3. PERCURSO METODOLÓGICO
3.3.4 Instrumentos de Colheita de Dados
Para Fortin (2009) o questionário é uma técnica de recolha de dados, que necessita de respostas escritas por parte dos sujeitos e é um instrumento que permite traduzir os objetivos de um estudo em variáveis mensuráveis, sendo como tal o instrumento que melhor se adequa ao tipo de estudo e às características da população.
Os instrumentos de colheita de dados utilizados pretenderam dar resposta aos objetivos traçados e às hipóteses definidas, tendo uma parte sido construída para o efeito, e para a outra parte recorreu-se a escalas utilizadas em Portugal em estudos de idêntica natureza (Apêndice I).
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Assim, utilizamos os seguintes instrumentos de colheita de dados:
Inventário STAI- Traço de Spielberg, Gorsuch e Lushene (1970) com a versão de Silva e Correia (2006) para a avaliação da ansiedade traço para seleção da amostra;
Questionário elaborado para o efeito, que inclui a caracterização sóciodemográfica, a caracterização da gravidez, parto, puerpério e criança e a caracterização do AM, com base na revisão da literatura e outros estudos sobre questões similares.
Escala MBFES de Leff (1994) com a versão portuguesa de Galvão (2006) para avaliação da satisfação com o AM;
Inventário STAI – Estado de Spielberg, Gorsuch e Lushene (1970) com a versão de Silva e Correia (2006) para avaliação da ansiedade estado aos três meses pós-parto.
Qualidades psicométricas do STAI
Para avaliação da ansiedade recorreu-se ao STAI Forma Y1/2, um inventário de estado-traço de ansiedade de Spielberg (1970), que determina a ansiedade traço e estado, com a versão de Silva e Correia (2006).
Este inventário foi construído com o objetivo de avaliar o estado e o traço de ansiedade, tanto em contexto clínico, como de investigação. É uma medida de relato pessoal, constituída por duas escalas de vinte itens. O inventário é aplicável a indivíduos de ambos os sexos, a partir do décimo ano de escolaridade ou com idade equivalente [aproximadamente 16 anos]. A adaptação, tradução e aferição da medida para a população portuguesa foi realizada, num primeiro momento por Silva e Santos (1997) e posteriormente por Silva e Correia (2006).
É um instrumento de auto-avaliação, constituído por duas sub-escalas, a Y-1 e Y-2, com 20 itens cada uma. Possui um formato de resposta tipo Likert de 1 a 4 pontos, sendo a forma Y-1, relativa a ansiedade estado, com 1 a corresponder a nada e 4 a muito e a forma Y- 2, respeitante a ansiedade traço, com 1 a corresponder a quase nunca e 4, quase sempre. Os valores podem variar entre um mínimo de 20 e máximo de 80 sendo que valores mais altos indicam maiores níveis de ansiedade. A subescala traço [Y-2] avalia como habitualmente a pessoa se sente na sua vida enquanto que a subescala estado [Y-1] avalia o estado de ansiedade no momento.
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Segundo Silva (2006) o inventário deve ser apresentado como um questionário de auto-avaliação, designação que deve constar no protocolo de investigação. Existem 10 itens da sub-escala estado e 9 itens da sub-escala traço que se encontram invertidos, sendo os itens 1,2,5,8,10,11,15,16,19 e 20 para a ansiedade estado e 21, 23,26,27,30,33,34,36 e 39 para a ansiedade traço. O inventário foi utilizado em outros estudos em Portugal (Figueiredo, Costa, Pacheco, Conde & Teixeira, 2007; Veríssimo, 2010).
No que diz respeito às qualidades psicométricas do inventário, verificaram-se valores de alfa de cronbach de 0,732 para a ansiedade traço e 0,872 para a ansiedade estado, valores idênticos aos de outros estudos [Quadro 4].
Quadro 4 – Consistência interna do Inventário STAI (alfa de cronbach)
Subescala Figueiredo, Costa, Pacheco, Conde & Teixeira (2007) Veríssimo (2010) Estudo STAI – Traço 0.87 0.89 0.73 STAI – Estado 0.88 0.93 0.87
Qualidades psicométricas da MBFES
Para a avaliação materna do AM recorreu-se a MBFES de Leff (1994), com a versão de Galvão (2006).
A escala de avaliação materna do AM permite avaliar aspetos que as mães identificam como relevantes para uma experiência de AM bem sucedida. Permite avaliar a satisfação da mãe com o AM, englobando aspetos relacionados consigo e com a criança. A sua utilização é considerada adequada quer após a cessação do AM, quer após 1, 2 ou 3 meses de AM (Leff, 1994; Galvão, 2006).
A escala é composta por 30 questões operacionalizadas numa escala de likert com 5 itens, que variam de discordo completamente, a que corresponde o valor 1, a concordo completamente, a que corresponde o valor 5. A valores mais elevados corresponde maior satisfação. A escala foi utilizada em outros estudos em Portugal (Galvão, 2006, Graça, 2010). Conforme Leff (1994), a escala é composta pelas sub-escalas:
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Prazer e papel maternal – refere-se ao afeto e envolvimento da mãe-criança. Tem subjacente que sentimentos positivos acerca do AM funcionam como fortalecedores dessa relação. É composta pelos itens: 1,2,6,9,11,12,16,17,18,20,21,23,25 e 30.
Satisfação e crescimento da criança – diz respeito à satisfação com o aumento ponderal e crescimento da criança e a sua resposta emocional ao AM. Estes itens são independentes dos comportamentos maternos, embora sejam percecionados e controlados pelas mães. Integram esta sub-escala os itens: 3*,4,7,10,15,19*,24 e 28*. Os itens com * são a recodificar.
Estilo de vida e imagem corporal materna – refere-se à satisfação com a imagem corporal materna e AM como uma tarefa que interfere com outras atividades. É composta pelos itens: 5*,8*,13*,14*,22*,26,27*,29*. Os itens assinalados com * são a recodificar.
Na avaliação das qualidades psicométricas da escala consideraram-se as 20 primíparas assumindo-se as sub-escalas propostas pela autora e os resultados de Galvão (2006), que mantém a mesma estrutura.
A consistência interna da escala total é boa (0,92) com valores idênticos aos observados noutros estudos [Quadro 5], o mesmo se observando nas sub-escalas prazer e papel maternal (0,89) e satisfação e crescimento da criança (0,80), sendo aceitável para a sub- escala estilo de vida e imagem corporal materna (0,54). Nesta sub-escala foi retirado o item 22, porque a consistência interna melhora significativamente.
Quadro 5 – Consistência interna da MBFES (alfa de Cronbach)
Subescala Leff (1994) Galvão (2006) Graça (2010) Estudo
Prazer e papel maternal 0,93 0,87 a 0,92 0,87 a 0,90 0,89
Satisfação e crescimento da criança
0,88 0,70 a 0,76 0,72 a 0,73 0,80
Estilo de vida e imagem corporal
0,80 0,76 a 0,82 0,77 a 0,72 0,54
98 Pré- Teste
Em Junho de 2013 procedeu-se à aplicação do pré-teste com 3 grávidas e 3 mães com crianças com menos de três meses, que se mostraram disponíveis para preencher o questionário. O tempo de preenchimento variou entre 10 e 15 minutos, e verificaram-se diferentes perspetivas de interpretação das questões 5, 7, 8 sendopouco claras, e a questão 10 na qual se acrescentou um item que não estava contemplado, pelo que se procedeu à reformulação do instrumento nas referidas questões.
O questionário aplicado incluíu a caracterização da gravidez, parto, puerpério e criança, a caracterização do AM, a escala MBFES [30 questões] e o inventário STAI Estado [20 questões].