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O conhecimento da turma através da ficha socioeconómica e

No documento Relatório de  Estágio Profissional (páginas 87-90)

4.1 Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem 52

4.1.1 A Avaliação Prognóstica 52

4.1.1.3 O conhecimento da turma através da ficha socioeconómica e

Uma das rotinas de início de ano lectivo comum a todas as turmas e todas as escolas, passa pelos alunos preencherem fichas socioeconómicas, constatando apenas a realidade da turma, podendo sobressair algum caso particular. A realidade é essa, os professores realizam o levantamento estatístico para constatar, raramente agem segundo os dados que recolhidos.

De facto, quando na primeira aula entreguei aos meus alunos uma ficha desportiva para eles preencherem, foi com o principal intuito de conhecer o seu passado desportivo e a sua relação com a disciplina de EF, jamais pensei que este seria um instrumento catalisador da minha acção na turma.

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naattaaççããoo..

No momento de tratamento dos dados da ficha desportivo-motora, verifiquei que 15 alunos (72% da turma) registaram que a modalidade de que menos gostavam era Natação. Perante esta constatação não poderia ficar indiferente. Quando questionados, sobre tal facto, a maioria dos alunos chegou a ser provocadora, afirmando que “nunca tinham feito natação em anos anteriores, e como tal este ano não iriam, igualmente, fazer”. Algo que me deixou incrédula, pois numa escola onde existe uma piscina a funcionar todos os dias, era pressuposto esta cultura estar enraizada.

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Edduuccaaççããoo. .

Numa primeira fase, pedi que cada aluno me escrevesse uma carta com os motivos de possuir esta relação com as aulas de natação, incentivando a serem o mais honestos possível, para que eu, deste modo, os pudesse compreender.

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Assim, tentei estabelecer uma ligação de confiança entre os alunos desde o primeiro dia, que mais se justifica na modalidade de natação. Perante um problema que poderia envolver “complexos corporais” seria determinante que o aluno confiasse, plenamente, no professor.

Obtive respostas como: “se fizer aula depois constipo; sou alérgico ao cloro; não gosto de natação; o meu amigo não faz, logo eu também não faço; não gosto de usar fato de banho/tanga”. Interpretei estas respostas como descabidas e imaturas, algo próprio da fase da adolescência, em que é difícil expor os seus medos e anseios, ainda que fiquem na intimidade do professor.

Quando confrontados com as respostas, os alunos não mostraram argumentos, no entanto continuavam irredutíveis. Comecei a ter noção que toda a Unidade Temática (UT), que apenas iria decorrer no 1º período, ia ser um desafio, porque eventualmente estaria em causa não ter alunos a realizarem a aula.

O passo seguinte foi confrontar os Encarregados de Educação com o problema. Assim, tentava alargar o espaço de compreensão do problema, procurando ajuda externa.

Na reunião de apresentação de inicio do ano lectivo, após a apresentação do problema, abordei-o do ponto de vista do Encarregado de Educação: tentei realçar as repercussões da atitude dos alunos na avaliação final, mas, acima de tudo, tentei sensibilizar os pais para a importância da prática de natação, como meio de precaver futuros perigos no mar. Nesta acção, mostrei aos pais os números avassaladores de morte por afogamento no mar, questionando-os se os seus filhos sabiam nadar (dado que já possuía comigo), e se era hábito irem para a praia sozinhos com os amigos nas férias.

Ao utilizar o verbo “tentar” não foi por mero acaso, foi mesmo porque esta acção foi uma tentativa inútil de sensibilização. Os Encarregados de Educação, apesar de inicialmente abalados com as informações, de imediato tomaram partidos dos seus filhos e educandos, pois “se o meu filho não quer, não o vou obrigar”.

Com esta atitude, os Encarregados de Educação colocaram-se contra as necessidades do aluno. Esta contradição ilustra bem as dificuldades da relação

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(1) Salvaguardando-me futuramente de quaisquer questionamentos acerca da atribuição da nota final.

entre a escola e a família, e, os papeis complementares que as duas instituições têm de desempenhar.

Perante este facto, questionei-me de qual seria o papel da escola, quando os pais abrem mão de algo tão elementar como educar. Questionei-me, se o aluno se recusa-se a estudar/participar numa unidade de matemática, porque não gosta, se os pais iriam ter a mesma reacção. Questionei-me se ainda estaria distante o dia em que a disciplina de EF será respeitada e encarada como igual perante a comunidade escolar.

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Perante a irredutibilidade dos alunos, e com os pais a compactuarem com a posição dos alunos, tive de tomar medidas rigorosas: a não realização de toda a UT de natação iria trazer consequências na nota de EF, na componente física (15%), no empenhamento (5%) e na participação (5%). Envolvendo a Directora de Turma (DT), foi enviada uma carta aos Encarregados de Educação onde foi explicado pormenorizadamente tal facto (1).

No entanto, apesar do consentimento dos pais, o meu problema mantinha-se, sabia que as aulas de natação iriam ter pouca aderência dos alunos. Já esgotados quase todos os meios para solucionar o problema, enfrentei o problema de frente. Teria de ser eu, através das minhas aulas a cativar os alunos a entrarem na piscina, e o meu primeiro objectivo foi exactamente esse, pois não poderia propor objectivos de aprendizagem, se os alunos não aderissem à prática.

Se na primeira aula apenas participaram 6 alunos, na segunda aula já participaram 13 e na terceira 18. Sinto que alcancei o meu principal objectivo, mas só o alcancei porque detectei com a devida antecedência um problema real, tendo percorrido diversos caminhos até encontrar uma solução ajustada. Caso contrário, teria sido confrontada com a realidade apenas na primeira aula de natação, e provavelmente quando eu encontrasse uma solução ajustada, já a UT estaria no seu término, pois estas são realmente muito curtas.

Com base na minha actual experiência posso afirmar que aliando a uma avaliação diagnóstica correcta, devemos interpretar melhor as entrelinhas dos

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vulgares questionários distribuídos aos alunos. Eles não devem servir para constatar uma realidade e servirem apenas de estatística, eles devem servir para mudarmos a realidade que nos é apresentada.

Se o não tivesse feito, teria leccionado aulas para apenas 6 alunos ao longo de toda a UT, e no próximo ano lectivo o professor de EF iria confrontar- se com o mesmo dilema.

Se os alunos vão continuar a eleger a Natação como a modalidade que menos lhes agrada? Talvez! No entanto, tenho a certeza que não será com tanta intensidade e irreverência como no início deste ano lectivo.

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