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1. TRANSIÇÃO PARA A PARENTALIDADE: UM FOCO DA ATENÇÃO DA ENFERMAGEM

1.4 PERTURBAÇÕES PSICOLÓGICAS NO PUERPÉRIO

O puerpério é o período que decorre desde o nascimento até às seis semanas após o parto. Alguns autores consideram o puerpério como o quarto trimestre da gravidez (Lowdermilk et al. 2002), que decorre do nascimento até ao sexagésimo dia após o parto (Correa, 1994). Assim, a transição biológica identifica-se claramente no tempo. Ao contrário, a transição psicossocial é mais difícil de delimitar temporalmente, pois prolonga-se no tempo. O puerpério é um período de grandes alterações hormonais, físicas, psicológicas e sociais que podem ter implicações psicopatológicas.

Para Canavarro (2006, p. 161), “a fase puerperal é para a mulher um período de transição acompanhada de fragilidade emocional e psicológica, sendo um momento vulnerável para ela.”

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Para a referida autora, as mudanças que se verificam a nível biológico, psicológico, conjugal e familiar “podem resultar em desequilíbrio ou desenvolvimento e aquisição de novas competências psicológicas e sociais” (2006, p. 161).

É consensual que o risco de alteração da saúde mental durante o puerpério se associa a fatores biológicos, familiares, conjugais, sociais, culturais e até a própria personalidade da mulher, que se relacionam com a capacidade da mãe em proceder aos reajustes necessários para desenvolvimento dos novos papéis e tarefas (Ministério da Saúde, 2006).

Nesta linha de pensamento importa abordar algumas das alterações do estado emocional da mulher que podem ter implicações na sua saúde mental e por tal podem influenciar negativamente a relação da mãe com a criança e prejudicar o seu desenvolvimento, acarretando danos futuros ao nível psicoafetivo na idade adulta (Conde & Figueiredo, 2005; Grant, McMahon & Austin, 2008). De entre as alterações no âmbito da saúde mental da mulher no puerpério destaca-se o maternity blues, a depressão pós-parto e a psicose puerperal.

Maternity blues

O maternity blues define uma forma transitória e moderada de perturbação de humor com carácter benigno, em consequência das alterações hormonais provocadas pelo parto cuja incidência é bastante significativa (Figueiredo, 2001).

De acordo com o Ministério da Saúde (2006) entre 40 e 60% das mulheres apresentam esta perturbação emocional. O maternity blues é um estado de tristeza, disforia e choro frequente, e surge entre o terceiro e o quarto dia do período pós-parto, atingindo o pico ao quinto dia.

O maternity blues é uma situação transitória que se resolve espontaneamente até ao décimo dia após o parto. Frequentemente, o maternity blues não é classificado como uma perturbação psicopatológica, mas fisiológica, na medida que surge em consequência do parto, como resposta emocional à mudança e constatação da realidade com a criança.

A investigação realizada, até então, não permite assentar conclusões sobre a associação do maternity blues com a depressão pós-parto, contudo parece claro que a personalidade da mulher assim como a sua história psiquiátrica, são fatores influenciadores de uma transição para a parentalidade bem sucedida.

39 Depressão pós-parto

A depressão na gravidez acontece em cerca de 10% das mulheres, e apresenta uma alta probabilidade de persistir após o parto, caso não seja atempadamente diagnosticada e resolvida. A depressão na gravidez é frequentemente diagnosticada no primeiro e terceiro trimestre da gravidez (Ministério da Saúde, 2006).

A depressão pós-parto ocorre, na maioria dos casos após a sexta semana do período pós-parto e atinge, entre 12 e 16% das mães. Assim, o pós-parto é o período de maior risco de desenvolvimento de perturbações do humor em todo o ciclo vital da mulher (Ibidem), em consequência da sua maior vulnerabilidade emocional e psicológica.

O quadro é, por vezes, difícil de diagnosticar, em consequência da exigência instalada na própria mãe para responder às necessidades da criança e ao desempenho do papel parental, o que acaba por camuflar o quadro clínico característico de depressão. Habitualmente, a depressão pós-parto manifesta-se por alterações do sono e do apetite, fadiga e perda de energia.

O diagnóstico precoce é fundamental na medida em que esta perturbação pode afetar toda a dinâmica pessoal, bem como a familiar com repercussões graves na saúde. Quando diagnosticada tardiamente pode acarretar repercussões graves na saúde da mulher e comprometer, por vezes, de forma irreversível a relação do casal e de toda a família.

Pela revisão da literatura identificam-se vários fatores associados à depressão pós- parto, e apesar do objetivo deste estudo não se direcionar para esta patologia, consideramos útil apresentar uma breve análise sobre este assunto, na medida que os estados de ansiedade – variável em estudo na nossa investigação – podem contribuir para a ocorrência da depressão pós-parto.

De acordo com os estudos, cerca de 50% dos casos de depressão pós-parto decorrem da depressão iniciada ou continuada na gravidez (Dois, Uribe, Villarroel & Contreras, 2012). No seu estudo sobre fatores de risco associados a sintomas depressivos no pós-parto em mulheres com baixo risco obstétrico concluíram que a funcionalidade da família é uma variável presente nos casos de sintomatologia depressiva.

Pela revisão da literatura sobre depressão pós-parto e AM realizada por Figueiredo, Dias, Brandão, Canário & Nunes-Costa (2013) constatou-se que alguns estudos apontam a depressão na gravidez como um dos fatores que pode contribuir para o insucesso do AM; outros estudos concluíram a associação entre o AM e depressão pós-parto, não sendo clara a relação causa/efeito entre estas duas variáveis.

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Aliane et al. (2008) efetuaram uma revisão sistemática da literatura sobre os fatores associados à depressão pós-parto e constataram que os mais frequentes são os fatores psicológicos/psiquiátricos.

Laconelli [citado por Menezes, Pellenz, Lima & Sarturi, 2012] refere que o histórico familiar de depressão, história pessoal de complicações obstétricas, grávidas submetidas a cesariana, mulheres cujas expectativas em relação ao parto não foram atingidas e interferiram na qualidade do seu humor, primigestas, mulheres em situação económica precária, mães solteiras, mulheres que perderam pessoas significativas durante a gravidez, mulheres que vivem em desarmonia conjugal, mulheres que casaram em função da gravidez, ansiedade materna e suporte pós-natal frágil são condições que concorrem para o aumento do risco de depressão pós-parto. Os mesmos autores aferem ainda que fatores relacionados com a criança, tais como intercorrências neonatais, prematuridade e malformações congénitas podem contribuir para a depressão pós-parto.

Psicose puerperal

A psicose puerperal é a forma mais extrema de alteração da saúde mental no pós- parto. A psicose puerperal é pouco frequente mas requer intervenção rápida.

Os sintomas da psicose puerperal manifestam-se num curto espaço de tempo após o parto e a condição requer normalmente Cuidados Hospitalares. Habitualmente, a mãe começa por se apresentar agitada, ligeiramente confusa, com comportamentos bizarros e insónias. A psicose puerperal ocorre, geralmente, em mulheres com história de vulnerabilidade psico- patológica e em consequência de fatores biológicos relacionados com o parto (Figueiredo, 2001).