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CAPÍTULO 1: ENQUADRAMENTO DAS ÁREAS DE ESTUDO

1.1. Bacias hidrográficas do rio da Silveira e da ribeira de Santo António

1.1.2. Geologia

a) Estrutura geológica

As bacias hidrográficas do rio da Silveira e da ribeira de Santo António situam-se na Orla Mesocenozóica Ocidental e enquadram-se na Bacia Lusitaniana, cuja evolução tectónica e sedimentar, desenvolvida em episódios de rifting, se encontra relacionada com a abertura do Atlântico Norte (Kullberg et al., 2006). A tectónica da Bacia Lusitaniana é caracterizada pela presença de famílias de acidentes, com diferentes direções, e respeitantes, na sua maioria, ao rejogo de fraturas tardi-variscas. Como consequência destes acidentes tectónicos, a Região a Norte de Lisboa apresenta ondulações sinclinais e anticlinais, de ampla curvatura, e com orientações béticas (ENE-WSW) (Ribeiro et al., 1979).

A área de estudo apresenta, em termos gerais, uma estrutura geológica monoclinal resultante do seu enquadramento no flanco sul do anticlinal centrado na depressão de Arruda dos Vinhos, onde existe um exemplo típico de inversão de relevo (Ferreira et

al., 1987; Zêzere, 1997). As camadas mergulham para SW, S e SE, em direção ao

estuário do Tejo (Zêzere, 1997), pelo que as rochas aflorantes à superfície são de idade progressivamente mais recente, de N para S.

A área de estudo é, ainda, afetada por um conjunto de falhas de orientação predominante NE-SW e NW-SE que, não se manifestando claramente no relevo, delimitam, em alguns casos, contactos entre unidades litológicas de natureza e comportamento mecânico distintos (Ferreira et al., 1987; Zêzere, 1997).

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b) Litologia

Nas bacias hidrográficas do rio da Silveira e da ribeira de Santo António afloram, sobretudo, rochas de natureza sedimentar datadas desde o Jurássico Superior ao Quaternário. Na figura 1.2 é apresentada a cartografia e a coluna lito-estratigráfica das formações geológicas em estudo, que são abrangidas pelas folhas 389, 390, 403 e 404 da Carta Geológica da Área Metropolitana de Lisboa, na escala 1:25 000 (INETI, 2005).

Figura 1.2 – Cartografia e coluna lito-estratigráfica das formações em estudo (fonte: cartografia adaptada da Carta Geológica da Área Metropolitana de Lisboa na escala 1:25 000; coluna lito-estratigráfica adaptada de Coelho, 1979).

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17 A coluna lito-estratigráfica (fig. 1.2) representa a seguinte sucessão de formações (das mais antigas para as mais recentes):

Formações do Jurássico

Formação de Abadia (J3

Ab): datada do Kimeridgiano Inferior - Médio (?), é a unidade com maior representação na área de estudo (36,6%), onde ocupa uma superfície de 15,8 km2. Estende-se ao longo do vale do rio da Silveira até Calhandriz e abrange, quase na totalidade, a bacia hidrográfica da ribeira de Santo António. Esta unidade, que chega a atingir os 800 m de espessura, é constituída por argilas e margas cinzentas ou azuladas, que poderão adquirir uma tonalidade amarelada em função da sua alteração. Em algumas situações as margas são arenosas e micáceas, com nódulos calcários ou limoníticos, e com intercalações de grés e conglomerados mais ou menos desenvolvidos. Na parte média da formação, frequentemente observam-se camadas lenticulares de calcários recifais (Zbyszewski e Assunção, 1965).

Formação de Amaral (J3

Am): datada do Kimeridgiano Superior, apresenta uma espessura que pode variar entre 30 e 80 m (Kullberg et al., 2006). É composta por massas calcárias agregadas entre si ou separadas por margas ou margo-calcários. No meio da unidade é frequente existirem bancadas de oólitos miliares e de grés compactos. O contacto que a Formação de Amaral estabelece com a parte superior da Formação de Abadia ocorre de forma bastante irregular e, por vezes, as primeiras camadas corálicas apresentam um aspeto lenticular (Zbyszewski e Assunção, 1965). Zbyszewski (1964) refere, como exemplo, a parte superior do vale de Subserra onde os calcários recifais, de elevada dureza, originam cornijas bem marcadas.

Dentro do complexo de Amaral foi criada, no âmbito desta dissertação, uma subunidade à qual se atribuiu a designação de Margas de Amaral. Através de observações de campo e da interpretação da fotografia aérea e da topografia à escala 1:10 000 verificou-se, nalguns locais de contacto entre a Formação de Amaral e a Formação de Abadia, a existência de sectores com carácter margoso, onde as vertentes apresentam um declive manifestamente mais suave e um perfil predominantemente côncavo. A mesma diferenciação litológica já tinha sido

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identificada por Pimenta (2011) no seu trabalho realizado em Arruda dos Vinhos. Consequentemente, a delimitação desta subunidade irá permitir que a mesma seja interpretada como classe independente, sempre que a litologia for utilizada como variável nos processos de modelação.

Na Carta Geológica da Área Metropolitana de Lisboa, na escala 1:25 000 (INETI, 2005), a Formação de Sobral e a Formação de Arranhó surgem como duas unidades distintas, contudo, elas correspondem à designação antiga de Complexo Pteroceriano (Zbyszewski, 1964).

Formação de Sobral (J3

So): do Kimeridgiano Superior (?) – base do Titoniano (?), apresenta uma espessura que varia entre 65 e 130 m. É constituída por uma sequência de margas siltosas ou arenosas e fossilíferas, argilas siltosas e arenitos, mais ou menos grosseiros, que apresentam raros e finos horizontes de calcários micríticos com calhaus de quartzo em percentagem variável. Em toda a unidade ocorrem, também, níveis desenvolvidos de arenitos avermelhados (Kullberg et al., 2006).

Formação de Arranhó (J3

Ar): datada do Titoniano Inferior, representa, imediatamente a seguir à Formação de Abadia, a unidade com maior expressão na área de estudo (25,5%), estendendo-se por uma superfície de 11 km2. É constituída por calcários e margas fossilíferos, cuja espessura pode variar entre 150 e 250 m (Kullberg et al., 2006). De um modo geral, para W domina a componente margosa, enquanto para SE o elemento calcário possui um maior desenvolvimento. No caso da região de Alhandra, para além das bancadas calcárias serem mais desenvolvidas, também as bancadas margosas, a W, encontram-se representadas por uma alternância de margo-calcários e de calcários (Zbyszewski, 1964).

Formação de Freixial (J3

Fr): datada do Titoniano Médio – Superior, apresenta uma espessura que varia entre 150 e 200 m (Kullberg et al., 2006). Na região de Arcena, o seu limite inferior caracteriza-se pela presença de um complexo de grés sem fósseis. No limite intermédio, surge uma camada com cerca de 25 m de espessura, onde calcários e margo-calcários alternam com bancadas gresosas. O limite superior, com

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19 aproximadamente 100 m de espessura, apresenta um conjunto de grés grosseiro e feldspático com intercalações de bancadas calcárias fossilíferas (Zbyszewski, 1964).

O Cretácico e o Terciário estão representados por formações que se localizam, essencialmente, entre os sectores SSW e ESE da área de estudo. Constituem unidades de carácter mais detrítico que afloram paralelamente ao estuário do Tejo, ocupando, apenas, 3,8% da área total.

Formações do Cretácico

Formação de Serreira (C1

Se): do Berriasiano Inferior - Titoniano (?), compreende uma alternância de conglomerados, com arenitos e pelitos (Kullberg et al., 2006).

Formação de Santa Susana e de Praia dos Coxos indiferenciada (C1

SPc): do Hauteriviano Inferior a Valanginiano terminal, é composta por margas, arenitos, calcários e pelitos. Próximo do Sobralinho, a largura do afloramento é de cerca de 50 m (Zbyszewski, 1964).

Formação de Fonte Grada (C1

FG): do Barremiano Inferior a Hauteriviano Superior, trata- se de um complexo constituído por arenitos, conglomerados e pelitos (INETI, 2005).

Formação de Regatão (C1

Re): do Barremiano Superior, corresponde a um depósito de ambiente estuarino que apresenta uma sedimentação predominante de arenitos, pelitos e dolomitos (Kullberg et al., 2006; INETI, 2005).

Formação de Rodízio (C1

Ro): unidade datada do Albiano Inferior (?) ao Aptiano Superior, formada por pelitos, arenitos e conglomerados. Choffat (1885, citado por Zbyszewski, 1964) atribuiu-lhe a designação de «Camadas de Almargem».

Formação de Caneças (C2

Cn): formação do Cenomaniano Médio a Albiano Superior (?), constituída por calcários e arenitos. Refere-se ao antigo “Belasiano”, definido por Choffat (1886, citado por Pais et al., 2006).

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Formações do Terciário

Formação de Benfica (φBf): unidade datada do Oligocénico a Eocénico, composta por conglomerados, arenitos e argilitos (Pais et al., 2006).

Calcário de Quinta das Conchas (MQc): formação do Langhiano, constituída por calcários margosos, argilas, margas e grés calcários (Zbyszewski, 1964).

Grés de Grilos (MGr): datado do Serravaliano, corresponde a um complexo gresoso com algumas intercalações calcárias e argilosas (Zbyszewski, 1964).

Areolas de Braço de Prata (MBp): unidade do Tortoniano Inferior que constitui uma alternância de arenitos finos, areias finas e bancadas pouco espessas de calcários margosos e gresosos muito fossilíferos (Zbyszewski, 1964; Pais et al., 2006).

Areolas de Cabo Ruivo (MCr): unidade do Tortoniano Superior que surge como um pequeno afloramento, a W de Alverca, representado por areias finas e médias, grés calcário, calcários gresosos, calcários fossilíferos, argilas e siltes (Zbyszewski, 1964; Pais, et al., 2006).

Formações do Quaternário

Depósitos de terraços fluviais: complexo, datado do Plistocénico, que corresponde ao antigo terraço fluvial localizado entre Alhandra e Alverca, cujo desenvolvimento atinge uma espessura de cerca de 15 a 20 m (Zbyszewski, 1964). É composto por conglomerados com elementos de calcário jurássico, por formações siltosas com calhaus rolados ou com seixos quartzosos e por formações argilo-arenosas. Na base, encontra-se uma série argilosa com uma ligeira inclinação em direção ao estuário do Tejo (Zbyszewski, 1964).

Aluviões: unidade, datada do Holocénico, que se estende ao longo da faixa de contacto com o estuário do Tejo. A sua expressão é mais acentuada na zona de confluência entre o rio da Silveira e o rio Crós Cós, bem como na foz da ribeira de Santo António. Corresponde a uma sucessão de lodos cinzentos e de areias com alguns níveis de

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21 calhaus rolados, principalmente na base. A sua espessura, embora variável de local para local, chega a atingir os 60 m (Zbyszewski, 1964).

Na área de estudo verifica-se, também, a existência de algumas rochas de natureza eruptiva. Os filões e massas de basalto, dolerito e de rocha alterada apresentam uma orientação predominante W-E e NE-SW. Enquanto o primeiro grupo se relaciona com um grande conjunto vulcânico localizado na região de Mafra, o segundo revela uma direção mais ou menos paralela aos acidentes tectónicos que ocorrem no vale do Tejo, nomeadamente na região de Vila Franca de Xira (Zbyszewski e Assunção, 1965). Devido à sua limitada expressão geográfica e morfológica, os filões não foram considerados como classe litológica independente, na elaboração dos modelos apresentados nos capítulos seguintes, tendo-se optado por agregá-los às unidades nas quais se deu a intrusão.