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2. ALEITAMENTO MATERNO: UMA ESTRATÉGIA DE SAÚDE PÚBLICA

2.6 VISITA DOMICILIÁRIA NO PÓS-PARTO

A visita domiciliária de enfermagem é uma importante estratégia de favorecimento da transição segura entre a estadia da mulher/casal em contexto hospitalar e a sua casa, pois permite a identificação precoce de alterações psicológicas e fisiológicas, assim como facilita uma intervenção efetiva junto da mãe e da família na sua adaptação a esta fase no seu contexto de vida. Mais ainda, a visita domiciliária de enfermagem é uma estratégia promissora e de inequívoca eficácia para uma intervenção de sucesso em famílias com necessidades acrescidas (McNaughton, 2004).

Esta perspetiva encontra-se bem sublinhada nas orientações e regulamentos sobre a parentalidade, como se pode verificar no Decreto-Lei 70/2000 de 4 de Maio que regulamenta a proteção da maternidade; no Plano Nacional de Saúde (Ministério da Saúde, 2004), no

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Programa Nacional de Saúde Infantil e Juvenil (Ministério da Saúde, 2013) e nas recomendações da Ordem dos Enfermeiros (2013).

Da mesma forma, a WHO (2012b, 2013a) recomenda a realização de visitas domiciliárias em momentos-chave tendo em vista a melhor adaptação ao papel parental e o suporte efetivo na promoção do AM exclusivo, especialmente no primeiro, terceiro e sétimo dia do período pós-natal. Estas recomendações alertam para o facto de caber aos profissionais de saúde especializados a providência da assistência materna e neonatal (WHO & UNICEF, 2009b).

No distrito de Viana do Castelo, a visita domiciliária à puérpera/criança constitui-se uma atividade integrante das carteiras de serviços das USF e UCSP, e é da responsabilidade dos enfermeiros de família, bem como de algumas UCC. Atualmente é uma prática comum e de elevada frequência, sendo que em 2012 foi assegurada a 72,16% das puérperas (ULSAM, 2013).

Estas recomendações advém da singular relevância da intervenção em proximidade com as pessoas/famílias no seu contexto de vida, na medida que proporciona melhor conhecimento da estrutura e dinâmica da família, assim como permite identificar necessidades e recursos disponíveis e com interesse na promoção e/ou recuperação da saúde e bem-estar. Ao mesmo tempo, pode ajudar no fortalecimento da coesão e participação familiar. A visita domiciliária é muito mais do que um local alternativo de prestação de cuidados é uma estratégia de intervenção (Graça, 2010; Stanhope & Lancaster, 2011).

Na perspetiva da mulher como utente/cliente do serviço de saúde, torna-se uma forma de aceder a cuidados de proximidade, evitando dispensáveis deslocações às unidades de saúde e, sobretudo, oferece a possibilidade de beneficiarem de cuidados promotores da saúde num ambiente com menos perturbações e em que o utente exerce controlo (Ibidem). Da mesma forma, contribui para a potencialização da autonomia da pessoa enquanto agente do seu projeto de saúde (Lacerda, 2010). Na perspetiva da enfermagem e numa linha de cuidados que se enraízam no paradigma holístico e numa perspetiva ecológica e desenvolvimentista, a visita domiciliária apresenta-se como uma estratégia fundamental para o conhecimento das relações familiares e do contexto envolvente, o que permite uma prestação de cuidados focados e ajustados às reais necessidades e, consequentemente, o atingimento de efetivos ganhos em saúde (Santos & Morais, 2011). A intervenção em parceria com as famílias exige o seu conhecimento e entendimento segundo uma perspetiva sistémica.

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Na revisão da literatura realizada por Kotliarenco, Gómez, Munoz & Aracena (2010) e por Lopes et al. (2010), a visita domiciliária demonstrou-se como uma estratégia efetiva para o desenvolvimento de competências parentais. Para Loureiro et al. (2009) e Yonemoto, Dowswell, Nagai & Mori (2013), a visita domiciliária é uma intervenção que promove a saúde mental da mãe/criança e da sua família, e que permite detetar precocemente riscos familiares, sociais e ambientais e de importância crucial para o crescimento e desenvolvimento da criança (Olds, 2002).

Neifert [citado por Pereira, 2006], refere que é importante a realização da visita domiciliária nos primeiros dias após a alta hospitalar para a identificação de situações de risco e para que a educação para a saúde se adapte às necessidades de cada díade mãe-criança. McDonald, Henderson, Faulkner, Evans & Hagan (2010) referem que a visita domiciliária promove a manutenção do AM.

Na revisão da literatura de Yonemoto, Dowswell, Nagai e Mori (2013) acerca da realização de visitas domiciliárias no pós-parto os resultados são heterogéneos, não estando claramente comprovado o seu impacto. Os autores recomendam que a visita domiciliária é uma estratégia de intervenção, sendo que a sua frequência, tempo, duração e intensidade deve ser baseada nas necessidades individuais da mulher/criança e família.

Numa revisão sistemática de estudos sobre as intervenções desenvolvidas, no período pré-natal e pós-natal, no sentido de aumentar a duração do AM, constatou-se o efeito benéfico do suporte pós-natal, que combinado com o apoio pré-natal, produziu efeitos positivos na duração e exclusividade do AM (Britton, McCormick, Renfrew, Wade, & King, 2007) O estudo de Bonuck et al. (2014) e o estudo de Bonuck, Trombley, Freeman e McKee (2005) evidenciaram esta realidade.

Graça (2010) aponta a visita domiciliária como um suporte importante para as mães no puerpério. Numa fase de exigente adaptação e reorganização de tarefas, um profissional habilitado é fundamental para facilitar a transição para o novo papel e transmitir a confiança necessária para a plena transformação na família.

No estudo de Filipe (2011) onde pretendeu avaliar o efeito da visita domiciliária na prevalência do AM exclusivo até aos seis meses, verificou que as mulheres reconheceram a visita domiciliária como uma importante estratégia de ensino, no entanto, não se verificaram ganhos decorrentes da visita domiciliária.

No estudo de Askeldottir, Lam-de Jonge, Edman e Wiklund (2013) evidenciou-se que as mulheres do grupo de intervenção [mulheres que foram alvo de 2 a 3 visitas domiciliárias

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na primeira semana após o parto realizadas por enfermeiras especialistas em SMOG], referiram uma maior sensação de segurança na primeira semana pós-parto, comparativamente com o grupo de controlo. No entanto, as mulheres do grupo de intervenção revelaram emoções menos positivas em relação ao AM e a taxa de AM aos três meses do período pós- parto foi inferior em comparação com o grupo de controlo. Da mesma forma, no estudo de Bashour et al. (2008), a taxa de AM exclusivo foi superior nos grupos de mulheres que beneficiaram de pelo menos uma visita domiciliária.

Johnson, Brennan e Flynn-Tymkow (1999), através de um programa de visita domiciliária de apoio ao AM dirigido a puérperas e crianças, nas primeiras semanas após o parto, constataram a importância da visita domiciliária de enfermagem em mulheres em risco de interrupção do AM. Os mesmos autores alertam para a importância da comunicação na equipa de saúde, como forma a garantir a iniciação e a manutenção do AM. Os resultados deste estudo revelaram que a visita domiciliária assumia-se como um momento oportuno de educação para a saúde e apoio aos pais na gestão das vulnerabilidades deste período. Ao mesmo tempo, as crianças que foram alvo da visita domiciliária recorreram menos vezes aos serviços de saúde e satisfação das mulheres foi positiva. Num outro estudo, as mulheres sujeitas a intervenção – aconselhamento por pares no período pré e pós natal – a taxa de manutenção do AM avaliada até à segunda semana do pós-parto foi superior no grupo experimental (Chapman et al. 2013).

Desta exposição e em forma de síntese, importa reter que a transição para a parentalidade se acompanha por sentimentos e emoções positivas, tais como alegria, bem- estar e satisfação mas também por sentimentos de insegurança, ansiedade e receio face ao desenvolvimento das tarefas do novo papel. A família e os profissionais de saúde constituem- se elementos que podem influenciar esta vivência.

As primíparas parecem apresentar mais dificuldades na manutenção do AM e, tendencialmente, mais intercorrências mamárias. Contudo, pela aquisição de conhecimentos adequados, apoio e incentivo à sua capacidade para amamentar podem encontrar condições para o prolongamento do AM.

As características das mulheres, nomeadamente a autoconfiança e autoeficácia são preditores de um melhor índice de duração do AM e de satisfação com a experiência.

Por outro lado, os estados de ansiedade – alto nível de ansiedade – podem dificultar o processo de AM, nomeadamente a sua duração e exclusividade, e podem estar associados ao

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aparecimento de depressão pós-parto, bem como a efeitos negativos no desenvolvimento da criança.

Relativamente às orientações para os profissionais de saúde no âmbito da promoção do AM, os estudos sugerem que a identificação precoce de mulheres que amamentam com risco de desenvolver depressão pós-parto é necessária não apenas para a redução da morbilidade associada à patologia, mas também como tentativa de aumentar as taxas de duração do AM.

As mulheres em processo de AM devem ter acesso a intervenções sustentadas e articuladas, para que se sintam esclarecidas e apoiadas e para que se prolongue o AM. Estas intervenções incluem a realização visitas domiciliárias, cuja frequência e duração devem ser ajustadas às suas necessidades.

A evidência científica remete para a necessidade de realização de estudos que permitam equacionar medidas de intervenção eficazes na promoção do AM e na prevenção de patologias psiquiátricas durante a transição para a parentalidade, as quais evidenciem ganhos em saúde sensíveis aos cuidados de saúde.

Estudos efetuados em grupos de mulheres vulneráveis – com maior risco de cessação precoce do AM – são diminutos, assim como os que relacionam a gestão dos problemas mamários, a satisfação com o AM, a duração do AM e a ansiedade durante a transição para a parentalidade, nomeadamente, o nível de ansiedade traço – condição que determinou a pertinência da realização deste nosso estudo.

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