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Capítulo 5 – Análise dos resultados

5.3. Competitividade do Porto enquanto destino turístico

5.3.1. Setor público

Independentemente da sua área de operação, os entrevistados conferem importância ao papel do setor público no universo do turismo na cidade e definem-no como de regulador. A maioria dos representantes concede uma resposta breve a essa questão, porém outros tendem a desenvolver a sua explicação. O representante da consultora (E7) começa por revelar que “não é por acaso que existe uma entidade chamada Turismo do Porto e Norte de Portugal”. Dando seguimento à sua afirmação, E7 explica que “o Porto é colocado no centro de toda uma região como uma espécie de peão, de centro nevrálgico daquilo que é a procura no destino Norte e até Centro de Portugal, validando-se pelos investimentos”. Meramente três dos representantes das entidades privadas reconhecem, nos seus discursos, o trabalho desenvolvido pelas instituições públicas responsáveis pela promoção turística da cidade. De acordo com E5, esta notoriedade do Porto resultou das ações de divulgação do Turismo do Porto e Norte de Portugal. E9 julga que a Associação do Turismo do Porto, em simultâneo com a entidade Turismo do Porto e Norte de Portugal e a Câmara do Porto têm dado resposta aos desafios do turismo atuais. E, E2 admite que a Câmara do Porto tem feito um esforço no sentido de publicitar a marca ‘Porto’.

No que concerne as estratégias adotadas por este setor para o departamento do turismo, as respostas dos representantes distribuem-se por três matérias distintas: o alojamento local, a taxa turística e, os transportes, mais precisamente o aéreo e o marítimo.

Como seria expectável, as três entidades representantes do alojamento são as que tem uma opinião mais vincada por ser a sua área de negócio. E8 indica que as novas regras aplicadas ao alojamento local permitem que a Câmara tenha um controlo mais atento porque é preciso garantir que são respeitadas as condições mínimas de funcionamento. Na continuidade deste raciocínio, E4 refere que “as questões que nasceram com esta polémica (do alojamento local) foram resolvidas pela

instituição competente com medidas, na minha opinião, em prol do equilíbrio entre o turismo e a vida dos residentes.”. Na sua intervenção, E5 concorda com os outros entrevistados, dizendo que “eu acho bem que ele (alojamento local) exista (…) e que o processo de abertura seja menos complexo que o de um hotel (…)” mas alerta para o facto de “se calhar ter-se simplificado tanto que agora há um excesso de estabelecimentos desse género. Basta se ter uma casa com dois ou três quartos, colocar uns beliches e já se tem um alojamento local.”. Mais uma vez se verifica aquilo que foi observado antes: o alojamento local é um elemento dominante no panorama (do alojamento) turístico do destino Porto que nem sempre é consensual entre as partes implicadas. De igual modo, no que concerne as medidas restritivas deste tipo de alojamento, a posição do representante da associação empresarial não vai de encontro à da consultora. E3 defende que “o mercado é que deve funcionar. Nós estamos num mercado aberto, livre e ele, naturalmente, se encarrega de resolver as coisas”. Em contrapartida, E7 contesta que “o Estado e a administração pública têm um papel significativo enquanto regulador e, se for o mercado a funcionar por si só não vai dar certo.”

E1 assegura que a Câmara do Porto foi e é muito capaz de negociar com as companhias aéreas. Em conformidade com esta afirmação, E7 esclarece que “quando se negoceia com um operador relevante como a Ryanair para se poder ter uma base operacional na cidade está-se a dar um sinal evidente de que se quer potenciar os fluxos aéreos.”. Além disso, salienta que “o transporte aéreo é mais competitivo, barato, apelativo, seguro.”. Similarmente, E5 acredita que “(…) este aumento da procura foi beneficiado pelo aeroporto que, nos últimos anos, foi ampliando a sua capacidade, melhorando as suas infraestruturas, recebendo novos voos e companhias. É isso que põe as pessoas cá.”. Estas intervenções - de representantes de setores diferenciados - expressam a vontade clara do setor público em querer aumentar a procura turística no destino Porto. Ainda noutra vertente dos transportes na cidade, E7 faz referência ao investimento no Terminal de Cruzeiros que, a seu ver, representa “(…) um sinal de que se quer apostar na atratividade turística e de um perfil de turista.”.

A taxa turística é apontada com uma das mais notórias estratégias implementadas pelo setor público na esfera do turismo na cidade do Porto. Tanto os entrevistados das entidades privadas como a associação empresarial estão de acordo com a sua aplicação por dois motivos: o primeiro é que este instrumento existe justamente noutros destinos e o segundo é que a presença dos turistas causa desgaste na cidade, mesmo que não seja visível no dia-a-dia, sendo necessário para pagar a quem faz o trabalho de manutenção dos espaços. Mesmo achando justa esta medida, uma das representantes do alojamento (E8) queria que a aplicação fosse mais clara: “(…) não se percebeu muito bem o que é que a Câmara Municipal do Porto vai fazer com isso (…)” e sugere que esta soma fosse empregue para tornar a habitação mais acessível aos portuenses. Para além de ajudar a solucionar este tipo de necessidades, E3 crê cumulativamente “que se criou a taxa turística (…) com o propósito de se poder crescer mais.”.

Apesar de todos concordarem que a utilização é correta, o valor cobrado não reúne consenso entre o representante da restauração e dois do setor do alojamento, pelas seguintes declarações: “ (…) não acho que seja cobrado um valor elevado.” (E1).

“(…) acho que é um valor caro demais e devia-se ter seguido o exemplo de Lisboa. Além de que os portugueses (na perspetiva de turismo doméstico) reclamam que tenham de efetuar este pagamento adicional uma vez que já contribuem para o país, pagando os impostos.” (E5).

“Estamos a falar de um valor altíssimo, especialmente, na dimensão do meu alojamento.” (E8).

Esta divergência parece acontecer por causa do âmbito em que a taxa turística é coletada, mais concretamente, junto dos estabelecimentos de acomodação. Sendo os representantes de setores de operação diferentes, também o nível de consciência dos efeitos nas receitas geradas varia: o impacto é nulo no caso da restauração e, total no caso do alojamento.

Conforme apontado previamente, há uma concentração da atividade turística no centro histórico da cidade que obrigou a autarquia a tomar medidas mais circunscritas. Por ter o negócio mais afeto a essas normas, o representante da restauração é o único entrevistado que elucida que “por causa da movida da Baixa, está tudo mais regulamentado e por isso tivemos de nos adaptar (a estas novas leis). O restaurante não pode estar aberto depois das 4h da manhã e temos um controlador que está ligado à Câmara Municipal do Porto que inspeciona o nível de decibéis limite para não incomodar quem lá vive.”.

Globalmente, E3 acredita que tendo em conta o êxito que a cidade tem obtido enquanto destino turístico, as estratégias são adequadas ilustrando a sua posição com os seguintes argumentos: “O Porto está com taxas de ocupação nunca antes vistas, (…) há um aumento do volume de negócios, aumentou a empregabilidade (…). Acho que deste ponto de vista as estratégias merecem nota 20.” Ainda na sua intervenção sobre esta questão, o entrevistado reconhece outra maneira de interpretar a designação ‘público’, chamando a atenção para que “o turismo nasce dos munícipes, em cada localidade, e em cada país. Nasce dos locais porque são eles que pagam os impostos para que os outros respirem do seu ar, comam da sua comida e, no fundo, pisem o solo que eles pagam. As infraestruturas são pagas por eles, mas além deles também são utilizadas por outras pessoas.”.

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