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Mapa 3 Mapa representando o número de cursos superiores oferecidos (1998-

2.3 O Governo Lula e a Questão Agrária

O sucessor de FHC na presidência, o sindicalista Luis Inácio Lula da Silva (Lula), tinha um compromisso com os movimentos sociais de luta pela terra por meio da realização de um projeto de Reforma Agrária. Para entendermos essa cumplicidade é preciso termos clareza de que o presidente Lula era o mais importante representante do Partido dos

2 A partir da LDB 9394/96 a Educação Básica passou a ser dividida em educação infantil, ensino fundamental e

Trabalhadores (PT) e de que a ascendência desse partido se dá juntamente com a formação do MST.

Tal como a CPT e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o PT contribuiu para a formação do MST. É possível afirmar que da mesma forma o MST contribuiu para a formação do PT e sua popularização junto às massas com propostas de transformações sociais.

Em meio à organização sindical de professores, metalúrgicos e outras categorias lideradas pela CUT, que lutavam por conquistas de direitos e pelo restabelecimento da democracia, o PT surge no cenário brasileiro e vai ganhando protagonismo nas lutas populares. Apesar de estruturas distintas, as organizações se uniam por uma luta comum: direitos dos trabalhadores.

Com a criação desse espaço de debate para distintos projetos populares, o MST, apoiado pelo CPT, aproxima-se do PT para que a pauta da Reforma Agrária pudesse ser retomada, haja vista que com o Golpe de 1964 essa luta foi interrompida.

Em 1989 o PT lança pela primeira vez um candidato à Presidência do Brasil. Insistentemente, mesmo após a derrota em 1989, o partido se manteve nas disputas eleitorais, sendo eleito em 2002. A campanha que deu a vitória ao presidente Lula se fez mais flexível às bandeiras levantadas pelo partido, buscando atingir o eleitorado mais conservador, ampliando as alianças partidárias.

O governo de Lula se apresentava menos conservador que os seus antecessores, mantendo um diálogo com os movimentos sociais, criando uma política agrária que “paradoxalmente, fez avançar e refluir a luta pela terra e a reforma agrária” (FERNANDES, 2008, p. 8). Porém, na contramão de seu discurso, o presidente Lula se aproximou do agronegócio e, de forma velada, não desapropriou terras que fossem de interesses das corporações, garantindo dessa forma o apoio político ao agronegócio (FERNANDES, 2008).

De acordo com dados do INCRA (2017), até o final dos anos de 2017 havia no Brasil o registro de 9375 assentamentos. Como visto anteriormente, os maiores números de assentamentos foram registrados nos primeiros mandatos de FHC e, posteriormente, no primeiro governo de Lula. Analisando o governo de FHC (1995- 2002), o governo de Lula (2003-2009) e de sua sucessora, Dilma Roussef (2010-2016), é possível avaliar que houve estabilidade no número de conflitos no campo.

A partir dos dados apresentados pela CPT em relatórios anuais, construímos o gráfico dos conflitos. No Gráfico 1 é possível observar que durante o governo FHC o maior número de conflitos se deu no início do seu segundo governo, momento em que houve repressão

veemente às ocupações de terra e demais ações dos movimentos sem terra. Naquele momento, o governo “investiu na criminalização das ocupações de terra, criando medidas provisórias para não assentar famílias ocupantes de terra e não desapropriar terras ocupadas” (FERNANDES, 2008, p. 79).

O segundo maior número de conflitos desde 1997 se deu no ano de 2016, ano em que a presidente Dilma Roussef sofreu o processo de Impechment e os movimentos sociais novamente se sentiram ameaçados. No ano seguinte ao Impeachment, houve uma queda, mas ainda é o segundo maior registro no número de conflitos.

Gráfico 1 - Gráfico representando os conflitos no campo (1996-2017)

0 200 400 600 800 1000 1200 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018

Conflitos no Campo (1996-2017)

DILMA 2 DILMA 1 LULA 2 LULA 1 FHC2 FHC 1

Organizado por Castro Paula (2019) Fonte: Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno (CPT).

A violência no campo é um elemento alarmante para os movimentos de luta pela terra. Muitas vezes, as famílias não agregam à luta, intimidadas pela ação violenta contra os movimentos. A criminalização dos movimentos sociais do campo e de suas lideranças também pode ser um elemento que levou ao aumento no número de assassinatos no campo.

Como pode ser visto no Gráfico 2, 2003 foi o ano que apresentou o maior número de homicídios. É possível percebermos que tal como no primeiro governo de FHC, em 2003, primeiro governo de Lula, o Programa de Reforma Agrária foi utilizado como uma política para deter os conflitos no campo e não necessariamente para buscar soluções para a Questão Agrária no país (CPT, 2017).

Gráfico 2 - Gráfico representando os Assassinatos no Campo (1996-2017) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016

Assassinatos no Campo (1996-2017)

DILMA2 DILMA1 LULA2 LULA1 FHC2 FHC1

Organizado por Castro Paula (2019) Fonte: Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno-CPT.

De acordo com dados da CPT (2017), o maior número de assassinatos se deu principalmente na região norte do país, onde está presente a região amazônica e os conflitos territoriais de madeireiros e outros exploradores. A partir de dados apresentados pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno, no que se refere ao ranking dos assassinatos por região, o estado do Pará aparece no topo no estudo realizado em 2017. O estado que se destaca pelo número de assentamentos apresenta alta incidência de violência no campo, como pode ser visto no gráfico a seguir.

Gráfico 3 - Gráfico representando o Ranking de Assassinatos 2017

Fonte: Centro de Documentação Dom Tomás Balduino (CPT, 2017).

É possível identificar que entre os cinco primeiros, somente o estado da Bahia não faz parte da Amazônia Legal. Essa região foi fortemente marcada pelos conflitos de terra, com destaque para os massacres de Corumbiara (RO) no ano de 1995 e em Eldorado dos Carajás (PA) no ano de 1996. Ambos ficaram marcados pela violência com que foram cometidos.

Os conflitos por terra são evidentemente uma luta por território. A disputa por esse território dá um novo olhar para a Reforma Agrária, que deixa de ser somente uma questão voltada para a distribuição de terras, mas se amplia para uma luta por direitos constitucionais do sujeito. Ao passo que o camponês luta pela terra, ele considera as dimensões do território como mercado, tecnologia, educação e saúde (FERNANDES, 2008).

O governo Lula deu maior apoio financeiro para que os assentamentos pudessem se estruturar, promovendo programas de educação e desenvolvimento rural para os assentados. Entre os anos de 2002 a 2007 foi possível perceber um crescimento exponencial no financiamento por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), ampliando o crédito ao pequeno produtor e a famílias assentadas (CARTER; CARVALHO, 2010).

Quadro 5 - Conjuntura da Reforma Agrária e Políticas de Educação do Campo no governo Lula (2003-2011)

2003 II Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA)

2006 Parecer nº 01/2006 normatizou a metodologia da Pedagogia da Alternância 2008 Parecer nº 3/2008 define orientações para o atendimento da Educação do Campo

2009 A Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos estudantes da educação básica (incentivando a agricultura familiar)

Decreto nº 6.755/2009 institui a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica (formação inicial e continuada)

RESOLUÇÃO/CD/FNDE Nº 06 DE 17 DE MARÇO DE 2009: “Estabelece as orientações e diretrizes para a operacionalização da assistência financeira suplementar aos projetos educacionais que promovam o acesso e a permanência na universidade de estudantes de baixa renda e grupos socialmente discriminados”

2010 Decreto 7.352/2010 dispõe “sobre a política de educação do campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária - PRONERA.”

“Art. 1o A política de educação do campo destina-se à ampliação e qualificação da oferta de educação básica e superior às populações do campo, e será desenvolvida pela União em regime de colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação e o disposto neste Decreto”

Organizado por Castro Paula (2019) Fonte: CPT, Dataluta, Fernandes (2010), Medeiros (1989), Coelho (2016), MEC.

No primeiro governo do presidente Lula foram assentadas 85.026 novas famílias. No segundo governo acontece o que Fernandes (2010) vai chamar de “reconceitualização da reforma agrária”. O governo tem um menor enfrentamento com o agronegócio e o latifúndio na obtenção de terras, evitando a desapropriação em áreas que causariam tensão com esse capital agrário.

Em relação ao PRONERA, em parceria com universidades públicas e escolas técnicas, foram ampliados os espaços e os investimentos de desenvolvimento do programa, culminando posteriormente em programas que favoreceriam a formação de professores para o campo, como ocorreu com a criação do Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação do Campo (PROCAMPO), criado em 2008.

Ano analisarmos os dois governos de FHC e Lula, é possível visualizar o cenário que se forma no Brasil em relação à Reforma Agrária. Em duas décadas podemos compreender que, apesar das promessas de compromisso com a Reforma Agrária, os dois governos consolidaram a agricultura empresarial em detrimento da agricultura camponesa. O governo Lula investiu sete vezes mais em produção agroindustrial voltada para a exportação de commodities agrícolas do que na agricultura familiar (CARTER; CARVALHO, 2010).

Apesar do crescimento quantitativo no número de famílias assentadas e nas condições para a produção e da permanência no campo terem se ampliado, ao passo que o país

consolidou o desenvolvimento rural a partir das práticas do agronegócio, os mecanismos de exclusão social limitaram a possibilidade da distribuição social da terra. Os movimentos de luta pela terra que viam no governo Lula a possibilidade de uma Reforma Agrária mais progressista perceberam que, conforme o governo se aproximou do agronegócio, ele se afastou do projeto social de campo empunhado pelos movimentos de luta pela terra.