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Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos nos Estados Unidos Os Estados Unidos são os maiores geradores per capita de resíduos sólidos municipais do

A Questão dos Resíduos Sólidos Urbanos 2.1 Panorama Internacional

COM (2005) 666 Estratégia Temática de

2.3. Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos nos Estados Unidos Os Estados Unidos são os maiores geradores per capita de resíduos sólidos municipais do

mundo. Historicamente a geração de resíduos sólidos tem apresentado um crescimento constante. (BROLLO E SILVA, 2001). De 88 milhões de toneladas em 1960, para 251 milhões de toneladas em 2006. (EPA, 2006).

Para Weitz et al. (2002, p. 1000) “até 1970 os resíduos urbanos nos Estados Unidos eram comumente lançados a céu aberto e parte dos resíduos orgânicos eram incinerados para redução do volume. Neste período os incineradores não apresentavam sistemas de recuperação de energia e de controle da poluição. Raramente encontravam-se aterros sanitários em condições adequadas para destinação de resíduos”. A proliferação de aterros inadequados e a percepção dos riscos para saúde pública e o meio ambiente fizeram surgir a partir de 1965 uma série de leis e regulamentos visando controlar estes problemas. O quadro 2.12 apresenta a evolução das principais leis americanas referente a limpeza pública e a gestão dos resíduos municipais.

Quadro 2.12: Principais Leis Federais Relacionadas à Gestão dos Resíduos nos EUA

Leis e Regulamentos Ano Impactos sobre a Gestão dos Resíduos

Rivers and Harbors Act 1899 Controle do lançamento de resíduos em rios, córregos e áreas verdes

Solid Waste Disposal Act (SWDA) 1965 Controle de Aterros Inadequados Resources Recovery Act (RRA) 1970 Ênfase na reciclagem dos resíduos

Clean Air Act (CAA) 1970 Controle de emissões poluentes atmosféricos Resource Conservation and Recovery Act

(RCRA) 1976

Definições sobre gestão de resíduos, padrões mínimos para aterros sanitários, diretrizes para elaboração de planos regionais e estaduais de resíduos sólidos municipais Comprehensive Environmental Response

Compensation and Liability Act (CERCLA) 1980 Programa de recuperação de áreas contaminadas por aterros inadequados

Superfund Amendment and Reauthoriration Act (SARA)

1986 Reforço no programa de recuperação de áreas degradadas por aterros contaminados

Pollution Prevention Act 1990 Ênfase na prevenção da poluição com a estratégia de ciclo de vida completa New Clean Air Act 1995 Maiores controles e restrições para emissões de gases

poluentes

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A lei de Conservação e Reaproveitamento dos Recursos (RCRA) de 1976 tornou-se o marco regulatório da política de gestão dos resíduos nos Estados Unidos até os dias atuais. Esta lei forçou o fechamento dos aterros inadequados e promoveu a regionalização dos planos de gestão dos resíduos neste país. O fechamento dos aterros contaminados provocou uma crise na gestão dos resíduos entre as décadas de oitenta e noventa. A partir deste período o setor privado assumiu papel de destaque na operacionalização da coleta, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos em nível regional e estadual nos Estados Unidos. Atualmente a gestão de resíduos nos Estados Unidos é administrada pelos municípios e operada por um grupo pequeno de grandes empresas privadas do setor de limpeza e tratamento de resíduos. (LOUIS, 2004, p.306). Neste contexto, a partir da década de oitenta o número de aterros sanitários nos Estados Unidos vem decrescendo enquanto o tamanho médio dos mesmos vem aumentando. A regionalização das instalações de tratamento e disposição final dos resíduos provocou o aumento do fluxo de caminhões que transportam resíduos em longas distâncias, em alguns casos, de um Estado para outro. Alguns Estados americanos tornaram-se exportadores de resíduos e outros importadores. A figura 2.23 apresenta a redução do número de aterros nos Estados Unidos nas últimas décadas.

Figura 2.23: Redução do número de aterros nos EUA

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Em 1989 a Agência Americana de Proteção Ambiental (US EPA) estabeleceu novas diretrizes para gestão de resíduos visando promover a Gestão Integrada de Resíduos Sólidos. Essas diretrizes recomendavam a adoção em todo o país da hierarquia de gestão para as práticas operacionais em relação ao tratamento de destinação dos resíduos. A hierarquia de gestão deve, em primeiro lugar, priorizar a redução dos resíduos na fonte geradora antes de sua entrada no fluxo de resíduos, incluindo a reutilização de produtos, em seguida a recuperação dos materiais através da reciclagem e da compostagem. Na seqüência deve-se priorizar a recuperação de energia através da combustão e finalmente a disposição final adequada em aterros sanitários com padrões exigidos de segurança e controle da poluição. (EPA, 1989). A partir de 1987 os estados americanos passaram a adotar suas próprias leis para promover a prevenção da poluição e redução dos resíduos municipais. (EIGHMY e KOSSON, 1997). Assim sendo, as práticas de gestão de resíduos passaram a variar significativamente de estado para estado, dependendo de suas próprias leis e estratégias de gestão de resíduos. Connecticut por exemplo incinera cerca de 70% de seus resíduos enquanto que a Carolina do Norte destina 96% dos resíduos para aterro sanitário. Já em Seattle, no Estado de Washigton, os índices de reciclagem alcançam 40% do total dos resíduos gerados. (LOBER, 1996).

Atualmente a gestão dos resíduos municipais nos Estados Unidos envolve o uso de tecnologias avançadas para as operações de coleta, transporte, reciclagem, compostagem, incineração e destinação de resíduos em aterros. Essa tecnologia contribui para minimizar os impactos ambientais e os riscos à saúde pública ligados ao manejo dos resíduos municipais. Em 2002 existiam cerca de 300 aterros sanitários dotados de sistemas para captação de gás metano e geração de eletricidade, 102 incineradores com sistemas avançados para recuperação de energia e modernos sistemas de controle da poluição, grande número de Centros de Reciclagens de Última Geração (MRFs – Material Recovery Facilites) e uma significativa quantidade de resíduos de jardins e de alimentação estavam sendo compostados. (WEITZ et al., 2002, p. 1003).

Para Cheremisinoff (2003, p.35) “a redução do volume de resíduos municipais é uma das prioridades ambientais nos Estados Unidos. Muitas prefeituras fazem campanhas de conscientização junto aos moradores para o estabelecimento de programas de reciclagem, coleta

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seletiva e pontos de entregas voluntárias de materiais recicláveis (drop-off Centers) visando a redução da geração de resíduos”. Em 2006 aproximadamente 8660 programas de reciclagem e cerca de 3470 programas comunitários de compostagem estavam em funcionamento nas diversas localidades dos Estados Unidos. (EPA, 2006).

O quadro 2.13 apresenta a evolução da geração dos resíduos e os processos de tratamento e destinação final desde 1960 até 2006 nos Estados Unidos.

Quadro 2.13: Geração e Destinação de Resíduos Municipais nos EUA

An o P o p u laç ão Mil h õ es G er ão MTp a P er ca p it a Kg /hab /dia Reci cla g em Co mp o stag em Incin er ão At er ro S anit ár io

MTpa % MTpa % MTpa % MTpa % 1960 179.9 88.1 1.34 5.6 6.4 0.0 0.0 27.0* 30.6 55.5 63.0 1970 204.0 121.1 1.62 8.0 6.6 0.0 0.0 25.2* 20.8 87.9 72.6 1980 227.3 151.6 1.83 14.5 9.6 0.0 0.0 13.7* 9.0 123.4 81.4 1990 249.9 205.2 2.25 29.7 14.5 4.2 2.0 31.9** 15.5 139.5 67.9 2000 281.4 238.3 2.32 52.8 22.2 16.5 6.9 33.7** 14.1 135.3 56.7 2006 299.4 251.3 2.30 61.0 24.3 20.8 8.3 31.3** 12.5 138.2 55.0

* Incineração sem recuperação de energia ** Incineração com recuperação de energia

Fonte: Adaptado de Louis, 2004 e EPA, 2007

Verifica-se através do quadro 2.13 que o índice de geração per capita de resíduos apresentou em 2006 uma leve tendência para estabilização ou até queda em kg/hab/ano, sendo a única vez que isto aconteceu nesta série histórica de números apresentados. Já o índice de reciclagem de resíduos aumentou significativamente a partir da década de oitenta, de 9,6% para 24,3%. O tratamento de compostagem que era inexistente até 1980, representou em 2006 8,3% do total tratado. No caso da incineração até 1980 não havia recuperação de energia e controle da poluição. Hoje 12,5% dos resíduos são incinerados, todos eles em equipamentos de tecnologia

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atualizada em relação a sistema de recuperação de energia e controle das emissões poluentes. Nota-se uma recorrente redução das quantidades destinadas para aterros sanitários a partir de 1980, partindo de 81,4% em 1980 para 55,0% em 2006. Contudo os indicadores positivos descritos apresentam desaceleração a partir do ano 2000 o que pode demonstrar uma tendência de esgotamento do modelo adotado.

Para Spiegelman e Sheehan (2005) a política de gestão de resíduos americana vem apresentando menos efetividade para a prevenção e redução dos resíduos na fonte e maior ênfase na reciclagem e recuperação de energia. Essa situação foi reforçada pela regionalização da gestão e pelo sistema universal de coleta e destinação dos resíduos implantada nos Estados Unidos a partir da década de noventa, que visa prioritariamente responder as leis de mercado. Neste caso a lei favorece o consumo de produtos descartáveis ou produtos com curta duração de vida o que caracteriza a sociedade de consumo americana. Esses autores sugerem que a política de gestão de resíduos americana dê maior ênfase a aplicação dos princípios da responsabilidade estendida ao produtor (EPR) e ao princípio do poluidor-pagador visando atingir os objetivos da hierarquia de gestão adotada pela Agência Americana de Proteção ao Meio Ambiente (US EPA) em 1989.

Apesar das limitações da política de gestão de resíduos americana apontadas por Spiegelman e Sheehan (2005) em relação à prevenção da geração dos resíduos na fonte, cabe ressaltar as quantidades de resíduos que são tratadas, recuperadas e aterradas no sistema de gestão de resíduos americano. Em 2006 foram reciclados 61 milhões de toneladas de resíduos, aproximadamente quatro vezes mais materiais reciclados que na Alemanha, que em 2004 reciclou 16 milhões de toneladas de resíduos. Em relação a compostagem os Estados Unidos processou 18,6 milhões de toneladas, aproximadamente o dobro da quantidade compostada na Itália no ano de 2005 equivalente a 10,5 milhões de toneladas . Neste ano a Itália foi o país com a maior quantidade de material compostado na União Européia (ver quadro 2.10). Já a quantidade de resíduos depositada em aterros americanos no ano de 2006 supera a soma da destinação de resíduos em aterros do Canadá, México, Japão, Coréia do Sul, Austrália, França, Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido, juntos. (OECD, 2007, p.15).

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Para Cheremisinoff (2003) o conhecimento da composição dos resíduos municipais torna- se uma importante informação quando se trata de gestão eficaz dos resíduos municipais. São considerados resíduos municipais os resíduos de origem doméstica, comerciais e industriais similares aos domésticos menos os resíduos originários dos processos industriais da construção civil, de minas e da agricultura. O quadro 2.14 apresenta a composição típica dos resíduos municipais dos Estados Unidos.

Quadro 2.14: Composição Típica dos Resíduos Municipais dos EUA

Composição dos Resíduos % em peso

Papel 38.1

Resíduos de Jardim 12.1

Resíduos de Alimentos 10.9

Plásticos 10.5

Metal 7.8

Borracha, couro e têxtil 6.6

Vidro 5.5

Madeira 5.3

Outros resíduos inorgânicos 3.2

Fonte: Cheremisinoff, 2003

Possivelmente o baixo índice de resíduos de alimentos na caracterização típica dos resíduos municipais dos Estados Unidos seja influenciado pelo uso comum de trituradores de alimentos nas pias das cozinhas das residências americanas. Cheremisinoff (2003) afirma que os estudos de caracterização dos resíduos devem ser atualizados periodicamente para que possíveis alterações na densidade populacional, nível de renda etc, sejam consideradas. Essas variações podem influenciar as decisões de tratamento e destinação dos resíduos em uma determinada região. Para Zeng et al. (2005, p.63) “especial atenção deve ser dado ao estudo preciso da caracterização dos resíduos quando se tratar de projetos de centro de reciclagem (MRF) e de projetos de incineradores. A composição dos resíduos determinará o tamanho das instalações, as quantidades de materiais recuperados e o potencial de energia a ser recuperada”.

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