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2. A INFLUÊNCIA DA GESTÃO ESCOLAR SOBRE A QUALIDADE

2.5 Análise da Escola selecionada na perspectiva das dimensões da gestão

2.5.8 Gestão administrativa

A dimensão da gestão administrativa é concebida como a base sobre a qual todas as outras dimensões se apoiam (LÜCK, 2009). A autora recomenda que a gestão administrativa não deva se fechar em si mesma, mas, ao contrário, deve possibilitar a integração entre todas as dimensões da gestão.

A partir da redemocratização, novas leis diretrizes foram surgindo de maneira a descentralizar o gerenciamento administrativo e financeiro das escolas. As escolas, então, passaram a gozar de mais autonomia em relação à possibilidade de gerir seus gastos de acordo com suas necessidades de custeio, além do desenvolvimento de projetos, aquisição de equipamentos e reformas em geral.

A administração dos recursos e a aquisição da materialidade requerida, de acordo com os princípios da administração racional, segundo Lück (2009, p. 114) representam o suporte à “promoção de ensino de qualidade facilitador e estimulador da aprendizagem”.

Para os professores, de acordo o registro da frequência de suas respostas contidas no quadro 9, a gestão administrativa da escola é adequada, uma vez que os mesmos percebem uma correta aplicação dos recursos físicos, materiais e financeiros para efetivação dos processos educacionais. Na percepção dos professores, também é verificada que a gestão da escola apura, quando necessário, possíveis irregularidades em relação às boas práticas profissionais que contrariem os objetivos educacionais.

Quadro 9 – Avaliação da diretora quanto à gestão administrativa

Frequência de respostas dos professores relativa à avaliação da Diretora quanto à Gestão administrativa

Concordância → 0 1 2 3 4 5 Respondentes 15 - Gerencia a correta e plena aplicação de recursos físicos, materiais e

financeiros da escola para melhor efetivação dos processos educacionais e realização dos seus objetivos.

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16 - Promove a formulação de diretrizes e normas de funcionamento da escola e a sua aplicação, tomando as providências necessárias para coibir atos que contrariem os objetivos educacionais, assim como apurando qualificadamente as irregularidades que venham a ocorrer em relação às boas práticas profissionais.

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Cabe ressaltar que nem sempre os professores se envolvem diretamente sob os aspectos da gestão financeira da escola. De fato, toda a responsabilização sobre as finanças da escola cabe ao diretor escolar que é reconhecido como presidente da Caixa Escolar. Assim, é importante considerar que a concepção dos professores se limita à observação dos efeitos da execução financeira da escola, ou seja, da aquisição de todo rol de suportes materiais e de serviços angariados pela gestão.

Percebe-se que, normalmente, o gestor escolar possui formação apenas pedagógica (em cursos de Licenciatura ou Pedagogia), atuando como professor antes de exercer o cargo de diretor, como verificado na RME-BH.

Quando a diretora da EM Carlos Góis diz “Eu achava que ia cuidar só do pedagógico”, há indício de que as pessoas em geral – que se encontram distantes do que constitui os aspectos administrativos da gestão escolar – não têm a concepção das diversas demandas, rotinas burocráticas e dos processos de execução das despesas escolares.

Em um momento da entrevista a Diretora da EM Carlos Góis chega a lamentar:

Aí vem aquela parte chata: aí vem aquele tanto de fornecedores, orçamento agora para tudo, compra isso, compra aquilo. Às vezes, eu passo e acho que esse povo pensa que eu sou dinheiro, todo mundo só fala do dinheiro comigo, ah não, não quero isso daí não. Essa é a parte que eu não gosto. Mas, tem que fazer (diretora da escola, em entrevista).

De fato, os sistemas de ensino têm disponibilizados cada vez mais recursos financeiros para as escolas, passando o diretor a acumular também as funções de ordenador das despesas escolares. Para isso, cabe aos diretores escolares exercer a administração financeira de modo eficiente, dentro dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiência. Para isso, são requeridos dos diretores os conhecimentos necessários para a gestão dos recursos dentro das diretrizes e orientações estabelecidas pela legislação a que pertençam.

E quando perguntada sobre a gestão dos recursos financeiros a diretora diz:

Olha, não é por nada não, mas nisso daí sou muito organizada. Aliás, acho que não precisava de tanto. Teve um dia que eu comentei isso com a (Secretária de Educação) Macaé e ela disse: “Psiu! Não fala isso não, precisa sim”. Eu disse: “Precisa não”. A escola tem dinheiro demais (diretora da escola, em entrevista).

De certa forma, pelo menos no universo das escolas municipais de Belo Horizonte, muitas tarefas e projetos são desenvolvidos e executados por meio de uma intensa movimentação financeira da Caixa Escolar para suprir os gastos da escola33.

Por isso a diretora argumenta da necessidade de um diretor administrativo específico para gerir as rotinas burocráticas dos aspectos relacionados à dimensão da gestão administrativa e financeira. Desse modo, o diretor da escola poderia priorizar o que é essencial: o pedagógico. Ela esclarece, ainda:

E o diretor tem que ter o olhar pedagógico. Agora você ficar preso, vai no sacolão, faz orçamento, vai no outro faz orçamento. Você tem outras pessoas que podem fazer essa gestão financeira. Preocupa se tem dinheiro na conta corrente para pagar aquele cheque. Preocupa se o dinheiro tá aplicado, se rendeu aplicação, a data do extrato, se já passou o saldo bancário para Caixa Escolar. Ao todo temos dez contas. Cada uma com suas especificidades. São oito prestações de contas. Dez contas correntes. Então, eu não acho que eu devo preocupar com isso. Eu acho que eu tenho que me preocupar se, por exemplo, o professor está precisando de material para um projeto, se o projeto é viável. Isso é legal. Eu tenho que saber os recursos que tem na escola e se tem condições de executar etc. e tal. Mas, daí eu ter que ir lá e colocar “a mão na massa” é a mesma coisa de eu ter que ir lá e fazer a merenda. Lógico que eu já

33 Reformas; gasto com o pessoal contratado pela “Caixa Escolar” (depósitos de vencimentos dos porteiros, vigias, artífice, faxineiro, cantineiros, monitores de apoio à inclusão, recarga de vale transporte e vale refeição, pagamento de encargos trabalhistas); manutenção de equipamentos; instalação de sistemas (de segurança, ponto eletrônico dos empregados da “Caixa Escolar”, informática); contratação de prestadores de serviços diversos; complementação de merenda; compra de itens de higiene e limpeza; pagamento de por serviços de advogados que representam as “Caixas Escolares” da rede municipal, da empresa que controla o sistema de vigilância; fretamento de ônibus para excursões; contratação de apresentações teatrais e afins para escola; aquisição de uniformes, tanto para alunos quanto para os funcionários contratados; aquisição de todo tipo de material para suporte pedagógico para os professores; aquisição de os mais diversificados materiais de expediente, suprimentos de informática e escritório; manutenção e compras de diversificados itens elétricos e hidráulicos; pagamentos de oficineiros dos programas “Férias na Escola” (julho e janeiro) e “Escola Aberta” (sábados e domingos) bem como dos materiais necessário ao desenvolvimento dessas oficinas; pagamento de transporte para levar todos os alunos ao posto de saúde no Programa Saúde na Escola PSE e gastos decorrentes desse (kit de primeiros socorros, estadiômetro, balança, entre outros instrumentos tais como termômetros, lentes especiais para detecção da síndrome de Irlen, etc); compra de merenda especial para alunos que necessitam de dietas específicas; contratação de palestrantes para formação de professores; contratos de aluguéis de espaços para desenvolvimento de algumas oficinas do Projeto da Escola Integrada e compra de todo tipo de material para o desenvolvimento deste projeto; entre outros pormenores recorrentes. Cabe dizer que para o desenvolvimento de diversos projetos é necessário autorização especial de uma ou mais gerências regional e/ou da Secretaria Municipal de Educação. Além disso, para as “Caixas Escolares” da Rede Municipal de Belo Horizonte, nas compras e serviços acima de R$120,00 são necessários três orçamentos, além de outros ritos burocráticos que não se cabe detalhá-los aqui. Fonte de informações do pesquisador que atuou na direção da EM Pérsio Pereira Pinto da RME-BH no período de 2009 a 2011, quando acumulava também a função de Tesoureiro da Caixa Escolar.

tive vezes de ter que ir lá e fazer a merenda também. De servir merenda. Todas as coisas que tem na escola eu já fiz. Eu tenho que saber como é que faz, mas, não tem necessidade de eu fazer isso não. Eu acho que você pode pagar menos, falando em termos bem administrativos mesmo, para alguém fazer isso. Penso por esse lado. Não que não seja importante, é fundamental. Por exemplo, (as rotinas do) o ponto dos funcionários (contratados pela Caixa Escolar). Eu tenho que saber porque ele faltou. Se é alguma situação que vai ter algum tipo de abono ou não. Que na maioria das vezes não tem. Eu tenho que ter ciência disto. Daí eu ter que ir lá e escrever o resumo do ponto, ir lá e entrar no (sistema) ArteRH não dá. (...) Olha, eu passei sessenta dias com meu auxiliar de Caixa Escolar que estava de licença. O problema que atrasou vale- transporte, vale-refeição. O que não pode é atrasar o salário. Mas, para eu fazer isso, eu disse: “gente! Que falta ele faz!” Como pode ter diretor que não tem essa pessoa? (diretora da escola, em entrevista).

Esse depoimento confirma a necessidade de desonerar o diretor escolar das burocracias administrativas de modo que o mesmo priorize a dimensão principal da gestão da escola, a dimensão pedagógica.