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CAPÍTULO 1: ENQUADRAMENTO DAS ÁREAS DE ESTUDO

1.1. Bacias hidrográficas do rio da Silveira e da ribeira de Santo António

1.1.3. Hidrografia e geomorfologia

A bacia hidrográfica do rio da Silveira (fig. 1.1), de quinta ordem (segundo Strahler, 1957), constituída por um total de 22 sub-bacias, ocupa uma superfície de 26,5 km2 e tem uma densidade de drenagem de 3,7 km/km2 (quadro 1.1). O rio da Silveira corresponde ao curso de água principal, com 12,1 km de comprimento, e destacam-se, como principais afluentes, a ribeira de Loureiro (4,1 km/km2) e o rio Crós Cós (3,9 km/km2).

A bacia hidrográfica da ribeira de Santo António (fig. 1.1), de quarta ordem (segundo Strahler, 1957), com densidade de drenagem de 2,6 km/km2 (quadro 1.1), ocupa uma área bastante menor (11,4 km2), sendo constituída por apenas 7 sub-bacias. A ribeira de Santo António, que corresponde ao curso de água principal, possui um comprimento de 6 km. Os seus principais afluentes são as ribeiras da Aboia e da Raposeira, cujas sub-bacias apresentam densidades de drenagem de 2,8 km/km2 e 2,4 km/km2, respetivamente. No sector jusante, a ribeira de Santo António encontra-se artificialmente canalizada, atravessando assim a localidade de Alhandra.

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De forma a evitar lacunas espaciais, foram incluídas na área de estudo 4 pequenas sub- bacias (fig. 1.1), localizadas junto ao estuário do Tejo, entre as bacias hidrográficas do rio da Silveira e da ribeira de Santo António. As sub-bacias ocupam uma superfície de cerca de 5 km2 (quadro 1.1) e correspondem a cursos de água cujos comprimentos variam entre os 0,2 e 2,7 km, encontrando-se, de forma geral, canalizados artificialmente a jusante. Por conseguinte, em termos globais, a área em análise corresponde a 43 km2.

Quadro 1.1 – Características morfométricas das bacias hidrográficas da área de estudo

BH do rio da Silveira BH da riba. de Santo António Sub-bacias secundárias Altitude (m) Máxima 377,4 310,9 260,0 Média 188,4 137,8 62,4 Mínima 0,0 4,2 0,6 Desv. - pad. 106,3 59,6 64,7 Declive (°) Máximo 58,1 47,8 49,4 Médio 10,6 9,9 6,6 Mínimo 0,0 0,0 0,0 Desv. - pad. 7,5 5,5 6,8 Densidade de drenagem (km/km2) 3,7 2,6 0,6 Área (km2) 26,5 11,4 5,1

Nas bacias hidrográficas da área em estudo, a cota varia entre os 0 m, no contacto com o estuário do Tejo, e os 377 m, a N de S. Romão (fig. 1.3). O valor altitudinal médio e máximo mais elevado ocorre na bacia do rio da Silveira, em contraste com os valores mais baixos que se observam nas sub-bacias secundárias (quadro 1.1). 60% da área total encontra-se a altitudes inferiores a 200 m.

Em termos de declive, as bacias hidrográficas do rio da Silveira e da ribeira de Santo António apresentam valores médios semelhantes, de 10,6° e 9,9°, respetivamente (quadro 1.1). Em ambas as bacias, o declive máximo é elevado, contudo, trata-se de situações pontuais, uma vez que valores acima de 30° ocorrem somente em 2,4% da bacia do rio da Silveira e em 0,9% da bacia da ribeira de Santo António. Na primeira bacia, 80% da vertente oriental e 78% da vertente ocidental apresentam declives

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23 inferiores a 15°. No caso da bacia da ribeira de Santo António, os declives inferiores a 15° ocorrem em 94% da vertente oriental, essencialmente devido ao predomínio de rochas com menor resistência à erosão (margas e argilas), enquanto 28% da vertente ocidental possui declives superiores a esse valor, nomeadamente na parte superior do vale de Subserra, imediatamente abaixo da linha de festo que delimita a bacia.

Figura 1.3 – Altimetria nas bacias hidrográficas do rio da Silveira e da ribeira de Santo António (fonte: carta topográfica digital na escala 1:10 000, do IGP; e hidrografia na escala 1:25 000, do IGeoE).

Do ponto de vista geomorfológico, a área de estudo apresenta quatro unidades principais: a planície aluvial do rio Tejo; os fundos dos vales extensos e profundos correspondentes aos principais cursos de água; as vertentes cuja geometria está associada às litologias presentes e à estrutura dominante monoclinal; e os topos.

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A planície aluvial do rio Tejo consiste numa superfície aplanada constituída pelas aluviões, onde a cota varia entre 0 e 10 m. O enchimento aluvial é dominado por depósitos de terraços fluviais (fig. 1.2), que culminam a 20 m de altitude. Nesta área, de declive inferior a 5° (fig. 1.4), estão implantados dois dos principais aglomerados urbanos (Alverca do Ribatejo e Alhandra).

Figura 1.4 – Declive nas bacias hidrográficas do rio da Silveira e da ribeira de Santo António (fonte: carta topográfica digital na escala 1:10 000, do IGP; e hidrografia simplificada na escala 1:25 000, do IGeoE).

Destacam-se dois importantes vales, talhados pelos principais cursos de água que atravessam a região: o vale do rio da Silveira e o vale da ribeira de Santo António. A E de Chão da Vinha, o vale do rio da Silveira apresenta um fundo aproximadamente plano, com uma largura próxima dos 400 m a uma cota altimétrica de 170 m, e observa-se uma considerável dissimetria relativamente ao comando das vertentes, sendo este superior na margem direita (150 m) em relação à margem esquerda (25 m).

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25 Contudo, esta situação tende a alterar-se para jusante onde, a partir de Adanaia, o fundo do vale começa a apresentar um perfil em “V”, que se mantém até atingir a planície aluvial do Tejo. Também o comando das vertentes assume valores mais elevados e a dissimetria em ambas as margens é atenuada, podendo, porém, existir variações no declive, sobretudo devido à presença de intercalações de rochas com diferentes resistências.

No que respeita ao vale da ribeira de Santo António, verifica-se que o comando das vertentes nas duas margens é bastante similar e o fundo de vale assume um perfil em “V”, exceto na confluência com a ribeira da Raposeira, onde é plano e com uma largura de cerca de 200 m a uma cota altimétrica de 90 m.

As vertentes dos vales são dissimétricas, o que se atribui ao seu desenvolvimento em estrutura monoclinal, associado à alternância de rochas com diferentes níveis de dureza, permeabilidade e plasticidade (Ferreira et al., 1987; Zêzere, 1991, 1997). Deste modo, as vertentes cataclinais caracterizam-se por vertentes longas, com inclinações para SW, S e SE e declive médio de 10°. Por outro lado, as vertentes anaclinais são vertentes mais abruptas, expostas a N e NE, em que a parte superior, com perfil retilíneo, é constituída por cornijas calcárias, seguindo-se um perfil predominantemente côncavo conferido pelas margas e argilas da Formação de Abadia. Na bacia hidrográfica do rio da Silveira, destacam-se os alinhamentos de relevos em estrutura monoclinal de Chão da Vinha e Calhandriz, enquanto, na bacia da ribeira de Santo António, o vale de Subserra corresponde ao anverso do relevo em estrutura monoclinal de Sobralinho.

Embora os calcários da Formação de Amaral sejam os responsáveis por grande parte das cornijas que ocorrem, sobretudo, no topo dos anversos, também as unidades heterogéneas correspondentes ao Complexo Pteroceriano (atualmente individualizado em Formação de Sobral e Formação de Arranhó) dão origem a cornijas calcárias, com forte declive, em ambas as margens do rio da Silveira. Esta situação foi ilustrada por Zêzere (1997) através de um corte geológico elaborado na vertente direita do rio Pequeno, junto à confluência com o rio da Silveira (fig. 1.1 e 1.5). Perto de Calhandriz, as cornijas apresentam um comando com cerca de 6 m e são pouco propícias à

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conservação de depósitos de vertente, conforme descrito por Zêzere (1997). Também na Formação de Abadia ocorrem, por vezes, algumas intercalações de calcários e calcarenitos, das quais resultam cornijas secundárias e rechãs estruturais (Zêzere, 1997). Estes patamares com diferentes níveis de resistência à erosão quebram, de alguma forma, a uniformidade do relevo induzida pelas margas e argilas.

1 - depósitos de vertente; 2 - margas, calcários margosos e calcários (Complexo Pteroceriano); 3 - calcários de Amaral; 4, 5, 6 - calcários, calcarenitos, margas e argilas de Abadia.

Figura 1.5 – Vertente direita do rio Pequeno, junto à confluência com o rio Silveira (fonte: Zêzere, 1997).

Os topos, que se localizam na bacia hidrográfica do rio da Silveira, apresentam diferentes posições altitudinais e orientações: entre Arcena e Alverca do Ribatejo (entre 35 e 97 m de altitude) a orientação é paralela ao estuário do Tejo; na área de Calhandriz (entre 235 e 330 m de altitude) desenvolvem-se na direção W-E; próximo da localidade de A-dos Melros (entre 199 e 317 m de altitude) apresentam uma orientação WSW-ENE ou N-S; próximo de S. Romão e Chão da Vinha (entre 340 e 372 m de altitude) a orientação é N-S ou NW-SE. A sua forma é alongada e, por vezes, estreita, com valores médios de comprimento e largura de, respetivamente, 195 m e 57 m. O declive médio varia entre 3 e 6°. Na bacia hidrográfica da ribeira de Santo António, os topos localizam-se a altitudes compreendidas entre 150 e 310 m e

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27 desenvolvem-se nas direções N-S ou NW-SE. A sua forma é estreita e alongada, o que se reflete num comprimento médio de 290 m e largura média de 55 m. O declive médio varia entre 4 e 9°.