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5 METODOLOGIA: TRAJETÓRIA E CONTEXTO DA PESQUISA

5.2 Procedimentos metodológicos

Para a execução da pesquisa, iniciamos uma revisão e discussão da literatura referente à ADC, aos estudos sobre globalização, linguagem e novas tecnologias e às pesquisas acerca da História da Educação no Brasil, o que ocorreu durante toda a realização da pesquisa. Em seguida, fizemos a leitura e a análise conjuntural dos documentos oficiais, a MP nº 746/2016 e a lei nº 13.415/2017, nos quais os Poderes Executivo e Legislativo apresentam as propostas para a mudança curricular, a fim de entendermos como as medidas foram discursivamente oficializadas. Isso resultou na produção das seções 2, 3 e 4 desta tese.

Posteriormente, selecionamos três propagandas governamentais, veiculadas nos canais de televisão aberta do Brasil e em redes sociais, três reportagens dos sites G1, UOL e Nova Escola, sendo uma de cada site, e 21 (vinte e um) comentários virtuais, disponíveis nos mesmos sites das reportagens e que são acessíveis para a leitura de todas as pessoas que acessam a página das reportagens, com o intuito de analisarmos como a Reforma do Ensino Médio é representada discursivamente nesses textos.

No tocante às propagandas, entre os anos de 2016 e 2017, o Governo Federal veiculou seis propagandas sobre a Reforma. Fizemos uma análise inicial delas e a seleção das propagandas ocorreu por meio de dois critérios: 1º) disponibilidade do vídeo; já que alguns foram retirados de circulação; 2º) temporalidade: o primeiro vídeo foi veiculado em outubro de 2016, um mês depois da MP nº 746/2016 entrar em vigor; os outros dois vídeos foram veiculados em junho de 2017, quatro meses após a lei nº 13.415 ser sancionada pelo ex- presidente Michel Temer. A temporalidade foi critério para que pudéssemos analisar se ocorreram mudanças significativas no discurso oficial na transição da medida provisória em lei. Após baixarmos todas as três do site YouTube para que tivéssemos acesso a todo momento, transcrevemos cada uma delas, a partir das legendas disponíveis. Em concomitância, fizemos uma breve descrição de cada propaganda, apresentando tempo de duração, quando foi veiculada e os aspectos não verbais, entre eles as expressões corporais.

No que diz respeito às reportagens, a seleção seguiu um critério temporal. Todas foram veiculadas no dia 16 de fevereiro de 2016, dia em que a lei nº 13.415/2017 foi sancionada pelo ex-presidente da república. A partir disso, selecionamos 03 reportagens de cada site (G1, UOL e Nova Escola). Válido lembrar, assim como exposto na introdução deste trabalho, que nossa escolha pelos três sites refere-se ao número de acesso e porque são os primeiros disponíveis quando se faz uma busca textual pela temática da Reforma. Ademais, a

escolha por três reportagens deve-se ao fato de que as representações discursivas eram consonantes nas várias reportagens que lemos dos sites, desse modo elegemos uma de cada.

Com relação aos comentários, a seleção ocorreu por meio da disponibilidade em cada site: no G1, a reportagem teve 391 comentários; na Nova Escola, apenas 01 comentário; e na UOL, 37. Desse total, selecionamos 10 do G1 e 10 da UOL, sendo os 10 primeiros que tratavam da Reforma, já que existem postagens que não se relacionam à temática, e 01 da Nova Escola, portanto, um total de 21 comentários.

Após selecionarmos esses dados e os gravarmos em uma pasta em nosso computador pessoal, fizemos várias leituras com o intuito de identificar quais categorias mostravam-se mais salientes em cada um, pois, conforme Ramalho e Resende (2011, p. 113), a escolha das categorias utilizadas em uma análise textual “irá depender não só do objetivo da análise e da natureza do trabalho analítico, mas também da extensão do texto: escolher várias categorias para um texto extenso é inviável”. Essas leituras revelaram como produtivas as seguintes categorias: vocabulário, estrutura visual, intertextualidade, interdiscursividade, modalidade e avaliação.

Apesar de se mostrarem produtivas, nem todas as categorias são analisadas nos três gêneros. Isso se deve à recorrência de determinados elementos em cada texto. Desse modo, nas propagandas, todas as categorias apresentadas são abordadas em virtude do corpus que é multimodal. Assim como Kress e van Leeuwen (1996), entendemos que os signos semióticos servem como elemento de comunicação e trazem em si representações ideológicas. Ao se interpretar os textos multimodais, notam-se interesses dos produtores dos textos, sendo guiados por necessidades pessoais de um grupo ou deles próprios.

Em relação às reportagens, o enfoque é na intertextualidade, na avaliação, na modalidade e na interdiscursividade. Nosso objetivo é compreender quais vozes e discursos são articulados nos textos das reportagens e de que modo os três sites avaliam e representam a Reforma.

Quanto aos comentários virtuais, analisamos a interdiscursividade, avaliação e a modalidade. Nossa preocupação volta-se a quais discursos perpassam as postagens on-line e de que maneira esses internautas avaliam e representam discursivamente a Reforma.

A análise do vocabulário nos permite analisar como a linguagem é apropriada para estabelecer, nas propagandas, uma relação mais próxima com o interlocutor/telespectador, com o objetivo de apresentarem os benefícios da Reforma do Ensino Médio. A análise do vocabulário é também produtiva para observarmos as representações, levando em

(FAIRCLOUGH, 2003, p. 129) e para obervarmos como a Reforma é avaliada nos três gêneros.

A análise da estrutura visual/imagens, nas propagandas especificamente, uma vez que faz parte da estrutura composicional do gênero, auxilia-nos a compreender como o não verbal pode (re)produzir imagens da realidade. Conforme Kress e Van Leeuwen,

as estruturas visuais não reproduzem simplesmente as estruturas da realidade. Pelo contrário, elas produzem imagens da realidade que estão vinculadas aos interesses das instituições sociais no interior das quais as imagens são produzidas, circuladas e lidas. Elas são ideológicas. As estruturas visuais nunca são meramente formais: elas têm uma dimensão semântica profundamente importante (KRESS; VAN LEEUWEN, 1996, p.47).

Desse modo, as imagens são percebidas como meio para construir um conhecimento sobre fatos de uma cultura, mas também são um modo de compreender valores, crenças, práticas sociais, pois são textos impregnados de sentidos “’investidos’ política e ideologicamente” (FROW, 1985 apud FAIRCLOUGH, 2001, p. 95) a serem desnaturalizados.

A categoria da intertextualidade nos permite compreender quais textos e vozes estão presentes ou ausentes nas propagandas e nas reportagens, e o que essa presença ou ausência tem de significativa e como essas vozes estão relacionadas.

A análise da interdiscursividade, entendida como a “combinação de diferentes discursos” (FAIRCLOUGH, 2001, 2003; CHOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999) possibilita-nos desvelar quais e como discursos são articulados nas propagandas, nas reportagens e nos comentários e os efeitos disso. Os diferentes discursos estão relacionados, por exemplo, a diferentes posições de pessoas no mundo e as diferentes formas de relações entre pessoas. Assim, disputas por poder, dominação são recursos discursivos socialmente diferenciados.

A categoria avaliação relaciona-se aos valores apontados como desejáveis ou não pelos atores sociais e a modalidade, a como e quanto “as pessoas se comprometem quando fazem afirmações, perguntas, demandas ou ofertas” (FAIRCLOUGH, 2003, p. 168). A análise dos recursos empregados para a construção da avaliação e da modalidade, nos textos selecionados, propicia-nos pôr à vista como a Reforma do Ensino Médio é avaliada por diferentes atores sociais em diferentes gêneros e como esses atores comprometem-se com seus dizeres.

Conforme Ramalho e Resende (2011, p. 112), as categorias analíticas da ADC referem-se a “formas e significados textuais associados a maneiras particulares de representar, de (inter)agir e de identificar(-se) em práticas sociais situadas” e “auxiliam o mapeamento de relações dialéticas entre o social e o discursivo, permitindo a investigação de efeitos constitutivos de textos em práticas sociais, e vice-versa”. (p.11).

Nessa perspectiva, além de contemplar as categorias expostas, também discorremos sobre as práticas sociais das quais as propagandas governamentais, as reportagens e os comentários fazem parte, sobre ideologia e hegemonia e sobre a produção, distribuição e consumo, relacionados à dimensão da prática discursiva (FAIRCLOUGH, 2001).

6 A REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA DA REFORMA DO ENSINO MÉDIO EM