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Capítulo 5 – Análise dos resultados

5.5. Futuro do turismo na cidade

5.5.1. Perspetivas

A parte final da entrevista convida os diferentes representantes a refletir sobre as perspetivas futuras do destino Porto, mais concretamente no que deve ser ainda implementado para tornar a cidade um destino mais competitivo. Um dos entrevistados do setor do alojamento (E4) salienta que independentemente da forma como a cidade evoluir, “o sentimento de pertença não pode ser posto em causa por parte dos residentes.”.

Das reflexões dos intervenientes delineiam-se três cenários: o primeiro tem de ver com uma desaceleração da atividade turística, o segundo passa por surgirem outros tipos de turismo e, o terceiro supõe um fim do setor na cidade.

O quadro do abrandamento do turismo no Porto, por causa da procura turística, é enunciado pelas representantes das entidades privadas do setor da cultura e do enoturismo:

“(…) depois de termos atingido um pico, já se sente uma desaceleração, o que é expectável porque era impensável manter-se taxas de variação anual com dois dígitos.” (E9).

“O efeito da oferta e da procura já se começa a sentir no Porto: a procura tem vindo a abrandar e o objetivo é mesmo esse: venham menos e gastem mais.” (E6).

A estas duas intervenientes junta-se mais um representante do privado a opinar que aquilo que se observa no presente é discordante com esse panorama uma vez que continuam a ser validados projetos de hotelaria e isso pode levar a desfechos contraproducentes ao nível do próprio do setor do alojamento:

“(…) a oferta insiste em aumentar e há hotéis a nascer em todo o lado, portanto alguém vai ficar a perder.” (E6).

“(…) estão a abrir muitos hotéis e, se isto efetivamente for uma moda, o que vai acontecer é que a oferta será superior à procura e instala-se uma competitividade feroz para ver quem se aguenta e alguém sairá a perder.” (E5).

“Podemos achar que são hotéis a mais, e até poderão ser, mas só o futuro nos dirá se vamos ter um turismo estável que mantém uma ocupação aceitável para manter estes hotéis e outras estruturas de acolhimento.” (E9).

Essa matéria leva ao segundo cenário do futuro do turismo na cidade - o aparecimento de novos tipos de turismo – mais exatamente ao primeiro de três moldes: o turismo residencial. E3 antevê que o tipo de turismo no destino Porto que se anuncia significativo no futuro é o turismo residencial e por isso considera ser necessário proceder a uma alteração legislativa que satisfaça esta atividade. Para isso se proporcionar sugere elaborar-se um contrato misto de arrendamento e prestação de serviços, criando zonas de condomínio fechado onde as pessoas pudessem morar, apoiadas por uma oferta de restauração e hotelaria em simultâneo. E3 acrescenta ainda que “estes condomínios com prestações de serviços seriam procurados, muito provavelmente, por pessoas que por viverem em locais mais húmidos, com mais intempéries, com temperaturas bastantes baixas, se calhar preferiam estar aqui vários meses descansados. Nós ficávamos agradecidos porque deixavam cá dinheiro e eles porque tinham melhor qualidade de vida.”.

Estando a caminhar para um turismo desse ponto de vista, o alojamento turístico poderia eventualmente vir a servir esse propósito, dando assim resposta às reivindicações causadas pelo excesso de estabelecimentos de alojamento local – expressas ao longo desta análise - e às reações geradas por causa do aumento de construção hoteleira tendo em conta a (pre)visão de desaceleração da atividade turística devido à retração da procura – citadas previamente.

Em harmonia com essa forma de turismo apresenta-se o turismo sénior. Segundo o mesmo entrevistado (E3) esta é uma tendência do futuro da procura turística mundial porque “a esperança de vida aumentou de 60 para 80 anos, o que significa que alguém com 60 anos é jovem, vai viajar, vai querer explorar a cidade, tem mais tempo disponível, maior disponibilidade financeira, mas não vai querer ser tratado como uma pessoa com cuidados especiais.”. No seu discurso, E3 transmite que para isso é necessário ter preocupações tais como regular a temporização dos semáforos ou construir rampas nas passadeiras por causa dos trolleys.

O terceiro tipo de turismo que deveria vingar no futuro do destino Porto é indicado no discurso das entidades privadas E8 e E1. E8 gostava que a atividade turística na cidade tomasse o caminho de um turismo de luxo para combater aquele que considera ser o atual turismo de massas que causa demasiados estragos e pegada ecológica. A interveniente admite ter noção de que “em termos de retorno imediato não deve ser tão bom, mas a longo prazo é mais sustentável que o turismo de massas.”. Ainda assim, a interpretação de ‘turismo de luxo’ de E8 define-se por um tipo de turismo mais cuidado, mais local e seleto que não vai de acordo com o sentido elitista e os parâmetros que se tomam como preconceito e referência. E1 partilha da mesma opinião e refere que já existem, apesar de tímidos, alguns sinais na direção de uma aposta na oferta de luxo em hotéis, estabelecimentos comerciais (lojas) e até companhias aéreas:

“A Burberry e a Rolex vão abrir na zona dos Aliados, já é um começo para tentar captar esse segmento. Essas pessoas têm de dormir em algum lado, mas como é óbvio não o fazem em qualquer lado daí se terem construído aqueles dois grandes hotéis na Avenida dos Aliados (o Maison Albar Hotels Le Monumental Palace e o InterContinental Porto - Palácio das Cardosas), mais os outros que ainda estão por abrir. O início da operação da Emirates é outro sinal.” (E1).

Conforme manifestado antes no seu discurso, o entrevistado E5 chama a atenção de que há quem considere a recente vaga de turismo na cidade do Porto um fenómeno em voga e, por causa dessa efemeridade talvez o (terceiro cenário) futuro da atividade turística seja um fim.

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