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CIENTÍFICA 61 2.1 CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

1 RESSIGNIFICAÇÃO DA FORMAÇÃO ACADÊMICA E PROFISSIONAL: discussões introdutórias

1.1 APROXIMAÇÃO AO TEMA: iniciação científica como política pública de ciência

1.1.2 Garantia da Qualidade na Educação Superior

As discussões acerca do conceito de qualidade na ES indicam tendências enquadradas na concepção de isomorfismo, ligada à ideia de empregabilidade e à lógica do mercado, de respeito à diversidade e de equidade, de acordo com os estudos de Morosini (2001, 2006, 2009, 2012).

Na concepção isomórfica (empregabilidade), a autora apresenta a qualidade como modelo único de caráter multidimensional e complexo com limites de avaliação, haja vista ser medida por qualidades pessoais, desenvolvimento de habilidades e metacognição. Ainda segundo Morosini (2012), essa matriz isomórfica de qualidade apresenta um grupo mínimo de cinco aspectos-chave: exceção, perfeição, condições para propósito, valor para o dinheiro e transformação que revelam princípios mínimos de padrões, concentração no processo que objetiva defeito-zero, propósito definido por um provedor, busca pela efetividade medida pela produção e mudança qualitativa que valoriza e dá poder ao aluno, respectivamente.

A qualidade da diversidade (especificidade) indica a preservação do diferente. O princípio dessa concepção consiste em não ter um padrão único de qualidade para a ES. Adota-se uma concepção de qualidade que melhor atender a realidade de cada país ou IES. Não são adotadas estratégias de fiscalização e auditoria para as IES por parte governamental. Valorizam-se os projetos de autoavaliação, as políticas de planejamento em longo prazo, a alocação de recursos, a reestruturação do gerenciamento. Trata-se de uma qualidade focada no desenvolvimento do sistema de ES e não apenas no controle (MOROSINI, 2001, 2012).

Nesse conceito de qualidade adotado pela Unesco, a equidade está centrada na lógica de tratamento diferenciado para quem é diferente. Isto significa superar os limites da padronização de indicadores, apoiando-se em estudos quanti-qualitativos. A qualidade deve ser norteada por fatores-principais: extensão da educação, tratamento da diversidade, autonomia escolar, currículo/autonomia curricular, participação da comunidade educativa e gestão dos centros escolares, direção escolar, professorado, avaliação, inovação e investigações educativas (MOROSINI, 2001, 2012). Outro aspecto importante é registrar as dimensões da equidade dentro do contexto educativo:

A primeira é a justiça, a qual pressupõe que circunstâncias pessoais e sociais

– por exemplo, sexo, status socioeconômico ou origem étnica – não devem

ser um obstáculo ao desenvolvimento do potencial educativo. A segunda é a inclusão, a qual implica assegurar um padrão básico mínimo de educação para todos – por exemplo, que todos devem ser capazes de ler, escrever, e fazer cálculos aritméticos simples. (SANTIAGO et al, 2008, p. 73 apud MOROSINI, 2009, p. 169).

Dentro de outra perspectiva, equidade na ES é entendida como “[...] igualdade entre os indivíduos em algum atributo. A capacidade de uma pessoa se define como as distintas combinações de funções que esta pode chegar a alcançar” (FORMICHELLA, 2011, p. 7). Essa ideia contempla a equidade como um projeto político que busca a igualdade de reconhecimento nas desigualdades.

Também vale considerar que o conceito de qualidade tem variado de acordo com as mantenedoras em ES e evoluiu com o tempo, sendo possível defini-la como “[...] especificar objetivos de valor para a aprendizagem e capacitar os estudantes para alcançá-los” (SANYAL; MARTIN, 2008, p. 155 apud GOLA, 2003). Para os autores, especificar esse tipo

de objetivos envolve articular “[...] padrões acadêmicos para satisfazer: (1) as expectativas da

sociedade; (2) as aspirações dos estudantes; (3) as demandas do governo, das empresas e da indústria; e (4) os requisitos de instituições profissionais” (SANYAL; MARTIN, 2009, p. 155).

Assim, o alcance dos objetivos de aprendizagem envolve uma inter-relação das dimensões do processo pedagógico e dos indicadores de qualidade do ensino de graduação, especificamente, àqueles referenciados em produto e processos. Para Morosini et al (2014), a qualidade expressa em produtos tem relação com os insumos e as condições do ensinar e do aprender. São três categorias: da instituição, do corpo docente e do corpo discente. Todas com seus respectivos indicadores. A qualidade referenciada em processos contempla aspectos pedagógicos e acadêmicos também distintos em três categorias: currículo, práticas pedagógicas e avaliação.

Nessa abordagem, a garantia da qualidade requer práticas como auditorias, avaliação de qualidade e credenciamento. Esses mecanismos são, assim, caracterizados:

Auditorias de qualidade examinam se uma instituição ou uma de suas subunidades tem um sistema de procedimentos de garantia e determinam sua adequação. As auditorias são realizadas por indivíduos não envolvidos com os assuntos em questão. Auditorias de qualidade são o primeiro passo no processo de garantia de qualidade. Avaliação de qualidade envolve exame da qualidade dos processos, prática, programas e serviços de ES, através do emprego de técnicas, mecanismos e atividades apropriadas. Esse processo de avaliação leva em conta o contexto, os métodos usados, os níveis sendo

avaliados, as áreas de avaliação e os objetivos e as prioridades das mantenedoras. Credenciamento é o resultado de um processo através do qual uma entidade governamental, paraestatal ou privada (agência de credenciamento) avalia a qualidade de uma IES como um todo, ou um programa/curso específico a fim de reconhecer formalmente que foram atingidos certos critérios ou padrões predeterminados para que receba um rótulo de qualidade. (SANYAL; MARTIN, 2009, p. 155).

Essa conjectura destaca a interdependência entre a avaliação da qualidade dos produtos e processos com o exercício da docência com vistas à promoção de uma ES para além do negócio e com capacidade de superar um ensino baseado na fragmentação do saber. Um ator importante nessa cenário é o professor. A sua atuação envolve uma diversidade de espaços, experiências, convivências, escolhas que se relacionam no ser e no fazer docente. São pensamentos, concepções, valores, culturas e significados que quando registrados exploram dimensões pessoais e do coletivo. O ensino como uma atividade reflexiva, um fazer fruto de um processo de deliberação, um refletir da prática estimulada pela interação professor-aluno em diferentes situações, ainda, é uma provocação para a garantia da qualidade da ES.