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4 METODOLOGIA

4.4 A GERAÇÃO DE DADOS

Vimos denominando por geração (MASON, 1996; BRANDÃO, 2002) de dados o processo que vários autores, tais como Lüdke e André (1986) e Oliveira (2007), referem por coleta de dados, pois em concordância com Brandão (2002, p. 53):

Cada vez menos se utiliza o verbo coletar, seja no âmbito de materiais históricos, seja no da pesquisa de dados demográficos e outros. As escolhas e conceptualização dos pesquisadores constituem elas mesmas um processo de “criação” e “produção” dos materiais e dos dados que se utilizam.

Sob essa lógica, desde a opção pelas instituições federais até a delimitação do recorte temporal são evidências de procedimentos que criamos para a geração de dados. Para Lüdke e André (1986), em uma pesquisa embasada no uso de documentos, a primeira decisão imbuída ao pesquisador durante esse processo se funda na definição do tipo de documento a ser utilizado.

Será do tipo oficial (por exemplo, um decreto, um parecer), do tipo técnico (como um relatório, um planejamento, um livro-texto) ou do tipo pessoal (uma carta, um diário, uma autobiografia)? Envolverá informações de arquivos oficiais ou arquivos escolares? Ou ambos? Será um material instrucional (filme, livro, roteiro de programa) ou um trabalho escolar (caderno, prova, redação)? Incluirá um único tipo desses materiais ou uma combinação deles? (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 40).

Em nosso contexto de pesquisa, a seleção dos documentos foi, a princípio, definida a partir do uso de editais de processos seletivos, como já mencionado. A escolha do documento não foi executada aleatoriamente, pois, tal como argumentam Lüdke e André (1986, p. 40), “há geralmente alguns propósitos, ideias ou hipóteses guiando a sua seleção.” Nessa esteira, entendemos que os editais são documentos fulcrais na decisão do ingresso de candidatos surdos aos cursos de graduação voltados para a formação de professores de Libras, pois contêm informações que permitem ser manipuladas e analisadas à luz de suas regras e formas de

69 Cabe ressaltar que a finalização do recorte em maio de 2015 se deu, em decorrência do levantamento dos editais ter ocorrido até julho de 2015 e o mês de maio ter sido a data de publicação do último edital localizado.

organização, verificando as condições de acesso e a existência (ou inexistência) de critérios de prioridade dos sujeitos surdos.

Assim, no que tange ao corpus70 de editais de processos seletivos para ingresso em

cursos de graduação para formação de professores de Libras, com base no levantamento e seleção das Ifes que ofertam tais cursos, realizamos a busca online por editais, a partir do acesso às páginas institucionais das Ifes investigadas e também por intermédio do motor de busca virtual do Google71.

A seleção online considerou o ano de início de cada um dos cursos autorizados pelo MEC, conforme informações extraídas na base de dados do e-MEC. O resultado consistiu na localização do montante de 80 editais de processos seletivos (vestibulares), referentes aos cursos de 25 Ifes. Cabe salientar que a localização da maioria dos editais ocorreu pela consulta ao Google e pela visita ao sítio eletrônico das Ifes, com exceção de oito editais do Ines, referentes aos processos seletivos de 2006 a 2012, que foram localizados apenas no Diário Oficial da União (DOU).

Durante a busca pelos editais complementamos nossa primeira planilha, desenvolvida durante o levantamento das IES, unificando informações extraídas do e-MEC e dos sítios eletrônicos das Ifes com as seguintes informações: 1) Nome do curso/código e-MEC; 2) Nome da universidade/Código e-MEC; 3) Município(s) autorizado(s); 4) Estado da IES cadastrada no e-MEC; 5) Instituição Pública ou Privada; 6) Modalidade Presencial / EaD; 7) Link de acesso ao e-MEC direto ao curso autorizado; 8) Data de início de funcionamento do curso; 9) Ofertado no(s) ano(s); 10) Quantidade de vagas autorizadas pelo MEC; 11) Quantidade de ofertas vinculadas (especialmente em casos de cursos a distância); 12) Carga horária do curso; 13) Periodicidade/Integralização; 14) Ano do edital impresso localizado; 15) Ano do edital em Libras localizado; 16) Nome do coordenador do curso72; e 17) Observações.

Apesar de nosso foco inicial residir na busca pelos editais, conforme acessávamos as páginas dos processos seletivos das Ifes, deparamo-nos com outros documentos vinculados aos editais e, ainda sem termos noção de sua utilidade, optamos por agregá-los ao nosso corpus, pois em concordância com Bauer (2002) as pesquisas não precisam ser sistemas fechados, logo,

70 De acordo com Bardin (1977), após a escolha do gênero de documentos analisados, frequentemente, a etapa seguinte consiste na constituição de um corpus. Para a autora, “o corpus é o conjunto dos documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos analíticos. A sua constituição implica, muitas vezes, escolhas, seleções e regras.” (BARDIN, 1977, p. 96, grifo nosso).

71 O levantamento foi realizado durante o período de 25 de junho de 2015 a 13 de julho de 2015.

72 Registrávamos o nome e o endereço eletrônico de contato dos coordenadores dos cursos, pois acreditamos que, a princípio, se necessitássemos de informações complementares, poderíamos escrever para estes. Contudo, com exceção do Ines, durante nossa pesquisa, quando buscamos esse recurso enfrentamos muita dificuldade de obter retorno desses profissionais.

novos textos sempre podem ser adicionados. Assim, concebendo a variedade de tipos de documentos desvelados na esteira da pesquisa documental (LÜDKE; ANDRÉ, 1986; SEVERINO, 2007; SÁ-SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009), é oportuno destacar que além dos 80 editais de vestibulares, foram reunidos outros 217 documentos anexos e complementares relacionados aos 73 processos seletivos73 aqui investigados, dentre eles: vídeos de provas em

Libras; vídeos dos editais em Libras; editais de retificação; provas de português e objetivas; gabaritos das provas; resultado das etapas do processo seletivo; resultado das vagas destinadas aos surdos; manual do candidato; Projeto Político Pedagógico do curso; listas de candidatos por vagas; nota de corte por curso; convocação de candidatos para etapas do processo seletivo; listas de candidatos que solicitaram correção diferenciada; modelos de laudo médico para declarar tanto as condições especiais para a prova como a surdez do candidato para fins de critério de prioridade; modelo de declaração de quilombola; modelo de declaração da Fundação Nacional do Índio (Funai); resultado final separado por candidatos surdos e ouvintes; quadro com a distribuição das vagas; conteúdo programático das provas; resultado da entrega das documentações solicitando recursos especiais (hora adicional, correção diferenciada, intérprete de Libras etc.); resultado da perícia médica; inscrição de surdos homologada; pontuações máxima e mínima de candidatos cotistas separado por grupos; requerimento de atendimento diferenciado; demanda por curso; lista de pessoas com deficiências classificadas; candidatos aptos destinados às vagas para surdos; critérios para corrigir a redação; resultado da prova de redação após o recurso; resultado do teste de habilidades específicas; lista de candidatos ausentes; lista de candidatos eliminados; lista de alunos classificados remanejados; resoluções internas; nota técnica; folder; isenção da taxa; segunda chamada; convocações e reclassificações.

73 O número de processos seletivos é inferior ao número de editais, pois em cinco situações houve mais de um edital para o mesmo processo seletivo: 1) Em 2013 a UFRJ liberou três editais, sendo um geral, no qual se exigia a nota do Exame nacional do ensino médio (Enem) para a seleção dos candidatos, o segundo para a chamada do teste de habilidades específicas exigido para ingresso no curso de Letras Libras, e um terceiro para preenchimento de 36 vagas remanescentes; 2) Em 2013, a UFJF dividiu seu processo seletivo em dois, sendo o primeiro para 30% das vagas e um edital complementar; 3) Em 2013, a UFU lançou um edital de abertura informando a complementação do mesmo a partir de diferentes grupos de seleção, sendo um para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), outro para o Programa de Ação Afirmativa de Ingresso no Ensino Superior (Paaes) e um último para cursos que exigiam certificação de habilidades específicas. Considerando que o curso de Letras Libras não se encaixava neste último, foram analisados os editais de abertura, o do Sisu e o do Paaes; 4) Em 2012-2, a Ufsc dividiu o processo seletivo em dois editais, sendo um para a concorrência geral e outro para atender as políticas de ações afirmativas, ambos foram analisados nesta pesquisa; 5) Em 2015, a Ufam dividiu o seu edital em dois, sendo um direcionado para o Sisu e outro para o processo seletivo contínuo. O processo seletivo contínuo trata-se de um processo seriado promovido pela Ufam no qual avalia os alunos do 1º ao 3º ano do Ensino Médio, a soma dos resultados ao longo dos anos decide a aprovação do candidato.

Os editais permaneceram sendo nosso principal instrumento de consulta e análise, porém, na medida em que analisávamos os dados, vários questionamentos foram deflagrados e a observância dos documentos complementares se revelaram de grande valia para obtermos uma visão mais apurada do contexto investigado.

Sendo aclarados os procedimentos de nossa geração dos dados, na próxima seção elucidamos sobre nossas escolhas envolvendo a análise dos dados, pela qual nos alinhamos, sobretudo, aos pressupostos teóricos da análise de conteúdo (BARDIN, 1977; BAUER, 2002).