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O gerenciamento do cuidado em saúde é reconhecido como um conjunto de atividades realizadas de forma sistemática, para alcançar objetivos previamente estabelecidos e aperfeiçoar o uso de recursos tecnológicos disponíveis para o alcance máximo possível de bem-estar (ANSENJO, 2000). Os estudos voltados para a gestão do cuidado em enfermagem no cenário hospitalar atualmente têm destacado especial atenção para a necessidade de delineamento de um modelo de cuidado com possível inserção no SUS, de forma que envolva a organização tecnológica, o reconhecimento da RAS, o saber profissional, o conhecimento e sua competência técnica sobre a patologia, e o enfoque na humanização da assistência.

Além disso, o gerenciamento na enfermagem revela-se como um processo humano e social voltado para a mobilização de recursos individuais com o objetivo de propiciar o cuidado. O enfermeiro, nesse contexto, desenvolve competências necessárias para esse fim, quais sejam: planejamento, organização e controle da oferta do cuidado seguro e em tempo hábil, garantindo a sua continuidade a partir de diretrizes e políticas institucionais (AGUERO; KLIJN, 2010).

Em relação à organização tecnológica, a produção do cuidado exige a mobilização de diversos recursos que são classificados como tecnologias leves, representadas pelos processos relacionais estabelecidos entre o paciente e o profissional durante o ato cuidador; as leve- duras são expressas pelo saber profissional adquirido ao longo de sua formação; e as tecnologias duras são representadas pelos aparelhos e máquinas que vêm se incorporando cada vez mais no campo da saúde (MERHY, 2007). Por ser considerado necessário ao desenvolvimento de uma gestão do cuidado com ênfase nas necessidades do paciente, o

emprego dessas tecnologias no processo de trabalho da enfermagem deve ocorrer de forma articulada (CARDOSO; SILVA, 2010).

Corroborando essa afirmação, um estudo realizado em serviços de urgências traumáticas destacou como recurso tecnológico para o gerenciamento do cuidado nessas unidades o Advanced Trauma Life Support (ATLS), considerado como protocolo internacional que padroniza as condutas da equipe de saúde com vista à atenção integral por meio da abordagem mnemônica do ABCDE (AZEVEDO; SACARPARO; CHAVES, 2012). O ATLS possibilita uma atuação interprofissional, de forma que toda a equipe se mobiliza em função do paciente e o enfermeiro tem um papel relevante na articulação dos profissionais e no provimento de recursos para a atenção ao usuário. Nesses serviços, o acolhimento com classificação de risco também é considerado pelos enfermeiros como um novo e importante modelo de reorganização do cuidado (AZEVEDO; SACARPARO; CHAVES, 2012).

Ressalta-se que a gestão do cuidado pelo enfermeiro no atual contexto hospitalar, segundo Cardoso e Silva (2010), aponta para um processo de trabalho em que a enfermagem atua de forma colaborativa e interativa. Nesse sentido, o profissional utiliza o planejamento como instrumento da prestação do cuidado, reconhecendo-o como um recurso valioso para a construção do projeto terapêutico.

Nessa direção, um estudo realizado por Aguero e Klijn (2010) acerca do nível de relevância das competências gerais atribuídas aos enfermeiros na gestão do cuidado em enfermagem identificou como prioritárias: a liderança, o trabalho em equipe, a efetiva comunicação, o compromisso ético e o domínio dos conhecimentos científico e tecnológico. Já para a formação de competências específicas destacaram-se: a gestão do talento humano, a gestão em saúde e da qualidade.

Sobre a questão supracitada e com base nos resultados da revisão integrativa realizada por este estudo, identificaram-se como atributos essenciais da gestão do cuidado em enfermagem integração entre a gestão e o cuidado, liderança, interação, comunicação, tomada de decisão e cooperação. A relação interativa entre o enfermeiro e o usuário se destacou como importante elemento dessa dinâmica, visto que permite a troca de informação e o estabelecimento da confiança e do vínculo, contribuindo para a concretude das ações de promoção e recuperação da saúde da pessoa doente. Assim, a gestão do cuidado em enfermagem é definida como “a articulação e integração entre as ações cuidativas e gerenciais, mediante o exercício de liderança, relações interativas, comunicativas e cooperativas assumidas pelo enfermeiro para com a equipe de enfermagem, profissionais de saúde e usuário” (MORORÓ et al., 2017, p. 328).

Esse conceito destaca a atuação do enfermeiro na gestão do cuidado para além das competências técnico-científica à medida que exige dele estabelecer relações de interatividade, comunicação e cooperação com a equipe de enfermagem, com os profissionais de saúde e com a pessoa que precisa de cuidado. A sua aplicação prática implica, portanto, a conformação de um modelo de gestão vinculado ao cuidado com base no compartilhamento de tarefas, de práticas cooperativas na integralidade.

Dessa forma, reafirmam-se exigências de habilidades como comunicação, relacionamento interpessoal e tomada de decisão na função exercida pelo enfermeiro na gestão do cuidado, uma vez que necessita utilizar a liderança como instrumento essencial na coordenação do trabalho da enfermagem e na intermediação dos distintos profissionais da equipe de saúde (SANTOS et al., 2012). Além disso, reconhecem-se a organização do trabalho e os recursos humanos da enfermagem como objetos do trabalho gerencial e é destacada a influência das condições sociolaborais sobre a tarefa de cuidar, demonstrando que a condição de trabalho constitui uma das bases fundamentais para a gestão do cuidado (ADÁN et al., 2011).

Todavia, também se identificou, nos estudos, haver uma forte preocupação na forma de gerência que o enfermeiro tem exercido nos serviços hospitalares. Sobre esse aspecto, um estudo realizado por Azevedo, Scarparo e Chaves (2012) revelou que as ações assistenciais do enfermeiro estão centradas no cuidado ao usuário, enquanto as gerenciais envolvem a organização da unidade/assistência, a coordenação/articulação da equipe e a mobilização de recursos a fim de garantir a infraestrutura necessária para ofertar um cuidado qualificado.

Sobre isso, entende-se uma organização do cuidado baseada nas necessidades do usuário, considerando a interação interprofissional e o adequado fluxo de informação entre os integrantes da equipe de saúde. Portanto, espera-se que, quando a equipe estabelece comunicação previamente, seja possível adequar as condições necessárias à assistência ao paciente, reforçando que as ações assistenciais e gerenciais do enfermeiro devem estar convergentes e articuladas na perspectiva de gerenciamento do cuidado (GEHLEN; LIMA, 2013; AZEVEDO; SACARPARO; CHAVES, 2012).

Em consonância, uma pesquisa sobre o que compreende o enfermeiro acerca do gerenciamento do cuidado evidenciou concepções voltadas à organização do trabalho com vista à implementação de estratégias capazes de reduzir os problemas relacionados à superlotação e à procura constante por atendimento. Mais uma vez, o estudo reafirmou a tendência atual do enfermeiro como articulador e integrador das ações gerenciais e

assistenciais na perspectiva centrada no usuário, considerando o alcance da integralidade do cuidado em saúde (SANTOS et al., 2012).

Entretanto, destaca-se que a gestão do cuidado, numa perspectiva de integralidade, envolve também o reconhecimento da unidade como um ponto de referência RAS, bem como a necessária articulação entre os diferentes níveis de complexidades da assistência. Porém, há ainda desafios a ser enfrentados relacionados à gestão da superlotação e ao excesso de pacientes (SANTOS et al., 2012). A superação desses desafios implica repensar o modelo de gestão do cuidado numa perspectiva que envolva uma articulação dos níveis de assistência em rede, ultrapasse o mero tecnicismo e esteja centrado nas necessidades do usuário.

Enfim, conforme resultados dos estudos analisados, observou-se que, na área da gestão do cuidado de enfermagem, é predominante a compreensão de que os enfermeiros focalizam suas funções no campo da gerência e do cuidado de forma pouco articulada. Em contrapartida, entende-se que a efetiva organização do cuidado com foco no paciente exige do enfermeiro o exercício de competências que envolvem as relações interpessoais, a humanização da assistência, uma postura ética e o conhecimento acerca da RAS. Nesse sentido, a Figura 1, a seguir, apresenta como se dá a concepção da gestão do cuidado integral em enfermagem.

Figura 1 – Diagrama representativo da concepção da gestão do cuidado integral em enfermagem

Fonte: Produzida pela pesquisadora com base em Mororó et al., 2017

Cuidado Integral com foco nas necessidades

do usuário

Relações interativa, comunicativa e cooperativa com a equipe e com a RAS Liderança e Tomada de decisão: Processo de Enfermagem e competência técnica científica Enfermeiro: Articulador e Integrador

3 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

Esta seção contempla a abordagem teórica e metodológica que embasa o presente estudo. Inicia-se pelo conceito de cultura e de etnometodologia e segue com a Etnografia Institucional e os paradigmas filosóficos que influenciam as práticas assistenciais e do cuidado.