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4. METODOLOGIA

4.2. Questões éticas

O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, sob o parecer nº. 107.535, e ao Comitê de Ética do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP – HCFMUSP, sob o parecer nº. 103.512.

Os cuidados éticos respeitaram a Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde, bem como a garantia de anonimato aos participantes da pesquisa, que, para tanto, utilizou dois instrumentos que visam esclarecer e garantir aos participantes informações sobre a pesquisa.

Para garantir o anonimato dos profissionais que participaram da Análise coletiva do trabalho, utilizou-se como instrumento o Termo de Responsabilidade (anexo I), assinado pelos pesquisadores e entregue a cada indivíduo participante.

Para as entrevistas individuais, foi entregue e assinado em duas vias (uma para o entrevistado e outra para a pesquisadora), o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo II).

5. O TRABALHO DE AUXILIARES E TÉCNICOS DE ENFERMAGEM

Para exercer as atividades nas diferentes clínicas do hospital, há uma complexa rede de profissionais com diferentes níveis de formação: são enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem, médicos internos, residentes e professores, nutricionistas, fisioterapeutas, para citar alguns. As tarefas são diferentes, interconectadas e possuem grande número de descrição de procedimentos.

As noções de tarefa e atividade em ergonomia conduzem a algumas questões: o que é pedido ao indivíduo? O que ele tem que fazer? E o que ele efetivamente faz, e como o faz? A diferença consiste no que é chamado de trabalho prescrito e trabalho real. Em ergonomia, o trabalho prescrito está contido nas atribuições da tarefa que indica “o que deve ser feito”; a prescrição do trabalho está inserida em normas, manuais operacionais ou de procedimentos e contém a ideia de obrigação sobre aquilo que deve ser feito. A atividade, “o que realmente é feito”, remete àquilo que o indivíduo traz de si e coloca de si para fazer o trabalho; já o que lhe foi pedido, é o trabalho prescrito. “A tarefa antecede à atividade e visa orientá-la e determiná-la de uma forma mais ou menos completa (LEPLAT E HOC, 2005, p.200).”

A realização das atividades de cuidados aos pacientes possui um controle, que é feito por escrito em diferentes formulários. Contamos cinco: formulário de evolução médica, de prescrição médica, de evolução ou intervenção de enfermagem, folha pré-operatória e de anotação de enfermagem, este último utilizado por enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem, com a finalidade de anotar todos os cuidados que foram prestados aos pacientes.

No caso dos auxiliares e técnicos de enfermagem, a descrição do trabalho começa na legislação de regulamentação, que define quais as principais tarefas de cada profissional de modo separado; a própria legislação sugere a ideia de uma hierarquia entre os profissionais que, na prática

cotidiana, desempenham as mesmas tarefas e atividades (LEI No 7.498, de 25/6/1986, regulamentada pelo Decreto nº. 94.406, de 8/6/1987).

Conforme consta nos artigos 12 e 13, da supracitada legislação, o técnico e o auxiliar exercem atividade de nível médio. Porém, o técnico executaria, diferentemente do auxiliar um algo a mais que seria uma orientação e acompanhamento do trabalho de enfermagem e participaria do planejamento da assistência de enfermagem, enquanto ao auxiliar competiria fazer a execução das tarefas descritas nos processos de tratamento, conforme o comparativo demonstrado no quadro 3.

O auxiliar e o técnico, segundo COREN, tem algumas poucas diferenças. Em alguns hospitais com centro cirúrgico, somente técnicos podem trabalhar, pelas atribuições que tem.

Quadro 1: Comparação entre tarefas descritas na legislação para as profissões de AE/TE.

AUXILIAR DE ENFERMAGEM TÉCNICO DE ENFERMAGEM

observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas

participar da programação da assistência de enfermagem;

executar ações de tratamento simples

executar ações assistenciais de enfermagem, exceto as privativas do Enfermeiro, observado o disposto no parágrafo único do art. 11 desta lei prestar cuidados de higiene e

conforto ao paciente

participar da orientação e supervisão do trabalho de enfermagem em grau auxiliar

participar da equipe de saúde participar da equipe de saúde

Na prática dos cuidados diários no hospital, os auxiliares e técnicos de enfermagem executam as mesmas tarefas e atividades de preparar, observar, reconhecer, descrever, ministrar medicamentos aos pacientes e encaminhar para exames ou ao centro cirúrgico, nas clínicas.

Embora no hospital a grande maioria dos servidores seja de auxiliares de enfermagem, os concursos públicos que vêm sendo realizados para contratação de pessoal têm priorizado a carreira de técnico de enfermagem, como foi relatado nas falas das reuniões de ACT, conforme os dois últimos editais de concursos públicos listados no site do hospital. Para a função- atividade de Auxiliar de Enfermagem o último edital de concurso público para o preenchimento de seis vagas foi realizado no final de 2011.

Os procedimentos de rotinas de assistência aos pacientes são descritos em manuais ou impressos, com nomes como:

Procedimento Operacional Padrão (POP), que consiste na descrição do passo a passo das operações que os diferentes profissionais precisam fazer para, por exemplo, preparar e administrar um determinado medicamento ao paciente;

Mas o Procedimento Operacional Padrão – POP - também pode ser uma prescrição de definição de tarefas administrativas, neste caso, feito por gestores;

Sistematização de Assistência de Enfermagem (SAE), que “organiza o trabalho profissional quanto ao método, ao pessoal e aos instrumentos, possibilitando a operacionalização do processo de enfermagem”, é restrito aos enfermeiros (COFEN, 2009);

Protocolos, definidos pelo Ministério da Saúde, são os roteiros contendo a descrição da situação clínica e seu tratamento (MS/SAS, 2009).

O trabalho exercido por estes profissionais têm características específicas: é ininterrupto e coletivo, pois visa garantir a continuidade da assistência aos pacientes. Ele será subdividido de acordo com as etapas da rotina. A rotina diária pode variar de acordo com uma série de situações ou interrupções, que podem mudar a ordem de sequência das tarefas. Optou-se, na descrição, por seguir a ordem de rotina descrita pelos profissionais.

É isso que estou te falando, cada quarto tem dois, três leitos, você vai acompanhando. Entra aqui, aqui é do um ao três, todos vamos pegar o plantão aqui. Pegou vamos para o próximo quarto. Acabou de pegar da enfermaria inteira, já tem a escala. Você está escalada para o leito um, leito dois, leito três. É tudo muito diversificado. Aqui os quartos não são individuais, a não ser dos convênios. Por ser SUS não fica uma enfermaria com um paciente só. Depende do professor, da quantidade de leitos e como é distribuído. Ás vezes tem enfermaria com quatro pacientes. Esse hospital é muito complicado de tentar explicar. Cada setor é um professor é uma rotina diferente. A rotina é determinada para o auxiliar. É determinada pelo hospital, pela divisão de enfermagem. Tem uma hierarquia para se seguir, a diretora, depois dela a enfermeira de área, depois as enfermeiras-chefe, e as enfermeiras especializadas. Elas que montam a rotina. Tudo determinado. Então eu sigo essa prescrição o dia todo se eu estiver de 12 horas.

Neste capítulo, será apresentado o trabalho cotidiano de auxiliares e técnicos de enfermagem que participaram das reuniões de Análise Coletiva do Trabalho. Utilizaremos as abreviaturas AE/TE quando nos referirmos aos auxiliares de enfermagem/técnicos de enfermagem.

Ressalta-se ainda que, para este estudo, o uso da palavra prescrição ficará restrito ao emprego dado pelos profissionais de saúde. Nesse sentido, prescrição significa o receituário medicamentoso feito pelo médico, que prescreve medicamentos aos pacientes, solicita exames, ou pelas enfermeiras, que podem prescrever modos de cuidar específicos, de acordo com o exame físico (evolução) que fazem diariamente dos pacientes.