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CAPÍTULO 4 – UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA COM A EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO INTEGRADO

4.2 VIVENCIANDO OS CONTEÚDOS DE ENSINO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO NA PERSPECTIVA PÓS-CRÍTICA

4.2.3 A ginástica

Nos dois últimos bimestres do ano letivo de 2012, vivenciamos o conteúdo ginástica como uma cultura corporal que tem relação com o ser humano e com o processo de transformação da natureza, associando o movimento humano aos aspectos relacionados com o desenvolvimento das condições materiais humanas de sobrevivência, de subsistência, de luta e de lazer nos primórdios das primeiras formas de organização social, nas quais o corpo e o movimento tiveram uma importância essencial na transformação da natureza e no domínio de tecnologias primitivas de construção de materiais, e não apenas como uma modalidade esportiva.

Iniciamos nossa abordagem sobre a ginástica com slides sobre como os povos primitivos desenvolveram as formas de interação e de domínio tecnológico na apropriação do uso de materiais rústicos, através do movimento e das habilidades

manuais para a sua sobrevivência e subsistência. Apresentamos registros históricos de como o movimento humano, representado pela ginástica como cultura, foi sendo adotada pelas diversas etnias continentais e suas relações com as formas de lazer e de esporte, como a natação, o arco e flecha, o hipismo, o remo e as formas de lutas.

Discutimos a etimologia e o significado da palavra ginástica a partir do ideal grego de civilização. Analisamos o conceito de ginástica com base na concepção de

Amoros (1770-1848), que entendia a ginástica como “a ciência racional de nossos

movimentos, de suas relações com nossos sentidos, inteligência, sentimentos e

costumes, e o completo desenvolvimento de nossas faculdades”.

Planejamos e discutimos com os educando(as) a prática dos exercícios corporais que seriam realizados em séries com pesos e sem pesos, envolvendo os grandes grupos musculares, a coordenação dos movimentos, a postura corporal na execução, o processo respiratório e a concentração durante a execução como elementos essenciais para alcançar os objetivos da unidade, considerando a condição e a diversidade dos corpos dos educandos(as).

As séries de exercícios eram precedidas de uma sequência de alongamentos e de uma prática de corrida leve como preparação para iniciar uma série de oito exercícios, organizada de forma intervalada com duração de trinta segundos em cada estação por três etapas de execução. Além das práticas dos exercícios, discutimos no seminário com os alunos o fenômeno da estética como um dos aspectos relacionados aos tipos de corpos divulgados pela mídia, que têm sido motivo de conversas e discussão acerca dos pontos de vista entre os adolescentes e como esses aspectos afetam a consciência corporal e a saúde em geral.

O seminário abordou ainda temas do interesse dos alunos como a prática da musculação, o processo de emagrecimento, como alcançar um bom condicionamento orgânico geral, a relação entre as práticas corporais e a capacidade de aprendizagem cognitiva. Nesse aspecto, apresentamos e discutimos as pesquisas realizadas que associam a prática corporal com o processo de aprendizagem dos conteúdos escolares e as ações cotidianas.

Desse modo, nossa abordagem sobre a ginástica buscou desmistificar a noção hegemônica da Ginástica como uma modalidade esportiva de desempenho para atletas de alto nível. Os aspectos anteriormente citados foram organizados em temas e distribuídos para as pesquisas de grupo como processo de apropriação do conhecimento

sobre o conteúdo, sendo esses temas apresentados na forma de seminários que abordavam de forma crítica-reflexiva o processo evolutivo dessa cultura corporal, sua atual concepção para a sociedade pós-moderna e como podemos nos posicionar conscientemente acerca desse movimento assumindo formas adequadas e integradas às nossas formas e estilos de vida.

4.2.3.1 O alongamento

Vivenciamos os vários tipos de alongamento, a partir do seu conceito e das suas relações com as ações corporais cotidianas. As vivências foram realizadas de forma individual e em duplas, com materiais (bastões, bolas, cordas). Em cada aula, vivenciávamos um tipo de alongamento e analisávamos a sua associação com as ações cotidianas, com ênfase na postura, respiração e relaxamento corporal. Como alguns educandos(as) eram praticantes de modalidades esportivas, eles propuseram que seria interessante elaborar séries de alongamentos específicos para determinado esporte, como o ciclismo, por exemplo.

Um aspecto relevante nas pesquisas dos grupos sobre o alongamento foi o de trazer para o conhecimento e a discussão em grupo o depoimento de pessoas que adotaram o alongamento com uma prática corporal no seu cotidiano, resultante das pesquisas realizadas. Como processo avaliativo da apropriação coletiva dos conhecimentos sobre essa prática corporal, os grupos foram incumbidos de pesquisar e organizar séries de alongamento de acordo com os tipos e os conceitos para apresentar e executar com a turma, assim como abrir espaço para que houvesse questionamentos acerca das temáticas apresentadas. Essas pesquisas ilustradas foram disponibilizadas no e- mail da turma, para que todos os educandos e todas as educandas tivessem acesso ao que foi pesquisado por cada grupo e como acervo do conhecimento produzido coletivamente.

Após a execução das posturas de alongamento, realizávamos uma discussão sobre os aspectos relacionados com o tipo de alongamento apresentado pelo grupo considerando alguns aspectos e questionamentos, tais como: a forma correta de execução, a respiração adequada, a postura corporal, a possibilidade de execução no espaço/tempo do cotidiano dos educandos(as) e as aplicações de acordo com a atividade desenvolvida (estudo/trabalho/relaxamento/alívio de dores e tensões) com alternativa aos conceitos e práticas corporais hegemônicas no campo social.

A avaliação se dava com cada grupo apresentando uma série especifica de alongamento para toda a turma e ao final de cada série abríamos uma roda de reflexão acerca da dinâmica e de acordo com o estabelecido no início do ano letivo no sistema de avaliação atribuíamos valores quantitativos de notas aos grupos.

4.2.3.2 A caminhada

A prática corporal da caminhada foi desenvolvida na programação das aulas, de modo que as suas associações conceituais com as possibilidades de vivência no espaço escolar e no cotidiano dos educandos(as) pudessem ser analisadas e consideradas como uma cultura, partindo das compreensões acerca dos seus benefícios para o sistema músculo esquelético, para o bem estar orgânico geral, para a autoestima e para a socialização das pessoas, por serem práticas de amplo alcance social realizadas geralmente de forma coletiva e de fácil execução a partir dos seus conceitos, cuidados e objetivos.

Vivenciamos caminhadas nas aulas, diferenciando-as conceitualmente do ato de andar, realizadas no espaço do campo de futebol. Praticamos caminhadas em ações interdisciplinares com o componente curricular Geografia, em aulas de campo na trilha ecológica da Mata Estrela, localizada em Baía Formosa, na mesorregião do leste potiguar, inserida na microrregião litoral sul, fazendo limites com o município de Canguaretama, RN e o Oceano Atlântico ao norte, leste e oeste e com o Estado da Paraíba, ao sul.

Praticamos caminhadas no entorno do campus nas praças sócio comunitárias como uma forma de interagir, estabelecendo a comunicação com as pessoas que frequentam a praça e buscando saber delas os motivos pelos quais elas são praticantes da caminhada como subsídio para uma discussão no seminário acerca dessa prática corporal de amplo alcance social.

4.2.3.3 A corrida

Apresentamos a corrida como uma cultura corporal associada a registros históricos das culturas de vários povos. Fizemos referência à história de Fidípedes, soldado grego que, como conta a lenda, correu os 36,2 km da batalha de Maratona a Atenas para dar a notícia da vitória sobre os persas e que, logo após ter dado noticia veio a falecer. Essa lenda deu origem à Maratona, em homenagem ao soldado e tem sido praticada pelas pessoas em todo

o mundo como uma cultura que se associa não apenas aos limites físicos e ao desempenho esportivo, mas antes revela a possibilidade de superação pessoal em vários aspectos, tais como psicológicos, emocionais, estéticos entre outros.

Durante as aulas, nas vivências da corrida, resgatamos com os alunos as formas de correr que praticaram anteriormente e, a partir dessas experiências, sugerimos novas formas de correr nas quais os aspectos lúdicos e criativos se fizessem presentes no ato de correr. Dialogamos sobre os aspectos competitivos da corrida que normalmente estão associados a essa prática corporal e consideramos que a maior e melhor competição não está em superar o outro, ou em correr mais rápido ou mais longe, mas sim, em superar os seus próprios limites corporais.

Vivenciamos vários tipos de corrida, como a corrida do sombra, na qual um repete o movimento que o outro à frente está fazendo e depois acontece a inversão de modos entre os praticantes. A corrida em duplas, em que um altera o ritmo e o parceiro ao lado segue a mudança. Pequenas competições invertidas, como, por exemplo, percorrer determinada distância num “maior tempo possível” e ver “quem chega ao ponto por último”, rompendo com o conceito de que correr mais rápido e chegar primeiro é que tem valor. Correr por sobre as linhas demarcatórias da quadra, com o objetivo de melhorar o equilíbrio corporal, e a um sinal sonoro de voz todos se dirigiram ao ponto central da quadra, por sobre as linhas, para uma reunião no círculo central para um abraço coletivo, sempre ao final da aula.

No que se refere aos conhecimentos sobre o corpo, associados à prática da corrida, os benefícios metabólicos para a saúde foram enfatizados como conhecimentos que precisam estar associados à prática da corrida. Nessa perspectiva, abordamos a corrida como um exercício aeróbico que queima calorias e aumenta o ritmo metabólico, que previne doenças, que ajuda no controle do peso corporal, que ajuda no controle da pressão arterial, que aumenta a densidade óssea, fortalece o sistema muscular. A corrida estimula a produção da endorfina, neurotransmissor produzido pelo cérebro durante a realização de determinada atividade corporal conhecida como hormônio do prazer. Entre seus benefícios, alguns aspectos relacionados com a prática da corrida foram discutidos com os alunos no seminário sobre os benefícios da pratica da corrida e que foram pesquisados e apresentados pelos grupos.

Como processo avaliativo os grupos teriam que criar formas inusitadas de correr para apresentar e vivenciar com a turma de modo que o elemento lúdico estivesse

presente nessas formas de correr e que o caráter competitivo não se constituísse no elemento essencial na execução das práticas da corrida. O grupo comentaria as apresentações e todos(as) poderiam propor acréscimos ao que foi apresentado como um meio de analisar, interagir e desenvolver a criatividade e o diálogo reflexivo sobre a prática da corrida.

As vivências práticas de ginástica abordaram temas atuais que se relacionam com a cultura corporal no cotidiano, como o alongamento, as práticas da caminhada, da corrida, dos exercícios específicos para os grupos musculares com e sem cargas e as práticas corporais associadas, principalmente, à consciência corporal e à qualidade de vida.

Concluímos nossa experiência com os conteúdos relativos à cultura corporal da proposta pedagógica da Educação Física e consideramos que esse processo foi satisfatório tanto para os educandos e educandas participantes/colaboradores da pesquisa quanto para o educador/pesquisador dentro das limitações e possibilidades no tocante às condições gerais e específicas dos sujeitos, das ações, das reflexões e das perspectivas do estudo e da estrutura institucional.

Na sequência apresentamos, de forma esquemática, o caderno de campo com o movimento interno da pesquisa-ação no processo de ação/reflexão /ação num quadro adaptado de McKernan (2009) com o registro do dia do encontro com cada turma, com a ação planejada, a metodologia utilizada, o processo de reflexão e a ação seguinte de modo a dar subsídio à discussão dos resultados.

4.3 CADERNO DE CAMPO – TURMAS DE COMÉRCIO (C) E ELETRÔNICA (E).

CICLOS DE INVESTIGAÇÃO (AÇÃO/REFLEXÃO/AÇÃO), OBTENÇÃO DE DADOS E PROCESSOS DE ANÁLISE

ENCONTRO/