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Garantias Constitucionais Inerentes ao Devido Processo Penal

CAPÍTULO II - DEVIDO PROCESSO LEGAL – DEVIDO PROCESSO PENAL

2.3 Garantias Constitucionais Inerentes ao Devido Processo Penal

É indubitável que dentre as garantias constitucionais relativas ao processo, o devido processo legal se mostra como de maior importância, em razão de todas as outras que dele decorrem. Se estas dizem respeito ao direito de exigir do Estado a tutela jurisdicional e o julgamento de suas lides e “casos penais”, de nada adiantaria se o processo se desenrolasse sem observância aos preceitos básicos de respeito à dignidade da pessoa humana.199

Assim, conforme preconizado por Gilson Bonato: “No tocante ao devido processo legal, pode-se afirmar tratar-se de um verdadeiro princípio, do qual emanam inúmeras garantias, equiparadas a direitos no sistema brasileiro, servindo estes como instrumentos para efetivar o princípio em apreço, garantindo a todos o acesso a um processo justo.” 200

198 PEREIRA, op. cit., p. 240.

199 MEDEIROS, op. cit., p. 121.

200 BONATO, op. cit., p. 72.

Desta forma, diante da amplitude do princípio em questão, não se pode afirmar sem possibilidade de erro que existe um rol taxativo de garantias dele derivadas.

A estrutura processual penal, cujas regras são ditadas pela Constituição da República, está inserida num sistema. Jacinto Nelson de Miranda Coutinho assim entende por sistema:

“Conjunto de temas colocados em relação por um princípio unificador, que formam um todo pretensamente orgânico, destinado a uma determinada finalidade.” 201

Em sede de processo penal têm-se os sistemas processuais inquisitório e acusatório, regidos pelos princípios inquisitivo e dispositivo, respectivamente, identificáveis através da gestão da prova, não obstante deles tomarem parte outros elementos, tais como a existência de partes.

A Constituição de 1988 impõe que o Direito Processual Penal se paute por princípios que efetivamente garantam e assegurem os direitos fundamentais do homem. Ao adotar explicitamente o modelo acusatório de processo, impôs que os dispositivos processuais penais ganhassem uma nova leitura. Mas na prática, muitos dos elementos essenciais de um sistema acusatório não são observados. E como bem ressalta Geraldo Prado, o modelo vigente no Brasil balança entre as exigências normativas garantistas e práticas autoritárias, e mesmo leis editadas nesta mesma época acabam por reproduzir tal contradição. 202

Podem ser extraídas da Constituição da República algumas garantias básicas específicas protegidas pelo devido processo legal e aplicáveis ao processo penal, sem prejuízo de outras decorrentes dos princípios adotados, ou mesmo concedidas pela legislação ordinária, as quais sejam: 1. prisão somente em caso de flagrante ou por ordem judicial (art. 5°, inciso LXI); 2. direito de permanecer o acusado calado e de ter assistência

201 COUTINHO. Os princípios..., op. cit., p.3.

202 PRADO, op. cit., p. 3.

da família e do advogado (art. 5°, inciso LXIII); 3. direito de que a prisão seja imediatamente comunicada ao juiz competente e a membro da família indicado pelo acusado (art. 5°, inciso LXII); inviolabilidade da residência, exceto em caso de flagrância do delito ou desastre, ou durante o dia, mediante ordem judicial (art. 5°, inciso XI);

inviolabilidade de correspondência ou comunicações telefônicas e dados, salvo por ordem judicial (art. 5°, inciso XII); 6. direito a julgamento pelo juiz natural, não se admitindo tribunal de exceção (art. 5°, inciso LIII); 7. proibição de uso de provas obtidas por meios ilícitos (art. 5°, inciso LVI); 8. julgamento por júri nos crimes dolosos contra a vida (art. 5°, inciso XXXVIII); 9. individualização e proporcionalidade da pena: não atingindo terceiros, nem deixando de considerar a gravidade do delito (art. 5°, inciso XLV e XLVI); 10.

obrigação de toda autoridade fundamentar suas decisões, aferindo-se não só a legalidade estrita, mas também a justiça do ato (art. 93, inciso IX). 203

Gilson Bonato assegura que o devido processo legal diz respeito a determinadas garantias indispensáveis ao desenvolvimento regular do processo, as quais são: o acesso à justiça, a presunção de inocência, o juiz natural, o princípio da identidade física do juiz, o princípio do promotor natural, o tratamento paritário dos sujeitos processuais, a plenitude de defesa e o contraditório, a publicidade dos atos processuais, a motivação dos atos decisórios e o prazo de duração do processo. 204

Osmar Fernando de Medeiros considera que as garantias constitucionais, inerentes ao processo penal, constam do art. 5º e se referem aos seguintes incisos: XXXIV – direito de petição aos Poderes Públicos para defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de

203 Importante ressaltar aqui, que não obstante essa garantia não constar tecnicamente das cláusulas pétreas, aí se inclui, por integrar o devido processo, sendo pois, garantia fundamental.

204 BONATO op. cit.,p. 116 e ss.

poder; XXXVII – proibição de juízo ou tribunal de exceção; XXXVIII – reconhecimento da instituição do júri; LIII – garantia do juiz natural; LIV – princípio do devido processo legal; LVI – inadmissibilidade no processo de provas obtidas por meios ilícitos; LVII – estado de inocência; LVIII – desobriga o civilmente identificado a fazê-lo na esfera penal, salvo exceções; LIX – ação penal de iniciativa privada subsidiária da pública; LX – garantia de publicidade dos atos processuais; LXI – excepcionalidade da prisão: somente em flagrante ou por ordem escrita fundamentada do juiz; LXII – comunicação imediata da prisão ao juiz competente, à família ou quem ele indicar; LXIII – o preso deverá ser informado de seus direitos, entre eles: permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de um advogado; LXIV – direito de o preso ter identificado o responsável por sua prisão ou seu interrogatório policial; LXV – o relaxamento da prisão ilegal; LXVI – direito à liberdade provisória, com ou sem fiança; LXVIII – concessão de habeas corpus; LXXIV – assistência judiciária integral e gratuita, a ser prestada pelo Estado. 205

Ana Lúcia Menezes Vieira focaliza:

São garantias do devido processo legal na Constituição da República: a) a garantia do juiz natural, com a proibição dos juízos ou tribunais de exceção, abrangendo a idéia de juiz competente (art. 5°, XXXVII e LIII); b) o contraditório e a ampla defesa (art. 5°, LV); c) a igualdade processual – decorrente do princípio da isonomia (art. 5°, I), significando a paridade de armas ou par conditio – igual possibilidade de atuação das partes no processo civil ou penal; d) a publicidade e o dever de motivar as decisões judiciárias (arts. 5°, LX, e 93, IX); e) presunção de inocência do acusado (art. 5°, LVIII). Além das garantias expressas, há outras decorrentes do contraditório e da ampla defesa – direito à prova, por exemplo – que integram a garantia do devido processo legal. 206

205 MEDEIROS, op. cit., p. 93-94.

206 VIEIRA, op. cit., p. 71.