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CIENTÍFICA 61 2.1 CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

1 RESSIGNIFICAÇÃO DA FORMAÇÃO ACADÊMICA E PROFISSIONAL: discussões introdutórias

1.2 CONTEXTO DO OBJETO DE ESTUDO

1.2.1 Questões de Pesquisa e Hipóteses

Como se caracterizam os impactos da IC na formação dos egressos bolsistas/voluntários16 de Programas de Iniciação Científica desenvolvidos em redes colaborativas de pesquisa, como Tecnopuc, SergipeTec e o ITP?

Que indicadores de qualidade de formação universitária podem emergir a partir da perspectiva dos egressos bolsistas/voluntários de IC que vivenciaram essa experiência nas redes colaborativas de ciência, tecnologia e inovação já citadas?

A construção da IC como política de estado de ciência relacionada à qualidade da formação na ES concretizou-se em duas proposições que são também hipóteses desta investigação:

A) A IC como política pública de ciência é concebida como uma ação que promove formação universitária de qualidade em uma perspectiva de equidade (projeto político que busca igualdade no reconhecimento das desigualdades).

A pesquisa como prática educativa tem importantes contribuições à ciência e à tecnologia, evidenciando uma necessidade histórica de se compreender com mais criticidade essa formação nas universidades. Estas têm uma relação estreita com o desenvolvimento social, econômico, científicio, tecnológico e cultural, sendo responsável pela formação de um cidadão cosmopolita, ou seja, cabe a universidade contribuir para o desenvolvimento e incremento de uma cultura pública global associando cidadania e conhecimento. A ciência, a tecnologia e a inovação são vistas como forças ligadas à transcedência, isto é, maneira pela qual a sociedade evolui.

Delanty (2009) define cosmopolitanismo como uma dinâmica fundamental de relação entre o local e o global (abertura de horizontes e novas maneiras de ver o mundo). O autor ainda vai mais longe afirmando que o cosmopolitanismo é uma expressão de resistência às forças do mercado global ficando mais próximo do desenvolvimento social. Trata-se, então, de um lugar de interação, de encontros culturais e de desenvolvimento sociocognitivo.

16 Considero, nesta pesquisa, como bolsistas de IC os estudantes participantes dos Programas de Iniciação Científica (PIC) nas redes colaborativas do loci deste estudo (Tecnopuc, SergipeTec e ITP), bem como os estagiários participantes dos projetos financiados pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Trata-se de uma empresa pública que fomenta o desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação em empresas, universidades, institutos tecnológicos e outras instituições públicas e privadas. Essa financiadora foi criada em 1967 e está vinculada ao MCTI, com sede no Rio de Janeiro. Disponível em: <www.finep.gov.br>. Esclareço que essa decisão teve como base a possibilidade de estender a população pesquisa deste estudo, haja vista os estagiários participantes de projetos da FINEP desenvolverem atividades sistemáticas de pesquisa com professores-orientadores com equivalência às dos bolsistas/voluntários de um PIC.

Nessa abordagem, a pesquisa científica é reconhecida como processo de produção e difusão de conhecimento cada vez mais inseparável da cidadania e da democracia. A ciência impulsiona avanços, a partir de respostas a questões relevantes postas pela comunidade científica, devendo ser de interesse social. Trata-se de um processo que se configura como construção de conhecimentos, imprescindível à vida acadêmica, possibilitando tanto a professores quanto a alunos gerar, corroborar ou refutar argumentos, na perspectiva de eternos aprendizes capazes de ir além das forças do mercado.

B) A IC promove impactos significativos para a inclusão científica e social na formação universitária, contribuindo para a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e inovação.

O debate em torno da ES implica em retomar o seu princípio básico-legal da indissociabilidade entre ensino, pesquisa, extensão (nos dias de hoje, acrescenta-se a

inovação) ‒ que, em tese, está objetivado na proposta político-pedagógica de cada

universidade, na qual se explicitam sua autonomia acadêmica.

Cunha (2011) afirma que a relação entre ensino e pesquisa exige uma mudança epistemológica na universidade. Por mais forte que seja o discurso da indissociabilidade, ainda há uma cultura acadêmica que separa a pesquisa (pós-graduação) e o ensino (graduação) com práticas esvaziadas e conceitos fragilizados nas políticas públicas. Para a autora, faz-se

necessário “[...] uma didática no ensino superior que incorpore nos processos pedagógicos os

princípios investigativos, tanto no trato do conhecimento, como nos procedimentos propostos

para ensinar e aprender” (p. 195).

Para tanto, faz-se necessário integrar o conhecimento perpassando pela ação efetiva do desenvolvimento humano e social. Há três importantes desafios para ser vencidos

no início deste século: “[...] escassez, medo e sustentabilidade do planeta para a vida das futuras gerações” (VESSURI, 2009, p. 75). Ou seja, a ciência, a tecnologia e a inovação são

fundamentais para os prospectos desses desafios de forma exitosa.

Assim, a pesquisa assume a função essencial dos sistemas de ES fundamentada no pressuposto da inovação, da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade, formando sociedades humanas. O desafio é alcançar esse contexto, haja vista a ES apresentar ainda um modelo arraigado na cultura de mercado.

Para ratificar ou refutar essas hipóteses foram delineados dois eixos de análise: a) a identificação dos impactos organizacional, educativo, cognitivo e social17. Centro-me nos egressos participantes de IC em redes colaborativas, em especial no Tecnopuc, no SergipeTec e no ITP, que tenham sido formados no período compreendido de 2 a 7 anos. Esse recorte baseia-se nas pesquisas educacionais com foco no egresso, adotando o modelo learning outcomes18. Essas medidas são utilizadas pelos projetos Reflex na União Europeia (2008) e Proflex na América Latina (2009); b) proposição de indicadores de IC que contribuam para uma formação universitária de qualidade na ES. Essa problemática será investigada a partir do pressuposto de uma ES dentro dos contextos emergentes com enfoque para o desenvolvimento humano e social que permeia as categorias a priori de análise, fundadas em marcos teóricos, a saber: ciência (BACHELARD, 1972, 1978, 1985, 1996); formação universitária (DELANTY, 2008, 2009); qualidade (MOROSINI, 2001, 2006, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015).

O objetivo geral desta tese consiste em analisar os impactos da IC na formação dos egressos bolsistas/voluntários que foram participantes de redes colaborativas do Tecnopuc, SergipeTec e ITP, considerando a perspectiva da cidadania, inclusão científica e profissional, bem como a proposição de indicadores de qualidade na ES a partir dessa política pública de ciência.

Dessa configuração, emergem os objetivos específicos: a) identificar os impactos (organizacional, educativo, cognitivo e social) ocasionados pela IC na vida dos egressos bolsistas/voluntários na graduação; b) relacionar a IC com a formação universitária de qualidade na perspectiva dos egressos participantes de pesquisas em redes colaborativas; c) propor indicadores de qualidade acerca da IC na ES.

Tem-se, então, uma relevante fonte de investigação para uma tese de doutoramento, haja vista ser possível a proposição de indicadores que estabeleçam uma

17 As áreas de impactos da universidade equivalem a um diálogo participativo com a sociedade para promover o desenvolvimento humano sustentável. A partir dos estudos de Vallaeys (2007), os impactos são assim classificados: organizacional (equivale à responsabilidade social empresarial e tem relação com a ética na gestão; conscientização acerca dos problemas relacionados ao meio ambiente com indicações para superá-los);

educativo (formação baseada na cidadania democrática, na perspectiva de trabalho interdisciplinar em projetos

de serviço para a comunidade); cognitivo (temas de pequisa ligados ao desenvolvimento humano – étnicos, gênero, pobreza, aprendizagem compartilhada); social (responsabilidades com as classes sociais menos favorecidas, desenvolvimento de programas para nivelamento estudantil e abertura para atores sociais).

18 Shomburg e Teichler (2008 apud MOROSINI, 2009) desenvolvem pesquisas sobre egressos adotando o modelo learning outcomes, conceituado como “[...] o que a pessoa, com uma qualificação especifica, é capaz de conhecer, compreender e desempenhar; qualificação é a ponte entre o desenvolvimento de conhecimento pela educação e demandas adivindas ao mundo do trabalho” (p. 17). Especificamente, esse tipo de estudo adota um faixa de 2 a 5 anos de formação. No caso desta tese, o período de formação considerado ficou entre 2 e 7 anos para tornar a amostra válida estatisticamente.

relação entre a formação de IC em redes colaborativas de pesquisa e a qualidade na ES. Ver esquema da figura 8:

Figura 8 – Elementos Configurativos da Tese desta Pesquisa

Fonte: Autora a partir das contribuições das profas. Dras. Morosini e Giraffa (2013)19. Essa representação gráfica permite afirmar que esta investigação tem como tese a proposição de indicadores de qualidade que permitam estabelecer inter-relações entre a formação universitária e a qualidade da ES a partir de experiências de egressos bolsistas/voluntários de IC vivenciadas em redes colaborativas de pesquisa (institutos e parques tecnológicos). Essa colaboração em rede é um relevante mecanismo de transferência/difusão de conhecimento e mobilidade humana que envolve uma aprendizagem interativa com vistas ao desenvolvimento da cidadania cosmopolita.

Esse cenário investigativo vincula esta tese ao Centro de Estudos em Educação Superior (CEES), situado na Escola de Humnaidades da PUCRS e coordenado pela profa. Dra. Marília Costa Morosini. Trata-se de um centro de pesquisa interdisciplinar em que seus pesquisadores realizam trabalhos em redes colaborativas internacionais e interinstitucionais desde o final da década de 199020. O CEES tem como finalidade desenvolver, produzir e

19 Essa tese emergiu em dezembro de 2013 em uma banca de pré-qualificação, composta pela profas. Dras. Morosini e Giraffa. Nesse momento, o estudo foi direcionado para as redes colaborativas.

difundir conhecimento sobre ES nos níveis institucional, nacional e internacional (CEES, 2014).

O CEES reúne diversos grupos de pesquisas do diretório do CNPq, dentre os quais destaco o UNIVERSITAS/RIES21, do qual faço parte como estudante-pesquisadora22. Este grupo discute a ES nos campos de políticas e de práticas pedagógicas de diferentes áreas. A concretização dos estudos é realizada a partir da criação de redes acadêmicas, como: estados de conhecimento sobre a ES no Brasil e na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP); no Observatório da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) de Qualidade da ES e de estudos comparados sobre Brasil e Estados Unidos. Duas redes integram este diretório: Rede UNIVERSITAS vinculada ao Grupo de Trabalho Políticas de Educação Superior da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação23 (ANPEd) e a Rede Sulbrasileira de Investigadores da Educação Superior24 (RIES).