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Projeto de Segurança do Paciente como potencial para gestão do cuidado

5.3 POTENCIALIDADE PARA A GESTÃO DO CUIDADO À CRIANÇA COM

5.3.2 Projeto de Segurança do Paciente como potencial para gestão do cuidado

O hospital universitário, no contexto deste estudo, apresenta em sua estrutura organizacional o setor de vigilância em saúde, que é constituído pela unidade de Gestão de Riscos Assistenciais e o Núcleo de Segurança do Paciente (NSP), em atendimento à Portaria 529/2013, que instituiu o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). Esse programa tem como objetivo desenvolver e aplicar um conjunto de medidas voltado para a prevenção de acidentes adversos no cuidado ao paciente nas unidades de saúde. Nesse sentido, as falas dos profissionais já demonstram identificar a segurança do paciente como um aspecto que potencializa a gestão do cuidado:

[...] O hospital em si já tem alguns projetos em curso. A questão de segurança do paciente, que está aí. Eu vejo muitas potencialidades. E, de uma forma geral, a pediatria é muito aberta a mudanças (en2).

[...] em relação à gestão do cuidado à criança crônica que a gente recebe muito aqui, que eu tenho visto em relação, é o que a gente está agora trabalhando bastante é a

questão de segurança do paciente, tentando melhorar um pouco a passagem de plantão, tentando melhorar um pouco a assistência quanto à preceptoria com os residentes. Tudo isso está envolvido com a gestão do cuidado porque à medida que eu vou melhorando isso aí, eu vou melhorando a minha assistência para atender melhor o paciente (en3).

As falas afirmam que o hospital desenvolve projetos voltados para a segurança do paciente, atribuindo, assim, valor à gestão do cuidado, o que se reflete em sua prática profissional, uma vez que os profissionais buscam, continuamente, estratégias para a melhoria dos processos assistenciais e de ensino. Em convergência, utiliza a adoção de ferramentas voltadas para a segurança do paciente.

Durante reunião das enfermeiras do setor, que contou com a presença de pesquisadora, houve a participação de dois (02) integrantes do NSP, um deles, que é fisioterapeuta, veio apresentar um novo sistema de devolução de medicamentos voltados para prevenir erros sobre o seu preparo e administração. A partir da implantação desse sistema, todos os medicamentos passarão a vir junto com um impresso de controle com a finalidade de o profissional responsável pela administração do medicamento, em caso de não ser possível administrá-lo, registrar o motivo, de modo que a sua devolução somente seria realizada sob justificativa. A segunda integrante do NPS, uma enfermeira, apresentou a escala de avaliação sobre risco de quedas “Humpt Dumpt”, que passaria a ser utilizada na pediatria em substituição à escala de Morse.

As escalas de avaliação de riscos de quedas são ferramentas que atribuem valores numéricos a diversos fatores de riscos cujo somatório indica se a pessoa tem um risco de queda baixo, médio ou alto. Nesse contexto, a escala de Morse foi desenvolvida no Canadá, voltada à população de 18 anos ou mais de idade, para identificar previamente riscos de quedas fisiológicas. Já a escala Humpt Dumpt, utiliza categorias de baixo ou alto risco de quedas a partir de fatores específicos da faixa etária pediátrica (COSTA-DIAS; FERREIRA, 2014; PEREIRA, 2014).

Na oportunidade, também foi apresentada a escala Braden Q na versão pediátrica, específica para identificar e avaliar fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento de úlceras de pressão, com a finalidade de direcionar o raciocínio clínico para introdução de medidas preventivas (MAIA et al., 2011). Na ocasião, a enfermeira informou que, em breve, as escalas estariam disponíveis no Sistema AGHU e explicou, brevemente, algumas instruções básicas para uso das escalas, colocando-se à disposição da unidade durante o seu processo de implantação.

A pesquisadora presenciou, ainda, outras situações que apontaram um movimento voltado para a busca de mecanismos de qualificação do cuidado e a incorporação de valores da cultura de segurança, que, de acordo com Silva e Santa Rosa (2016), constitui-se de valores da cultura organizacional que favorecem ações, comportamentos, atitudes e normas voltados para o ambiente seguro, em consonância com a política de segurança do paciente. Em uma das passagens de plantão do enfermeiro na unidade, uma profissional repassava para as colegas as informações relacionadas a uma oficina que estava havendo nos dois turnos de trabalho, sobre “passagem de plantão, registro de informações e Sistematização da Assistência de Enfermagem”.

A oficina estava sendo promovida pelo hospital Moinhos do Vento, de Porto Alegre – Rio Grande do Sul (RS), pioneiro do Programa Nacional de Segurança do Paciente no país. Atualmente, esse hospital é contratado pelo Ministério da Saúde para assessorar outros hospitais universitários na implantação do “Melhorando a Segurança do Paciente em larga escala no Brasil”, que tem como objetivo proporcionar a qualificação do cuidado em estabelecimentos de saúde, com o desenvolvimento de ferramentas de gestão, educação e práticas compartilhadas voltadas à segurança do paciente (BRASIL, 2013).

Nesse cenário, o hospital universitário, em conjunto com outras instituições, foi um dos contemplados para integrar o referido projeto, em razão de apresentar uma estrutura de mais de 100 leitos, dispor de Unidade de Terapia Intensiva e realizar procedimentos de alta complexidade, levando-o a apresentar os requisitos necessários para essa adesão. Dessa forma, identifica-se uma reorganização da assistência hospitalar com foco na segurança do paciente refletindo-se nos discursos e na prática dos profissionais.

Vejo-me realizando a gestão do cuidado, em determinadas situações [...]. Na hora que eu faço uma visita e detecto que uma criança precisa de determinada medida de segurança. Na hora que eu detecto que um acesso está com uma flebite, aonde foi que houve a falha? Foi do Técnico de enfermagem? O que foi? Como é que eu posso fazer? Que processo eu vou fazer para evitar aquilo ali? Então eu acho que aí vou estar trabalhando a gestão (en2).

A participante reconhece a detecção precoce de riscos e as oportunidades de melhoria para implementar medidas de segurança como inerentes à gestão do cuidado. Assim, ao relacionar essas ações com a gestão do cuidado em saúde, demonstra compromisso e responsabilidade com a oferta do cuidado seguro. Essa preocupação com ações proativas de identificação de riscos e eventos, aliada a outras características, pode ser resultado do amadurecimento institucional quanto à cultura de segurança do paciente (SILVA; SANTA ROSA, 2014).

5.4 FRAGILIDADE NA GESTÃO DO CUIDADO À CRIANÇA COM CONDIÇÃO