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9 DISCUSSÃO

9.1 GARANTIA DA PARTICIPAÇÃO EFETIVA DA COMUNIDADE

Nesta categoria, baseada nos objetivos específicos da pesquisa, as questões apresentaram respostas relevantes por parte dos entrevistados e foram importantes para a discussão dos resultados e conclusão. As questões buscavam saber se a atuação do Conselho Escolar garante a participação efetiva da comunidade escolar e que tipo de atividades os membros do CE promovem para garantir a participação efetiva da comunidade escolar.

As respostas dos membros dos CE das duas escolas investigadas enfatizaram que de fato, a atuação do CE garante a participação efetiva da comunidade escolar, porém a participação fica restrita a reuniões e eventos onde muitos membros ficam alheios e omissos nas decisões tomadas pela equipe escolar. Muitos não têm consciência do seu verdadeiro papel como membro do CE e desconhecem o papel dos CE. Este entendimento sobre o papel de todos os segmentos da escola está presente na fala de Luck (2008) quando afirma que não se discute qual o papel de todos e de cada um na vida escolar, qual o significado pedagógico e social das soluções apontadas na decisão; que outros encaminhamentos poderiam ser adotados de modo a obter resultados mais significativos.

No Decreto Lei nº 29.207, de 26 de junho de 2008, que dispõe sobre os Conselhos Escolares das instituições educacionais da rede pública de ensino do Distrito Federal, em seu art. 10 destaca as funções do Conselho Escolar e apresenta em seu primeiro inciso: garantir a participação efetiva da comunidade escolar na gestão da instituição educacional. De acordo com os dados coletados, infelizmente, observa-se que os membros dos CE das escolas pesquisadas não estão cumprindo o que estabelece a lei. A participação ali vivenciada é vista pelos membros sem relevância. Sobre essa falsa participação nas tomadas de decisões na escola, aquela autora afirma que identifica-se que a prática participativa na tomada de decisões em vários estabelecimentos de ensino tem gerado uma situação de falsa democracia.

A organização de eventos como: almoços, jantares, bazares e rifas ocorrem com freqüência na escola. Essa prática tem sido, no entanto, muito mais associada à preocupação em arrecadar fundos para resolverem problemas administrativos. Não havendo um planejamento com a preocupação em solucionar os problemas definidos pela parte pedagogia da escola envolvendo os demais membros da comunidade escolar.

Conforme salientado na revisão de literatura, ainda segundo Luck (2008), participação, em seu sentido pleno, corresponde, portanto, a uma atuação conjunta superadora das expressões de alienação e passividade.

Partindo dessa concepção torna-se possível afirmar que é relevante a postura de alguns membros do CE quando assumem uma postura crítica diante dos fatos e revelam que a participação não ocorre e que os membros são alheios e omissos. Certamente, para eles, a gestão democrática e participativa não é evidente nas ações da escola.

Embora o Decreto tenha favorecido a atuação dos CE nas escolas pesquisadas, o CE passa a ser vivenciado na escola não por força das exigências legais, mas em decorrência da necessidade de a escola reorganizar seu trabalho administrativo, priorizando a prestação de contas dos recursos recebidos da Secretaria de Educação.

Segundo Antunes (2010), participar da gestão colegiada de forma democrática é participar da decisão sobre a organização pedagógica, financeira e administrativa da escola. Uma gestão é democrática quando proporciona o exercício da cidadania, da autonomia, da democracia. É democrática, comunitária e compartilhada quando envolve, efetivamente, a

participação da comunidade na concepção do PPP da escola. Contudo, as ações das escolas pesquisadas estão distantes de um caminho que busca uma gestão efetivamente democrática.

Neste sentido, os CE como instrumento de gestão compartilhada, que podem viabilizar a participação de todos os segmentos da comunidade escolar, tornam-se desacreditados enquanto possibilidade de participação real e ativa.

9.2 APROVAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DO PPP DAS ESCOLAS

As questões do roteiro de entrevista sinalizaram a possibilidade de entender se o PPP das escolas pesquisadas era aprovado e acompanhado pelos membros do CE. Como define o objetivo da pesquisa, que procurava identificar a atuação do Conselho Escolar na aprovação, acompanhamento e execução do PPP da escola.

Nos relatos, os entrevistados afirmam que essa prática de aprovar e acompanhar o PPP não acontece no cotidiano da escola. Revelam, ainda, que é atribuição da parte pedagógica executar essa ação. Para os entrevistados, o PPP é tido, como importante para a organização pedagógica. Ele é visto como um instrumento dispensável pelos membros dos CE.

O PPP, tem sido desenvolvido no processo de concepção, aprovação e acompanhamento de modo participativo. Vem gerando, no interior da escola, um clima de inutilidade, que o torna desnecessário para o processo ensino-aprendizagem, de acordo com os relatos dos entrevistados.

Veiga (2001) define o PPP como a valorização da identidade da escola e um chamamento à responsabilidade dos agentes com as racionalidades interna e externa. Esta idéia implica a necessidade de uma relação contratual, isto é, o projeto deve ser aceito por todos os envolvidos, daí a importância de que seja elaborado participativa e democraticamente.

É lamentável que o PPP das escolas pesquisadas seja visto como um documento de responsabilidade apenas da direção da escola. Para Luck (2008), o PPP é ferramenta aliada dos segmentos que compõem o fazer escolar e da a oportunidade de participar, divergir,

sugerir e, acima de tudo, avaliar o trabalho desenvolvido no interior da escola. A construção do PPP prima pela divisão de responsabilidades para que no fim os objetivos sejam alcançados com qualidade.

É através dos colegiados que a comunidade escolar tem conhecimento sobre as normas e a importância de cada um na construção do PPP. A comunidade escolar fica conhecendo também as ações do PPP para aquele ano letivo e o que está previsto para acontecer nos semestres.

Para Demo (2004), o PPP prevê todas as atividades da escola, do pedagógico ao administrativo, devendo ser uma das metas da equipe escolar construir uma escola democrática, capaz de contemplar vontades da comunidade na qual ele surge, tanto na sua elaboração quanto na sua operacionalização. Portanto, é a partir do PPP que o processo ensino e aprendizagem se contextualizam, visando à melhoria dos resultados educacionais e o sucesso do aluno.

Bordignon (2004) lembra-nos que o Conselho Escolar será a voz e o voto dos diferentes atores da escola, internos e externos, desde os diferentes pontos de vista, deliberando sobre a construção e a gestão de seu projeto político pedagógico.

A elaboração e a execução de uma proposta pedagógica é a primeira e principal das atribuições da escola, devendo sua gestão orientar-se para tal finalidade. A proposta pedagógica é, com efeito, o norte da escola, definindo caminhos e rumos que uma determinada comunidade busca para si e para aqueles que se agregam em seu entorno. (VIEIRA, 2009).

9.3 AUXÍLIO À GESTÃO ESCOLAR

A categoria que enfatiza o auxilio à gestão escolar, enquadra-se nos objetivos da pesquisa, quando se tenta identificar se há atuação do Conselho Escolar no auxilio à gestão das escolas. As questões do roteiro de entrevista foram direcionadas aos membros do CE. Todos os entrevistados foram unânimes em afirmar que auxiliam o gestor na gestão da escola. Após a leitura e apresentação dos resultados, fica a crítica a um trabalho que é realizado sem mostrar comprometimento com os objetivos educacionais. E um auxílio voltado apenas para as questões administrativas. O que invalida o trabalho pedagógico na escola.

Libâneo (2008) afirma que a implementação de práticas alternativas de organização e gestão da escola depende bastante da atuação da direção. O diretor da escola é o responsável pelo funcionamento administrativo e pedagógico, portanto, necessita de conhecimentos tanto administrativos quanto pedagógicos. Entretanto, seu desempenho deve ser planejado e sistematizado na gestão geral da escola.

O entendimento, portanto, é o de haver um auxílio à gestão que englobe o funcionamento geral da escola. Com o foco voltado para o funcionamento pedagógico, sendo este o fim do processo ensino e aprendizagem. E que o funcionamento administrativo seja o meio para se atingir os objetivos educacionais.

Neste sentido, as escolas são espaços de aprendizagem, comunidades democráticas de aprendizagem onde se compartilham significados, criam-se outros modos de agir, mudam-se práticas, recria-se a cultura vigente, aprende-se com a participação real de seus membros (GOMEZ, 2000).

É a partir da gestão escolar comprometida que se obtêm resultados educacionais satisfatórios. O principal papel da gestão escolar é o de favorecer o trabalho docente e, dessa forma, favorecer a aprendizagem dos alunos. São de pouca valia inovações como gestão democrática, eleições para diretor, introdução de modernos equipamentos, e outras novidades, se os alunos continuam apresentando baixo rendimento escolar e aprendizagens não consolidadas. (LIBÂNEO, 2006).

Entender esses condicionantes é imprescindível, se considerarmos positiva ou negativa essa prática de gestão onde os membros do CE auxiliam o gestor apenas nas questões administrativas. Pode-se invalidar toda a tarefa de assumir um compromisso com a educação.

Antunes (2010) reforça o debate quando afirma que a dimensão administrativa não está dissociada do pedagógico e do financeiro. As diferentes dimensões devem compartilhar entre si o sentido e o trabalho que é feito. Uma gestão que dá vez e voz às questões administrativa e esquece o pedagógico não está fazendo uma gestão compartilhada, democrática e comunitária.

Acima de qualquer outra dimensão, porém, está a incumbência de zelar pelo que constitui a própria razão de ser da escola o ensino e a aprendizagem. (VIEIRA, 2009).

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