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5. NOVOS PARADIGMAS EM PLANEJAMENTO URBANO

5.3. GESTÕES DE CIDADES E METRÓPOLES

O termo “gestão” há muito tempo estabelecido no ambiente profissional ligado à administração de empresas, vem desde o final do século XX, adquirindo popularidade em outros campos como o urbano e o ambien tal.

Para muitos a palavra gestão vem em substituição a palavra planejamento. Porém planejamento e gestão possuem referenciais temporais e tipos de atividades diferentes. Planejar remete ao futuro, está relacionado a um esforço prognóstico e deve utilizar-se da construção de cenários, simulando desdobramentos de um processo. Gestão remete ao presente, gerir significa administrar o hoje, utilizar recursos disponíveis tendo em vista as necessidades imediatas.

5.3.1. As Regiões Metropolitanas

O Brasil possui hoje 26 regiões metropolitanas institucionalizadas que somam no total 390 municípios, além das oficialmente instituídas, existem também as aglomerações urbanas, não institucionalizadas, polarizadas por capitais de estados, e as capitais que não configuram aglomerações, perfazendo um total de 37 espaços urbanos nacionalmente relevantes e compostos por 471 municípios. (MOURA et al. 2009, p. 19). Essas regiões contam com alternativas administrativas que auxiliam a resolução de problemas de alcance regional, como os comitês de bacia, pactos territoriais e mais recentemente os consórcios municipais.

Os consórcios não precisam estar necessariamente atrelados às RM, mas podem oferecer soluções interessantes mesmo que num âmbito mais restrito. O Brasil

está há pouco tempo acostumando-se com a prática de consórcios, que já funcionava no mundo todo. Aqui, a lei que regulamenta os consórcios municipais é de 2005.

A gestão metropolitana enfrenta ainda outros entraves, como o exacerbado poder que os municípios detêm e que depois da constituição de 88 ficou ainda maior, sendo elevados à categoria de entes federativos como os estados da União, o que acaba dificultando a gestão de problemas comuns das RMs, pois cada município quer garantir seu status de poder.

No Brasil, os conselhos das RMs são compostos pelos prefeitos e quando muda-se a gestão mudam-se também os conselhos, impedindo de ter uma continuidade de ações. Em outros países há exemplos de conselhos eleitos pela população e que desenvolvem programas estratégicos.

A descentralização do poder municipal é uma alternativa para a gestão de cidades, que criaram subprefeituras com recursos próprios e os chamados cidade- bairro, que é um outro modelo administrativo com a instituição de um gerente-síndico para cada bairro, propiciando mais agilidade e melhoria da qualidade de vida por se aproximar mais dos cidadãos.

A gestão de cidades e metrópoles requer o envolvimento de múltiplos atores e é necessário seu envolvimento para a interação e cooperação para: formular objetivos comuns, sociabilização do conhecimento e troca de experiências. As tecnologias de informação e comunicação – TIC, favorecem a criação de redes fundamentais para este processo de interação.

5.3.2. Práticas Globalizadas

A cidade global adquire características de muitos lugares, de culturas diferentes e de condições econômicas também diferenciadas. A diversidade, as múltiplas facetas da cidade grande, a peculiaridade de cada bairro, dos imigrantes que há muito trouxeram seus costumes, perfazem um paralelo que vai do hostil da grandiosidade ao aconchego dos lugares conhecidos.

As diferentes características que estão presentes em cada canto, a velocidade de empreendimentos de todo o tipo, o fluxo dos capitais que determinam o “aqui” e o “ali” dos investimentos, são ao mesmo tempo centro de poder político, lugar de decisões econômicas, viveiro de idéias científicas, artísticas e filosóficas que propiciam infinitas possibilidades e um número tão superlativo de conflitos.

É incontestável que transformamos intensa e imperceptivelmente os espaços urbanos com as práticas cotidianas; porém, a intensificação do processo de globalização dos capitais impulsiona à transformação das cidades com uma rapidez que ultrapassa, de longe, os efeitos das práticas diárias.

Na grande cidade ou metrópole do mundo globalizado, cruzam-se relações, processos e estruturas de todos os tipos e em diferentes direções.

Entende-se que é necessário discutir a cidade, estudar seus problemas, pensar soluções, porém não é o objetivo da presente pesquisa. Aprofundar conceitos e teorias a tornaria extremamente extensa. Portanto, optou-se por apenas identificar e comentar sucintamente os temas mais recentes que urbanistas de hoje estão discutindo.

A cidade global, metrópole ou ainda megalópole são regidas por fluxos de capitais que se sobrepõem à técnica de planejamento urbano. Um exemplo que ilustra bem é quando técnicos identificam que é necessária uma grande intervenção no sistema viário. A determinada obra fica sujeita a interesses políticos e financeiros que definem quando e como vão ocorrer.

Para isso, atuam em diversos sentidos, produzem novo espaço urbano, moldam-no às novas condições de fluidez do capital e, com isso, garantem, no mínimo e enquanto dura o processo de renovação urbana, a produção de renda imobiliária local. Nesse contexto entroncam-se planos estratégicos e planejamento urbano.

E, em um cenário marcado pela flexibilidade e negociação contínua, os administradores públicos das cidades optaram por um planejamento urbano comprometido por atuações urbanísticas em curto prazo e por estreitar a colaboração com os agentes privados de investimentos.

Recentemente por ocasião de o Brasil ter sido escolhido para sediar a Copa do Mundo de 2.014, as cidades que serão sedes dos jogos passarão por grandes intervenções. A expectativa é de que se melhorem as condições de transporte, infraestruturas, serviços, etc., que mais uma vez serão direcionadas pelo fluxo dos interesses.

5.3.3. O Planejamento Estratégico

Entre o discurso e a prática do planejamento urbano está a gestão pública dos planos urbanísticos, o que supõe constante negociação com os diferentes agentes econômicos e sociais para solucionar o conflito de interesses, em especial econômicos. Das negociações resultam, frequentemente, enormes distorções dos planos e de suas respectivas normativas.

O planejamento e a gestão estratégica têm sido as respostas que se mostraram mais adequadas ao novo perfil de gestão pública que a sociedade demanda.

As formas de gestão e de planejamento das cidades tiveram de se adaptar às exigências da reestruturação e da competitividade urbana. Assim, para levar adiante

intensas e extensas operações urbanísticas, os administradores estabelecem amplas coalizões de agentes sociais, políticos e econômicos para convergir em interesses comuns: os planos estratégicos têm sido instrumentos idôneos, permitiram que o setor público estimulasse a iniciativa privada, bem como que os setores privados se convertessem em beneficiários diretos dos processos de reestruturação. O planejamento estratégico posto em prática pelas administrações públicas na década de 1990, apresenta-se como uma alternativa para problemas de gestão pública inerente aos rápidos processos de transformação urbana, derivados, por sua vez, da intensificação da globalização do capital.

De certa forma, com o planejamento estratégico, a administração pública local pretende dissolver o totalitarismo do planejamento urbano que, ao excluir de forma habitual as opiniões de cidadãos e de agentes sociais e econômicos, e pode propor transformações dos espaços urbanos em nome do bem comum.

O planejamento estratégico enfatiza a participação social e econômica como meio para conseguir a interação dos agentes urbanos, a retroalimentação e a correção dos processos de transformação urbana. Em teoria, os planos estratégicos superam as limitações da perspectiva unidirecional dos planos urbanísticos. Porém, na prática, convertem-se em instrumentos que permitem agilizar a gestão pública dos interesses econômicos privados e pôr em prática com mais facilidade o planejamento urbanístico que atualmente, com mais ênfase, tende a concretizar-se em propostas de adaptação do espaço urbano às exigências de circulação e de materialização do capital.

Com o início do século XXI, as cidades ressurgiram como local estratégico para uma ampla gama de projetos e dinâmicas. Surgiu um novo papel econômico das cidades, através da globalização, uma nova geografia entre as cidades que contribui com uma infraestrutura de uma economia global, novos espaços culturais e novos tipos de políticas. Conferência URBAN – AGE, Rumo a Era Urbana (2008, p. 03), disponível em htttp.://www.urban-age.net/, acesso em 05/06/2009.

Na geografia intercidades existem fluxos densos e de grande visibilidade como o de profissionais, turistas, artistas, migrantes e outros fluxos mais discretos e quase invisíveis, como as redes de negócios financeiros, altamente especializados que conectam algumas cidades. Todos são circuitos multidirecionais que se espalham pelo mundo todo. O número de cidades que são atraídas para essas geografias intercidades está crescendo bem rápido. A globalização criou especificidades econômicas que permite perceber o papel diverso e particular das cidades no mundo.

Circuitos globais econômicos não são novos, o que mudou foi a proliferação de complexas estruturas organizacional e financeiras, desde a década de 1980, e daí

surge a necessidade de prestar serviços e administrar a cidade que agora é estratégica.

5.3.4. As novas políticas urbanas

No marco crescente de competitividade internacional entre cidades, a política urbana foi se caracterizando por progressiva orientação rumo a captação de fluxos de capital, seja de consumidores – tratando-se dos próprios cidadãos ou turistas – seja de investidores.

As novas políticas urbanas estão acompanhadas da política posta em funcionamento pelos mecanismos de marketing e por elaborados discursos que permitam manter a harmonia social e a “ideologia do crescimento”, afim de atenuar os possíveis conflitos sociais derivados das crises socioeconômicas resultantes da transformação espacial.

Esses mecanismos e discursos foram sendo construídos sobre a idéia de que as transformações urbanas produzem crescimento econômico e, portanto, postos de trabalho, e com base em um processo de produção intensivo (produção industrializada) de “identidade urbana” facilmente consumível e “assimilável” por objetos e slogans “identitários”. “Amo São Paulo”, slogan do 450º centenário, ou “Barcelona més que mai”, lançado para os jogos olímpicos e posteriormente, “posate guapa”, são apenas pequenas mostras de práticas habituais de produção de “identidade cidadã” da maioria dos poderes públicos locais (municipais, metropolitanos, regionais).

A cidade parece menos o lugar de viver e de conviver do que do frenético centro de atividade e movimento. Neste mundo globalizado que com freqüência acostumou a se caracterizar pela circulação acelerada de fluxos de todos os tipos, as políticas urbanas parecem inspiradas por uma necessidade inevitável de capacitar os espaços para atrair mais fluxos, sejam investimentos, turismo ou, em geral, qualquer atividade suscetível de gerar movimento econômico.

A cidade, preparada para ser consumida, é apresentada como mercadoria e, para poder vendê-la, os governantes têm adotado formas de atuação empresarial.

O “marketing urbano” surge como uma expressão atual. Porém o marketing só explica uma parte da transação comercial, apenas expressa a estratégia do vendedor. Seu objetivo costuma ser estabelecido na “satisfação das necessidades e desejos dos consumidores de forma rentável” . A cidade agora se converteu simultaneamente em mercadoria (produto a vender), empresa (pelo seu modo de gestão) e pátria (pela criação do sentimento de posse e patriotismo da cidade).

Estamos vivendo o momento do capital globalizado e instantâneo que visa o investimento em áreas que possam se transformar em mercadorias, empresas e pátrias. Os centros históricos fazem parte do movimento da cidade e quando recuperados atraem outros investimentos.

A participação popular está presente cada vez mais em diversos cenários, porém não ainda em situação ideal. É necessário para que se crie um sentimento de comunidade ou patriotismo de cidade e combater um ciclo vicioso que Peter Hall (1981) apud Oliveira et al, (2006), chamou de collective deprivation, quer dizer, a sensação de decadência e de falta de expectativas futuras, que conduz a uma sensação coletiva de alienação e apatia, percepção dos cidadãos que se transmite aos estrangeiros que tampouco investirão ali. Portanto a confiança no futuro teria a capacidade de provocar o contrário, como ocorreu em Barcelona de 1992, por exemplo.