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O método de análise escolhido foi a análise de conteúdo, que, segundo Bardin (2011, p. 48), consiste em

[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção dessas mensagens.

A intenção é, a partir de um conjunto de técnicas parciais e complementares, “efetuar deduções lógicas e justificadas sobre a origem das mensagens tomadas em consideração” (BARDIN, 2011, p. 48). Desse modo, ela busca estabelecer uma articulação entre o texto (descrito e analisado) e os fatores que determinam suas características. Para tanto, faz-se necessária a seleção de documentos submetidos a uma primeira leitura flutuante. Com isso, pode-se propiciar o surgimento das intuições que possibilitem formular inferências ou deduções lógicas, que, por sua vez, admitem uma proposição que venha a permitir a interpretação de mensagens, a constituição do corpus e a organização do material (BARDIN, 2011)

A análise de dados em pesquisa qualitativa inicia-se desde o processo de coleta das informações e se caracteriza por apresentar uma considerável complexidade, em razão, especialmente, das dificuldades quanto ao manejo e à organização da grande quantidade de informações geradas. Assim, na busca de um máximo rigor analítico, utilizaram-se, neste estudo, associados à técnica de análise de conteúdo os recursos do Software atlas.ti versão 8.0, com o intuito de auxiliar o processo de análise na fase de organização, codificação e categorização das informações resultantes das entrevistas, que foram gravadas e transcritas na íntegra do áudio em MP3 para o Word garantindo a sua fidedignidade.

Dessa forma, com interface e instrumentalização do Scientific Software atlas.ti, o processo analítico deste estudo seguiu os passos da análise de conteúdo, partindo da perspectiva de Bardin (2011), que consiste em três etapas, quais sejam: a pré-análise; a exploração do material e o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação, conforme pode ser visto na Figura 7 a seguir.

Figura 7 – Etapas do desenvolvimento da análise de conteúdo

Fonte: Bardin, 2011

A pré-análise é a fase inicial que consiste na construção do corpus da pesquisa, mediante a seleção dos documentos a ser analisados. Assim, nessa primeira etapa, a partir de uma leitura flutuante, é possível realizar a escolha de documentos para delimitação da análise, considerando as regras de exaustividade, representatividade, homogeneidade e pertinência aos objetivos do estudo. Nesta pesquisa, os documentos selecionados foram entrevistas gravadas, transcritas e digitadas na íntegra no aplicativo Microsoft Word, bem como todas as observações e a análise de documentos, registradas antes em manuscrito no diário de campo. À medida que se organizaram esses registros e materiais, formulavam-se e reformulavam-se os pressupostos e os objetivos do estudo (BARDIN, 2011).

A fase seguinte é a exploração do material, que representa a técnica de codificação do corpus por meio de procedimento de recorte, com vista a identificar unidades de registro (significação) e de contexto (compreensão), para, em seguida, reagrupá-las a partir das similaridades e as classificar em categorias (BARDIN, 2011). Nessa etapa, as informações,

coletadas a partir das entrevistas e dos diários de campo e já transcritas, foram inseridas e organizadas por meio da utilização do Scientific Software atlas.ti versão 8.0, sob a licença n° 8572B-1980A-7C494-MWOW1-00AYP.

Os resultados das entrevistas foram separados por categoria profissional, como, por exemplo, médicos, enfermeiros, nutricionista, psicólogo, farmacêutico e fisioterapeuta. Assim, o conjunto de entrevistas e diários de campo inseridos no atlas.ti constituiu um único New Project que contém os dados da pesquisa, cujo tema é Cultura hospitalar e gestão do cuidado integral à criança com doença crônica: o enfermeiro nesse contexto. Uma demonstração dessa etapa pode ser visualizada na Figura 8.

Figura 8 – Tela do atlas.ti com a inserção das entrevistas de acordo com a categoria profissional

Fonte: atlas.ti, 2018

Enfatiza-se que o material obtido por meio de observações e de análise de documentos da unidade foi relacionado aos identificados nas entrevistas. Optou-se, assim, pela triangulação de dados como estratégia que possibilita ampliar e aprofundar a investigação, além de permitir realizar descrição, explicação e compreensão mais rigorosa sobre o fenômeno. Acredita-se que utilizando a combinação de diferentes estratégias é

possível reafirmar os dados e ultrapassar as limitações de uma única técnica (STREUBERT; CARPENTER, 2002; TRIVIÑOS, 2009).

Em seguida, realizou-se a formação dos codes, cuja operação deu-se pela codificação aberta, um processo analítico no qual ocorre decomposição dos dados, com rigoroso exame de suas partes, comparação entre si em busca de similaridades e diferenças a fim de reagrupar os dados em conceitos mais abstratos representados pelas categorias (BARDIN, 2011). Esse processo foi realizado a partir de uma leitura cuidadosa do material empírico, do qual foram selecionados pequenos trechos que detinham relação com os objetivos do estudo, sendo atribuído um termo ou um conjunto de palavras que os representavam. Assim, procedeu-se à seleção de determinados trechos das respostas às questões abertas contidas nas entrevistas que constituíram os “quontations”, relacionado-os a um determinado código (code) formado pelas unidades de registro e de contexto, que são passíveis de análise. A apresentação dessa atividade pode ser vista na Figura 9.

Figura 9 – Identificação de trecho selecionado e códigos criados em tela do atlas.ti à direita, de acordo com resultados transcritos de entrevista

Após a codificação do material, realizou-se uma leitura minuciosa com o propósito de apreender os elementos que constituem os objetivos do estudo e proceder à categorização. A categorização ou a escolha de categorias “é a operação de classificação dos elementos constituintes de um conjunto por diferenciação e, em seguida, por reagrupamento daqueles que apresentam características comuns” (BARDIN, 2011, 147). Nesse processo, adotam-se critérios previamente definidos que podem ser semânticos, sintáticos, léxicos e expressivos. Dessa forma, a definição de boas categorias deve apresentar homogeneidade, pertinência, objetividade, fidelidade e produtividade (BARDIN, 2011).

De acordo com os pressupostos de uma interpretação das mensagens e dos enunciados, a aplicabilidade da análise de conteúdo deve ter como ponto de partida uma unidade organizadora. Para este estudo, foi considerada como unidade temática central: a influência da cultura hospitalar na organização da gestão do cuidado à criança com doença crônica no âmbito de um hospital geral.

Outras categorias surgiram a partir da frequente recorrência entre as falas. Para tanto, os códigos anteriormente identificados foram reagrupados, de acordo com as similaridades semânticas, constituindo os códigos de grupos ou “code groups” evidenciando, assim, as categorias do estudo com o propósito de se alcançar a representação do conteúdo. Na Figura 10, a seguir, é possível visualizar a criação dos code groups no atlas.ti.

Figura 10 – Definição de code groups, apresentados em tela do atlas.ti

Fonte: Elaborada pela pesquisadora com o auxílio do atlas.ti, 2018

Nessa perspectiva, após várias aproximações com os objetivos do estudo, com as questões de pesquisas e com o referencial teórico-metodológico, obteve-se a construção das categorias analíticas, a saber: cultura organizacional da gestão do cuidado no âmbito da pediatria no contexto de um hospital geral; visita como mecanismo para gestão do cuidado; atuação do enfermeiro na gestão do cuidado à criança com doença crônica, potencialidade para gestão do cuidado e fragilidade para gestão do cuidado.

A definição dos code groups de acordo com a frequência em que apareciam na fala dos participantes está disposta na Figura 11, o que resultou em categorias e subcategorias (Quadro 1), que, por sua vez, foram elaboradas com o auxílio do atlas.ti. Ademais, após a condensação dos dados codificados e a definição das categorias para análise, procedeu-se ao tratamento dos resultados, o que resultou em interpretações inferenciais das informações, constituindo-se num momento de análise reflexiva e crítica (BARDIN, 2011).

Figura 11 – Definição de code groups de acordo com a frequência de recorrência nas falas dos participantes na tela do atlas.ti

Fonte: Elaborada pela pesquisadora com o auxílio do atlas.ti, 2018.

Quadro 1 – Categorias e subcategorias definidas com o auxílio do atlas.ti

Tema central: a influência da cultura hospitalar na organização da gestão do cuidado à criança com doença crônica no âmbito de um hospital geral

Cultura organizacional de gestão do cuidado de uma unidade pediátrica, no contexto de um hospital geral

A inserção da unidade especializada de pediatria ao hospital geral

Transição entre a cultura médico-centrada e a atuação em equipe multiprofissional A visita como um mecanismo de GC A visita como ferramenta do exercício

clínico do médico

A visita como potencial agregador da equipe Atuação do enfermeiro na GC à criança com

doença crônica

Enfermeiro como mediador/articulador da gestão do cuidado

Processo de enfermagem como ferramenta para gestão do cuidado

Fragilidade na articulação do enfermeiro com a Rede de Atenção à Saúde

Potencialidades para GC à criança com doença crônica

Estrutura do hospital universitário

Projeto de Segurança do Paciente como potencial para GC

Fragilidades na gestão do cuidado à criança Indefinição do modelo de GC compartilhado pela equipe

Limitação para continuar o cuidado à criança no domicílio

Com base no disposto no Quadro 1, as categorias estão representadas por networks produzidos no atlas.ti (Figuras 12 a 16) que são esquemas gráficos no formato de rede e possibilitam a visualização dos resultados da pesquisa (FORTE et al., 2017).

Figura 12 – Categoria: cultura organizacional da gestão do cuidado de uma unidade pediátrica, no contexto de um hospital geral, identificada com o auxílio do atlas.ti

Figura 13 – Categoria: A visita como mecanismo de gestão do cuidado, identificada com o auxílio do atlas.ti

Figura 14 – Categoria: Atuação do enfermeiro na gestão do cuidado à criança com doença crônica, identificada com o auxílio do atlas.ti

Figura 15 – Categoria: Potencialidade para gestão do cuidado à criança, identificada com o auxílio do atlas.ti

Figura 16 – Categoria: fragilidade para gestão do cuidado à criança, identificada com o auxílio do atlas.ti