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Reforma Sanitária Brasileira

No documento Glossário de Análise Política em Saúde (páginas 186-188)

Reforma sanitária é uma expressão que aparece no Brasil num artigo sobre as origens da Medicina Preventiva no ensino médico (SILVA, 1973) para designar o movimento que gerou o sanitarismo na Inglaterra em meados do século XIX e que originou a Saúde Pública ins- titucionalizada. Ao compará-lo com o movimento da Medicina Social ocorrido na França e na Alemanha naquele mesmo século, o autor considerava o sanitarismo como uma reforma sanitária limitada. O Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), criado em 1976, defen- deu a Saúde como um direito de todos os brasileiros, recomendando definir o conteúdo de uma Reforma Sanitária. (EDITORIAL, 1977, p.4) Nesse particular, reconhecia a unificação dos serviços de saúde, a participação social e a ampliação do acesso a serviços de qualida- de como alguns marcos dessa reforma. A partir da realização da 8ª. Conferência Nacional de Saúde (8ª. CNS) em 1986, “reforma sanitária” foi uma denominação que deu identidade ao movimento da democratização da saúde. Esta expressão foi usada para se referir ao conjunto de ideias em relação às mudanças e transformações necessárias na saúde. Essas mudanças não abarcavam apenas o sistema, mas vários setores do Estado e da sociedade em busca da melhoria das condições de vida da população. As propostas da Reforma Sanitária resultaram, finalmente, na universalidade do direito à saúde, oficializado com a Constituição Federal de 1988 e a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Berlinguer (1987) recomendou investi- gar a história das reformas sanitárias, tal como foi feito em relação às revoluções científicas. Reconhecia nas “reformas sanitárias” contemporâneas algumas resultantes de uma revolução como no caso de Cuba, enquanto outras seriam decorrentes de uma espécie de revolução de- mocrática em que as classes trabalhadoras e a intelectualidade poderiam exercer um papel de vanguarda. Considerava a Reforma Sanitária Italiana nesse segundo grupo, implicando uma longa marcha através das instituições no processo de transformação da sociedade e o Estado. (BERLINGUER, 1987) Presentemente, mesmo que alguns autores utilizem a expressão “re- forma sanitária” para denominar reformas setoriais ou reformas dos sistemas de serviços de saúde, não tratam a questão sanitária de modo amplo, considerando tanto as necessidades de saúde quanto os seus determinantes sociais, culturais e ambientais. As reformas que privile- giam mudanças apenas no sistema de serviços de saúde (reforma no setor saúde ou reforma setorial) diferem de outras que, reconhecendo o sistema de serviços como uma das respos- tas sociais, pretendem intervir de forma ampla no atendimento das necessidades de saúde, com vista à melhoria das condições de saúde e da qualidade de vida da população. Este tipo

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de reforma que busca enfrentar a questão sanitária de forma mais ampla pode ser denomi- nado, mais precisamente, como reforma sanitária. Considerando Relatório Final da 8ª. CNS conclui-se que a Reforma Sanitária Brasileira (RSB) corresponde ao segundo tipo de reforma sanitária identificado por Berlinguer (1987) e não se limita a uma reforma setorial. Portanto, a Reforma Sanitária Brasileira (RSB) é uma reforma social centrada na democratização da saúde, do Estado e seus aparelhos, da sociedade e da cultura. Supõe a elevação da consciência sanitária sobre saúde e seus determinantes e o reconhecimento do direito à saúde, inerente à cidadania, com participação social na definição de políticas e na gestão. A garantia do acesso universal e igualitário ao Sistema Único de Saúde (SUS) está associada à descentralização do processo decisório, ao controle social e ao fomento da ética e da transparência nos governos. Enfim, a RSB, enquanto uma “totalidade de mudanças” buscava atingir espaços da organiza- ção econômica e da cultura, mediante a produção e distribuição justa da riqueza, em torno de um conjunto de políticas públicas e práticas de saúde. A amplitude dos seus propósitos possibilita que o movimento sanitário reconheça a RSB como componente de um projeto civi- lizatório. (PAIM, 2008)

Referências

BERLINGUER, G. Palestra. Proposta: jornal da reforma sanitária, Rio de Janeiro n. 1, mar. 1987. Encarte Especial. BRASIL. Relatório Final. In: CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE, 8., 1986, Brasília, DF. Anais... Brasília: Centro de Documentação do Ministério da Saúde, 1987. p. 381-389.

EDITORIAL I, Saúde Debate, Rio de Janeiro, n. 4, jul. ago. set. 1977.

PAIM, J. S. Reforma Sanitária Brasileira: contribuição para a compreensão e crítica. Salvador: EDUFBA; Rio de Janeiro: Fiocruz; 2008.

REFORMA Sanitária. Pense SUS: SUS de A a Z. Fiocruz, Rio de Janeiro [200-?] Disponível em: <http:// pensesus.fiocruz.br/reforma-sanitaria>. Acesso em: 28 out. 2015.

SILVA, G. R. S. Origens da medicina preventiva como disciplina do ensino médico. Revista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo,S. Paulo, v. 28, n. 2, p. 31-35, 1973.

Regiões de Saúde

Espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos de municípios limítrofes, delimi- tado a partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e in- fraestrutura de transportes compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde. É base territorial de planejamento da atenção à saúde, não necessariamente coincidente com a divisão administrativa do estado, a ser definida pela Secretaria de Estado da Saúde, de acordo com as especificidades e estraté- gias de regionalização da saúde em cada estado, considerando as características demográficas, socioeconômicas, geográficas, sanitárias, epidemiológicas, oferta de serviços, relações entre municípios, entre outras. Dependendo do modelo de regionalização adotado, um estado pode se dividir em regiões e/ou microrregiões de saúde. Por sua vez, a menor base territorial de pla- nejamento regionalizado, seja uma região ou uma microrregião de saúde, pode compreender um ou mais módulos assistenciais.

Referência

BRASIL. Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011. Regulamenta a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde – SUS, o planejamento da saúde, a assistênciaà

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GLOSSÁRIO DE ANÁLISE POLÍTICA EM SAÚDE

sadue e a articulação Interfederativa, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federadiva do Brasil, Brasília, DF, 29 jun. 2011. Disponível em: <h:ttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/ decreto/D7508.htm>. Acesso em: 19 ago. 2016.

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