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3. GERAÇÃO DE VALOR

3.2. Como criar valor

A importância de criar valor, como foi vista é de fundamental importância para a continuidade de um negócio ou mesmo para a sobrevivência de uma família, visto que a geração de valor é o trabalho excedente acumulado (lucro) e uma família não pode sobreviver por meios próprios caso não produza o excedente, ou seja, o lucro. Contudo, como se dá o processo de criação de valor? O que define se algum procedimento criou valor econômico?

Segundo Beinhocker (2007), o processo de geração de valor econômico dar-se-á por três características:

• Irreversibilidade: As transformações e transações econômicas são termodinamicamente irreversíveis;

• Entropia: todas as transformações e transações econômicas tem por característica a diminuição da entropia local (sistema econômico) e aumento da entropia – desordem – global;

• Encaixe: transformações e transações econômicas produzem objetos e/ou ações que são adequadas para os propósitos humanos;

Portanto, resumindo esse processo em uma frase: “Valor é criado por um processo irreversível o qual dá ordem ao recurso utilizado e utilidade para outros seres”5

(JORGENSON, 2015, tradução nossa).

Beinhocker (2007) continua seu argumento ao afirmar que na Física, a ordem (entropia) é igual a informação, logo é possível pensar em riqueza como uma informação adequada aos seres humanos. Portanto, se a riqueza é criada a partir da informação, pode-se dizer que a riqueza é o próprio conhecimento e, assim, a origem da riqueza é o conhecimento. Esse argumento pode ser reforçado a partir de um gráfico histórico da riqueza em função do tempo. Percebe-se, atualmente, que o conhecimento e o acesso às informações crescem exponencialmente e a quantidade de informações que uma pessoa pode receber e armazenar hoje é bem maior a de um ser humano de séculos passados. Com o advento da internet, redes sociais e meios de comunicação, em pouco tempo um ser humano pode receber uma quantidade de informações que o homem da Idade Antiga jamais receberia em uma vida toda. Dito isso, e a partir dos argumentos a respeito da criação de valor e conhecimento, torna-se

5 “Value is created through an irreversible process which gives a resource’s ‘order’ greater usefulness to other

coerente o fato de que a riqueza (o valor) no mundo aumentou exponencialmente ao longo da história da humanidade, como pode ser evidenciado no gráfico abaixo.

Figura 9 - Riqueza x tempo

Fonte: Beinhocker (2007)

De fato, o conhecimento é a condição sine qua non o valor é criado, ainda que tal conhecimento não venha diretamente daquele que gerou valor, ou seja, criou a riqueza. Por exemplo, em uma empresa onde a divisão de trabalho é bastante rigorosa e, portanto, seus funcionários não têm o conhecimento global do produto, o inventor desse produto gerou conhecimento para que se tornasse possível a sua produção, para, desse modo, gerar valor para a empresa e consequentemente para as suas partes interessadas (stakeholders).

Outras correntes de viés mais prático, sobretudo da área de finanças e contabilidade, acreditam que a criação de valor se dá pela geração de caixa, como fim último a distribuição do mesmo para seus proprietários (shareholders). Por outro lado, há diversas maneiras de criar caixa, seja em uma companhia, ou, no caso de profissionais, para si próprio. Basta apenas que o serviço ou produto que se venda seja do interesse de alguém, para que haja uma relação de mutualismo entre o fornecedor do produto ou serviço, que recebe o dinheiro, e o recebedor do produto ou serviço, que o recebe. Portanto, ao ser comercializado o produto/serviço, o shareholder cria valor, pois recebeu dinheiro por isso, ao mesmo tempo que o cliente também gerou valor para si, pois supriu sua necessidade pelo preço em que estava disposto a pagar.

É válido ressaltar também que o processo de criação de valor se modifica através do tempo e o que antigamente gerava valor pode atualmente destruí-lo. Entende-se hoje que a criatividade é um fator fundamental para o processo de criação de riqueza e não apenas a produtividade, como se imaginava, por exemplo, ao longo do século XX. Diferentemente da criação de valor por meio da produtividade, ou seja, com a diluição dos custos fixos em devido a maior quantidade produzida, por exemplo, a criatividade permite a criação de valor com o aumento de vendas que não existia antes, ocorrendo não porque o produto o preço ficou menor, mas porque o produto é melhor. O conceito de startups modificou o processo de criação de valor, modelos de negócios não estabelecidos no mercado ou empresas não lucrativas, muitas vezes são vistas como geradoras de valor e avaliadas levando em consideração critérios que antes não eram tão importantes. Dois casos mais recentes foram o da compra do aplicativo Whatsapp pela empresa Facebook em 2014, quando o aplicativo não era lucrativo, nem dispunha de um modelo de negócios estabelecido e, além disso, na cláusula de aquisição havia estabelecido alguns impedimentos para a geração de lucro, como o comprometimento da empresa adquirente em não tornar pago o aplicativo. Ainda sim, o aplicativo foi vendido pelo valor de U$ 22,0 bilhões. Outro exemplo mais recente ainda foi o do aplicativo de música Spotify, que foi avaliado em U$26 bilhões no dia do seu IPO6,

embora nunca havia sido lucrativa até então, desde sua criação.

Tais exemplos, portanto, servem de embasamento para a crença de que a nova tendência de processo de criação de valor seja focalizada em economias de criatividade, como é o caso das startups – empresas inovadoras, com ideias criativas e escaláveis – e que a parcela de importância de tal característica no processo de avaliação seja tão importante ou até mais importante do que a parcela quantitativa (parâmetros quantitativos da análise fundamentalista), como a produtividade.

Todavia, faz-se necessário reforçar que o mercado não é unânime quanto a esse tipo de compra, ou mesmo com esse tipo de avaliação de uma empresa. Há sempre um objeto de discussão, sobretudo no mercado internacional, sobre a avaliação de uma empresa: se deve ser levado em consideração apenas o já realizado dessa empresa ou se o previsto também deve entrar na conta e, se sim, em que ponderação. Por exemplo, posteriormente, será descrito um método de avaliação de empresas chamado Fluxo de Caixa Descontado, onde leva-se em consideração, baseado em algumas premissas que se possa fazer, o crescimento da empresa

6 IPO – Initial Public Offering é a oferta inicial de ações do primeiro dia de uma empresa que abre o capital na bolsa de valores

em função da fase de maturação em que ela se encontra no atual momento. Por outro lado, existem casos em que, para o comprador, pouco importa o que está previsto em crescimento para uma empresa oferecida. Isso ocorre geralmente quando o comprador pretende avaliar a compra da empresa sem levar em consideração o risco de um previsto crescimento não ser tão efetivo quanto esperado.

Um exemplo disso é o caso da companhia Berkshire Hathaway, uma holding presidida pelo bilionário Warren Buffett, que em 2017 foi tida como uma das maiores empresas com capital aberto, segundo a revista Forbes, à frente de marcas como Apple. Neste mesmo ano, no relatório anual da empresa, seu presidente descreve os principais critérios para a aquisição de uma empresa. Dentre eles, Buffett defende apenas aquisições de companhias que apresentem um “poder de ganho consistente e comprovado (projeções futuras não são do interesse nosso, bem como situações de ‘dar a volta por cima’)” (BUFFETT, 2017, p. 23 tradução nossa7).

Outras maneiras de criar valor econômico, notadamente em uma empresa, são por meio de fatores não operacionais - ou seja, que não seja diretamente a geração de caixa -, que nem sempre são evidentes e, apesar da sua importância. Um trabalho extremamente importante para um avaliador é saber mensurar o valor intrínseco levando em consideração todos os parâmetros qualitativos. O valor intrínseco, segundo Damodaran (2006), é o valor que pode ser anexado a um ativo por um analista que dispõe de todas as informações disponíveis até o momento da análise, as conhece e as utiliza em um modelo perfeito de avaliação.

Dentre os “fatores não operacionais”, ou parâmetros qualitativos, alguns dos mais difíceis e importantes de se mensurar o valor são: valor dos intangíveis (ativos intangíveis); valor do controle do negócio; valor da liquidez do negócio; valor da sinergia; valor da transparência e por fim o custo de dificuldades financeiras. Dentre esses fatores, muitos deles são atrelados à governança corporativa, como transparência e controle, por exemplo. Desse modo, já se faz pertinente a hipótese de que a governança corporativa é um parâmetro importantíssimo para a criação de valor em uma empresa.

Visto que as definições de valor, sob diferentes óticas, foram bem definidas e discutidas, bem como a geração de valor, permanece um questionamento: Como mensurar

7Demonstrated consistent earning power (future projections are of no interest to us, nor are “turnaround” situations)

isso? Ou seja, como saber se uma empresa está, de fato, criando valor ou destruindo-o? Devido à subjetividade já mencionada do conceito de valor, o mundo das finanças corporativas criou alguns parâmetros e alguns métodos quantitativos - sem desprezar a análise qualitativa daquele que aplica tais métodos – para direcionar o processo de avaliação de uma empresa.

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