• Nenhum resultado encontrado

2. GEOPROCESSAMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS : APLICAÇÕES NO URBANISMO

2.4. A Gestão Urbana e as Políticas Públicas

O ordenamento territorial é um processo dinâmico de gestão, liderado pelo poder político, tanto o constituído quanto o poder dos diversos setores sociais e grupos de interesse que integram o próprio governo, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada. A tomada de decisão nas questões que afetam a

ocupação do espaço resulta de um processo de adaptação da sociedade na busca de meios para a sobrevivência, em face de um aumento da demanda, ocasionado pelo aumento da população, da distribuição desigual dos meios ou de mudanças nos padrões de consumo (SOUZA, 2002). Deste modo, aquele que ti ver o poder e dispuser da informação terá mais subsídios para tomar suas decisões, pois a informação possui papel fundamental na etapa decisória sobre o espaço.

Através do prévio conhecimento do território e das formas de ocupação do mesmo, o uso da informação geográfica e das novas tecnologias orienta o gestor. Por proporcionar uma análise numa base de dados de natureza diversa, notadamente descritiva e gráfica, com capacidade de síntese e dotado de ferramentas de análise espacial, permitindo que não apenas os técnicos, mas os diversos agentes sociais e grupos de interesse obtenham uma visão integrada do meio físico e socioeconômico, o geoprocessamento assume caráter de importância.

Com a promulgação da CF 88, os municípios brasileiros assumiram novas responsabilidades na elaboração de suas políticas públicas. A CF 88 teve como princípios norteadores uma maior descentralização das políticas, com uma valorização do papel do município e estímulos a uma gradual participação da sociedade, bem como valorização da autonomia local e um reordenamento das finanças municipais, no contexto da reforma do Estado (CASTRO, 2004).

Percebe-se, desde meado dos anos 60, uma sobreposição entre a agenda dos organismos internacionais de cooperação e as políticas públicas do Estado brasileiro, na administração pública municipal, com fortes reflexos nas intervenções públicas no espaço (WERNA, 1996).

Mais recentemente, esta atuação centrou-se no fortalecimento das instituições e na capacitação, associados às questões de pobreza urbana, sustentabilidade ambiental, via atuação de forma articulada e integrada, como aborda COMPANS (1999). Seguindo esta linha, vários programas de desenvolvimento urbano foram orientados pelo ideário das instituições internacionais, notadamente a partir da década de 90, com a finalidade de oferecer apoio aos estados e municípios. A análise de boa parte dos dados destes projetos permite inferir que o geoprocessamento, entendido desde a produção de bases cartográficas para áreas sem nenhum outro recurso, vem sendo incorporado aos poucos como uma importante ferramenta nas atividades de ordenamento territorial e planejamento

urbano em geral, e até mesmo como mecanismo auxiliar da arrecadação municipal, por permitir atualização e uma maior eficácia das ações do cadastro técnico municipal, conforme abordado anteriormente.

Um dos principais resultados obtidos na aplicação prática do geoprocessamento é a possibilidade de realizar avaliações que resultem em mapeamentos, os quais podem refletir tanto potencialidades quanto limitações, riscos ou conflitos que ocorrem no espaço. A utilização destas ferramentas constitui um dinamizador do planejamento urbano, auxiliando as ações referentes à regulação do uso do solo, principalmente, por proporcionar um aprimoramento na arrecadação dos tributos municipais, melhoria do nível de conhecimento sobre a cidade, fornecendo informações sobre o padrão de ocupação do solo urbano, auxiliando a coleta de dados sobre a propriedade imobiliária, demonstrando assim que a gestão do espaço tende a incorporar ferramentas adequadas à compreensão de processos econômicos e sociais.

A noção de planejamento como propulsor do desenvolvimento do país, viabilizado através de projetos nacionais, foi latente desde meados do século XX. Nesta ótica a política de desenvolvimento urbano era vista como um “(...) elemento da política nacional de desenvolvimento que diz respeito ao processo de urbanização nas suas dimensões intra e interurbanas” (MENEZES, 2000, p. 5). O período foi marcado pela atuação de uma serie de órgãos e projetos de intervenção urbana.

Sua institucionalização nas administrações municipais se disseminou de forma mais intensa nas décadas de 70, com o intuito de promover o desenvolvimento integrado e o equilíbrio das cidades, em um contexto de explosão do processo de urbanização. A concepção de planejamento urbano então em vigor correspondia à idealização de um modelo de cidade – através de um Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, que seria executado de forma contínua até se obter a “cidade desejada” (MARICATO, 2001).

Para identificar os pontos nevrálgicos é necessário o levantamento de dados referentes à realidade a ser trabalhada, permitindo a elaboração de diagnósticos. A abrangência e profundidade dessas análises e estudos dependem da natureza dos planos, programas e projetos a que se destinam. De posse de todas estas informações, as políticas de gestão do território orientam a tomada de decisões por

parte do poder público, numa clara relação entre o poder decisório e formulação/execução de políticas de gestão do espaço, percebendo-se a importância das ferramentas de análise na minoração da problemática urbana.

Para identificar e propor soluções adequadas, o planejamento urbano é um instrumento que pode contribuir para a solução dos problemas. SOUZA (2002) conceitua planejamento urbano como um esforço de tentar prever um acontecimento futuro dentro do espaço urbano, simulando os desdobramentos decorrentes do processo, com o objetivo de melhor se adequar contra a ocorrência futura de prová veis problemas e, ou ainda para obter algum lucro a partir de determinados benefícios que venham a ocorrer.

Para orientar a política de desenvolvimento e de ordenamento do uso do solo município, o Plano Diretor Urbano deve ser elaborado e implementado com a participação efetiva de todos os cidadãos, à luz da Constituição Federal de 1988 – CF de 1988 e do Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257 de 10 de julho de 2001). O processo deve ser conduzido pelo poder Executivo, articulado com representantes do Legislativo e sociedade civil.

Atuando desta forma, o poder público municipal tem condições de otimizar seu trabalho, conhecer de fato a realidade local, bem como atingir seus objetivos de maneira mais profícua. Deve ainda articular outros processos de planejamento já existentes, como por exemplo, a Agenda 21, planos de bacia hidrográfica, zoneamento ecológico econômico, planos de desenvolvimento turístico sustentável, dentre outros.

A gestão do território alicerçada no geoprocessamento, num processo de informatização das atividades relacionadas com o espaço urbano, constitui-se numa das ferramentas mais adequadas para auxiliar no cumprimento desta tarefa, com capacidade de integrar praticamente todas as atividades operativas, decisórias e de planejamento, por meio da existência da base cartográfica.

2.4.1. Perspectivas e Transformações a Partir da Década de 80

Fatores macro-estruturais, relacionados com mudanças ocorridas no campo do Estado e da economia, provocaram alterações significativas na sociedade, a partir

dos anos 70, caracterizando este processo, acomodações inerentes ao Estado capitalista. Os governos locais ganham importância, num processo crescente de protagonismo, onde os municípios assumem um papel fundamental. Um dos elementos impulsionadores foi o processo de reformas, que visava à descentralização das ações do Estado (SOUZA, 1998).

Ao lado dos fatores macro-estruturais é importante assinalar o surgimento de processos políticos específicos, que permitiram a difusão de idéias e práticas de descentralização, como resposta à crise do Estado e/ou como base para o avanço democrático, a valorização da autonomia local, bem como uma reorganização das finanças públicas.

Tendências denotam que, mesmo apresentando algumas semelhanças, todos estes processos mostram o “ressurgimento” do local, indicando ir além destes mecanismos institucionais de descentralização. Segundo DOWBOR (1999), o protagonismo do local coloca o município no centro de um conjunto de mudanças, que envolve o processo da descentralização, a disseminação da desburocratização e a ampliação da participação.

As cidades adquirem um papel fundamental, a cada dia, tanto na vida política como na vida econômica, social, cultural e nos meios de comunicação (LESBAUPIN, 2000). Como afirma SANTOS (2002), a cidade é o espaço de realização, ou mais especificamente, o lócus de todas estas profundas transformações. Aliado a isto, no campo das relações internacionais, também atrai investimentos, promovendo o turismo e grandes eventos, e participando diretamente de fóruns mundiais (CASTELLS & BORJA, 1996).

Neste contexto de transformações na gestão das cidades, a promulgação da CF 88, representou um marco. Ela teve como princípios norteadores uma maior descentralização das políticas, com uma valorização do papel do município e gradual participação da sociedade, bem como valorização da autonomia local e um reordenamento das finanças municipais.

É importante ressaltar as novas responsabilidades que os municípios brasileiros assumiram na elaboração de suas políticas públicas, a partir da promulgação da CF 88. O crescente aumento das demandas sociais impôs o aparelhamento dos municípios para atendê-las de forma mais ágil (PACHECO,

2000). Há uma valorização do papel do município dentro do Estado Federativo, e um gradual incentivo à participação da sociedade que reconhece sua importância, como um mecanismo propulsor do desenvolvimento, de “baixo para cima”.

O Município é a unidade de Governo efetivamente local. Aparece de modo expresso na Constituição como elemento integrante da Federação Brasileira. Dentro de seu território estão compreendidas tanto as comunidades urbanas, como a zona rural. (...) Num país de dimensões territoriais, como o Brasil, o Município é a base para a descentralização governamental. É o ponto de apoio para que se confira às comunidades locais o poder de decidir sobre seu interesse imediato (IBAM, 2004, p. 12).

As administrações locais ganham então um peso crescente no processo de tomada de decisões, por ser o centro de contato direto com o cidadão. O município passa a integrar de fato e de direito a federação, ao lado da União, dos Estados e do Distrito Federal. Os 5.564 municípios brasileiros agora têm a prerrogativa da autonomia constitucional, porém, muitos não possuem a capacidade técnica administrativa, bem como política para gerenciar todas as funções, em decorrência da falta de um corpo técnico qualificado, máquina e estruturas administrativas ineficientes e falta de conhecimento da realidade local.