda, infeção urinária, sépsis, meningite bacteriana e botulismo - e a longo prazo, na prevenção de doenças crónicas - diabetes mellitus tipo 1, obesidade, doença de crohn, enterocolite necrosante, dermatite atópica, artrite reumatóide. Alguns estudos aludem ainda ao efeito protetor em relação à síndrome de morte súbita do latente, linfomas e doença alérgica.

Van Odjik et al. (2003) referem que o AM tem efeito protetor no desenvolvimento da doença atópica, parecendo ser maior nas crianças com história familiar de atopia.

Pela revisão sistemática da literatura, acerca dos benefícios a curto prazo do AM, levada a cabo por Horta e Victora (2013b) concluiu-se que o AM tem um maior efeito protetor no aparecimento da diarreia em lactentes com menos de seis meses, sendo que esse mesmo efeito protetor também é observado em crianças maiores. O efeito protetor do AM também é evidenciado pela redução do grau de severidade da doença reduzindo as hospitalizações e a mortalidade.

O efeito protetor do AM relativamente às infeções respiratórias não se modifica com a idade e também reduz o risco de hospitalização e mortalidade. No que respeita aos benefícios, a longo prazo, sobre a obesidade, a hipertensão arterial, a diabetes e o score de inteligência, a evidência científica sugere que os benefícios do AM são maiores na criança e no adolescente e menores no adulto, o que induz a que haja uma gradual diluição dos efeitos protetores do AM ao longo do tempo (Ibidem, 2013a).

Para além destes benefícios, o AM traduz-se ainda em ganhos no desenvolvimento adequado da musculatura e na parte óssea orofacial; facultando força e tónus mais aptos para desempenhar as funções de sucção, deglutição, respiração nasal, e mais tarde, de mastigação e fonação (Carvalho & Tamez, 2002; Galvão 2006).

57

Os ganhos em saúde para a mãe estão relacionados com a libertação de oxitocina, que resulta em melhor involução uterina, prevenindo a ocorrência de hemorragias e infeções pós- parto (Rea, 2004; Rodríguez & Schaefer, 1992).

O AM promove a remineralização óssea no período pós-parto e, a longo prazo, a redução da incidência de fraturas do colo do fémur no período pós-menopausa e menor risco de cancro do ovário e do cancro da mama no período pré-menopausa (Academia Americana de Pediatria, 2012; WHO, 2002).

Lana (2001) e Rodríguez, Martín & Muñoz (1998) referem que para algumas mães, a prática do AM, favorece a realização pessoal enquanto mulheres, pois aumenta a sua autoestima e confiança na satisfação das necessidades da criança, experienciando gratificação psicoafetiva com maior estabilidade emocional e afetiva.

Do AM derivam ganhos psicológicos ao nível da relação mãe-filho e no desenvolvimento psicomotor e afetivo da criança. As vantagens psicológicas do AM repercutem-se na díade mãe-filho, sendo que quando bem-sucedido é uma experiência muito gratificante (Levy, 1996). O AM permite à mãe, o prazer único de amamentar e fortalece os vínculos afetivos mãe-filho (Carvalho & Tamez, 2002; Lowdermilk et al. 2002), estabelecidos pelo contacto precoce e o estabelecimento de contacto visual durante a mamada. O AM apresenta uma componente social forte, é catalisador do bem-estar da família e facilita o processo de socialização da criança (Ministério da Saúde, 2009).

O AM propicia ganhos em saúde para a comunidade e para o país, pois permitem a redução dos custos com os cuidados de saúde e a redução da taxa de absentismo das mães que trabalham com menor probabilidade de doença na criança amamentada; e benefícios de ordem social e económica, na medida que representam um custo mais baixo para as famílias, uma vez que não é necessária a compra de leites artificiais (Academia Americana de Pediatria, 2012; Giugliani, 2000; Lowdermilk et al. 2002).

Rodríguez, Martín & Muñoz (1998) acrescentam ainda, como vantagens do AM, a diminuição de despesas em próteses odontológicas, redução de gastos com leites artificiais relacionados como gasto energético no seu fabrico e preparação para consumo. Neste contexto, será de reconhecer impacto do AM no ambiente, ao contrário do que acontece com os leites artificias, cuja embalagem de consumo se associa à possibilidade de poluição.

O leite materno é o método mais barato e seguro de alimentação para as crianças, sendo um recurso renovável e natural de valor nutricional incalculável.

58