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Gestão da produção e variabilidades (mudanças)

6. ANÁLISE DOS ACIDENTES DE TRABALHO

6.2. Acidente com respingo

6.2.5. Gestão da produção e variabilidades (mudanças)

O pessoal de enfermagem nessa UTI é dividido da seguinte forma: uma enfermeira assistencial fica responsável por seis ou sete pacientes e uma equipe de AE/TE composta por três profissionais. Estes por sua vez ficarão responsáveis por dois pacientes cada, para realizar todos os cuidados. Quando a escala estiver apertada, como nos casos de faltas, licenças, férias ou aos finais de semana os AE/TE ficam responsáveis por três pacientes.

Nestes casos o enfermeiro chefe procurará balancear a escala entre os enfermeiros e auxiliares presentes, redistribuindo os pacientes ou solicitando profissional emprestado de outra UTI. A distribuição será feita de acordo com o estado de gravidade do paciente, com a finalidade de evitar que os AE/TE fiquem responsáveis por três pacientes muito graves. Também será considerada a proximidade entre os leitos, dando preferência a leitos que estejam dispostos lado a lado. Os enfermeiros assistenciais ou encarregados são designados a auxiliar na realização dos cuidados sempre que necessário.

Para a distribuição desse balanceamento não há uma norma específica a ser seguida, e consiste em uma tentativa de equilibrar o pessoal presente da melhor forma possível para atender aos pacientes e suprir a falta de profissionais. Essa UTI possui ocupação diária de 100% dos leitos, o que obriga a um ajuste do pessoal presente diariamente para dar conta do atendimento de todos os pacientes, e manter a qualidade do atendimento.

Outra questão relatada pela AE refere-se ao fato de que deveria ser rotineiro reforçar a informação da necessidade do uso dos óculos e máscaras e

os óculos deveriam ficar disponíveis e de fácil acesso em número suficiente para todos os profissionais. Também disse que não procurou óculos nos carrinhos de parada cardiorrespiratória naquele dia e que não os procura habitualmente. Revela que são ruins de usar e que poucos fazem uso dos óculos.

Em entrevista com a chefia foi relatado que a falta de material, de qualquer tipo, não é comum de acontecer, e que os EPI existem, todos ficam disponíveis e de fácil acesso nos balcões/postos de enfermagem, à exceção dos óculos que ficam guardados e, os profissionais que precisarem usar devem pedir.

A forma de gestão da produção revela que as ações referentes à gestão de segurança não associam as atividades desenvolvidas, que possuem grande variabilidade, aos mecanismos de incentivo e aumento da capacidade de reconhecimento dos riscos com a facilitação de acesso as barreiras de prevenção e proteção.

Atuar com equipes de trabalho reduzidas aos finais de semana contribui para o aumento das atividades levando os profissionais a acelerarem seus ritmos de trabalho que, apesar de conseguirem, na maioria das vezes, realizar as atividades com sucesso, graças a seus repertórios de conhecimentos, saberes, habilidades individuais e coletivas ficam em situação de insegurança, de modo que pequenas mudanças podem desencadear acidentes como produto da interação entre diferentes aspectos da situação previamente fragilizada.

A seguir, Quadro 3, Síntese da análise do acidente com respingo. Quadro3. Síntese da análise do acidente com respingo

Componente do MAPA

AE é atingido por respingo de fluidos corporais ao movimentar paciente no leito (posicionar braço)

Descrição do trabalho normal

Tarefa: mudança de decúbito de paciente em UTI para prevenir escaras. Trabalho em dupla contando com colaboração de colega habitual. Estratégia: movimentação manual com ajuda de fralda implicando em aproximação entre corpos do profissional e do paciente.

corpo com risco de atingir e estourar bolhas.

Variabilidades e recuperações habituais

A bolha no braço do paciente rompe. AE sente-se incomodada frente à enfermeira assistencial.

Enfermeira assistencial foi ajudar na tarefa.

AE responsável por três pacientes (um a mais que o habitual). Era final de semana (redução de pessoal) e estava responsável por três pacientes para os cuidados. O paciente envolvido no AT estava em isolamento, o que exigia a paramentação completa.

Final de jornada de trabalho.

Análise de mudanças

A bolha no braço do paciente rompe durante sua movimentação.

AE sente-se incomodada em frente à enfermeira assistencial, para a qual teve de solicitar ajuda na movimentação do paciente.

Sofreu reprimenda pública da enfermeira em passado recente, o que a deixou “chateada e triste”.

Estado de ansiedade e preocupação.

Colega que auxilia habitualmente não estava disponível (ocupada em outra tarefa).

Adesão ao uso de EPI não é estimulada, seu não uso é pratica frequente. Não realização de inspeção prévia em paciente antes de tentar posicionar o braço junto ao corpo.

Análise de barreiras

AE não fez inspeção prévia do paciente procurando identificar bolhas. Proteção EPI: não usava óculos (não distribuídos individualmente) e máscara.

Buscar óculos implica em custo adicional (deslocamento).

Fragilidade da prevenção e sua vulnerabilidade a impactos de pequenas mudanças não avaliados como riscos, falaha na GSST. Indícios de fragilidade técnica e política do serviço.

Gestão de Produção

Revela que as ações referentes à gestão de segurança não associam as atividades desenvolvidas, que possuem grande variabilidade, aos mecanismos de incentivo e aumento da capacidade de reconhecimento dos riscos, com a facilitação de acesso às barreiras de prevenção e proteção.

Equipes de trabalho reduzidas aos finais de semana geram a aceleração dos ritmos de trabalho e de modos operatórios.

Fragilização da segurança.

Gestão de Segurança

Falta e falha nas barreiras, na gestão de EPI, falha em desconsiderar estratégias de adesão de profissionais ao seu uso.

Considerar a construção de uma cultura de segurança com base na dimensão coletiva, para solucionar os problemas e fugir das estratégias que entendem a adesão ao uso de EPI como responsabilidade individual. Necessidade de aperfeiçoar práticas de gestão de segurança.

Ampliação conceitual

As falhas citadas na análise de barreiras, para continuar a explorar possíveis explicações sistêmicas ou psico-organizacinais precisariam de estudo de noções como armadilha cognitiva, compromisso cognitivo, para a compreensão de como comportamentos como os citados são influenciados pela história da constituição do grupo de trabalhadores no sistema.

A interferência do estado emocional podendo afetar a memória e levar ao esquecimento de passos (inspeção de paciente).

Proximidade de final de jornada, em final de semana com aumento da relação paciente-profissional, dia de maior carga de trabalho.

Revelam fragilidade e falhas na GSST, necessidade de explorações adicionais com apoio em conceitos da Ergonomia.

bolha no braço do paciente que era movimentado no leito.

A falta e falha de barreiras estão envolvidas nas origens do acidente, bem como as dificuldades na gestão de segurança de situações com variabilidades típicas do cuidado.

Outros fatores que parecem ter concorrido para o acidente referem-se a pressão de tempo originada pelo aumento da carga de trabalho aos finais de semana e, a situação prévia de repreensão pública ensejando sentimento de estresse, capaz de influenciar o comportamento da AE na situação.