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Planos privados de Saúde

No documento Glossário de Análise Política em Saúde (páginas 156-159)

Contrato de prestação continuada de serviços ou cobertura de custos assistenciais a preço pré ou pós-estabelecido por prazo indeterminado, com a finalidade de garantir, sem limite finan- ceiro, a assistência à saúde pela faculdade de acesso e atendimento por profissionais ou ser- viços de saúde livremente escolhidos, integrantes ou não de rede credenciada, contratada ou referenciada, visando à assistência médica, hospitalar e odontológica, a ser paga integral ou parcialmente a expensas da operadora contratada, mediante reembolso ou pagamento direto ao prestador, por conta e ordem do consumidor. Pode ser entendido como um instrumento ju- rídico que registra o acordo firmado entre uma pessoa física ou jurídica com uma operadora de plano privado, para garantir a assistência à saúde que pode ser individual ou familiar, coletivo empresarial ou coletivo por adesão. No Brasil, os planos privados de saúde são regulamenta- dos pela Lei nº 9656 de 1998.

Referências

AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR. Glossário temático: saúde suplementar. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.

BRASIL. Lei nº. 9.656, de 3 de junho de 1998. Dispõem sobre os planos privados de assistência à saúde. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 4 jun. 1998.

SESTELO, J.; BAHIA, L. Sistema de Assistência Médica Suplementar (SAMS): breve histórico e modalidades desenvolvidas no Brasil (Seguro-Saúde, Medicina de Grupo, Cooperativas Médicas, Autogestão e Outras). In: PAIM, J.; ALMEIDA FILHO, N. (Org.). Saúde coletiva: teoria e prática. Rio de Janeiro: Medbook, 2014. p. 139-150.

Poder (1)

Conforme o Dicionário de Política (BOBBIO; MATEUCCI; PASQUINO, 1991, p. 933), o sig- nificado mais geral da palavra Poder é “a capacidade ou a possibilidade de agir, de produzir efeitos”. Essa capacidade tanto pode ser referida a indivíduos quanto a grupos humanos. Os autores chamam, entretanto, para que, em sentido especificamente social, na relação da vida

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do homem em sociedade, o Poder torna-se mais preciso dizendo respeito à capacidade do “ho- mem em determinar o comportamento do homem”. O homem é, portanto, não só o sujeito, mas também o objeto do poder social. Como fenômeno social, o Poder é, portanto, uma rela- ção entre os homens, devendo especificar-se que se trata de uma relação triádica. Para definir certo poder, não basta especificar a pessoa ou o grupo que o detém e a pessoa ou o grupo que a ele está sujeito: ocorre determinar também a esfera de atividade à qual o Poder se refere, ou seja, a esfera do Poder. A mesma pessoa ou o mesmo grupo pode estar submetido a vários tipos de Poder relacionado com diversos campos. A esfera do Poder pode ser mais ou menos ampla e delimitada claramente. O Poder que se funda sobre uma competência especial fica confinado ao âmbito desta competência, mas o Poder político e o Poder paterno abrangem, normalmen- te, uma esfera mais ampla. Não surpreende, portanto, que o conceito de Poder tenha sido em- pregado para analisar os mais diversos aspectos da sociedade, sendo, entretanto, que ganha seu papel mais crucial no estudo dos fenômenos políticos. Isso é atestado, segundo Bobbio, Mateucci e Pasquino (1991, p. 940) pela longa história e tradução da filosofia política, e é atestado pelas ciências sociais contemporâneas, a partir da análise, tornada clássica, que Max Weber fez do Poder. Weber especificou três tipos puros: o Poder legal (fundado na Autoridade legítima), o Poder tradicional (fundado na crença do caráter sacro do Poder existente “desde sempre” e o Poder carismático (fundado na dedicação afetiva à pessoa do chefe e ao caráter sacro, à força heróica, ao valor exemplar ou ao Poder de espírito e da palavra que o distinguem de modo especial. Mais recentemente, uma importante tentativa de construir uma teoria po- lítica fundada sobre o conceito de Poder foi realizada por Talcott Parsons. Identificando como fundação especifica do sistema político no âmbito do funcionamento global da sociedade, a “consecução de objetivos” ou a capacidade de tornar efetivos os objetivos coletivos, Parsons (apud BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1991, p. 941) define o Poder como a

capacidade geral de assegurar o cumprimento das obrigações pertinentes dentro de um sistema de orga- nização coletiva em que as obrigações são legitimadas ela coessencialidade aos fins coletivos e portanto podem ser impostas com sanções negativas, qualquer que seja o agente social que as aplicar.

Nessa perspectiva, o Poder, embora conservando sua característica relacional fundamental, torna- se uma propriedade do sistema, o “meio circulante” análogo à moeda na economia, an- corado por uma parte na institucionalização e na legitimação da autoridade e, por outra, na possibilidade efetiva de recursos à ameaça, e como extrema medida, ao uso da violência.

Referência

BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de Política. 3. ed. Brasília, DF: Ed. Universidade de Brasília, 1991. p. 933-941. v. 2,

Poder (2)

Para Foucault o poder é algo que se exerce, que se efetua, que funciona e que implica uma rela- ção: a relação de poder. (FOUCAULT, 1979) Em qualquer relação social existe poder o qual se caracteriza, em algumas circunstâncias, como relações de dominação. O poder não é debatido como uma dominação global e centralizada que se pluraliza, que se difunde e repercute nos outros setores da vida social, de modo igual e homogêneo, mas como tendo uma existência própria e formas específicas. (FOUCAULT, 2009) Segundo Pogrebinschi (2004), a noção de

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poder foucaultiana apresenta a ideia do poder que produz e constrói e, ao mesmo tempo, des- trói e reconstrói. É composto por uma multiplicidade e uma pluralidade. O poder transforma, acrescenta, diminui, modifica, a cada momento e em cada lugar, a si mesmo e a cada coisa com a qual se relaciona em uma rede dinâmica e infinita. O poder é produção em ato, é uma prática. Não existe algo unitário e global chamado poder, mas unicamente, formas díspares, hetero- gêneas, em contínua transformação que estão intimamente relacionados com a produção de determinados saberes. (MACHADO, 1979) O foco está voltado para a análise de como esses micropoderes, que possuem tecnologia e história específicas, se relacionam com o nível mais geral do poder constituído pelo aparelho de Estado. (FOUCAULT, 2010) Assim, Foucault iden- tifica duas categorias de poder: o poder disciplinar e o biopoder. O poder disciplinar não se detém como uma coisa, não se transfere como uma propriedade, ele incide sobre os corpos dos indivíduos. Nessa perspectiva, o corpo é tido como um objeto e alvo de poder em que é exer- cido um controle sub-reptício, quase imperceptível, por meio do poder disciplinar. O corpo é configurado como um lugar privilegiado para a ação política e ideológica de vigilância, controle e regulação. (FOUCAULT, 1979) O poder disciplinar possui algumas características. Primeiro, é um tipo de organização do espaço: distribui as pessoas em um espaço individualizado, clas- sificatório e combinatório. É também um controle do tempo, isto é, estabelece uma sujeição do corpo ao tempo, com o objetivo de produzir o máximo de rapidez e o máximo de eficácia. A partir da segunda metade do século XVIII, o poder disciplinar passa a ser complementado pelo biopoder. Em outras palavras, o biopoder se insere, de certo modo, no poder disciplinar. O po- der disciplinar se detém na individualização das pessoas, já o biopoder provoca a massificação, pois não se dirige aos indivíduos isolados, mas à população. Os efeitos do biopoder se fazem sentir sempre em processos coletivos, globais, processos estes que fazem parte da vida de uma população. Estas duas categorias analíticas de poder se sobrepõem constantemente. O melhor exemplo de superposição é dado pelo tema da sexualidade. A sexualidade depende, simulta- neamente, de processos disciplinares e biológicos individualizantes e também de processos massificantes, controladores e regulamentadores. (POGREBINSCHI, 2004) Nesse sentido, o investimento do poder no corpo conduz ao domínio, à consciência do próprio corpo. A partir do momento em que o poder produz um efeito de controle sobre o corpo, como consequên- cia direta de suas atuações emerge, inevitavelmente, a reivindicação do próprio corpo contra o poder. Quaisquer relações de poder contêm, ao mesmo tempo, mecanismos de controle e possibilidades de resistência. Os embates, pois, contra o exercício do poder, não podem ser realizados em outro lugar senão dentro das próprias dinâmicas de poder. (FOUCAULT, 1979)

Referências

FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

FOUCAULT, M. História da sexualidade: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1988. v. I. FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

FOUCAULT, M. Estratégia, poder-saber. Forense Universitária, 2010. (Coleção Ditos e Escritos, 4).

MACHADO, R. Por uma genealogia do poder. In: FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

POGREBINSCHI, T. Foucault, para além do poder disciplinar e do biopoder. Lua Nova: revista de cultura e política, São Paulo, n. 63, p. 179-201, 2004.

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