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Esquema 11- Minimização lógica

5.1.4 Governança do risco

Para Porto (2012), o atual modelo hegemônico predominante no mundo se assenta numa lógica econômica e num comércio internacional, cujo metabolismo social não somente continua a explorar recursos naturais e o trabalho humano de forma a ferir a integridade dos ecossistemas e a dignidade das populações atingidas, mas o faz de forma desigual.

As críticas a esse modelo caminham na perspectiva de mudar os rumos para se repensar o desenvolvimento. Nesse sentido, em uma sociedade cada vez mais globalizada, tal discussão contorna a questão de que os riscos da modernização, cedo ou tarde, irão acabar alcançando aqueles que os produziram ou aqueles que lucram com eles.

Entretanto, é nesse modelo perverso e insustentável de desenvolvimento que todos os dias velhos e novos riscos são gerados, causando uma iminente sensação de incerteza e de falta de conhecimento sobre os resultados dessa exposição. Este ambiente de iminente perigo deve demandar dos órgãos governamentais e da própria organização da sociedade civil esforços na perspectiva de desvelar o debate para o resultado desta exposição.

Nesse contexto, Mandarola Junior e Hogan (2004) advertem que o processo de Governança de risco desempenha um importante papel na resolução da controvérsia e da incerteza existente no campo político.

Para Klinke e Ren (2004), esse processo de governança deve ser entendido para incluir, mas também para ir além, dos três, convencionalmente, reconhecidos elementos da análise de risco (avaliação de risco, gestão de risco e comunicação de risco). Além disso, deve-se ter um panorama detalhado das partes interessadas, bem como prováveis consequências sociais, implicações econômicas e respostas políticas (IRGC, 2006). Em síntese, todos os itens mencionados e apresentados de forma sistematizada são igualmente importantes para a compreensão dos estudos sobre riscos, portanto, precisam ser considerados.

Assim, para o Brasil, país de economia tardia, deriva a necessidade de uma intervenção sobre a ótica de uma governança de risco do Estado brasileiro que seja capaz de contemplar a diversidade de questões inerentes ao processo de desenvolvimento implementado nas distintas regiões ao longo dos anos.

No caso da Amazônia Legal, por exemplo, que tem tido, sistematicamente, e de forma contínua, seus habitats naturais alterados, em consequência do desmatamento desenfreado; a adoção de uma abordagem de análise para eventos extremos que possibilite uma visão de todas as questões envolvidas se constitui um passo importante a ser dado pelo Estado no que se refere ao planejamento de intervenções nas áreas afetadas.

Nesse sentido, se recupera o papel chave exercido por esse ente em seus diversos níveis de decisão (municipal, estadual e federal), pois atuando em parceria com a sociedade civil e o mercado podem empreender medidas que fortaleçam capacidades adaptativas e reduzam sensibilidades (SIMONI et al., 2013).

A partir desses entendimentos, e considerando a lógica de reprodução do capital, nessa região, é pertinente destacar a necessidade da construção de uma agenda sólida de ações que permitam a implementação de uma governança de riscos que reconheça as especificidades das áreas rurais, dado ao conflito de interesses divergentes ali existentes.

Nessa perspectiva, não se deve deixar de considerar que esses espaços rurais ao longo do tempo têm sido reconhecidos por sua rede complexa de relações, as quais a partir da segunda metade do século XX acabaram sendo fortemente influenciadas pela ação do Estado brasileiro que se constituiu ator principal na definição de estratégias de intervenção neste território (CASTRO, 2009).

Outra questão que merece destaque é o fato de a população amazônida conviver em meio a um ambiente de risco, sem muitas vezes percebê-lo; uma vez que, o que prevalece, muitas vezes, a percepção de que a ocorrência de desatres e ameaças causados pelas mudanças climáticas se constituem um evento normal da natureza.

Nesse contexto, Santo (2011) salienta que as questões relacionadas às problemáticas de riscos, ameaças, vulnerabilidades e desastres, por exemplo, estão diretamente associadas ao processo de apropriação do espaço pela sociedade, que quando acontece sem planejamento, frequentemente, desconsidera os limites de suporte da paisagem local.

Sobre esse processo de ocupação, Bentes (2012) afirma que quando a comunidade humana não está presente em regiões de risco (regiões propícias à ocorrência de desastres naturais) a natureza se transforma sem dar muito alarde, mas quando está presente é criada uma nova paisagem, agregada de sentimentos e

emoções, ocasionados pelo medo e insegurança provocados pela preocupação com os riscos à vida.

Para minimizar tal problemática são necessários dados que possam descrever o quadro de vulnerabilidade, assim como a capacidade de adaptação real das comunidades afetadas, frente aos riscos climáticos. O conhecimento sistematizado dessas condições de riscos e ameaças deve minimizar a sensação de incertezas existentes nas populações locais, assim como proporcionar uma ação integrada e de sucesso das estruturas do Estado criadas com este objetivo.

Entretanto, apesar da existência de um aparente consenso em torno da necessidade de inserir ou fortalecer a temática de risco nas decisões dos gestores institucionais de organizações públicas ou privadas, o que se tem visto na prática é que esta temática só tem ganhado visibilidade quando as ameaças ou riscos se transformam em desastres.

No caso específico da Amazônia se evidencia que os eventos climáticos que podem desencadear em ameaças ou dano estão ligados predominantemente à dinâmica fluvial, em particular enchentes, secas e erosão linear. Para o contexto de discussão de riscos e vulnerabilidade ora realizado merecem destaque os estados do Pará e Rondônia que de forma recorrente têm aparecido na mídia por conta do aumento da intensidade e frequência de eventos extremos nestes locais.

O primeiro, no estado do Pará, por exemplo, cidades como Santarém, Óbidos e Alenquer têm tido, de forma recorrente, suas ruas inundadas e as atividades rotineiras prejudicadas, causando graves impactos sociais e econômicos. A leitura em Silva Junior (2010) permite afirmar que, mesmo com esses eventos extremos dando-se de forma mais frequente e serem riscos para a população, os trabalhos de identificação, análise e governança desses processos no referido estado, ainda, são raros.

Já o segundo, o estado de Rondônia, principalmente na cidade de Porto Velho, é possível observar modificações bastante visíveis e presenciáveis com a construção das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio no rio Madeira, pois estas construções foram acompanhadas de maiores riscos e vulnerabilidades (AGRA, 2012). Em suma, segundo esta autora muitas são as vulnerabilidades da região na qual esses empreendimentos estão sendo implantados.

A partir disso, mesmo que de forma preliminar, é possivel afirmar junto com Maarten et al. (2007) que poucas experiências em manejo de desastres, adaptação

e mudanças climáticas e políticas têm sido realizadas ao longo do tempo. Sendo este outro fator que vem confirmar a necessidade de um estudo como este que está sendo proposto para a Região Amazônica, já que sua conclusão deve disponibilizar insights que permitam corrigir possíveis assintonias existentes no desenho das políticas.