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Governança global em saúde

No documento Glossário de Análise Política em Saúde (páginas 109-111)

O conceito de governança global ganhou proeminência nas análises internacionais no decor- rer da década de 1990. O estabelecimento da Comissão sobre Governança Global das Nações Unidas (1994), a publicação do relatório Our Global Neighborhood (1995), a criação do periódi- co Global Governance (1995) são alguns exemplos da importância crescente do tema. Segundo esses documentos, o surgimento deste conceito parte da tentativa de compreender as mudan- ças ocorridas no final do século XX: o fim da Guerra Fria, a intensificação dos processos de globalização econômica, a difusão de informação em escala global, a reformulação do papel de organizações internacionais e o aparecimento de novos atores que alteraram as relações internacionais, em especial no que concerne às esferas de autoridade e poder em escala global. Governança global ou mundial, portanto, é um movimento de cooperação política entre ato- res transnacionais, com o objetivo de negociar respostas a problemas que afetam mais de um Estado ou região. Esse conceito tem como pressuposto que a questão moderna da governança mundial existe no contexto da globalização dos regimes de poder: política, econômica e cultu- ralmente e que instituições como as Nações Unidas, o Tribunal Penal Internacional, o Banco Mundial e outras - tendem a ter um poder limitado ou demarcado para impor o cumprimento de suas regras. Ademais, em resposta à aceleração da interdependência em escala mundial, tanto entre as sociedades humanas como entre a humanidade e a biosfera, o termo “governan- ça global” também pode ser usado para denominar o processo de designação de leis, regras ou regulamentos destinados a uma escala global.

Referências

BUSS, P. Governança global para a saúde. Cadernos de Saúde Pública, v. 30, n. 4, Rio de Janeiro, abr. 2014. GOVERNANÇA Global. [S.l.], [200-]. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Governan%C3%A7a_ global>. Acesso em: 02 mar. 2017.

JAMES, P.; SOGUK, N. Global political and legal governance. London: Sage, 2014.

Governança global em saúde

O debate sobre este tema começou com a criação da Comissão Lancet sobre Governança Global para a Saúde, lançada em Oslo, em dezembro de 2011, pela revista The Lancet. Segundo este relatório, poderosos atores globais, ao produzirem suas políticas e ações, são os respon- sáveis por muitas dessas iniquidades. Entre esses, estão empresas transnacionais, governos de países poderosos e, mesmo, agências das Nações Unidas, que frequentemente ignoram os efeitos negativos de suas iniciativas sobre a saúde das populações e os próprios sistemas de saúde. São os determinantes “políticos” da saúde, resultados da profunda assimetria de poder

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e predomínio dos interesses exclusivos de mercado. O informe cita alguns exemplos, entre os quais as políticas de austeridade fiscal neoliberais impostas pela troika (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia) a países periféricos ao circuito central da economia capitalista, como a Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda. Nesses países, cresceram enfermidades antes con- troladas e foram desmontadas instituições públicas sociais e de saúde construídas ao longo do século XX. As cinco disfunções da governança global que impactam a adoção de políticas que enfrentem os efeitos adversos dos determinantes políticos globais da saúde: déficit de- mocrático, mecanismos fracos de responsabilização, imobilidade institucional, espaço polí- tico inadequado para a saúde e instituições inexistentes ou ainda embrionárias. Em síntese, o documento defende que a distribuição dos riscos em saúde continua sendo extrema e ina- ceitavelmente desigual, o que diverge do que seria esperado, caso os acordos que vem sendo estabelecidos nessa esfera, a exemplo do Objetivos do Milênio, estivessem sido efetivamente implementados pelos diversos países. Com base nessa constatação, admite-se que o atual sis- tema de governança global falha na proteção à saúde da população, afetando desastrosamen- te os mais pobres, vulneráveis e marginalizados. (BUSS, 2014) Com base nesse diagnóstico, a Comissão apresentou três propostas: (1) Criação de uma plataforma de governança para

a saúde que integre múltiplas partes, incluindo a sociedade civil global, as Nações Unidas, empresários e ONGs, para funcionar como fórum para a discussão de políticas e formulação de agendas, e avaliação das mesmas quanto a seu impacto sobre a saúde e a equidade em saúde, além de propor soluções adequadas e superação de barreiras à sua implementação; (2) Criação de um painel de monitoramento científico independente da influência de processos de governança global sobre a equidade em saúde, por meio da obrigatoriedade de análises de impacto sobre os níveis de equidade em saúde nas organizações internacionais; (3) Utilização de instrumentos de direitos humanos para a saúde, como os Relatores Especiais, assim como de sanções mais firmes contra um amplo espectro de violações cometidas por agentes não estatais, por meio do sistema jurídico internacional.

Referências

BUSS, P. Governança global para a saúde, Cadernos de Saúde Pública, v. 30, n. 4, Rio de Janeiro, abr. 2014. BUSS, P. M. Globalização, pobreza e saúde. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 6, 2007. BUSS, P. M.; PELLEGRINI FILHO, A. A saúde e seus determinantes sociais. PHYSIS: revista saúde coletiva, v. 17, n. 1, p. 77-93, 2007.

Governo

Governo pode ser entendido como o ato de dirigir, conduzir, governar, mas também como substantivo vinculado ao Estado, enquanto expressão do poder político. Na primeira acepção pode ser adotada em relação a uma organização, um sindicato, uma empresa, uma universi- dade, uma entidade. Daí o postulado segundo o qual “planeja quem governa”. (MATUS, 1987) Esse autor considera para fins de análise e de planejamento o triângulo de governo, compos- to pelos vértices da governabilidade, capacidade de governo e do projeto de governo. Testa (1992), por sua vez, admite três propósitos centrais para um governo: crescimento, mudança e legitimação. Já o governo como substantivo - instância que dirige os negócios do Estado - foi pensado pelos filósofos sob várias formas. Segundo Aristóteles haveria a monarquia (governo de um), a aristocracia (governo de poucos) e a democracia (governo de muitos). Já Maquiavel

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destacava a monarquia e a república com duas modalidades (aristocrática e democrática). Montesquieu considerava a monarquia, a república e o despotismo (governo sem leis nem freios) e para evitar esta última forma propôs a independência e harmonia entre os poderes executivo, legislativo e judiciário. (BOBBIO, 1987) Na atualidade, as formas mais expressivas de governo são a República (presidencial e parlamentar) e a Monarquia. No caso da República, sob o formato de presidencialismo, o presidente é, simultaneamente, chefe de governo e chefe de Estado, respondendo pela administração e pelas funções maiores do Estado, como no caso do Brasil e dos Estados Unidos da América. Na República com parlamentarismo, a adminis- tração é responsabilidade do primeiro ministro que compõe um gabinete contemplando as forças políticas majoritárias do Parlamento, enquanto as funções mais significativas de chefe de Estado cabem ao Presidente, como no caso da França. Nas monarquias constitucionais europeias ainda existentes cabe ao Rei a chefia do Estado e ao primeiro ministro eleito a ad- ministração, como na Espanha.

Referências

BOBBIO, N. Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. MATUS, C. Política, planificación y gobierno. Washington D.C.: OPS, 1987.

TESTA, M. Pensar em saúde., Porto Alegre: Artes médicas, 1992.

Grupos com riscos e necessidades especiais

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