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1. TRANSIÇÃO PARA A PARENTALIDADE: UM FOCO DA ATENÇÃO DA ENFERMAGEM

1.6 INTERVENÇÃO DO ENFERMEIRO ESPECIALISTA EM SMOG NA PROMOÇÃO DO BEM-ESTAR EMOCIONAL

“Tem mostrado a evidência que a promoção da saúde mental é efectiva no período da gravidez e nos primeiros tempos de vida da criança.” (Ministério da Saúde, 2006, p. 4)

A promoção e manutenção da saúde mental devem contemplar o período pré-natal e pós-natal, exigindo-se o desenvolvimento de cuidados abrangentes, holísticos – físicos, psíquicos e sociais (Ibidem).

A gravidez e os primeiros tempos de vida da criança são períodos críticos – vários fatores de risco podem conjugar-se e comprometer a capacidade de desenvolvimento do papel parental e em consequência afetar negativamente o desenvolvimento da criança, com repercussões ao longo do seu ciclo de vida. Contudo, ao mesmo tempo são momentos potencialmente transformadores, para os quais poderão contribuir a assistência dos profissionais de saúde (Brito, 2009; Loureiro, Goes, Maia, Paim da Câmara & Nunes, 2009).

Mercer e Walker (2006) referem que a assistência de enfermagem durante estes períodos é especialmente importante no desenvolvimento do papel maternal. Também Nystrom e Ohrling (2004) identificaram a necessidade de intervenções de enfermagem focadas na minimização do efeito do stress nos pais durante a transição para a parentalidade, sugerindo que o apoio é fundamental para o seu empoderamento.

Também para Grau, Alexandri & Garcia (1995, p. 39), “(…) a importância e dificuldade dos fatores psicossociais justificam uma ajuda profissional durante a gestação e puerpério para superar inseguranças e problemas emocionais e obter a melhor adaptação possível”. Os autores consideram ainda que o momento mais crítico do puerpério decorre entre a segunda e a quarta semana do pós-parto, pelas dificuldades com a lactação e problemas associados à necessidade de reorganização da vida e adaptação à criança.

Na óptica de Van Teeffelen, Nieeuwenhuijze e Korstjens (2011) as mulheres com gravidez de baixo risco necessitam de apoio próativo, profissional e psicossocial das enfermeiras especialistas em SMOG, e esperam delas ajuda para lidar com as mudanças da gravidez, parto e transição para a maternidade.

Menezes et al. (2012) desenvolveram uma investigação sobre os procedimentos necessários para a diminuição da incidência de depressão pós-parto, a capacitação das equipas de saúde nas unidades básicas de saúde, e ainda com a finalidade de caracterização das

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implicações da depressão pós-parto na interação mãe-criança. Este estudo revelou que a capacitação dos profissionais de saúde deve ser intensificada dado que os prejuízos para a díade são grandes.

Uma intervenção eficaz exige o entendimento e reconhecimento da família como um todo e não apenas da mulher grávida; assente no pressuposto de influência mútua entre todos os membros da família. Desta forma, ao capacitar e apoiar a família como um todo teremos mais oportunidades de influenciar positivamente cada um dos seus membros (Relvas, 1996; 2006).

A promoção da saúde mental começa com a promoção do investimento relacional materno, do casal e da família em relação à criança. Assim, o desenvolvimento de laços afetivos entre o casal e a criança é fundamental para uma vivência positiva do ciclo gravídico- puerperal. A identificação de fatores de risco bem como de fatores protetores na saúde mental é crucial para uma intervenção de sucesso.

Atendendo à etapa do ciclo vital da família, o enfermeiro especialista em SMOG deve explorar os aspetos relacionados com as tarefas desenvolvimentais, assim como as ligações entre os elementos da família.

Mercer e Walker (2006) referem que as intervenções de enfermagem que privilegiem a interação e a proximidade com as mulheres são as mais eficazes, pois potencializam as interações saudáveis entre a mãe e a criança e no conhecimento materno acerca dos cuidados da criança.

O conhecimento científico, as atitudes de escuta ativa, a demonstração de confiança, e disponibilidade são ingredientes fundamentais para a identificação e resolução de aspetos adormecidos ou reais.

Para Canavarro (2006), a intervenção dirigida à causa geradora de ansiedade ou dificuldade apresentada e sentida pela mãe, reveste-se do apoio psicológico necessário ao restabelecimento da autoconfiança essencial ao sucesso da adaptação à parentalidade e ao AM.

O estabelecimento de uma relação de confiança logo no início da gravidez, é estrutural e a incorporação do pai na dinâmica de cuidados são princípios fulcrais (Ministério da Saúde, 2006).

Para Tavares e Botelho (2009) cabe ao enfermeiro especialista em SMOG o papel de prevenir a instalação de situações psicopatológicas, recorrendo a intervenções eficazes, bem como o diagnóstico precoce. A assistência oferecida na consulta de enfermagem à família,

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bem como no curso de preparação para o parto e parentalidade têm-se evidenciado como relevantes estratégias de intervenção (Couto, 2006). Com efeito, observa-se que o trabalho em grupo favorece a capacitação dos pais na construção de capital social (Lopes et al. 2010) e o desenvolvimento de competências no cuidado à criança (Neves, 2013).

Consonni et al. (2010) desenvolveram um estudo com o objetivo de avaliar um programa multidisciplinar de preparação para o parto e maternidade, no que respeita à ansiedade materna e a resultados perinatais. De acordo com este estudo, observaram menores níveis de ansiedade estado, no grupo experimental, associados a maior número de parto vaginais e menor tempo de hospitalização da criança.

A adequação de intervenções não farmacológicas que visem a redução do nível de ansiedade nas mulheres tem vindo a ser discutida; contudo, e apesar da inexistência de conclusões que fundamentem de forma inequívoca a sua importância, assiste-se ao incentivo na sua implementação. A revisão da literatura realizada por Newham, Westwood, Aplin e Wittkowski (2012) revela que o nível de ansiedade, nas mulheres durante a gravidez, pode ser reduzido após a implementação de intervenções não farmacológicas.

No estudo de Zadoroznyj (2006) onde se pretendeu avaliar um programa de intervenção pós-natal no domicílio, os resultados mostraram que um programa de visitas domiciliárias no pós-parto, contribui para o bem-estar materno, o sucesso da vinculação e da transição para a maternidade.

Em suma, o desafio subjacente à intervenção junto das famílias, no que respeita à transição de parentalidade, constitui-se um objetivo a longo prazo, e que por apresentar contornos específicos reivindicam uma abordagem especializada (Wilkins, 2006).

A transição para a parentalidade encontra-se intimamente ligada ao AM, que se apresenta como um fenómeno biológico, cultural e psicossocial complexo e de abordagem multidisciplinar, moldado por múltiplos fatores internos e externos à mulher que acabam por contribuir para o seu carácter vulnerável, podendo desta forma potencializar o seu sucesso ou fracasso.

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