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Gestão da aula 83

No documento Relatório de  Estágio Profissional (páginas 109-113)

4.1 Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem 52

4.1.3 Realização do processo de ensino-aprendizagem 83

4.1.3.1 Gestão da aula 83

Uma gestão eficaz de uma aula consiste em comportamentos do professor que produzem níveis elevados de envolvimento dos alunos nas actividades da aula, quantidades mínimas de comportamentos dos alunos que interfiram com o trabalho do professor ou de outros alunos, e uso eficiente do tempo de instrução (Rink, 1996).

Uma gestão eficaz na EF, não acontece simplesmente. Para obter aulas que se desenvolvem com suavidade, livres de comportamentos disruptivos, e optimizem a quantidade de tempo dedicado à instrução e prática, são necessários uma série de esforços. Mais uma vez reforço a necessidade da existência de uma gestão preventiva, referida no ponto “Planeamento” deste relatório, de modo a desenvolver e manter um clima de tarefas positivo, no qual um tempo mínimo é dedicado a temas de gestão.

Um sistema de tarefas de gestão eficaz é de extrema importância porque poupa tempo. Visto o tempo ser um dos pontos preciosos que os professores possuem, devido à sua importância na aprendizagem, então rentabilizar o

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reduzido tempo útil da aula, tornou-se num dos meus primeiros objectivos no EP.

Para um sistema de tarefas de gestão eficaz comecei com o estabelecimento de regras e rotinas claras, logo na aula de apresentação. Estas foram apresentadas de forma oral e escrita.

É uma necessidade urgente e que ocorre logo no início do ano lectivo, a criação de um conjunto de regras e rotinas que possibilitem uma boa organização, gestão e disciplina nas aulas de Educação Física. Trata-se de um procedimento que visa, em parte, induzir nos alunos comportamentos de responsabilização mia nas suas acções e atitudes, bem como, tentar que não seja necessário que o professor repita os mesmos processos de forma consecutiva, permitindo que os alunos interiorizem estas mesmas condutas e as tornem suas.

Não basta, por isso, que as regras e rotinas sejam enunciadas, estas têm de ser reforçadas e exercitadas no momento da prática para que sejam apropriadas por parte dos alunos (Siedentop &Tannehill, 2000)

Quanto às regras e rotinas da aula que se relacionam com a harmonia e o ritmo da aula, como por exemplo, a hora de inicio da aula e as saídas da aula para beber água, tive de possuir uma postura inflexível. Para não ser através de decisões minhas que a cadencia fosse quebrada.

A seguir à aula de apresentação, na primeira aula propriamente dita, os alunos chegaram dez minutos após o toque de entrada, quando a tolerância estipulada era de cinco minutos. Aproveitei este momento para reforçar a pontualidade do início da aula, e as suas implicações.

Após este reforço, na segunda e terceira aula, fiz questão de, rigorosamente à hora estipulada, iniciar a aula com os alunos presentes, mesmo sendo só metade da turma. À medida que os restantes foram chegando, além da falta de atraso, não realizaram a parte inicial da aula. Na segunda semana de aulas, os alunos já tinham consciencializado a importância da pontualidade, havendo mesmo alunos que vinham a correr desde o balneário, enquanto os colegas que já se encontravam no espaço da aula, começaram a realizar uma contagem decrescente, de forma espontânea,

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passando deste modo e a seu jeito, a serem eles próprios a exigir que a aula começa-se pontualmente.

Foi gerado um ambiente competitivo entre eles, nunca tendo chegado a perceber realmente o que o despontou e o seu verdadeiro significado. Foi uma reacção que tão depressa e inesperadamente surgiu, como depressa e inesperadamente desapareceu. O que é facto é que ainda antes do término do 1º mês de aula já não havia alunos a chegarem atrasados, nem a necessitarem de correr para serem pontuais. O modo de inicio de aula, a meu ver, estabelece o ritmo e reforça a importância do que se faz nas aulas de EF.

Tenho consciência que fui intransigente no cumprimento de regras e rotinas, e, talvez por isso, obtive muito precocemente um bom ritmo de aula, fluído, com tempos de transição reduzidos, e, portanto, uma rentabilização do tempo de aula.

Os alunos sabiam claramente o que fazer, como fazê-lo e quando, caso se trata-se de um momento para reunir ou dispersar, ou para arrumar material, formar grupos, etc.

Nem todas as situações são apreendidas da forma como foi a pontualidade. Muitos dos comportamentos relacionados com a gestão, o clima da aula e a disciplina, obrigaram a situações diferentes: o último o aluno/equipa a juntarem-se ao grupo, arruma o material; o tempo dispendido em conversas paralelas, que interrompam a instrução do professor, é contabilizado num cronómetro e acrescentado à hora de saída.

Esta última estratégia foi a mais radical que usei ao longo de todo o EP. O desporto é uma actividade que deixa os alunos entusiasmados, e fazê-los retomar à calma para momentos de instrução, nem sempre é tarefa fácil, perdendo tempo crucial a pedir que os alunos estejam em silêncio. Desde pedir silencio, a diminuir o meu volume de voz, passando pelo absoluto silencia da minha parte, a verdade é que o tempo que os alunos demoravam, a pós estarem reunidos para instrução, para criarem silêncio era o único elemento que perturbava a harmonia e o ritmo da aula.

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À semelhança do que acontece do mundo desportivo, com os “descontos de tempo”, era contabilizado o tempo que interrompia a instrução da professora, sendo este acrescentado ao intervalo.

Apenas a tive de utilizar este método duas vezes no 1º período, a partir daí eram os próprios alunos, mais uma vez, a impor aos seus colegas que fizessem silêncio. Mesmo assim, quando o murmúrio se fazia sentir, contava até 5, enquanto mostrava o cronómetro, e o silêncio surgia.

Se por um lado, sempre exigi e impus o cumprimento das regras e rotinas, quando estas eram consolidadas pela turma, realizava elogios positivos, mostrando o meu agrado perante o progresso da turma.

Apesar desta aparente severidade, nesta fase inicial, esta foi sendo amenizada com o próprio fluir do tempo. E, naturalmente isto foi parte de um processo de construção de uma relação com os alunos, com o objectivo de construir um clima harmonioso.

Próximo do final do 1º período, no momento de realização do Projecto de Formação Individual, fui aconselhada pelo professor cooperante a melhorar a minha relação humana com os alunos, passando de uma relação de empatia para uma relação de cumplicidade entre os diversos agentes de ensino (professor-aluno).

Deste modo, foi meu objectivo passar ao nível seguinte: criar um clima extremamente harmonioso na sala de aula, onde não existe um professor que dita as regras (estas já estavam incutidas e automatizadas), havendo sim um elemento encarado pelos alunos como alguém que os ajudará a serem continuamente melhores. Para tal delineei três estratégias de acção, que passo a enumerar:

1. Manifestei ainda mais entusiasmo e elogiei cada vez mais os alunos, pelos pequenos feitos alcançados;

2. Estabeleci no último dia de aulas do 1º período um protocolo de funcionamento e confiança, onde eu referi 3 regras fundamentais (aquelas que ainda não estavam totalmente enraizadas), e os alunos sugeriram algumas mudanças no funcionamento da aula/actuação da professora. Após professor e alunos chegarem a um acordo, o protocolo foi assinado por todos. Esta

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estratégia deu ao aluno um maior sentido de pertença e incutiu-lhe maior responsabilidade no ambiente da aula, em pontos que por vezes ainda falhavam, pois passou a haver um acto simbólico de ambas as partes, professor e aluno, em cooperarem para um mesmo fim.

3. Apliquei, esporadicamente, inquéritos aos alunos sobre o nível de satisfação e conhecimento que adquiriram na aula. Inquérito esse de resposta rápida, onde o aluno se deparava com 3 caras, um sorrindo, um indiferente, e um triste, que corresponderiam ao estádio que eles tinham vivenciado nessa aula, quer ao nível de conhecimentos, quer ao nível da satisfação.

Os inquéritos (anexo 1) contemplavam a satisfação sentida pelo aluno na aula, e o conhecimento que este tinha adquirido, pois não é um bom ensino só o facto de os alunos se comportarem bem e gostarem da aula, pois “Happy, busy & good” não é o mesmo que serem cultos, competentes e entusiastas (Placek, 1983).

Os resultados da primeira aplicação foram: 20 alunos admitiram terem adquirido conhecimento na aula, no entanto, relativamente à satisfação vivenciada na aula, apenas 12 alunos mantiveram a cara sorridente como resposta, sendo que 9 alunos assinalaram a cara indiferente e 1 aluno a cara triste.

Analisados estes resultados, passei a ter uma actuação atenta ao clima da aula, principalmente na estruturação da relação com os alunos. Para o que foi extremamente importante os conselhos do professor cooperante.

Deste modo, aliei as dimensões de gestão e clima da aula, gerando assim uma prática com ritmo e harmoniosa, criando um pano de fundo para um ensino eficaz.

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