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Gestão dos recursos turísticos

Capítulo 5 – Análise dos resultados

5.3. Competitividade do Porto enquanto destino turístico

5.3.3. Gestão dos recursos turísticos

Quando questionados sobre a sustentabilidade da exploração e gestão dos recursos turísticos da cidade, a opinião geral dos entrevistados é consistente: esses recursos têm sido administrados de modo eficaz e eficiente porque não se ouve nem se vê casos de reclamação. No que concerne a monitorização, E7 comunica que o setor público na cidade tem realizado um exercício cada vez mais atual que é definir capacidades de carga ou seja, “(…) tendo em conta os padrões consensualizados consegue-se perceber se o rácio de turistas ou visitantes versus residentes está abaixo ou acima desses valores de referência.”. (Exemplos dessa consciência são os estudos feitos

e resultantes medidas adotadas no alojamento local e na circulação de circuitos turísticos na cidade, vistos no terceiro capítulo do presente trabalho).

Nos seus discursos, E7 e E9 dão o mesmo exemplo de sucesso entre colaboração do setor público com o setor privado ao nível da gestão de recursos com o propósito da sustentabilidade. Ambos os intervenientes referem que a questão da poluição sonora e atmosférica levantada pelos veículos a gasolina/gasóleo designados de tuktuks foi resolvida pela substituição dos mesmos por veículos similares, porém elétricos. E9 remata:

“Será que os tuktuks são um fator decisivo para a imagem que se quer passar? Eu compreendo que as pessoas estejam cá e queiram circular e conhecer o que temos para oferecer. Contudo, isso pode-se fazer através de um reforço ao nível de transportes (públicos) e é aí que Estado e privados devem colaborar.” (E9).

Apesar de não haver nenhum sinal de alarme, dois entrevistados do setor privado apontam duas atrações turísticas alicerçadas em património edificado e que mais se precaveram no sentido de uma política de gestão de visitantes: a Livraria Lello e a Torre dos Clérigos. E9 admite que “antes da abertura já está formada uma fila enorme à porta” ao que E1 assegura que “a Livraria Lello está bem preservada por causa da reorganização da entrada de visitantes. A representante do setor da cultura (E9) afirma que “a Torre dos Clérigos é outro grande chamariz, no entanto parece-me mais sazonal.” e E1 concorda com esta afirmação, revelando que a entidade gestora desse monumento tende a “reforçar o número de colaboradores em dias festivos em Espanha para assegurar que o funcionamento decorre conforme habitual.”.

Estes dois intervenientes (E7 e E9) mostram estar em sintonia novamente acerca deste tema, abordando nos seus discursos a noção de centralização da pressão turística e dando o exemplo do mesmo equipamento que pode desempenhar um papel de atenuante para esta situação menos vantajosa para a sustentabilidade do destino Porto. A entrevistada do setor privado acredita que “Serralves tem capacidade para receber ainda muito visitantes porque conta com um espaço fechado amplo juntamente com um espaço verde bastante vasto. É preciso atrair mais pessoas para esta zona da Foz de forma a aliviar o centro histórico.”. E7 segue a mesma linha de raciocínio asseverando que “Serralves está completamente deslocado do espaço turístico por defeito. Se se conseguir (…) colocar esta atração na rota da operação turística está-se a diminuir o número de turistas no centro.”.

E7 contesta ainda que o congestionamento do trânsito se deve ao facto de haver muito gente num espaço relativamente curto, particularmente, nas zonas ribeirinhas do Porto e de Gaia. Esta afirmação transmite novamente a necessidade de reorganizar a rota da operação turística mencionada pelo mesmo no argumento anterior. Em contrapartida, E9 refere que “é compreensível que se o turista vem por poucos dias, opte por fazer o principal e visite a Ribeira e as Caves.”. Esta observação traduz que a entrevistada apoia a redistribuição dos fluxos turísticos, porém é

igualmente sensível ao motivo pelo qual existe uma tendência à concentração nas zonas ribeirinhas das cidades do Porto e de Gaia.

A política de gestão de visitantes é um tópico desenvolvido nas entrevistas de duas entidades privadas que vêem essa táctica como uma boa forma de pré-combate a uma eventual ameaça: “Claro que se se começar a atingir valores extraordinários o Estado e os privados que gerem o património vão ter de tomar medidas para a limitação de entradas.” (E9).

“A questão da gestão de visitantes parece-me uma estratégia inteligente (…).” (E8).

Todavia, as duas intervenientes não descartam as consequências que dessa política resultam: “Por outro lado, não sei muito bem como se haveria de limitar uma vez que tabelar um preço exorbitante me parece contraproducente, não me parece justo, nem uma forma democrática de o fazer. Dito isto eu acho bem que se cobre o preço da visita porque o número de visitantes aumentou e por isso é necessário financiamento para manter e preservar o património.” (E9).

“(…) só não sei a que ponto é que as pessoas não perderiam o interesse e isso nos prejudicaria. Por outro lado, isso faria do Porto um destino gourmet.” (E8). (Este conceito de oferta turística no

destino em estudo vai ser melhor desenvolvido na categoria de análise destinada ao tema do futuro do turismo na cidade.).

A nível de gestão ambiental, quase todos os entrevistados revelam que a sua perceção corresponde a uma maior preocupação no que respeita à conservação e que esta acompanha o número crescente de público, sobretudo na presença de lixo nas ruas e no rio e, na preservação da paisagem. Nesse campo, E4 é o entrevistado que melhor verbaliza esta posição:

“Provavelmente, as empresas de maior dimensão demonstram ter mais preocupação ambiental porque faz parte da estratégia formal da empresa. De forma geral, há cuidado com o património. Não acho que haja recursos que estejam a ser mal aplicados ou ameaçados.” (E4).

Ao contrário da opinião generalizada, E6 é a única que no seu discurso enumera indícios menos positivos defendo que só as empresas privadas é que têm cuidado no que concerne por exemplo à separação de lixos e à capacidade de lotação dos estabelecimentos. A interveniente admite que a manutenção dos espaços é uma missão complicada de levar a cabo além de que não há respeito pelas iniciativas postas em prática:

“(…) há bares que têm a taxa do copo, ou se leva para casa ou se devolve, no entanto, há uma panóplia de bares que não a praticam portanto, ou é imposto a toda a gente ou não é.” (E6).

Embora a entrevistada saiba que a nível de recursos, especialmente humanos, os trabalhos de limpeza são cada vez menos procurados, a mesma julga que os serviços camarários deviam espalhar ainda mais ecopontos pela cidade.

As intervenções anteriores abordavam a gestão de recursos numa vertente de sobrelotação, porém, E7 chama a atenção no seu discurso para outra perspetiva, oposta. O entrevistado dá um exemplo de uma de várias zonas espalhadas pela cidade, no centro histórico e não só, mais escondidas e que salvaguardam património valioso por manter a sua autenticidade e traça. Só os mais curiosos são capazes de descobrir estes espaços sossegados que contradizem o corrupio urbano da cidade:

“Há uma zona entre a Torre dos Clérigos e a Alfândega (do Porto) com muitas igrejas com imenso potencial de exploração, nomeadamente, do ponto de vista da visitação, mas estão em más condições apesar do fácil acesso em termos de mobilidade pedonal. É uma zona com vários pontos de interesse na ótica do património arquitetónico e religioso.” (E7).

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