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3 MÍDIA E LINGUAGEM EM TEMPOS DE GLOBALIZAÇÃO

3.1 Globalização e meios de comunicação

Ao longo da história, vários movimentos do homem convergiram na tentativa de estabelecer um mundo integrado ou, atualmente, interconectado. A cada sucessão de um grande império, a intenção mais eminente era a expansão e a consolidação de novas fronteiras ilimitadas, mais longínquas e extensíveis.

As grandes navegações europeias, por exemplo, nos séculos XV e XVI, além de conquistarem terras além-mar, objetivavam a expansão das fronteiras do seu mundo, ou seja, a criação de um mundo integrado, a qual foi marcada, majoritariamente, pela perspectiva do conquistador, sob seu modo de vida, pelas suas crenças e pelo seu discurso colonizador.

Com o Iluminismo, no século XVIII, os alicerces para a construção e a constituição de um mundo integrado seriam possíveis pela razão. O mundo, na perspectiva iluminista, seria inevitavelmente integrado, não seria necessário implementar uma nova ordem pela força, pela fé em dogmas ou crenças; a razão viabilizaria a instituição e a constituição de homens cosmopolitas:

tudo isso levou à crença no "progresso histórico" da humanidade, concebido não como produto de um plano divino, mas como resultado da razão e dos esforços humanos. Formou-se assim pela primeira vez a ideia de "humanidade" como integração de todos os povos, acima de circunstanciais diferenças étnicas ou situações temporais ou espaciais (ANDREOTTI, 2012, p. 40).

No século XIX, a ideologia política e socioeconômica comunista, cunhada por Marx e Engels, em 1848, também menciona a instituição de um mundo integrado, do qual a burguesia aproveitava-se para universalizar seu modo de produção capitalista e para suscitar na sociedade um “novo” modo de vida. De acordo com Marx,

o período burguês da história está chamado a assentar as bases materiais de um novo mundo; a desenvolver, de um lado, intercâmbio universal, baseado na dependência mútua do gênero humano, e os meios para realizar esse intercâmbio; e, de outro, desenvolver as forças produtivas do homem e transformar a produção material num domínio científico sobre as forças da natureza. A indústria e o comércio burgueses vão criando essas condições de um novo mundo do mesmo modo que as revoluções geológicas criavam a superfície da Terra (MARX, 1981, p. 830).

Portanto, a constituição de um mundo integrado somente começou a ser mais palpável com a consolidação do capitalismo, principalmente após a Revolução Industrial, a qual transformou os contextos econômico e social, principalmente nos países europeus. O capitalismo industrial, em grande medida, viabilizou o estabelecimento de um mundo integrado ao possibilitar a constituição de um mercado de consumo integrador. Assim, a partir de 1840, foi possível pensar em um mundo mais integrado, por conseguinte, na noção atual de globalização e, consequentemente, na relação direta entre consumo e integração.

Com isso, devemos considerar a globalização como um processo intensificado no final do século XX. As primeiras características da globalização advêm da intensificação das relações comerciais da Terceira Revolução Industrial, em meados de 1940, que viabilizou a junção da informática e dos meios de comunicação, principalmente ao fim da Segunda Guerra Mundial, momento em que as primeiras ideias para o surgimento do computador, que conhecemos hoje, consolidaram-se.

A partir desse momento, por meio dos estudos de Max Horkheimer e Theodor Adorno, ambos intelectuais da Escola de Frankfurt, na Alemanha, podemos citar também a “indústria cultural”, termo desenvolvido para denominar o modo de produzir cultura no período industrial capitalista. Ele designa principalmente a situação da arte na sociedade capitalista industrial, marcado por modos de produção que visavam, sobretudo, o lucro. Com isso, assim como afirma Souza, “o capitalismo organizado expande-se da esfera da produção de bens materiais para a produção de bens simbólicos” (SOUZA, 2017, p. 123). Dessa forma, “além de ser a forma dominante de produzir mercadorias materiais, como salsichas e roupas, o

capitalismo também passa a ser a forma dominante da produção de mercadorias simbólicas, como a informação e o conhecimento” (SOUZA, 2017, p. 123).

Dessa maneira, a globalização trouxe avanços tecnológicos, integração comercial, maior fluxo de pessoas e informações nas diferentes áreas do globo, mas também possibilitou o fortalecimento do capitalismo, que por sua vez aumentou as desigualdades sociais e provocou, em vários momentos, um processo de homogeneização das informações por meio de discursos hegemônicos, o que acirrou as relações de poder e ainda dificulta os processos de mudanças discursivas e sociais. Em Media Discourse (1995), Fairclough aponta o quanto é importante compreender o papel dos meios de comunicação de massa para a mudança social, já que as mudanças dependem da influência dos meios de comunicação, das crenças, das práticas, dos valores, das atitudes, das identidades que são propagadas nos meios. O autor considera que a experiência social das pessoas é uma combinação complexa de experiência não-mediada (pela interação direta e trocas com outras pessoas) e experiência mediada na qual cada uma molda e direciona sua resposta ao outro.

Portanto, muitas vezes, consoante a Souza, “os produtos da indústria cultural e da mídia não se dirigem ao conhecimento, que transforma e emancipa o sujeito, mas sim ao reconhecimento de estereótipos, clichês e chavões, que reproduzem o mundo e os interesses que estão ganhando” (SOUZA, 2017, p. 123). Sobre isso, Poster afirma que

para uns, a classe operária, em quem a teoria marxista depositava tão grande esperança, foi em grande medida politicamente anulada pelos média, mas foi, em sentido mais lato, incorporada na sociedade moderna como parte de uma massa maligna. Para outros, a sociedade moderna conseguiu uma integração da classe operária sem recurso, em grande medida, à repressão política explícita, mas mediante operações que Antonio Gramsci denominou de ‘hegemonia’ (POSTER, 2000, p. 14).

Outros episódios da História, entre as décadas de 1970 e 1980, contribuíram para a construção de uma nova ordem socioeconômica e política, entre elas: o esgotamento do modelo industrial fordista; a crise do petróleo provocada pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo, que culminou na Guerra do Golfo (1990-1991); a crise do sistema financeiro internacional a partir da reunião de Bretton Woods, que marcou o fim da Era do Ouro (convertibilidade do ouro em dólar como padrão monetário internacional). O fim do socialismo e da Guerra Fria também pode ser citado entre as questões preponderantes para o fortalecimento e ampliação de um “mundo globalizado”.

Importante autor que discute a globalização e seus efeitos é o sociólogo Anthony Giddens, com quem Fairclough mantém um diálogo em suas teorizações para a discussão sobre identidade na “modernidade tardia”. Na obra “Mundo em descontrole: o que a globalização está fazendo de nós” Giddens (2003) expõe uma abordagem nova sobre a temática, por meio da análise de dois grupos de pensamento sobre o fenômeno os “céticos e os radicais”. Os primeiros, de acordo com o autor, afirmam que o fenômeno não é uma novidade da contemporaneidade, uma vez que trocas sociais, econômicas e mesmo questões políticas sempre existiram ao longo da história, com consequências tão catastróficas quanto as da atualidade. O outro grupo, “os radicais”, diverge dos céticos, apontando que essa globalização é nova porque seus efeitos podem ser sentidos em toda parte, não atingindo apenas os envolvidos diretamente nos processos interculturais.

Giddens, por sua vez, estabelece um diálogo com o segundo grupo e, para ele, essa globalização é nova e “revolucionária por permitir a emergência de várias e divergentes formas de reações sobre os fenômenos globais” (GIDDENS, 2003, p. 38). Dessa maneira, o autor aponta que esse novo momento permite, por exemplo, que grupos de resistência elaborem com mais facilidade ações de autoafirmação. Nesse sentido, a globalização caracteriza-se como um “fenômeno político, econômico, tecnológico e cultural, potencializado pelos meios de comunicação, que possibilita as mesmas informações em todos os locais do mundo” (GIDDENS, 2003, p. 42).

Além disso, Giddens (2003, p. 59) afirma que a globalização também cria “grupos antagônicos (vencedores//perdedores; atual//arcaico; central//periférico)”, o que dialoga, em certo sentido, com as teorizações de Fairclough no que tange às relações de poder, a um sistema hegemônico, marcado por desigualdades sociais, e a um discurso homogeneizante de dominação.

De acordo com Fairclough (2006), a transformação do capitalismo teve um sentido semiótico baseado na economia do conhecimento e na sociedade do conhecimento e da informação. O autor acrescenta que essa transformação envolveu o movimento dos discursos e a questão da re-escalonamento, e cita como exemplo os discursos da nova gerência pública e da gerência de qualidade que apresentam novas maneiras de agir, de interagir e novos gêneros38. Isso é tratado em Fairclough (2006) na relação que a linguagem da globalização

38 Segundo Fairclough (2006), diferentes gêneros são combinados e novos gêneros se desenvolvem mediante a

combinação de gêneros já existentes. Mudanças de gênero são pertinentes para reestruturação e reescalonamento da vida social no novo capitalismo, que está ligado à capacidade transformadora da ação humana de intervir numa série de eventos, tanto quanto alterar o seu curso.

estabelece com os movimentos políticos, organizações não governamentais (ONGs) e outras vozes da globalização.

Nesse sentido, segundo Fairclough, o “discurso é em parte globalizante e globalizado”,

Primeiro, que as redes, conectividades e interações incluem crucialmente, e pode-se dizer, dependem de formas particulares (ou "gêneros") de comunicação que são especializadas para interação transnacional e inter- regional, como os gêneros das redes de notícias globais; e que os “fluxos” incluem fluxos de representações, narrativas e discursos, como o discurso econômico neoliberal. Nesse sentido, é em parte discurso globalizante e globalizado39 (FAIRCLOUGH, 2006, p. 01).

A Terceira Revolução Industrial, por exemplo, permitiu que informática e telecomunicações fossem unidas, interligando e interconectando pessoas por todo o globo e, também, engendrou profundas alterações no modo de vida dos indivíduos, nos ideais, no comportamento, no consumo, na cultura. Entre estas inovações destacaram-se as tecnologias de informação e comunicação (TIC) que facilitaram a constituição de uma nova ordem econômica, modificando as formas de produção e dando novo enfoque à organização, às relações de trabalho, ao ensino e à pesquisa, além de terem estabelecido um vínculo estreito com a ciência, tornando popular o binômio “ciência e tecnologia”.

As TIC participaram das mudanças radicais que levaram as sociedades da era industrial para a era pós-industrial, definindo um novo desenvolvimento que gerou o estabelecimento das “sociedades da informação” (CASTELLS, 2000). As empresas, a partir do uso das TIC, ampliaram seu espectro de ação criando filiais, multiplicando-se como multinacionais. Ademais, o surgimento da internet, em meados de 1990, criou espaços e meios de interação e integração das pessoas, viabilizando a criação de novos espaços públicos e privados para o exercício e manifestação de opiniões e ideias. Com isso, a consolidação da internet viabilizou aos indivíduos se interconectarem, sendo uma faceta significativa do processo de globalização.

No entanto, é importante lembrarmos que, ao mesmo tempo em que os meios de comunicação ampliam as relações cotidianas, eles também exercem influência direta na vida das pessoas, não apenas proporcionando entretenimento, mas, moldando hábitos. Esses meios de comunicação, chamados por Giddens de “mass media”, ou melhor, “as comunicações de

39 Tradução nossa de: “First, that the networks, connectivities and interactions crucially include, and one might

say depend upon, particular forms (or „genres‟) of communication which are specialized for transnational and interregional interaction, such as the genres of global news networks; and that the „flows‟ include flows of representations, narratives and discourses, such as neo-liberal economic discourse. In that sense, it is partly discourse that is globalizing and globalized” (FAIRCLOUGH, 2006, p. 01).

massa”, “têm uma larga influência nas nossas experiências e na opinião pública, não apenas por afetarem as nossas atitudes de várias formas, mas também porque são meios de acesso aos conhecimentos de que dependem muitas das nossas atividades sociais” (GIDDENS, 2010, p. 454).

Nesse sentido, a mídia, a qual era majoritariamente impressa ou televisiva, também ganhou um espaço mais dinâmico e interativo com seus consumidores. As redes de telecomunicações, jornais on-line, sites de pesquisas, redes sociais, dentre outras, permitem aos seus usuários criarem comentários e opinar sobre as matérias e os conteúdos apresentados, ou melhor, postados. Hoje, as reportagens on-line, gênero que faz parte de nosso corpus, assim como os comentários virtuais, podem, ser mediados, interativos, dialógicos, o que altera os efeitos causais e as representações construídas, uma vez que o excesso e rapidez das informações contribuem para leituras instantâneas e para uma formação de opinião veloz e com pouco senso crítico, gerando, muitas vezes, impactos negativos na sociedade, como é o caso das fake news.

Dessa forma, aspectos da vida social, que são representados nos meios de comunicação, passam por convenções, normas e práticas de mídias específicas, e suas formas e significados são transformados no processo. Assim, a reportagem, por exemplo, muda quanto ao grau de modalização, ao seu efeito semiótico e ao grau de participação do leitor naquilo que foi noticiado.

Outro aspecto fundamental da mudança reside na participação do usuário na construção da notícia, pois ele pode ser conduzido a buscar mais informações por meio dos links que estão disponíveis nas páginas que são consultadas, como também por meio dos mecanismos de buscas que há na rede.

Como afirma Santaella (2004, p. 163),

por intermédio de instrumentos materiais (tela, mouse, teclado) e imateriais (linguagem de comando), o receptor transforma-se em usuário e organiza sua navegação como quiser em um campo de possibilidades cujas proporções são suficientemente grandes para dar a impressão de infinitude.

Dessa maneira, a seleção do que é pertinente ou não é uma escolha do usuário e isso envolve uma série de elementos, possível pela mediação interface. Alguns estudos realizados (CUNHA, 2009; 2011) apontam que os “gêneros midiáticos” são constituídos de discursos em interação e em diferentes níveis:

no interior de um artigo (as notícias são majoritariamente relatos de fala), de um mesmo jornal ou site (os editoriais e artigos de opinião comentam as notícias), de um jornal ou site para outro (os sites comentam e postam textos de outros), de uma mídia para outra (o mesmo evento discursivo aparece na internet, imprensa, rádio, TV). A circulação discursiva é incessante e as formas e graus de alteridade extremamente variados (CUNHA, 2011, p. 123).

Esses novos instrumentos de socialização e do aparente exercício da cidadania parecem ter estabelecido uma multiplicidade de cidadãos mais ávidos a participar dos eventos e opinar sobre fatos, notícias e informações que são colocados à disposição. Sobre isso, Poster diz que

as comunicações eletrônicas constituem o sujeito de forma diferente das grandes instituições modernas. Se a modernidade ou o modo de produção significa práticas padronizadas que resultam em identidades autônomas e (instrumentalmente) racionais, a pós-modernidade ou o modo de informação indicam práticas de comunicação que constituem um sujeito instável, múltiplo e difuso. A super-auto-estrada de informação e a realidade virtual irão difundir o modo de informação a outras aplicações, ampliando a sua difusão ao inserir mais práticas e indivíduos no seu padrão de formação (POSTER, 2000, p. 45).

Exemplo disso são os comentários virtuais, ou comentários eletrônicos, que já fazem parte do cotidiano de várias pessoas. É uma nova maneira de dialogar, a qual era desconhecida pelos jornalistas, porque as cartas de leitores não eram imediatas e raramente eram respondidas pelo editor ou por outros leitores da mídia impressa.

Dessa maneira, a grande quantidade de informações disponíveis pelos novos meios de comunicação e pelas redes sociais viabilizou, em alguma medida, a democratização e universalização do acesso à informação. Nesse sentido, os indivíduos passaram a ter a sua disposição informações e o conhecimento de inúmeros assuntos, ideias, práticas, de forma significativa. Grande parte dos equipamentos, aplicativos e sites são criados como quebra- cabeças por indivíduos que não se conhecem, mas são agentes de estruturas sociais diversas em partes distantes do globo. De acordo com Recuero (2009), as redes de relacionamento

representam aquilo que está mudando profundamente as formas de organização, identidade, conversação e mobilização social: o advento da Comunicação Mediada pelo Computador. Essa comunicação, mais do que permitir aos indivíduos comunicar-se, amplificou a capacidade de conexão, permitindo que redes fossem criadas e expressas nesses espaços: as redes sociais mediadas pelo computador (RECUERO, 2009, p. 16).

Assim, a tecnologia hoje desempenha um papel de interação e construção das identidades culturais dos indivíduos em seus ambientes naturais e sociais. Esta interação, um

processo social, é estruturada historicamente e as tecnologias acabam por influir na formação da identidade dos indivíduos e integram, simbolicamente, uma busca da satisfação de necessidades e desejos humanos. Essa busca pela identificação por meio da tecnologia pode ser relacionada ao que Fairclough (2003) concebe como o funcionamento do significado identificacional. O autor considera que o que as pessoas colocam nos textos é um importante indício de como se autoidentificam na ‘texturização’ das identidades.

Portanto, a quantidade de informações disponíveis aos indivíduos, os novos meios de comunicação, a internet e as redes sociais estabeleceram paradigmas inovadores capazes de facilitar e ampliar as formas de expressar opiniões. Sobre a “tecnologização do discurso”, Fairclough diz que se trata de

(...) um processo de intervenção na esfera das práticas discursivas, que visa construir uma nova hegemonia na ordem de discurso da instituição ou organização à qual se aplica, inscrevendo-se numa luta mais generalizada para impor hegemonias reestruturadas às práticas e culturas institucionais (FAIRCLOUGH, 1997, p. 89).

Com isso, entendemos que os novos meios de comunicação e informação democratizaram e constituíram mais um espaço de debate e de autoidentificação. Contudo, as ideias, opiniões e os comentários devem ser analisados na perspectiva que, em um sistema democrático, todas as vozes podem se manifestar e têm a chance de serem ouvidas, porém não podemos deixar de considerar que

a grande maioria conhece cada vez mais coisas, mas sabe delas e as compreende cada vez menos. Fragmentos de conhecimentos especializados são aprendidos por especialistas que ignoram o seu contexto, seu alcance, seu sentido e, sobretudo, a combinatória independente que orienta à técnica (GORZ, 2005, p.81).

Diante disso, sabemos que os novos meios de comunicação, as redes sociais e a internet ampliaram a possibilidade de participação dos indivíduos em espaços públicos e privados antes inexistentes. Entretanto, não implica necessariamente na compreensão das informações, em capacidade de conhecê-las, inter-relacioná-las e interpretá-las. Devemos considerar que a quantidade de informações existentes não torna obrigatoriamente os indivíduos conscientes de suas opiniões e ideias, pois, em grande medida, são consumidores de informações oriundas desses próprios veículos.

Isso nos faz refletir, inclusive, sobre se realmente há interação, pois, as pessoas, muitas vezes, parecem falar sozinhas, é apenas “um gritar”, uma necessidade de exposição sem

fundamentação lógica e teórica. Dessa forma, o que parece, em vários momentos, é um monólogo; o debate parece ser abafado. Assim como Habermas, parece que o

desenvolvimento dos meios de comunicação social de massas e o entretenimento de massas leva a que a esfera pública se tome, em grande parte, um logro. A política é encenada no parlamento e nos meios de comunicação social, ao mesmo tempo que os interesses comerciais triunfam sobre os interesses do público. A Opinião Pública não se forma através de uma discussão aberta e racional, mas sim através da manipulação e do controle - como, por exemplo, sucede na publicidade (HABERMAS, 1984, p. 123).

Nesse sentido, de acordo com Sampaio e Barros (2014, p. 42),

os canais para participação do público seriam importantes por produzirem uma maior densidade semântica (FIDALGO, 2004), por serem uma camada adicional de informação e de opinião diversa, mesmo que, segundo Newman (2009), não se possa esperar que a participação do público desemboque em mais engajamento político, uma vez que apenas uma minoria engaja-se em questões da agenda política.

Esses aspectos são a faceta mais visível do processo de globalização que atinge os indivíduos. E todas essas transformações afetam também o discurso e por ele são afetadas. Na globalização, o discurso assume uma perspectiva peculiar na medida em que os novos instrumentos de comunicação são significativos para dar-lhe viabilidade e concretude. Segundo Poster (2000, p. 71), “o modo de informação decreta uma reconfiguração radical da linguagem, que constitui sujeitos fora do padrão do indivíduo racional e autônomo”.

Dessa forma, em nossa pesquisa, com as análises das propagandas, das reportagens e dos comentários virtuais, buscamos compreender como os discursos são configurados nesses gêneros, com o intuito de apreender as representações em torno da Reforma. Entendemos, assim como Fairclough (2006), que a internet permitiu transformações que decorreram tanto da tecnologia quanto da instabilidade das redes de poder, conferindo às pessoas, jornalistas,